sexta-feira, 21 de outubro de 2022

O SEMPRE ETERNO PROBLEMA DO IMOBILIÁRIO

Demétrio Alves | AbrilAbril | opinião

A estória do costume, ou seja, o sempre eterno problema do imobiliário que carrega consigo o drama de uma habitação subjugada à financeirização e à especulação baseada no solo urbano.

A revista The Economist diz (na edição de 20 de outubro) que se aproxima rapidamente uma «Queda global nos preços das casas», e que tal baixa, embora não faça explodir  o sistema financeiro, será muito grave.

E desenvolve:

Ao longo da última década, possuir uma casa passou pelo acesso a dinheiro fácil. Os preços das casas subiram de forma contínua durante anos e depois ficaram explosivos na pandemia.

No entanto, hoje, os preços das casas estão a cair em nove economias ricas, embora nos EUA as quedas ainda sejam pequenas. Já no Canadá, os edifícios de habitação (apartamentos) em condomínios já desceram 9% relativamente a fevereiro.

À medida que a inflação e os rendimento têm uma evolução pressionante (uma sobe e os outros descem) é provável, diz a The Economist, que se gere uma correção em baixa cada vez mais profunda levando os agentes imobiliários a ficarem preocupados. 

Embora a situação não vá fazer detonar bancos como em 2007-09, irá intensificar a recessão, deixar uma enorme quantidade de pessoas/famílias com as suas finanças destruídas, o que determinará uma tempestade política.

A causa próxima estará no aumento das taxas de juros: nos Estados Unidos, os potenciais compradores verificam que a taxa de juro de uma hipoteca a 30 anos chegou já aos 6,92%, mais do dobro do nível de um ano atrás e a mais alta taxa desde abril de 2020.

A mini bolha imobiliária pós-pandemia foi alimentada por cortes nas taxas de juro e na busca de mais espaço construído suburbano. Agora está-se no sentido inverso. 

Alguém que um ano atrás poderia afetar 1800 USD/mês num empréstimo hipotecário de 420 000 dólares a 30 anos, verificará que, hoje, a prestação referida será apenas suficiente para um empréstimo de 280 000 dólares, ou seja, 33% a menos. 

De Estocolmo a Sydney, o poder de compra dos mutuários está em colapso, diz a The Economist. E isso tornará mais difícil que novos compradores possam adquirir casas, diminuindo a procura, além de que está já a verificar-se a compressão das finanças daqueles que já são proprietários hipotecados, que, se não tiverem sorte, podem ser forçados a vender em más condições.

A estória do costume, ou seja, o sempre eterno problema do imobiliário que carrega consigo o drama de uma habitação subjugada à financeirização e à especulação baseada no solo urbano.

Em Portugal, com o edificado, não só o urbano, mas, também, o suburbano e o disperso em espaços rurais, sujeito a uma pressão altista gerada pela procura exógena de fundos imobiliários e de estrangeiros com maior poder aquisitivo, há muito que está instalada a crise habitacional para trabalhadores, estudantes e pensionistas.

O primeiro, tanto o direito como o ministro, não conseguem resolver o que nasceu torto.

Mas, continuarão a mostrar-se optimistas.

*O autor escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico de 1990 (AE90)

Imagem: portugalbuyersagent.com

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