Manuel Molinos* | Jornal de Notícias | opinião
Quando os governos não sabem gerir os seus próprios recursos humanos e essa fragilidade é experienciada, por exemplo, pelos profissionais da Educação, pelos estudantes e pelas famílias, é difícil prever que o projeto-piloto para a semana de trabalho de quatro dias possa correr bem.
Mas se pelo menos for posto a correr, independentemente dos resultados alcançados, até já nem é mau. A memória dos portugueses é curta, é verdade, mas não o suficiente para esquecer que o teletrabalho não chegou em força, nem veio para ficar. Serviu como uma tentativa de evitar a propagação da covid, serviu para ter uma lei, mas a sua aplicação nunca foi pacífica. O momento para as empresas e seus funcionários encontrarem boas soluções para ambos ainda não aconteceu.
E enquanto se espera por uma "avaliação sobre as decisões que foram tomadas", conforme referiu a ministra Mariana Vieira da Silva durante a discussão do Orçamento, eis que há nova música para os ouvidos dos trabalhadores. A semana de quatro dias.
O Governo já apresentou a proposta aos parceiros sociais. Ficámos a saber que o teste começa em junho e terá a duração de seis meses. Será aberto a todas as empresas privadas, o que não deixa de ser interessante e revelador da aparente incapacidade do Governo em fazer as suas experiências e avaliação com os seus trabalhadores. Diz o Estado que dará suporte técnico e administrativo para apoiar a transição. Uma frase bonita, mas vazia de sentido prático.
Ninguém tem dúvidas de que a semana de trabalho de quatro dias é uma ideia interessante. Mas é sobretudo um tema sexy e apelativo, tal como o dos nómadas digitais, para os governantes exibirem a sua modernidade nas websummits desta vida.
Mas a realidade é outra. Em Portugal, os salários continuam a ser dos piores da Europa e em média os portugueses trabalham mais horas do que prevê a lei. Não são seis, cinco ou quatro dias que irão mudar o cenário.
*Diretor-adjunto
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