sábado, 1 de janeiro de 2022

ANO DE ESPERANÇA PERIGOSA DE BIDEN

# Publicado em português do Brasil

Foi um começo brutal para o novo presidente

Susan B. Glasser* | The New Yorker

A melhor coisa que você pode dizer sobre 2021 é que logo terminará. Um ano que começou com uma insurreição no Capitólio está terminando com mais de oitocentos mil americanos mortos na pandemia covid , enquanto uma nova variante contagiosa, Omicron, produz a maior onda de casos até então. A inflação é a maior das últimas décadas. A guerra de vinte anos dos Estados Unidos no Afeganistão terminou com uma retirada americana embaraçosa e fracassada. O Partido Republicano , ao invés de rejeitar o ex-presidente derrotado, redobrou seu compromisso com Trump e Trumpismo, expurgou dissidentes e abraçou a negação total, seja de vacinas ouresultados eleitorais . Quem poderia imaginar que 2020 algum dia pareceria bom em comparação?

Joe Biden , assumindo o cargo em meio a múltiplas crises, nunca teria vida fácil. Ele fez campanha com a promessa de restauração - de sanidade para nossa política nacional, de competência para nossa governança e de civilidade para nossa vida pública. Ele cumpriu sua parte pessoal do acordo, pelo menos, devolvendo dignidade à Casa Branca, rejeitando as mentiras inflamadas e demagogia de seu antecessor. A nação não está mais sujeita a chiliques de invectivas presidenciais de manhã cedo e tarde da noite. A Casa Branca não é um supervisor de desinformação nem, como era sob Trump, uma plataforma para engrandecimento pessoal e auto-enriquecimento.

Muitos dos indicadores nacionais também melhoraram: mais de setenta por cento dos adultos americanos são vacinados; existem novos tratamentos promissores para covid ; o desemprego caiu, os salários aumentaram, a economia se recuperou e os mercados de ações atingiram níveis recordes que fariam Trump bater no peito. Biden conseguiu aprovar um projeto de infraestrutura bipartidário no Congresso, com mais de um trilhão de dólares em novos gastos, algo que Trump nunca entregou. Tudo isso, para alguns apoiadores de Biden, é um exemplo de presidente que “ganhou muito com uma mão ruim”, como David Frum disse outro dia.

Mas o clima nacional é azedo, e compreensivelmente. Sanidade, competência e civilidade não retornaram exatamente a Washington; a normalidade não está ao virar da esquina. Biden, agora está claro, prometeu o que não poderia cumprir em uma nação dividida contra si mesma. Ele traficou na esperança que era indiscutivelmente tão enganosa em sua própria maneira quanto as mentiras de Trump. Mais de quatrocentos mil americanos morreram de covid desde que Trump deixou o cargo - muitos deles porque se recusaram a receber uma vacina grátis que salva vidas. Mais de dois terços dos republicanos até hoje se recusam a aceitar que Biden é o presidente legitimamente eleito, preferindo a Grande Mentira de Trump à verdade incômoda de sua derrota. Não há restauração possível em tal país.

O VÍRUS DO CANSAÇO

# Publicado em português do Brasil

Covid-19 levou-nos a um cansaço coletivo

Byung-Chul Han* | The Nation

Covid-19 é um espelho que reflete de volta para nós as crises em nossa sociedade. Torna mais visíveis os sintomas patológicos que já existiam antes da pandemia. Um desses sintomas é o cansaço. Todos nós, de alguma forma, nos sentimos muito cansados. É um cansaço fundamental que nos acompanha em todo lugar e o tempo todo, como nossas próprias sombras. Durante a pandemia, sentimo-nos ainda mais cansados. A ociosidade que nos foi imposta durante o bloqueio nos deixou cansados. Algumas pessoas afirmam que podemos redescobrir a beleza do lazer, que a vida pode desacelerar. Na verdade, o tempo durante a pandemia não é governado por lazer e desaceleração, mas por cansaço e depressão.

Por que nos sentimos tão cansados? Hoje, o cansaço parece ser um fenômeno global. Dez anos atrás, publiquei um livro, The Burnout Society, no qual descrevi o cansaço como uma doença que aflige a sociedade neoliberal de realizações. O cansaço vivido durante a pandemia me obrigou a pensar novamente no assunto. O trabalho, por mais difícil que seja, não provoca cansaço fundamental. Podemos estar exaustos depois do trabalho, mas esse cansaço não é o mesmo que cansaço fundamental. O trabalho termina em algum ponto. A compulsão de realização a que nos sujeitamos se estende além desse ponto. Acompanha-nos nas horas de lazer, atormenta-nos até durante o sono e muitas vezes nos leva a noites sem dormir. Não é possível se recuperar da compulsão de realizar. É essa pressão interna, especificamente, que nos cansa. Existe, portanto, uma diferença entre cansaço e exaustão. O tipo certo de exaustão pode até nos livrar do cansaço.

Distúrbios psicológicos como depressão ou esgotamento são sintomas de uma profunda crise de liberdade. Eles são um sinal patológico, indicando que a liberdade hoje muitas vezes se transforma em compulsão. Achamos que somos livres. Mas, na verdade, nós nos exploramos com paixão até o colapso. Nós nos realizamos, nos otimizamos até a morte. A lógica insidiosa da conquista nos obriga permanentemente a ir à frente de nós mesmos. Uma vez que tenhamos conquistado algo, queremos conquistar mais, ou seja, queremos estar mais uma vez à frente de nós mesmos. Mas, claro, é impossível se adiantar. Essa lógica absurda acaba levando a um colapso. O sujeito de realização acredita que é gratuito, mas na verdade é um escravo. É um escravo absoluto na medida em que se explora voluntariamente, mesmo sem a presença de um mestre.

Portugal | A POBREZA É UM LUGAR FRIO

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

A pobreza tem muitas faces. Demasiadas demonstrações. A pobreza pode ser um pormenor, um regresso constante a uma fatalidade que passa de avós para pais, destes para os filhos. A pobreza pode ser económica, social, cultural. A pobreza pode ser energética.

O frio voltou a fazer vítimas em Portugal. Dois irmãos, de 18 e 21 anos, morreram abraçados numa madrugada que até nem foi das mais gélidas, na casa que partilhavam com os avós, porque um fogareiro de assar sardinhas de que se serviam para aquecer os dias transformou-se num pesadelo. Não foi num território rural, recôndito, abandonado, foi em Rio Tinto, uma das maiores freguesias urbanas do país.

A pobreza energética deixou há muito de ser um traço distintivo de uma certa etnografia dos lugares esquecidos. É um mal que se instalou de forma profunda e com força crescente nas latitudes mais povoadas e desenvolvidas, onde floresce o consumo. Mas onde germinam bolsas de atraso que em muitos domínios são civilizacionais. Típicas de um Portugal que não evoluiu, que se cristalizou no preto e branco.

Todos os invernos somos sacudidos por esta inquietude: a somar à pobreza estrutural (que atinge cerca de 20% da população), há esta pobreza mascarada. A do país que não consegue dar-se ao luxo (o qualificativo é quase insultuoso, mas apropriado) de manter a casa quente nos dias mais agrestes. No Portugal da Web Summit e dos unicórnios, no Portugal líder das energias renováveis, continua a perpetuar-se esta penumbra maldita. As tarifas sociais ajudam, mas não resolvem tudo.

As mortes de José Correia e Nuno Correia deviam interpelar os agentes políticos, fazendo deste um tema obrigatório da campanha eleitoral. Um país que não garante condições económicas básicas aos seus cidadãos para manterem a habitação aquecida é o quê, senão um país do Terceiro Mundo?

*Diretor-adjunto

Imagem: Pedro Correia/global Imagens

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Tarifa social de Internet entra hoje em vigor com custo mensal de 6,15 euros

A tarifa social de Internet, com um valor de 6,15 euros (IVA incluído) e destinada a consumidores com baixos rendimentos, entra hoje em vigor, estimando o Governo que abranja "780 mil beneficiários potenciais".

O secretário de Estado para a Transição Digital, André de Aragão Azevedo, confirmou a 29 de novembro passado que Portugal irá avançar com a tarifa social da Internet. "Confirma-se o valor de cinco euros mais IVA, portanto, o total para o cidadão será de 6,15 euros e mantém-se também aquilo que era nossa expectativa de critérios de elegibilidade, ou seja, de população a abranger que será igual às regras que se aplicam à tarifa social de eletricidade e da água, ou seja, uma expectativa de 780 mil beneficiários potenciais", disse na altura. E a medida entra hoje em vigor.

Esta tarifa visa fornecer serviços de acesso à Internet em banda larga, fixa ou móvel, e tem como objetivo principal promover a inclusão digital através da possibilidade de acesso a um conjunto mínimo de serviços de base digital tipificados na diretiva europeia 2018/1972 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de dezembro de 2018, que estabelece o Código Europeu das Comunicações Eletrónicas (CECE).

Os requisitos técnicos do serviço são de 12 Mbps (Megabits por segundo) de 'download' e um débito mínimo de 'upload' de 2 Mbps, com um tráfego mensal em banda larga de 15 GB (Gigabyte).

Portugal | Salários e pensões sobem, mas serviços e bens ficam mais caros

Cerca de 900 mil trabalhadores passarão a receber mais 40 euros mensais em janeiro. No entanto, haverá uma escalada de custos em 2022. O novo ano inicia-se com a certeza da pandemia continuar a repercutir os seus efeitos na economia das famílias, das empresas e do Estado, mas na incerteza das políticas que o novo Governo possa adotar para os conter.

OE2022 com data incerta

Muitas das mudanças que costumavam avançar a 1 de janeiro decorriam da entrada em vigor do Orçamento do Estado (OE), como é o caso de alguns impostos. Este ano, o chumbo do OE implicou a marcação de eleições legislativas antecipadas, a 30 de janeiro. Será o novo Governo a definir o OE de 2022, cuja data de entrada em vigor se desconhece, embora algumas medidas possam ser retroativas a janeiro. Até lá, o país é governado em duodécimos.

Mais isentos de IRS

Em 2022, mais 570 mil agregados familiares vão juntar-se aos 1,1 milhões de famílias que estão isentas de IRS, por estarem abrangidas pelo mínimo de existência (valor do rendimento líquido sobre o qual não incide o imposto). Isto acontece devido ao aumento do salário mínimo para 705 euros, que obriga o mínimo de existência a subir para 9870 euros. Entra em vigor agora em janeiro, com as novas tabelas de retenção de IRS na fonte, que isentam do imposto salários e pensões até 710 euros (em 2021 era até 686 euros).

Salário mínimo cresce

O salário mínimo vai subir neste ano para os 705 euros mensais, um ganho acompanhado por uma compensação às empresas que será de 112 euros anuais por trabalhador. O aumento do salário mínimo será de 40 euros, acima do acréscimo de 30 euros em 2021. O número de trabalhadores abrangidos pelo salário mínimo deverá alargar-se a 900 mil, segundo o Governo.

Pensões sobem entre 1% e 0,24%

A atualização das pensões prevê aumentos entre 1% e 0,24%. A subida varia de acordo com o escalão e valor recebido e é de 1% para pensões até 886 euros, de 0,49% para as pensões entre 886 e 2659 euros e de 0,24% para pensões acima de 2659 euros. O aumento considera que a média da taxa de crescimento médio anual do PIB nos dois anos terminados no 3.º trimestre foi inferior a 2% e que a variação média do índice de preços no consumidor nos últimos 12 meses até novembro, sem habitação, foi de 0,9%. As subidas abrangem 2,6 milhões de pensões. Com o chumbo do Orçamento do Estado, não entram em vigor os aumentos extraordinários de 10 euros para pensões até 1108 euros.

PESSOAS MELHORES... ANO MELHOR

Fonte: Quino

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