Alimento continua a faltar na mesa de um quarto das famílias, segundo Datafolha. No Nordeste, 32% da população não têm comida suficiente. E pior: cresce o endividamento para fazer supermercado – e com ele, mais empobrecimento
Gabriela Leite* | Outras Palavras
A fome – um condicionante social de saúde – continua a angustiar os brasileiros, segundo novo levantamento do Datafolha, divulgado ontem. A pesquisa relata que um quarto (24%) dos cidadãos afirmou que, nos últimos meses, a quantidade de comida em suas casas foi menos que o suficiente. A maioria (63%) é daqueles que perceberam que a quantidade de alimentos disponível era suficiente, e há uma parte menor cujas residências dispunham de mais do que o necessário para comer. É uma situação que se estende desde pelo menos maio de 2021 – período em que o país saía de sua pior fase da pandemia –, conforme registra matéria da Folha.
Entre os brasileiros que recebem
até dois salários mínimos, a falta de alimentos afetou 35%. Mas mesmo aqueles
que recebem de
Há ainda um agravante, registrado pela Piauí em um levantamento recente, sobre o endividamento. A revista aponta um dado alarmante: um em cada sete brasileiros em dívida com o cartão de crédito o utilizaram principalmente para comprar comida. Ou seja, as pessoas estão passando o supermercado no crédito, e estão sem dinheiro para pagá-lo. E as dívidas com o cartão estão aumentando: de 2020 pra 2021, mais 2,6 milhões de brasileiros ficaram inadimplentes – ao todo, são 64 milhões, hoje. As dívidas então empobrecendo a população.
É o que registra ainda uma tocante reportagem da Piauí, que conversou com uma família de uma região pobre da cidade de Teresina. O casal – um auxiliar administrativo e uma trabalhadora da limpeza – relatou estar usando seu cartão de crédito, com limite de 800 reais, para conseguir comer. Em sua comunidade, quem não contrai dívida com bancos, o faz com agiotas – os juros não são tão diferentes assim, no fim das contas. A família entrevistada conta que precisa parcelar a conta todo mês, à espera de que a situação melhore. Mas não há indícios de que a crise deve arrefecer, nos próximos meses…
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*Gabriela é editora, designer e produtora audiovisual de Outras Palavras.