domingo, 3 de abril de 2022

Angola | ONTEM INVASÕES, HOJE INGERÊNCIAS

Artur Queiroz*, Luanda

A igreja da Muxima foi invadida por seis homens e uma mulher num domingo de manhã, quando o templo estava cheio de fiéis. Os invasores correram para o altar e atacaram a imagem de Nossa Senhora. O reitor do Santuário, padre Albino Reis, disse que “eram fanáticos religiosos que atacaram com raiva, a imagem da Mamã Muxima, causando-lhe danos que podem ser recuperados”. Já lá vão dez anos, foi por altura da campanha para as eleições de 2012. A reportagem do jornalista Pereira Dinis está nas páginas do Jornal de Angola. Quem quiser, pode consultar a peça nos arquivos.

O chefe dos invasores gritou para os fiéis: “Este Santuário é do MPLA, por isso tem que ser destruído. O nosso deus é Savimbi”. Apesar da gravidade do ataque ao templo, tudo acabou bem. A Polícia Nacional protegeu os invasores dos fiéis que queriam fazer justiça pelas próprias mãos. Os agentes da Polícia de Intervenção Rápida chegaram à Muxima num helicóptero. Os fiéis pediam às autoridades a entrega dos invasores porque mutilaram a imagem de Mamã Muxima e tinham que ser também mutilados. 

O padre Albino Reis, na época reitor do Santuário da Muxima, teve um papel fundamental, acalmando os ânimos dos fiéis ultrajados: “Peço calma aos nossos fiéis. Devemos controlar os ânimos. A violência não é solução”. Da multidão elevou-se uma voz: “O chefe do grupo invasor chegou ao altar e disse que a UNITA vai destruir todas as igrejas porque são do MPLA. E ameaçou que vão fazer em Angola aquilo que a RENAMO está a fazer em Moçambique”.

Madalena Francisco, que estava a rezar no momento da invasão, disse ao jornalista Pereira Dinis: “Eu vi um grande ódio contra os católicos e espero que não seja verdade o que eles diziam, pois falavam no Savimbi. Mas o Savimbi não é um deus ”. Um oficial da Polícia Nacional disse ao repórter: “Estou convencido de que a motivação dos agressores foi religiosa e política. Os agentes da autoridade vão investigar tudo. A paz não pode ser posta em causa por fanáticos”.

Um esclarecimento necessário. A UNITA nunca condenou este acto de fanatismo que visou a imagem de Mamã Muxima, venerada por crentes e não crentes, como eu. A RENAMO, naquela época, fazia ataques contra civis e o seu líder Afonso Dhlakama, abandonou Maputo e foi “comandar” as suas tropas numa base militar na Gorongosa. Em Março de 2012, antigos combatentes da RENAMO tomaram de assalto a sede do partido em Nampula e mataram polícias e civis. Prosseguiram com actos terroristas vários anos!

Dhlakama exigiu “uma nova ordem política”. Mais representantes na Comissão Nacional Eleitoral, mais militares nas forças armadas e ministros no governo. Também queria uma percentagem nas vendas de gás e carvão!

Os invasores da igreja de Nossa Senhora da Muxima queriam o mesmo. Mas em vez das receitas da exportação de gás e carvão, queriam uma percentagem do petróleo e diamantes. E hoje, quando entrámos no último trimestre completo antas das eleições, o que quer a direcção da UNITA? Impor aos angolanos a figura de Jonas Savimbi, o chefe da seita, como um deus. Quer dominar a Comissão Nacional Eleitoral. Atenta diariamente contra a independência do Poder Judicial. Recruta bandidos para vandalizarem bens públicos. Lança quadrilhas nos centros urbanos que recorrem à violência e à intimidação na lógica do quem não é por nós, é contra nós.

A essência da democracia está na separação de poderes que garante a independência do Poder Judicial. A UNITA e seus aliados estão constantemente a violar este princípio. Políticos que pressionam os Tribunais e os magistrados judiciais são vírus mortíferos da liberdade. Os “líderes” da esquina Frente Patriótica Unida usurpam o lugar das magistradas e magistrados judiciais. Vandalizam a democracia e mostram, mais uma vez, que não se conformam com as regras democráticas. 

O engenheiro à civil Adalberto, o desempregado Chivukuvuku e o sempre derrotado Filomeno participam alegremente nestes actos de vandalismo democrático. Nenhum dos signatários da esquina patriótica provou nas urnas de voto, em sucessivas eleições, valer grande coisa na política. Adalberto é a personificação do fracasso, nem consegue convencer os militantes da UNITA.

 Chivukuvuku deixou a UNITA e reapareceu na cena política para disputar as eleições de 2012. Aceitou liderar uma coligação nascida e criada para roubar votos ao MPLA. Falhou rotundamente. Hoje está desempegado e acusado de usar a CASA-CE para os seus interesses pessoais. Foi corrido. 

Filomeno ambiciona uma dimensão nacional que nunca teve e jamais terá. Nem na rua dele lhe dão trela, quanto mais votos. Esperemos que tenha a lucidez de compreender que a democracia angolana é forte e aguenta todos os desmandos de políticos perdedores.

Os políticos vândalos da democracia proclamam aos sete ventos que há fraude eleitoral, ainda as eleições nem sequer foram marcadas. As graves ingerências na Comissão Nacional Eleitoral e no Tribunal Constitucional vão custar-lhes carradas de votos. Quem tem de julgar se o processo eleitoral é justo e transparente são as magistradas e magistrados judiciais. As e os responsáveis da CNE. Nunca os dirigentes políticos que concorrem às eleições. Ao procederem desta forma violam gravemente um princípio sagrado da democracia: A separação de poderes!

Mas os vândalos da democracia angolana não se limitam a lavrar sentenças em nome do Poder Judicial. Vão mais longe e exigem que o Tribunal Constitucional se renda a seus pés. Enlouqueceram. Os vândalos da democracia angolana ainda não compreenderam que os eleitores lhes deram os votos para fazer política e não para se armarem em justiceiros. Portam-se como ditadores ridículos. 

Dirigentes de partidos da Oposição que demonstram semelhante falta de sentido de Estado e espezinham a democracia, estão condenados a humilhantes derrotas eleitorais. Mas isso é com os seus apoiantes e militantes. 

O problema de nós todos é que esses políticos ineptos diminuem a qualidade da nossa democracia e traçam um retrato de Angola, à sua imagem e semelhança. Também vão perder esta batalha. A Pátria Angolana será sempre grandiosa e jamais os angolanos a deixarão cair ao nível de políticos sem carácter, sem honra nem dignidade.

* Jornalista

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