Apoiar e sustentar o regime ucraniano com dinheiro e armas tornou-se ainda antes do início da invasão russa o mantra de quem se diz defensor da democracia, dos direitos humanos, da liberdade, da paz e dos «valores» da civilização ocidental.
José Goulão* | AbrilAbril | opinião
Há gestos que arruínam definitivamente um político, uma política e uma governação. A excursão do primeiro-ministro da República Portuguesa, António Costa, à Ucrânia Ocidental para depositar 250 milhões de euros dos portugueses na conta de um Estado falido, o mais corrupto da Europa e à mercê de um aparelho nazi traduz um gesto do maior desprezo possível pelos portugueses e pela democracia portuguesa. A partir de agora o actual chefe do governo está pronto para ocupar o lugar que ambiciona na estrutura autoritária e antidemocrática da União Europeia, quiçá da NATO. E que seja depressa: o povo português não pode continuar a ser usado como carne para canhão numa guerra com a qual nada tem a ver e que, pelo caminho que as coisas levam, pode dizimar a Europa – para gáudio dos Estados Unidos da América.
Esqueçam o que António Costa diz, faz ou promete. É apenas show-off, política reles, um conjunto de manobras inseridas na realidade paralela em que mergulhou toda a chamada «classe política» e da qual a grande vítima é a população portuguesa: manipulada, envenenada, enganada e, o que é muito mais grave, impedida de raciocinar por conta própria.
O gesto de benemerência do primeiro-ministro para com uma estrutura de poder inegavelmente nazi – as provas avolumam-se – a que devem somar-se 50 milhões de euros doados a um regime polaco que Bruxelas já ameaçou de penalizações por ser «iliberal», é, olhando as coisas por outro prisma, um saudável safanão na hipocrisia, no faz-de-conta regimental. Não esqueçamos que o regime da Polónia fez coro com os governos que declararam os portugueses «mandriões» e, por isso, muito bem condenados à ditadura da troika. Aí está a recompensa.
Que veja quem souber ver, quem
quiser ver, ou quem tenha acordado a tempo, mesmo os que ainda não deixaram de
sofrer de azia por causa do «voto útil»: o Estado português, através do seu
governo, colocou a guerra, a solidariedade para com estruturas
antidemocráticas, corruptas e manchadas de sangue devido a oito anos de
envolvimento em actividades terroristas à frente dos interesses dos
portugueses. Obedeceu com submissão absoluta às ordens da burocracia não-eleita
da União Europeia e logo numa ocasião em que a comunidade dos 27 está
completamente à deriva, sem saber como recuar nos perversos caminhos contra a
Rússia que lhe foram traçados
A hipocrisia e a desonestidade governamental tornaram-se transparentes a partir do momento em que um primeiro-ministro, responsável por fazer cair um governo por teimosias e minhoquices orçamentais em torno de verbas inócuas para a saúde nação, agarrou em 250 milhões de euros que tanta falta fazem aos cidadãos para os lançar num poço sem fundo que engorda contas em paraísos fiscais e luxuosas mordomias em capitais ocidentais de uma clique de criminosos vivendo à custa da guerra e da miséria, pondo em causa a sobrevivência do seu povo e do seu país.
Mais ou menos na altura
Como exemplo de opção política não poderemos encontrar nada mais esclarecedor. Não, não foi Putin quem mandou escrever isto. Até os cérebros mais infectados pela epidemia de pensamento único ainda conseguem fazer esta associação elementar, para frustração de pivôs e comentadores. Há realmente casos em que a mentira tem perna curta, como tão bem se diz no Brasil.
Os portugueses sempre foram vítimas dos caprichos provincianos dos seus sucessivos governos ao pretenderem exibir-se como «bons alunos», mas o executivo de António Costa esmerou-se na subserviência. Cabulou nas últimas lições e não percebeu que os colegas já estão mais adiantados na matéria – mesmo sem saberem muito bem o que fazer com ela, em modo de cada um por si. Tal como aconteceu, aliás, com o combate à Covid.