sábado, 4 de junho de 2022

DESPREZO PELOS PORTUGUESES

Apoiar e sustentar o regime ucraniano com dinheiro e armas tornou-se ainda antes do início da invasão russa o mantra de quem se diz defensor da democracia, dos direitos humanos, da liberdade, da paz e dos «valores» da civilização ocidental.

José Goulão* | AbrilAbril | opinião

Há gestos que arruínam definitivamente um político, uma política e uma governação. A excursão do primeiro-ministro da República Portuguesa, António Costa, à Ucrânia Ocidental para depositar 250 milhões de euros dos portugueses na conta de um Estado falido, o mais corrupto da Europa e à mercê de um aparelho nazi traduz um gesto do maior desprezo possível pelos portugueses e pela democracia portuguesa. A partir de agora o actual chefe do governo está pronto para ocupar o lugar que ambiciona na estrutura autoritária e antidemocrática da União Europeia, quiçá da NATO. E que seja depressa: o povo português não pode continuar a ser usado como carne para canhão numa guerra com a qual nada tem a ver e que, pelo caminho que as coisas levam, pode dizimar a Europa – para gáudio dos Estados Unidos da América.

Esqueçam o que António Costa diz, faz ou promete. É apenas show-off, política reles, um conjunto de manobras inseridas na realidade paralela em que mergulhou toda a chamada «classe política» e da qual a grande vítima é a população portuguesa: manipulada, envenenada, enganada e, o que é muito mais grave, impedida de raciocinar por conta própria.

O gesto de benemerência do primeiro-ministro para com uma estrutura de poder inegavelmente nazi – as provas avolumam-se – a que devem somar-se 50 milhões de euros doados a um regime polaco que Bruxelas já ameaçou de penalizações por ser «iliberal», é, olhando as coisas por outro prisma, um saudável safanão na hipocrisia, no faz-de-conta regimental. Não esqueçamos que o regime da Polónia fez coro com os governos que declararam os portugueses «mandriões» e, por isso, muito bem condenados à ditadura da troika. Aí está a recompensa.

Que veja quem souber ver, quem quiser ver, ou quem tenha acordado a tempo, mesmo os que ainda não deixaram de sofrer de azia por causa do «voto útil»: o Estado português, através do seu governo, colocou a guerra, a solidariedade para com estruturas antidemocráticas, corruptas e manchadas de sangue devido a oito anos de envolvimento em actividades terroristas à frente dos interesses dos portugueses. Obedeceu com submissão absoluta às ordens da burocracia não-eleita da União Europeia e logo numa ocasião em que a comunidade dos 27 está completamente à deriva, sem saber como recuar nos perversos caminhos contra a Rússia que lhe foram traçados em Washington. A partir de agora, como pode o actual chefe do governo pretender dar lições de democracia e de respeito pelos direitos humanos quando faltou ao respeito aos portugueses para subsidiar um Estado nazi?

A hipocrisia e a desonestidade governamental tornaram-se transparentes a partir do momento em que um primeiro-ministro, responsável por fazer cair um governo por teimosias e minhoquices orçamentais em torno de verbas inócuas para a saúde nação, agarrou em 250 milhões de euros que tanta falta fazem aos cidadãos para os lançar num poço sem fundo que engorda contas em paraísos fiscais e luxuosas mordomias em capitais ocidentais de uma clique de criminosos vivendo à custa da guerra e da miséria, pondo em causa a sobrevivência do seu povo e do seu país.

Mais ou menos na altura em que Costa beijava e untava generosamente a mão ao reconhecidamente corrupto Zelensky, enquanto este impõe a imolação dos seus soldados e do seu povo «até ao último dos ucranianos» – como se exige em Washington –, a maioria parlamentar do seu partido proibia um aumento salarial decente para os trabalhadores portugueses da Função Pública. As mesmas restrições são extensivas aos salários em geral, pensões, reformas, os sectores estratégicos da saúde e da educação.

Como exemplo de opção política não poderemos encontrar nada mais esclarecedor. Não, não foi Putin quem mandou escrever isto. Até os cérebros mais infectados pela epidemia de pensamento único ainda conseguem fazer esta associação elementar, para frustração de pivôs e comentadores. Há realmente casos em que a mentira tem perna curta, como tão bem se diz no Brasil.

Os portugueses sempre foram vítimas dos caprichos provincianos dos seus sucessivos governos ao pretenderem exibir-se como «bons alunos», mas o executivo de António Costa esmerou-se na subserviência. Cabulou nas últimas lições e não percebeu que os colegas já estão mais adiantados na matéria – mesmo sem saberem muito bem o que fazer com ela, em modo de cada um por si. Tal como aconteceu, aliás, com o combate à Covid.

UCRÂNIA ‘RESOLVE’ PROBLEMA NAZI COM NOVO LOGOTIPO -- Caitlin Johnstone

#Traduzido em português do Brasil

A mudança na insígnia não está sendo feita para corrigir uma percepção errônea, está sendo feita para obscurecer uma percepção correta.

Caitlin Johnstone* | Consortium News

O jornal do império britânico The Times publicou um artigo intitulado “ Azov Battalion derruba símbolo neonazista explorado por propagandistas russos ”, que deve ser a manchete mais hilária de 2022 até agora (e estou incluindo The Onion e outras manchetes intencionalmente engraçadas na corrida).

“O Batalhão Azov removeu um símbolo neonazista de sua insígnia que ajudou a perpetuar a propaganda russa sobre a Ucrânia estar nas garras do nacionalismo de extrema direita”, informa o Times . “Na inauguração de uma nova unidade de forças especiais em Kharkiv, os patches entregues aos soldados não apresentavam o wolfsangel, um símbolo medieval alemão que foi adotado pelos nazistas e que é usado pelo batalhão desde 2014. Em vez disso, eles apresentavam um dourado tridente, o símbolo nacional ucraniano usado por outros regimentos.”

Sim, é assim que você resolve o problema nazi da Ucrânia. Uma mudança de logotipo.

Afirmar que é “propaganda russa” dizer que o Batalhão Azov usa insígnias neonazistas, e é ideologicamente neonazista, é em si propaganda. Há um mês, Moon of Alabama  publicou uma lista incompleta  dos muitos meios de comunicação ocidentais que descreveram vários paramilitares ucranianos como tal, então se são apenas “propagandistas russos” que estão dizendo que o Batalhão Azov é neonazista, então as mídias sociais do Vale do Silício as plataformas deveriam banir imediatamente veículos como  NBC News ,  BBC , The Guardian e  Reuters . 

Antes desta guerra começar em fevereiro passado, não era seriamente controverso dizer que a Ucrânia tem um problema nazista, exceto nas mais virulentas câmaras de eco do império. Mesmo nos primeiros dias do conflito, isso ainda acontecia com as principais publicações que ainda não haviam recebido o memorando de que a história havia sido reescrita, como  este artigo da NBC News  de março intitulado “O problema nazista da Ucrânia é real, mesmo que a 'desnazificação' de Putin alegação não é.”

Um trecho:

Igualmente perturbador,  os neonazistas fazem parte de  algumas das crescentes fileiras de batalhões voluntários da Ucrânia. Eles estão endurecidos pela batalha depois de travar alguns dos mais duros combates de rua contra os separatistas apoiados por Moscou no leste da Ucrânia após a invasão da Crimeia de Putin em 2014. Um deles é o  Batalhão Azov , fundado por um supremacista branco declarado que afirmou que o  objetivo nacional da Ucrânia  era livrar o país de judeus e outras raças inferiores. Em 2018, o Congresso dos EUA estipulou que sua  ajuda à Ucrânia  não poderia ser usada “para fornecer armas, treinamento ou outra assistência ao Batalhão Azov”. Mesmo assim, Azov é agora um  membro oficial  da Guarda Nacional da Ucrânia.

OS MALEFÍCIOS DE PAGAR A TRAIDORES – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Angola tem um problema muito sério que tarde ou nunca se vai resolver. Qualquer miserável mental entra no mundo do Jornalismo e das Letras, sem pedir licença, pela porta dourada, que foi construída durante anos de luta e sofrimento, pelos pioneiros nacionalistas desde meados do século XIX, 13 de Setembro de 1845, quando nasceu o primeiro jornal angolano, intitulado Boletim do Governo-Geral da Província de Angola. Ou em 1849, quando nas oficinas da Imprensa Nacional, exactamente no mesmo local onde hoje vive, foi impresso o primeiro livro de poemas, Espontaneidades da Minha Alma (Às Senhoras Africanas), do poeta benguelense José da Silva Maia Ferreira. 

Face ao panorama nascido em 1992, quando foi enterrado o socialismo e a democracia representativa, interrogo-me muitas vezes: Como reagiam jornalistas como José de Fontes Pereira, Pedro Paixão Franco, Silva Rocha, Arantes Braga, Sant’Anna Palma ou Augusto Bastos, confrontados com a mediocridade e o analfabetismo militante de José Eduardo Agualusa?

Face ao assalto despudorado ao fabuloso mundo das Letras Angolanas, pergunto a mim próprio: Como reagiriam homens como Augusto Bastos, o pai da Literatura Policial em Angola, António de Assis Júnior, o criador do primeiro romance angolano, Ernesto Lara Filho, o maior cronista de língua portuguesa? Nunca saberei.  

Um dia pergunto a Luandino Vieira, o genial escritor angolano que não deixou pedra sobre pedra da velha medida colonialista, inventando e reinventando tudo de novo, até dentro do novo, como se sente ao ver as Letras Angolanas conspurcadas por analfabetos desvairados como José Eduardo Agualusa, um apátrida sem rei nem roque, que balbucia umas palavrinhas alinhadas por alturas e meteu na cabeça (a martelo) que isso é ser escritor. Provavelmente responde com uma gargalhada sarcástica ou conta-me uma estória do antigamente na vida e fica o assunto arrumado.

Angola | Cinco pessoas detidas por suspeitas de tráfico de seres humanos

A Polícia angolana deteve cinco cidadãos nacionais acusados da prática do crime de tráfico de seres humanos, na província de Luanda, capital do país, informou hoje o porta-voz da instituição.

Segundo Nestor Goubel, o grupo é liderado por uma mulher e a polícia tomou conhecimento do caso, através de uma denúncia, salientando que os suspeitos terão estado envolvidos no rapto de uma criança de cinco anos, no mês passado, no bairro do Prenda, município de Luanda.

"Segundo informações, a mãe do menor, oportunamente participou o caso, tendo o Ministério Público emitido os competentes mandados de detenção, cujo processo-crime corre os seus trâmites normais no SIC [Serviço de Investigação Criminal]", referiu o porta-voz do comando provincial da polícia de Luanda.

No decorrer das investigações, a polícia ficou a saber que por intermédio de um cúmplice, os acusados levaram o menor à província do Zaire e tentaram vendê-lo por seis milhões de kwanzas (13.337 euros), tendo a operação sido abortada devido à intervenção policial.

De acordo com Nestor Goubel, o crime está esclarecido e a criança entregue à família, frisando que "a Polícia está atenta" e elogiando a cultura de denúncia da população.

"O apelo é sempre no sentido das denúncias, que fiquem atentos aos sinais, ao desaparecimento de crianças e ajam como a mãe da menina que, em tempo oportuno, procedeu à participação para a abertura do processo e para depois dali decorrer todo este trabalho de polícia", salientou.

Sobre o tráfico de seres humanos, o diretor do Instituto Nacional da Criança (INAC), Paulo Kalesi, disse à Lusa, que têm recebido um número considerável do desaparecimento de menores.

"E sempre que nós recebemos uma denúncia idêntica que supostamente uma criança terá sido raptada, que uma criança desapareceu, o nosso elo direto é a polícia, quem tem que investigar", salientou.

Paulo Kalesi explicou ainda que, nos últimos dois anos, registaram 50 suspeitas de crianças traficadas, tendo todas elas sido remetidas à polícia para apurar.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Lusa

Ler em Página Global:

Presidente angolano propõe eleições gerais para 24 de agosto de 2022

A GUERRA CONTRA A DEMOCRACIA E OS GOLPISTAS DE MAIO – Artur Queiroz

Portugal | AGENDA DO TRABALHO DIGNO MINGUA

Manuel Carvalho Da Silva* | Jornal de Notícias | opinião

O Governo aprovou esta quinta-feira, em Conselho de Ministros, uma proposta de lei que integra as alterações à legislação laboral identificadas na Agenda do Trabalho Digno. A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social manifestou a convicção de que a AR vai ser célere a aprovar aquela proposta de lei e que ela assegura a "valorização dos trabalhadores" em geral e, mais especificamente, "a valorização dos jovens no mercado de trabalho". Tais objetivos são uma necessidade para o país, mas não se chega lá por mera manifestação de intenções.

Primeiro, num quadro em que Portugal carece da melhoria do perfil de especialização da economia, de uma grande recuperação socioeconómica e de travar o empobrecimento demográfico, o debate daquelas alterações legislativas no sentido de se valorizar o trabalho, os salários e as condições de vida dos trabalhadores, desde logo dos mais jovens é um dos debates políticos prioritários. Será que o Governo e a AR estão em condições e com vontade de motivarem os portugueses para essa importância?

Segundo, as grandes reformas laborais implicam avaliação efetiva dos impactos que as leis ainda em vigor produziram, de identificação da realidade em que o país vive, do estado do Sistema de Relações Laborais que temos, de algum distanciamento face a estrangeirismos e modas conjunturais. Elas exigem reflexão, estudo, debates com contributos dos trabalhadores e seus sindicatos, das representações patronais, da academia, e de abordagens qualificadas na Comunicação Social. Este envolvimento não está criado e não se perspetiva fácil. Daí podem resultar consensos podres e atuações governamentais pretensamente salomónicas, mas objetivamente a favor dos mais fortes.

Terceiro, a última grande reforma laboral, com a entrada em vigor do Código de Trabalho em 2003 (as posteriores aprofundaram conceções aí vertidas), veio desequilibrar o entendimento institucional criado a partir da Constituição da República, aprovada em 1976 - a âncora da nossa democracia e do nosso Estado social. Tal reforma foi realizada em nome da "velhice" das leis laborais e da contratação coletiva, da necessidade da "flexibilidade protegida" e do aumento da "competitividade". O resultado foi um sistema de contratação coletiva disruptivo e a não confirmação dos objetivos propostos. Impuseram-se prestações de trabalho cada vez mais precárias e penosas, e alterações legislativas a consagrá-las.

HÁ CADA VEZ MAIS FAMÍLIAS A SOFRER DE FOME EM PORTUGAL

Mais de 8 mil pessoas estão em situação de sem-abrigo em Portugal, de acordo com dados avançados pelo ENIPSSA em setembro. Tanto os ‘sem teto’ como os ‘sem casa’ e até aqueles que apenas vão à rua à procura de apoio, procuram cada vez mais a ajuda do CASA para conseguirem comer.

Há mais de 8 mil pessoas em situação de sem-abrigo em Portugal. Mais exatamente 8.209. Este número foi revelado, no final do mês de setembro, pelo portal da Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas em Situação de Sem-Abrigo (ENIPSSA), que tem dados atualizados de 275 concelhos até ao dia 31 de dezembro de 2020.

Segundo a ENIPSSA, o conceito de «pessoa em situação de sem-abrigo» é dividido em dois: pessoa sem teto e pessoa sem casa. O primeiro diz respeito às pessoas que vivem na rua ou noutros espaços públicos, em abrigos de emergência ou em locais precários; e o segundo àquelas que vivem em centros de alojamento temporário, em alojamentos específicos para pessoas sem casa ou em quartos pagos pelos serviços sociais ou por outras entidades. Do total de pessoas em situação de sem-abrigo, 3.420 são «sem teto» e 4.789 «sem casa».

Quem conhece esta realidade é o Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA), uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) que iniciou a sua atividade em 2002. Através das rondas que as equipas realizam, todos os dias, por quatro rotas – Oriente, Alcântara, Santa Apolónia, Saldanha (onde vão mais pessoas para além de sem-abrigo), Mouzinho da Silveira, descendo para a Baixa e Arroios –, os voluntários e restantes membros concluem que a fome tem vindo a aumentar na capital.

«As famílias vêm à rua à procura de comida. Todos aqueles que viviam da hotelaria e do turismo, principalmente, têm estado mal. Pedimos sempre dados: procuramos ser o mais abertos possível. Se não houver cruzamento de dados das associações, é muito fácil as pessoas aproveitarem-se», diz o diretor-geral Nuno Jardim. «No entanto, temos tendência de um caso extrapolar para o geral e não nos podemos esquecer de que pedir comida não é algo muito agradável, ainda temos vergonha. Portanto, acredito que quem o faz está, efetivamente, a passar por dificuldades».

De acordo com a ENIPSSA, a Área Metropolitana de Lisboa (AML) é a zona que concentra o maior número de pessoas em situação de sem-abrigo no país: 3.665 sem casa e 1.121 sem teto. A grande maioria (4.786) está localizada no concelho de Lisboa. Contudo, esta situação não ocorre apenas na capital: quando considerado o número de pessoas em situação de sem-abrigo (PSSA) por mil habitantes, o concelho de Alvito, em Beja, lidera a lista, com 11,35 PSSA por mil habitantes. Segue-se Beja, com 9,72, e Lisboa, com 7,42.

«Os pedidos de ajuda subiram e não baixaram muito. Registámos um aumento de 75% nos sem-abrigo e de famílias à volta de 45%. Os de sem-abrigo baixaram 6% e nas famílias também ficou estável desde 2020. Ainda não houve possibilidade de recuperarem. Nós nunca paramos e, infelizmente, há associações que tiveram de parar por causa da pandemia», reconhece, adiantando que a classe média e a média-alta são aquelas que sofreram um maior impacto negativo.

«A classe média-alta e alta sofreu um grande impacto. Muitos entraram em sistemas de layoff e há os profissionais liberais que não conseguiram dar a volta. Para além destes, os idosos passam por muito e há cada vez mais com demência a vaguear pelas ruas, não tendo um lar. Em Lisboa temos as tais quatro rotas e, em Cascais, no centro, temos um refeitório para os sem-abrigo, as famílias», divulga, explicando que «noutros tempos» havia pessoas que os impediam de realizar as atividades habituais, «mas hoje em dia é tudo muito mais colaborativo. As coisas estão diferentes. Trabalhamos através da ENIPSSA e temos a solução ou alguém terá a solução. Tudo depende das vagas e instituições de determinada região. E depois é aprovado o projeto que apresentam e, com a Segurança Social, desenvolvemo-lo e, dentro da rede, são identificadas as pessoas para cada habitação».

Portugal | Para a Direita, Cavaco é o que há mais perto da perfeição

Paulo Baldaia* | TSF | opinião

Uma parte da Direita rejubilou com a escrita de Cavaco Silva no Observador e considerou mesmo que se tratava do melhor artigo da sua longa carreira. Longe de ficar para a história, como ficou o artigo da boa e da má moeda, este último texto é uma catarse, uma espécie de vingança servida fria, uma resposta tardia para um aparte enviado pelo primeiro-ministro na posse do governo.

Há ironia no texto que sobre para agradar à falange e deixar nervosos os socialistas das redes sociais que tropeçaram nas banalidades com que responderam a esta crónica de colheita tardia. Isso prova que a dita crónica acabou, de facto, por sair melhor que a encomenda. Foi, pelo menos, a melhor peça de oposição, num tempo em que não se vislumbra oposição ao governo do PS.

Sobre maiorias absolutas, no entanto, sabemos bem como elas só foram parcialmente aproveitadas para reformar em diálogo com a oposição. Fossem as maiorias social-democratas, fossem socialistas.

A ideia que Cavaco Silva tenta passar neste artigo, a de que aproveitou as suas maiorias para fazer as reformas que o país precisava, esbarra na convicção de que está quase tudo por fazer porque António Costa e o PS são incapazes de reformar. Ou bem que Cavaco aproveitou os 10 anos em que foi primeiro-ministro e fez o que tinha de ser feito, ou bem que reconhece que houve muita coisa que não foi capaz de fazer ou fez mal e é necessário agora corrigir.

A mais fina ironia desta última intervenção do político que mais tempo de poder teve para fazer um país diferente, já que não gosta do que vê, é dita em inglês. "Nobody is perfect", diz-nos o homem que já era uma celebridade quando se colou a ele uma frase que talvez até nunca tenha dito: "nunca me engano e raramente tenho dúvidas".

*Jornalista

UMA IMAGEM ESCOLHIDA E UMA MÚMIA QUE TEIMA EM SAIR DO SARCÓFAGO


Portugal -- Diz-se que existem milagres e pesadelos. Pensavam os mais ingénuos e otimistas que já não existia o perigo da Múmia regressar... Nada disso. O que Portugal e os portugueses constataram foi o regresso da Múmia esta semana. Eis o pesadelo. 

Diz-se que abriu a fossa e transbordou de frustração, de falsa modéstia, de cinismo, de raivas mal contidas como era seu hábito (e ainda é). Horrível e vulgar como moço de estrebaria repleta de esterco. Ressabiado, sempre. Dislexo, sempre. Mais tantan que anteriormente e quase a recolher de vez, definitivamente, ao sarcófago já reservado na Pirâmide Boliqueimada. E então sim. Assim dar-se-á efetivamente o tal milagre. (PG)

ISABEL, O JUBILEU DA VELHA CARCAÇA E AS VAIAS AO DESPENTEADO MENTOL

'O objetivo é pegar uma onda': Rainha ausente não consegue deter multidões de serviço de jubileu

#Traduzido em português do Brasil

Tobi Thomas | The Guardian

Onna Wright e suas filhas Dolly, 10, e Leila, 8, originalmente definiram seus alarmes para as 4h da manhã de sexta-feira para tentar obter o melhor local para ver a rainha após o culto de ação de graças na Catedral de São Paulo.

Em vez disso, depois que foi anunciado na quinta-feira que a rainha não estaria presente, eles foram pelo menos “capazes de mentir um pouco antes de descer”.

Wright disse: “Minhas filhas são grandes fãs da família real, o último evento real que celebramos adequadamente foi o casamento de Meghan e Harry, então estávamos realmente ansiosos para ver a rainha. Eles estão um pouco tristes por ela não poder vir hoje.”

Mas o desconforto da rainha, que a levou a perder o culto , não impediu a multidão de fãs reais que agitavam bandeiras.

Wright e suas filhas, que viajaram de Yorkshire, estavam entre as milhares de pessoas que se reuniram ao longo dos trilhos de Cheapside na esperança de ver outros membros da família real passarem após o culto.

“A atmosfera aqui tem sido tão incrível, todos foram muito amigáveis. Tem sido tão adorável”, disse Wright. “Nós gostamos de ontem, mas acho que hoje será o destaque. O objetivo é tentar pegar um aceno de um membro da família real quando eles passarem por aqui mais tarde.”

O ECLODIR DA GUERRA E O SALTO DA TPA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O meu desejo sincero era ir beber um copo com a rainha platinada, mas estando a monarca pior da perna não quis apertar com ela. Noutros tempos ganhei o título de Eusébio da cerveja. Depois fui condecorado com a medalha Maradona do Gin. Imparável, conquistei o título honorífico de Messi do Tinto Velho. Nenhuma rainha, prateada, dourada ou platinada tem a minha pedala. Ia a Londres só para humilhá-la.

Sinceramente, não gosto de ficar em falta com ninguém. Vai daí hoje meti-me no jacto privado e dei uma saltada à capital do império colonial mais duradouro do mundo, para assistir à santa missa do jubileu. Bati com o nariz na porta e deitei fora a garrafa de gin.

A soberana platinada está pior da perna e não conseguiu subir a escadaria da Catedral de São Paulo. Francamente, não entro em templos porque estou, há muitos anos, de relações cortadas com o dono da casa. Mas abria uma excepção para partilhar a missa com a rainha. Ela não foi e eu também não. Para compensar a frustração dei uma saltada à Ucrânia para ver como a Federação Russa está a ser esmagada e o Zelensky se prepara para ser investido como czar de todas as Rússias, da Polónia, da Alemanha e do lindo torrão lusitano. Tive azar. 

O herói de todo o Ocidente estava a visitar soldados feridos, num hospital só para nazis. Amanhã vai visitar uns quantos mortos e no domingo tem marcado um convívio com os prisioneiros nazis exportados de Mariupol para a República de Gdansk. Mais frustrado fiquei.

Em desespero decidi ver o noticiário das 20 horas da TPA. O novo equipamento é mais glorioso que a Ucrânia, um autêntico banquete cozinhado pelo Carlos Rosado de Carvalho. O som era inaudível, os cortes eram mais que muitos, mas o Ernesto Bartolomeu deu-me a notícia do século. Em 1992, o MPLA ganhou as eleições. Para as Presidenciais, José Eduardo dos Santos também ganhou. Mas foi necessária uma segunda volta entre ele e Jonas Savimbi. O Ernesto Bartolomeu, no seu estilo inimitável, tonitruou: “A segunda volta não se realizou porque eclodiu a guerra”. 

Obrigado, Ernesto. Muito grato, Bartolomeu. Andei estes anos todos enganadíssimo. Meti na cabeça que a segunda volta das Presidenciais, em 1992, não se realizou porque Jonas Savimbi deu ordens para a UNITA recusar os resultados eleitorais. E mandou os seus pistoleiros ameaçarem a representante da ONU em Angola, Margareth Anstee, que reduziam Angola a pó, caso ela publicasse os resultados eleitorais, como lhe competia. Um dos pistoleiros ameaçador foi Abel Chivukuvuku. Outros ameaçadores foram Ben Ben, Salupeto Pena, Jeremias Chitunda e Alicerces Mango. Cumpriram as ameaças e mataram centenas de angolanas e angolanos nas ruas de Luanda e outras cidades de Angola.

Até hoje, eu pensava que não foi o eclodir da guerra. Foi uma acção armada de banditismo para matar a democracia no ovo. O Presidente José Eduardo dos Santos, o seu governo, as forças armadas, a direcção do MPLA e de outros partidos políticos confiaram na ONU e na Troika de Observadores (Portugal, Rússia e EUA) para chamarem à razão os bandoleiros que dispararam contra o regime democrático e rasgaram o Acordo de Bicesse. Falharam.

Até que o Presidente José Eduardo dos Santos deu ordens às Forças Armadas Angolanas e às forças de segurança para desencadearem uma operação conjunta no sentido de acabarem com o banditismo. Assim se fez. As FAA, os seus soldados, sargentos, oficiais subalternos, capitães, oficiais superiores e os seus generais cumpriram sempre os seus deveres para com o Povo Angolano. Eliminada a quadrilha do criminoso de guerra Jonas Savimbi, regressou a paz e desde então, as eleições têm sido pacíficas, livres e justas.

No dia 24 de Agosto vão acontecer de novo. Contados os votos, os resultados são revelados ao Povo Angolano. E a vida pacífica vai continuar. Não há bandidos que travem Angola para a paz e o progresso. 

Até Agosto estou de férias, Não me castiguem com novas tecnologias na TPA, que não me deixam ouvir o som e quando oiço é o Ernesto Bartolomeu a eclodir a guerra. 

Se me voltam a castigar desta maneira, vou mesmo beber um copo com a rainha platinada, mesmo que esteja pior da perna. Não apertem comigo.

*Jornalista

BIDEN VISITA O AMIGO SAUDITA MESTRE DA TORTURA E DO ASSASSINIO

'Sentimo-nos traídos': ativistas dizem que a visita de Biden à Arábia Saudita é uma violação de valores

#Traduzido wm português do Brasil

Middle East Eye

Presidente dos EUA ainda pode aproveitar sua visita e pedir reformas no reino, dizem ativistas e grupos de direitos humanos

Ativistas sauditas e grupos de direitos humanos condenaram a visita do presidente dos EUA , Joe Biden, à Arábia Saudita, dizendo que o presidente está traindo seus valores ao se encontrar com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, acusado de abusos de direitos, incluindo assassinato, tortura e assassinato. de civis na guerra do Iêmen.

Vários relatórios indicam que o presidente dos EUA viajará para a Arábia Saudita no final deste mês, onde se encontrará com bin Salman, que também é conhecido por suas iniciais MBS. Ao falar com repórteres na sexta-feira, ele confirmou que em algum momento viajará para a região.

"A Arábia Saudita seria incluída nisso se eu fosse, mas não tenho planos diretos no momento", disse Biden, acrescentando que ainda está comprometido com os direitos humanos.

Abdullah Alaoudh, um acadêmico saudita que também é filho do estudioso islâmico preso Salman al-Awda, disse que ele e outros ativistas sauditas se sentiram "traídos por Biden".

"O presidente Biden assumiu o cargo prometendo responsabilização pelo reinado de terror do príncipe herdeiro. Mas de uma só vez, Biden está apostando toda a esperança de justiça para as inúmeras vítimas de MBS como meu pai", disse Alaoudh ao ​​Middle East Eye.

"Foi sal na ferida quando Trump se gabou de 'salvar [MBS's] @$$.' Mas como Biden é melhor se ele beija o anel desse assassino, desse torturador, desse criminoso de guerra e autocrata?

"Se Biden lhe der a reunião dos EUA que MBS tanto deseja, o aperto de mão sangrento enviará uma mensagem clara aos tiranos em todos os lugares: você sempre pode contar com a América para trair seus valores e recompensar o mau comportamento".

... E ANDAMOS NÓS A SUSTENTAR TRISTES VÍCIOS DO COMEDIANTE ZELENSKY

BATALHAS ENCENADAS DO EXÉRCITO UCRANIANO

Em 3 de maio, o Ministério da Defesa russo compartilhou vídeos das operações de combate encenadas das Forças Armadas da Ucrânia. Câmeras são vistas nos vídeos, e os militares da AFU seguem as ordens do diretor de cinema.

Os papéis dos militares da LPR e da DPR também são desempenhados por atores ucranianos que têm braçadeiras vermelhas que são um sinal tático das Milícias Populares.

” Em meio à catástrofe política de Kiev em Mariupol e fracassos militares em Donbas, o regime de Kiev, com o apoio financeiro do Reino Unido, organizou a filmagem de vídeos de “elevação do espírito” para o público ocidental e ucraniano.

Em particular, em 28 de maio, imagens de vídeo encenadas foram filmadas perto do assentamento de Meshkovka, na região de Mykolaiv, mostrando a suposta “alta eficiência” do uso de armas ocidentais por nacionalistas ucranianos. Para tornar a imagem futura mais dramática, por insistência dos curadores britânicos, uma “reconstrução” da “batalha” nunca existente dos nazistas ucranianos com os “militares russos” em menor número foi criada no set.

Os papéis dos “oponentes” dos nazistas ucranianos no curta-metragem encenado foram desempenhados por membros da unidade de defesa territorial local usando braçadeiras vermelhas. Na ausência de equipamentos russos capturados, o “inimigo condicional” aparece no quadro em veículos blindados e veículos blindados ucranianos”.

Os vídeos confirmam que a principal arma do regime de Kiev são mentiras e falsificações.

VER VÍDEOS BREVES:

1  --  A Batalha Entre Colunas e Cacos

2  --  Depressa Que a Batalha Não Espera

Fonte: South Front

A PRINCIPAL PRIORIDADE DOS EUA É DERROTAR A RÚSSIA NA UCRÂNIA

#Traduzido em português do Brasil

Eric Zuesse | South Front

Em 1º de junho, o governo dos EUA  somou US$ 700 milhões  aos  US$ 40,1 bilhões que ordenou em 19 de maio para serem gastos para vencer a guerra contra a Rússia que está acontecendo no campo de batalha da Ucrânia, na fronteira com a Rússia . (A título de comparação: imagine se,  em vez disso , a Rússia tivesse  derrotado o México em 2014 , e agora estabelecesse sua principal prioridade como sendo vencer sua guerra por procuração contra a América, no México - a 6.700 milhas ou 10.700 quilômetros de distância da Rússia - e estavam alocando dezenas de bilhões de dólares para ganhar sua guerra por procuração contra a América  dessa maneira .) Enquanto a Ucrânia está fornecendo, para a guerra por procuração da América contra a Rússia, os soldados (a  procuração da América  naquela guerra), e os cadáveres da Ucrânia, os feridos da Ucrânia e a destruição da Ucrânia, a América está fornecendo dinheiro e armas acredita que será necessário para permitir que essas forças derrotem a Rússia naquele campo de batalha distante, nesta guerra, que  prejudica,  em vez de  aumentar,  a segurança do povo americano. Esta é a realidade do que está acontecendo agora.

Além disso: também em 1º de junho, o governo dos EUA, que nos dias anteriores havia prometido que não forneceria à Ucrânia qualquer armamento que pudesse chegar longe na Rússia, violou essa promessa quando a Reuters mancheteu naquela noite:  “EXCLUSIVO: planos dos EUA vender drones armados para a Ucrânia nos próximos dias -fontes” , e informou que "o governo Biden planeja vender à Ucrânia quatro drones MQ-1C Grey Eagle que podem ser armados com mísseis Hellfire para uso no campo de batalha contra a Rússia, três pessoas familiarizadas com a situação disse." Até aquele momento, os Estados Unidos vinham dizendo que nunca permitiriam que a Ucrânia atacasse a Rússia, e que somente o uso contra as forças russas dentro da Ucrânia seria permitido; mas, agora, essa promessa é anulada. Essa arma tem  um alcance de 400 quilômetros, que é cinco vezes maior do que o alcance de 80 km que o governo Biden vinha dizendo ser o limite que eles forneceriam à Ucrânia (para evitar que a Ucrânia invada a Rússia).

Tudo isso ocorre dentro de um contexto mais amplo:

Como observei em 2 de junho,  o Serviço Postal dos EUA (USPS) está entrando em colapso . Nada comparável já aconteceu antes na história dos EUA. Este é outro sinal de que todo o país está em declínio, exceto que seus super-ricos (que detêm os interesses de controle dos empreiteiros do Departamento de 'Defesa' dos EUA, como a Lockheed Martin) estão ficando ainda mais ricos do que nunca (exceto durante a corrida). até a Grande Depressão em 1929). Grandes corporações estão indo extraordinariamente bem, mas as “mães e papais” e outras empresas menores não estão, e os funcionários não estão. A insegurança está aumentando, em toda a nação americana. O Serviço Postal dos EUA está  na Constituição dos EUA e, portanto, não pode ser totalmente privatizado como muitas outras coisas estão sendo privatizadas por esse governo. Mas um  quase- a privatização está sendo feita, transferindo as  partes lucrativas  do USPS para seus concorrentes privados, como UPS e FedEx, e deixando os serviços não lucrativos do USPS e os próprios funcionários do USPS arcando com as perdas, dos serviços essenciais, que o USPS fornece (e que a Constituição dos EUA diz que  deve  fornecer).

Derrotar a Rússia na Ucrânia é agora a principal prioridade do governo dos EUA, e as necessidades do povo americano estão sendo ignoradas para servir a essa prioridade.

Alimentar a fera do “complexo militar-industrial” aumenta a  segurança da nação americana e do povo americano, o  oposto  de aumentar a   defesa nacional real. Aumenta a probabilidade de um holocausto nuclear, que destruiria não apenas a Rússia e a América, mas  todos os  países. E, no entanto, esta é a principal prioridade do governo dos EUA, neste momento em que as necessidades das pessoas e do mundo inteiro estão sendo basicamente ignoradas pelos líderes do governo dos EUA.

O DÓLAR E O SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL

Carlos Carvalhas [*]

Como se sabe, em Bretton Woods Keynes procurou que fosse adoptada uma moeda composta de várias moedas com diversas ponderações, o “Bancor“, para as transacções internacionais. Tal não veio a acontecer . Os americanos impuseram o dólar.

Esta imposição é nos historicamente explicada pelo facto de, terminada a guerra, os EUA serem os maiores detentores de ouro e  também o país que, tendo sido dos menos afectados pelo conflito, era o que se encontrava em melhores condições económicas.

Mas há um outro aspecto de grande relevância que não é mencionado.

Os EUA possuíam a bomba atómica.

Ora na história da humanidade, nas relações internacionais, a superioridade no armamento militar desempenhou sempre o papel determinante, na relação de forças, dominação, imposição.

Desde o sílex, o bronze, o ferro, as armas de repetição, a bomba atómica  e, nos nossos dias, os drones e os mísseis hipersónicos.

Isto para dizer  que a situação da guerra que estamos  a viver na Europa seria diferente se a Federação Russa não tivesse  actualmente superioridade militar neste tipo de armamento decisivo.  E é esta relação de forças no plano do armamento  militar conjugado com o poderio económico da Republica Popular da China que também torna muito mais efectiva a ameaça aos privilégios do dólar.

Pela primeira vez no quadro internacional, nomeadamente depois do desaparecimento da União Soviética,  há uma grande potência económica , a fábrica do mundo e uma potência militar , a Federação Russa que põem em causa  a hegemonia americana e o sistema monetário internacional tal como o temos conhecido . E tudo leva a crer que terão força para o fazer.

Da mesma maneira que em Bretton Woods o resultado foi a lei do mais forte também na nova relação de forças mundial a China e a Rússia estão em condições de pôr em causa o domínio absoluto dos EUA e do dólar e inclusivamente poderem vir a ser um pólo de atracção para países que querem garantir a sua independência.

As sanções à Federação Russa e a captura das reservas de dólares, euros e títulos de tesouro pertencentes ao Banco Central da Rússia, tal como já o tinham feito a outros países, mostraram ao mundo que a detenção de reservas em dólares e divisas dos países da NATO, não dá nenhuma segurança.

Recorda-se que o fizeram contra o Irão, o Iraque, a Jugoslávia, o Zimbabwe, a Birmânia, a Venezuela, a Síria, a Líbia e o Afeganistão...

Até agora, a questão esteve em como romper a hegemonia americana que assenta a sua força no poderio militar – complexo militar-industrial – [1], no dólar, no domínio das agências internacionais e das agências de informação, nas leis extra territoriais, tribunais arbitrais privados [2] – e até na indústria do entretenimento (Hollywood, Netflix).

Mas desta vez, o quadro internacional é diferente. Há a China, há a Federação Russa e há outros grandes países que desejam também ter a sua liberdade de movimentos como é o caso da Índia e até da Arábia Saudita, que neste momento sofre a pressão dos Estados Unidos da América para que não venda o seu petróleo à China aceitando yuans.

A força militar dos Estados Unidos permitiu que as matérias-primas e designadamente os produtos petrolíferos  fossem negociados em dólares desde o acordo de Nixon com a Arábia Saudita, conferindo a esta moeda o estatuto de reserva mundial e um estatuto de confiança e solidez que não corresponde sequer à realidade.

Esta confiança (fidúcia) permite-lhes até usar a rotativa na impressão de dólares para os usarem conjunturalmente nas revoluções coloridas e na destabilização deste ou daquele país que não se submeta.

O dólar é o maior sistema Ponzi-D. Branca da história. No seu tempo De Gaulle já tinha chegado à conclusão que se os dólares que circulavam na Europa regressassem aos Estados Unidos da América não havia ouro no Fort Knox para a sua troca, tal como estabelecido nos acordos de Bretton Woods. Na actualidade se os dólares que circulam no mundo regressassem aos Estados Unidos não haveria nem ouro, nem património, nem bens e serviços que lhes correspondessem.

O dólar está enraizado por decénios de domínio norte-americano e é aceite normalmente nas transacções internacionais o que não significa que não tenha pés de barro.

O confisco das reservas em dólares em títulos de divisas americanas à Federação Russa levou  a que esta viesse a exigir  o pagamento das suas exportações de gás  em rublos defendendo assim a sua moeda que em vez de se ter afundado se tem apreciado até agora.[3]

Para alguns economistas e comentadores internacionais, a ligação do rublo ao gás e ao ouro deu lugar a uma nova moeda “gásrublo”, que pode marcar o início de uma nova relação de forças no sistema financeiro internacional conjuntamente com outras moedas  no quadro de um mundo multipolar ou bipolar.

Os Estados Unidos e os falcões ocidentais impuseram sanções a um pais que possui matérias-primas fundamentais e em quantidade para abalar os mercados mundiais e que , no plano militar, está em condições de lhes fazer frente. 

Acresce que a Federação Russa conta com a China até por necessidade objectiva deste país , que tem vindo a ser diabolizado , de se defender de uma futura agressão que já se desenha nos Estados Unidos.

Esta operação de pagamento de gás em rublos, para já, tem resultado e se a evolução da guerra for favorável à Federação Russa, as sanções podem vir a estimular um bom número de países a repensar a sua estratégia em matéria das suas reservas num processo de afastamento do dólar.

Por enquanto o peso das moedas chinesa e russa nas reservas dos bancos centrais é ainda relativamente pequeno, mas esta situação pode vir a alterar-se [4]. A China já foi directamente e indirectamente ameaçada. Em 2017 o secretário do Tesouro norte-americano Steven Mnuchin  admitiu cortar o acesso da China ao sistema de pagamento em dólares  se não aplicasse as  sanções da ONU contra a Coreia do Norte para a dissuadir de prosseguir com o desenvolvimento de mísseis e armas nucleares.

A China tem vindo a tomar, paulatinamente, medidas no plano monetário e financeiro para defender a sua independência.

Por exemplo, sendo hoje o primeiro importador mundial de petróleo bruto, a China tem procurado utilizar esta posição para conseguir que, pelo menos, uma fracção significativa das suas importações seja paga com a sua moeda. 

Está a procurar consegui-lo com a Arábia Saudita, como já foi dito, e tem contratos a prazo com a Rússia e com o Irão.

A cooperação entre a China e a Rússia no domínio energético , no domínio financeiro, monetário e no sistema de pagamentos reforçou-se ainda mais nos últimos anos o que é um dado importante na actual relação de forças mundiais.

A China para o Ocidente foi parceira, hoje é rival e os seus dirigentes sabem também que por vontade dos americanos já seria inimiga.

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