sexta-feira, 10 de junho de 2022

Angola | Assassinos Perdoam e Desculpam as suas Vítimas -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O chefe da UNITA, em 1992, durante a campanha eleitoral, perdeu toda a credibilidade quando mentiu aos jornalistas descaradamente. E convocou-nos para uma conferências de imprensa que só ele sabia da sua existência. Apareceram os representantes dos Media nacionais e internacionais. O director do Gabinete de Imprensa do Galo Negro, Norberto de Castro, mais tarde, pediu desculpas e disse que o jovem Adalberto era um mentiroso compulsivo e gostava de se fazer passar por dirigente do partido.

Os Media portugueses entrevistaram agira o chefe da UNITA e ele disse que “os observadores internacionais às eleições de 24 de Agosto não podem ser apenas os amigos do MPLA”. Que horror! Aqueles que destruíram o império colonial português e ajudaram a derrubar o fascismo, só querem amigos a fiscalizar o acto eleitoral, para fazerem fraude! O colégio de comissários da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) deliberou que cada partido político e coligações de partidos concorrentes às eleições podem convidar até 18 observadores, para fiscalização do processo eleitoral. 

A Assembleia Nacional, onde a UNITA está representada, pode convidar, por sugestão dos partidos com assentos no parlamento, 50 observadores. O Tribunal Constitucional, pode convidar 24. A CNE decidiu que as organizações não-governamentais e outras instituições da sociedade civil podem convidar até três observadores por província. Cada igreja devidamente legalizada pode convidar até dez observadores por província. Quanto às missões diplomáticas (embaixadas) podem convidar observadores mas têm de obedecer aos princípios estabelecidos na Convenção de Viena

O que são os observadores internacionais? A Comissão Nacional Eleitoral esclarece. São considerados observadores internacionais, os cidadãos indicados por organizações regionais e internacionais, os observadores de organizações não-estatais, os observadores de governos estrangeiros, os observadores de organizações não-governamentais de direito estrangeiro reconhecidas em Angola e os observadores individuais.

Tomem nota, por favor. Adalberto da Costa Júnior e um aldrabão de trazer por casa. Um mentiroso compulsivo. Quando disse aos Media portugueses que a UNITA não podia aceitar que os observadores internacionais das eleições de 24 de Agosto, fossem apenas os amigos do MPLA, já sabia das decisões tomadas pelo colégio de comissários onde o Galo Negro está representado.

Marcolino Moco, Francisco Viana e outros trânsfugas do MPLA estão enganados. Os angolanos não vão escolher um vigarista vulgar para dirigir os destinos de Angola. Nem um milagre vai salvar o Galo Negro de uma derrota eleitoral estrondosa e, espero, definitiva.

Ao longo dos anos tenho recolhido informação sobre o golpe militar de 27 de Maio de 1977. Até escrevi um livro sobre o tema. Mas ainda tenho muito que contar. O Bureau Político do MPLA deu-me informações que nem constavam dos seus comunicados. No Jorna Página Um, na época um diário português de grande tiragem, publiquei dezenas de notícias e reportagens sobre o golpe e os golpistas. O material foi-me fornecido pela direcção do MPLA e outras fontes daminha inteira confiança.  Além do Página Um também escrevi sobre o 27 de Maio no Diário Popular, no Expresso e no semanário O Jornal. Este foi o único órgão de informação português que tinha um jornalista em Luanda, naquele dia, Manuel Beça Múrias, meu companheiro no Diário de Notícias e um grande amigo. 

O semanário O Jornal publicou material informativo recolhido pelo seu repórter em Luanda. Ele viu os tanques de guerra dos golpistas. Ele viu os postos de controlo dos golpistas desde o Kinaxixi à Mutamba. Ele viu um golpe militar, ao vivo! E contou o que viu. Curiosamente, todas e todos que escrevem sobre o 27 de Maio de 1977 ignoram o meu trabalho no Página Um e as reportagens de Manuel Beça Múrias, directamente de Luanda. Em cima do acontecimento.

Na sequência do texto que escrevi no dia 27 de Maio passado, recebi uma mensagem de um camarada do MPLA e companheiro de armas, que me contou o seguinte: “Quando percebi que se passava algo de anómalo, saí de casa às quatro da madrugada e como me competia fui para o Comando da IX Brigada, então instalado no antigo quartel da Engenharia do Exército Português, contíguo ao quartel dos Dragões, que albergava a Companhia de Reconhecimento da Brigada. 

Às seis da manhã os golpistas tentaram apanhar-me, porém, consegui escapar e fui para o Bairro do Saneamento, onde encontrei Mr. Katondo, vizinho do comandante Ndozi. Sem demoras pedi-lhe que informasse imediatamente o comandante Xyetu sobre a situação anómala que se desenrolava naquele momento, com algumas subunidades da IX Brigada. 

Posteriormente tentei voltar ao quartel, mas já não foi possível. Então, resolvi ir pra minha casa, pôr a salvo a minha família. Foi quando vi um turismo Ford, vermelho, com o Pitoco ao volante, estacionado à porta da minha casa. Como não tinha relações de amizade com ele, imaginei que o Pitoco era um fraccionista e imediatamente afastei-me da rua da minha casa. Mais tarde, pelo Pitoco, soube que o comandante N’Zaji estava dentro do carro. 

Mais pormenores sobre esse triste dia, posso relatar-te quando estivermos juntos. Ainda guardo na minha memória muitos episódios onde eu fui um dos participantes. Modéstia à parte, tive uma participação transparente e muito activa durante o período do fraccionismo e também no rechaço e neutralização do golpe de estado no dia 27/05/77, comandado pelo Nito Alves e o Zé Van-Dúnem”.

Não identifico o autor deste curto depoimento porque ele corre sérios riscos de perder as estrelas de general, conquistadas no terreno da luta, desde o maquis até à Frente Sul, quando os Heróis das FAPLA arrasaram os racistas de Pretória. Podem prendê-lo perpetuamente. Ou expulsá-lo do MPLA. Aquela declaração sobre o meu papel na divulgação dos pormenores do golpe de estado pode levar-me à comissão dos assassinos do 27 de Maio e arrisco uma condenação à morte. Mas aprendi que para a frente é o caminho e não há recuos na minha vida. Nunca. Um familiar do assassino Nito Alves garantiu hoje naTPA que os assassinados e seus camaradas estão desculpados e perdoados. Finalmente, os golpistas triunfaram. 

*Jornalista

Novo Governo toma posse em Bissau com demissões à mistura

Um dia depois de ser conhecido o novo Governo guineense, o Presidente Umaro Sissoco Embaló exonerou três ministros que faltaram à tomada de posse, por discordarem com a formação do novo Executivo.

Três altos dirigentes do Partido da Renovação Social (PRS), nomeados para diferentes pastas ministeriais, não marcaram presença na tomada de posse, esta sexta-feira (10.06), no Palácio da República, em sinal de descontentamento pela forma como foi formado o novo Executivo. 

Em reação, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, exonerou as três figuras: Mário Fambé, ministro da Energia, Fernando Dias, ministro dos Recursos Naturais, e Tcherno Djaló, ministro da Educação Nacional.

O Partido da Renovação Social (PRS) convocou, esta sexta-feira, com caráter de urgência, a reunião da sua Comissão Política Nacional, para analisar os últimos desenvolvimentos políticos na Guiné-Bissau. 

PAIGC fora do Governo

Tudo apontava para que o vencedor das últimas eleições legislativas, o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), atualmente na oposição, integrasse o Governo, mas a formação política dirigida por Domingos Simões Pereira acabou por ficar de fora de um executivo com 37 membros

Após a tomada de posse dos novos membros do governo, o primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, falou da ausência do PAIGC: "Indigitei o vice-primeiro-ministro [Soares Sambú] para negociar com o PAIGC, e por fim, decidiram não integrar o Governo. Portanto, esta é a decisão unilateral do PAIGC e nós não podemos dizer algo mais do que isto", explicou.

Entretanto, em curtas declarações à DW África, Manuel dos Santos - 'Manecas', dirigente do PAIGC, evocou as razões que motivaram o partido a declinar o convite para adesão ao executivo.

"O Bureau Político do PAIGC [reunido na quinta-feira (09.06)] disse que o partido não tem condições para realizar o seu congresso [é impedido pela justiça]. Não se levantam as medidas de coação ilegais que foram impostas ao presidente [do partido - impedido pela justiça de deixar o país]", lamentou.

"O PAIGC não tem condições para participar no Governo", asseverou.

Terrorismo em Cabo Delgado: "A cidade de Pemba está em pânico", alerta ativista

Abudo Gafuro, da Associação Kuendeleya, avisa que "é preciso fazer um trabalho muito duro, exaustivo e urgente para repelir" os terroristas. Novo ataque esta quinta-feira (09.06) voltou a alarmar a população local.

Desconhecidos degolaram esta quinta-feira (09.06) uma pessoa nas matas de Silva Macua, Cabo Delgado, disse fonte local, agravando a insegurança que desde domingo afeta o sul da província moçambicana, até agora considerado livre de rebeldes armados. Fonte comunitária referiu que a descoberta de uma pessoa degolada nas matas motivou a debandada da população e estruturas locais da aldeia de Salaue, a menos de 100 quilómetros de Pemba, junto à estrada nacional 1 (EN1) que conduz à capital provincial.

Os grupos armados que aterrorizam Cabo Delgado, no norte de Moçambique, há quase cinco anos, mataram também na última terça-feira (07.06) quatro pessoas num ataque no distrito de Ancuabe, isto depois de um outro ataque no fim de semana. Entre as vítimas estavam dois seguranças de uma empresa que explora grafite na região, mas as autoridades locais garantem que a área está segura.

Este ataque ao distrito de Ancuabe pode significar a abertura de uma nova frente por parte dos terroristas que se encontram em debandada, depois de terem sido desalojados nos distritos de Nangade, Palma, Macomia e Quissanga, defende Abudo Gafuro, presidente da Associação Kuendeleya, que trabalha na defesa dos direitos humanos em Pemba.

Gafuro acrescenta que este novo ataque está a agravar a crise de deslocados internos na província, sendo que muitas pessoas vindas de Ancuabe tentam refugiar-se na cidade de Pemba e noutros distritos vizinhos.

LARANJINHA NO BANQUETE DOS GALITOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Naquele tempo eu era solteiro, bom rapaz e um esforçado repórter, cavando notícias dos casos do dia. Os leitores conheciam os subterrâneos da cidade e sabiam o que tinha acontecido enquanto dormiam a sono solto, até acordarem com  o roncar das máquinas. Nunca me dei bem com a situação de celibatário. Por isso inventei os casamentos instantâneos. Quando me apaixonava, convidava amigas e amigos para a boda da minha princesa. A duração do matrimónio dependia da disponibilidade das adoráveis esposas. 

Um dia casei com uma senhora bastante rica. O marido tinha ido a Portugal traficar moeda e no intervalo fizemos um casamento de arromba. Um dos meus convidados, o Kid Kindumba, rei do munhungo, disse mal do pitéu, servido esmeradamente pelo restaurante Tongo. Ficou riscado da minha lista de convivas. É preciso ter muita lata para ir a uma boda de casamento instantâneo e dizer mal do banquete. Entrada cortada!

Marcolino Moco e Francisco Viana imitam o desalmado Kid Kindumba. Aparecem em tudo quanto é Media dizendo mal do banquete que o MPLA lhes serviu ao longo de meio século! São muito parecidos com o Zelensky da Ucrânia. Diz mal da comida que a França e Alemanha lhe metem no prato. Qualquer dia morre empanturrado com tanto dinheiro e tanta arma. Não desejo o mesmo fim aos propagandistas da UNITA. Pelo contrário, desejo-lhes longa vida para verem muitos anos, os sucessos políticos do MPLA.

Uma tal Rita Laranjinha, directora-geral para África no Serviço Europeu de Acção Externa (União Europeia) veio a Luanda fazer figura de Kid Kindumba, Marcolino Moco, Francisco Viana e outros trânsfugas da democracia. Fez declarações públicas que considero próprias do Agapito ou do Silvério Marques. Fez-se convidada para observar as eleições gerais em Agosto. Alguém tem de explicar a esta flatulência retardada do colonialismo que Angola é que decide quem observa as eleições e com que regras. Não é Bruxelas e muito menos ela. 

Uma burocrata da União Europeia vem a Luanda mendigar gás e petróleo, à boleia da situação nos Grandes Lagos ou na África Central. Diz uns disparates de circunstância e depois faz-se convidada para observar as eleições. A dona Laranjinha, antes de partir para Luanda, devia estudar umas coisinhas. Primeira: Saber se Angola é uma feitoria, como Portugal, ou um país independente. Segunda: Como foi nas eleições de 2017. Sou bom rapaz e vou ajudá-la, sem sofisma nem segundo sentido. Nada de avanços. 

Nas eleições de 2017, a Comissão Nacional Eleitoral convidou dezenas de organizações internacionais para observarem a legalidade e justiça do acto eleitoral. A União Africana enviou observadores. Os países africanos de língua portuguesa enviaram observadores. Penso que Portugal também, nas não tenho a certeza. E a União Europeia? Tome nota, Laranjinha: O seu cartel falido também foi convidado. Mas quis impor as suas regras de observação eleitoral. Fez pior do que Kid Kindumba, Marcolino Moco e Francisco Viana. Exigiu escolher a ementa do banquete! 

O ministro das Relações Exteriores na época, Georges Rebelo Chicoti, quando soube que a União Europeia queria impor as suas regras de observação eleitoral, fez esta declaração: “O convite que fazemos às instituições, é aberto. Mas não queremos quaisquer acordos específicos com cada uma destas organizações. Quem quiser vir, vem. Mas o convite é aberto. Não há nenhuma declaração política final, nem relatório oficial para divulgação após as eleições”. A União Europeia não aceitou as regras. Bruxelas queria o mesmo abuso protagonizado por Ana Gomes, que se comportou como uma Savimbi de saias. Foi mais papista do que os pagadores com diamantes de sangue. Isso acabou, dona Laranjinha! Não deixe que o engenheiro à civil Adalberto da Costa Júnior a emprenhe pelos ouvidos. Não dá gozo nenhum (lá estou eu com as ordinarices).

Portanto, se nas eleições anteriores a União Europeia não aceitou as regras definidas pelos órgãos de soberania angolanos, não é agora, que está faminta de petróleo e outras matérias-primas valiosas, que vai aceitar. Quero prestar mais um serviço à sona Laranjinha. Oiça atentamente as declarações do ministro das Relações Exteriores da União Indiana, Subrahmanyam Jaishankar. Ele disse que os problemas da Europa não são os problemas do mundo: “A Europa tem de crescer e abandonar a mentalidade de que os problemas da Europa são os problemas do mundo”. Oiça com atenção e não venha para Luanda com paleio de Agapito e dona da lavra. 

Antes que a dona Laranjinha tome as dores da UNITA e dos seus apoiantes trânsfugas do MPLA, vou revelar-lhe mais este pormenor. A Comissão Nacional Eleitoral definiu como limite máximo, a acreditação de 2.000 observadores nacionais às eleições de 24 de Agosto. Até 30 dias antes do acto eleitoral têm de dar os passos necessários à sua acreditação.

Por piedade (devemos sempre ajudar as e os analfabetos) vou transcrever à dona Laranjinha o Artigo 7º do Regulamento sobre o Reconhecimento e Acreditação dos Observadores Eleitorais, que foi publicado em Diário da República, no passado dia 6 do corrente mês de Junho: “Para efeitos de reconhecimento e acreditação de Observadores Eleitorais Nacionais, a Comissão Nacional Eleitoral fixa a quota de até 2.000 observadores”. 

O que são observadores eleitorais nacionais? O Artigo 7º do regulamento explica: “São as organizações, os indivíduos ou entidades nacionais, legalmente reconhecidas para observarem o processo eleitoral”. Não consigo explicar melhor. Estou a ficar laranjinha da cabeça.

Hoje tomei nota da notícia retumbante. Os ossos dos assassinos que comandaram e dirigiram o golpe de estado de 27 de Maio, decapitando o Estado-Maior General das FAPLA, vão ser enterrados no Cemitério do Alto das Cruzes, ao lado dos comandantes e altos funcionários da República Popular de Angola que eles mataram. Eu sabia que Boris Vian era um transformador da ficção em realidade. Um dia ele escreveu o livro EU VOU CUSPIR NOS VOSSOS TÚMULOS. Já sabia que os familiares de Monstro Imortal, Shianuk e Nito Akves, membros da direcção política e militar do golpe de estado de 27 de Maio de 1977, haviam de pisar e cuspir nos túmulos daqueles que os golpistas assassinaram. Já está.

Mas nunca esqueçam que ele também escreveu MORTE AOS FEIOS ainda que usando o nome de Vernon Sullivan. Como dizia o outro, daqui ninguém sai vivo. Desculpem-me alguma palavra mais maldita.

*Jornalista

CÚPULA DAS AMÉRICAS: O PODER OUTONAL DOS EUA


#Publicado em português do Brasil

Washington volta a mirar a América Latina. Com diplomacia arrogante, visa conter o avanço chinês – mas nada oferece para a soberania e dilemas sociais da região. Encontro é canto de cisne de um império cego às mudanças geopolíticas

Juan Gabriel Tokatlian* | no Nuso | em Outras Palavras | Tradução: Rôney Rodrigues

A IX Cúpula das Américas (que acontece em Los Angeles entre 6 e 10 de junho) começou com dúvidas sobre a participação de vários chefes de estado, ausências e exclusões significativas [Cuba, Nicarágua e Venezuela]. Junto a conjuntura, há razões mais profundas para o clima de apatia que prevalece no conclave. Uma comparação entre as duas Cúpulas das Américas sediadas pelos Estados Unidos pode nos dar uma ideia melhor do quanto o mundo, Washington e a América Latina mudaram.

A primeira Cúpula das Américas, de 1994, realizada em Miami durante o governo de Bill Clinton, teve um contexto singular. Os Estados Unidos em particular e o Ocidente em geral eram os vencedores da Guerra Fria. Washington foi primus inter pares e teve uma oportunidade notável de moldar o que era então – e por falta de um nome melhor – chamado de Pós-Guerra Fria. A União Soviética havia sofrido uma implosão e a Rússia era uma potência minguante que dispunha de um enorme arsenal nuclear, mas tinha uma base material destruída e uma projeção de poder muito reduzida. A China era, naqueles anos, um país em ascensão, mas ainda não havia se tornado uma grande potência regional tampouco uma superpotência com alcance global. E a Europa optava por alargar a União Europeia em vez de aprofundar a sua experiência unificadora.

A América Latina estava deixando para trás os golpes e a transição democrática se consolidava de forma gradual, mas promissora. O mundo exigia os “dividendos da paz” uma vez que o confronto entre os Estados Unidos e a União Soviética terminou, Washington parecia dar alguma atenção à América Latina e a região compartilhava uma certa homogeneidade com governos mais inclinados a buscar relações mais estreitas com a Casa Branca. Pode-se dizer – claro que com algum exagero – que havia uma relativa comunidade de interesses e valores no sistema interamericano.

Essa primeira data continental deve ser situada também na grand strategy de Washington nesse contexto histórico. A grande estratégia, chamada de “Compromisso mais Ampliação” (Engagement plus Enlargement), consistia em que os Estados Unidos não retrocedessem como haviam feito após a Primeira Guerra Mundial e que tivessem a vontade, a capacidade e a oportunidade de reconfigurar decisivamente o sistema internacional (o componente de engagement ), enquanto buscaria propagar a economia de mercado e o pluralismo político (o componente enlargement ). Em relação a este último componente, a política norte-americana utilizou o Consenso de Washington de 1989 para dar impulso às políticas de liberalização e desregulamentação econômica, por um lado, e de redução do Estado, por outro. Nesse quadro, um eixo central foi o comércio, tema que se tornou o foco principal da Primeira Cúpula das Américas com a aspiração de alcançar uma Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) até 2005.

A caminho do conclave de Miami, os Estados Unidos realizaram uma série de consultas prévias, além de reuniões preparatórias. A América Latina, então por meio do chamado Grupo do Rio (composto pela soma do Grupo Contadora, Grupo de Apoio a Contadora, Comunidade do Caribe [Caricom] e Sistema de Integração Centro-Americana [SICA]), realizou reuniões às vésperas da Cúpula com o objetivo de levar contribuições que refletissem as necessidades da região. Do ponto de vista burocrático, o papel do Subsecretário de Assuntos Hemisféricos do Departamento de Estado, Alexander Watson, foi relevante. Conhecia a região – tivera missões diplomáticas na Bolívia, Brasil, Chile e Peru – e falava espanhol e português.

O DESINVESTIMENTO NO SNS ESTÁ A MATAR CADA VEZ MAIS PORTUGUESES


Está à vista e é de domínio público. Mais um bebé que morreu por falta da devida assistência médica. O Serviço Nacional de Saúde tem a responsabilidade pela mortandade, não é o primeiro bebé que morre em Portugal exatamente por falta da assistência médica atempada. Os pais portugueses estão a perder os filhos por responsabilidade dos que há anos vêm a desinvestir no SNS e respetivos cuidados de saúde atempados que cada vez mais são negados aos portugueses. 

Tal mortandade não acontece só no caso de maternidades mas na generalidade do horrível estado de apoio à saúde. Apoio inexistente em muitos casos. Principalmente no apoio atempado em inúmeras doenças que por falta de assistência causam a morte de imensas crianças e jovens, assim como aos portugueses de meia idade e aos de mais idade nem se fala. Certo é que os pais portugueses estão a perder filhos por isso. Não sendo menos certo que há filhos que estão a perder os pais também por isso. Famílias desfeitas, doloridas, revoltadas, que os políticos e os governos desprezam, justificando-se com retóricas imbecis, avançando com falsas promessas, com mentiras... Repugnante.

Deu a entender, ontem na TSF, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, que Portugal já tem e vai ter um elevado número de mortes por falta de assistência atempada nas doenças oncológicas... Quantos portugueses já morreram exatamente por isso? Imensos. Criminosamente, desnecessariamente.

Depois vimos serem esbanjados milhares de milhões de euros que não chegam ao setor depauperado da saúde, do SNS. As famílias portuguesas estão a perder entes queridos por incúria e por desprezo das elites que desgovernam o país. Disso mesmo é prova a manchete TSF a seguir. Aconteceu nas Caldas da Rainha mas pode acontecer em qualquer cidade de Portugal. Morrem portugueses por notório desprezo dos governantes. E ainda vai ser pior, dizem os entendidos e trabalhadores da saúde - igualmente desprezados, desrespeitados. (PG)

DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS


Comemorações em Braga com a presença do PR Marcelo, neste momento a discursar a proposito. Ele mesmo a seguir voa para Londres demonstrando a estaleca habitual. Por lá irá juntar-se a alguns dos ali emigrados que pertencem à comunidade portuguesa. No regresso é bem provável que vá dar um mergulho, ali mesmo em Belém, frente ao palácio presidencial. O Rio Tejo passa em frente. Pela calada da noite não haverá quem o veja e interrompa a banhoca. Oxalá que relaxe. 

Como devem ter conhecimento o PM António Costa está adoentado e em repouso recuperativo imposto pelo médico. Não participou nas comemorações, nem vai à banhoca no Tejo, contenta-se com um jacúzi lá em casa. Por isso não consta no cartoon acima, de Henrique Monteiro, nem precisaria de boia como Marcelo. Costa é gordote e flutua naturalmente - até boia na fossa em que as elites políticas, financeiras, da corrupção e do gamanço chafurdam... E onde se dedicam a afundar Portugal e a sua plebe.

Bom Dia de Portugal para "eles". Para a plebe é o costume: fome e porrada de trabalho não vai faltar. (PG)

TRIBUNAL DA R.P. DONETSK CONDENOU MERCENÁRIOS ESTRANGEIROS À MORTE

#Traduzido em português do Brasil

Em 9 de junho, três mercenários estrangeiros foram condenados à morte na República Popular de Donetsk (DPR). Os mercenários incluem três jovens – o britânico Shaun Pinner, o britânico Aidan Aslin e o marroquino Saadoun Brahim. De acordo com as leis da DPR, a pena de morte é executada por fuzilamento.

O juiz Alexander Nikulin proferiu uma sentença de morte para os mercenários, pois a promotoria conseguiu apresentar argumentos suficientes para condenar os militantes. Os britânicos Shaun Pinner e Aiden Aslin se renderam em Mariupol em meados de abril. O marroquino Brahim Saadoun se rendeu em Volnovakha em 12 de março. Denis Pushilin, chefe do DPR, observou que seu julgamento não fazia parte de um tribunal militar.

O próprio Sr. Nikulin comentou: «Ao proferir a sentença, o tribunal foi guiado não apenas por normas e regras prescritas, mas também pelo princípio principal e inabalável – justiça. Foi este princípio que permitiu tomar esta difícil decisão de aplicar a pena de morte excepcional aos condenados».

Em 9 de junho, os britânicos Sean Pinner, Aiden Aslin e o marroquino Saadoun Brahim se declararam culpados de atos destinados a tomar o poder à força na RPD. O artigo correspondente do Código Penal da DPR prevê a pena de morte em tempos de guerra. Aslin também se declarou culpado sob o artigo “Passar no treinamento para realizar atividades terroristas”.

A investigação descobriu que mercenários estrangeiros por remuneração participaram da agressão armada da Ucrânia para tomar o poder à força na RPD. Todos os três estrangeiros foram considerados culpados de agir como mercenários.

Viktor Gavrilov, chefe do departamento de investigação de crimes contra a paz e a segurança da humanidade no Gabinete do Procurador-Geral da DPR, afirmou que a possível execução ameaçava os mercenários com antecedência, já no final de maio. Um argumento adicional a favor da imposição de uma sentença tão dura foi o estabelecimento da lei marcial na RPD.

Os réus ainda têm um mês para apresentar recurso. Os condenados podem recorrer da decisão na Justiça ou pedir perdão ao chefe da DPR. Se eles vencerem o recurso, a pena capital pode ser reduzida para até 25 anos de prisão.

O regime de Kiev e seus aliados ocidentais, incluindo Londres, agora tentam encobrir os crimes dos mercenários, alegando que eles tinham status de combatentes e deveriam ser tratados como prisioneiros de guerra sob as Convenções de Genebra.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia, Oleg Nikolaenko, comentando o veredicto de mercenários estrangeiros na República Popular de Donetsk, disse que todos os estrangeiros que lutam nas tropas ucranianas têm o status de combatente.

Londres teria prometido usar todos os canais diplomáticos para apoiar os militantes. Londres exigiu que seus cidadãos fossem tratados como prisioneiros de guerra sob as Convenções de Genebra. No entanto, a Grã-Bretanha não está oficialmente em guerra com a RPD.

O Reino Unido enviou à DPR um pedido para apelar do veredicto se os mercenários fossem condenados à morte. Se o tribunal concordasse com eles, os condenados poderiam pegar 25 anos em uma colônia penal. O mercenário britânico Aiden Eslin, conhecido como Cossack Gundi ou Johnny, pediu ao primeiro-ministro britânico Boris Johnson para ajudar na troca pelo político ucraniano detido Viktor Medvedchuk. Ele também se arrependeu de seus anos de serviço nas fileiras dos nacionalistas ucranianos.

South Front | Imagem: Shaun Pinner, Aidan Aslin e Saadoun Brahim 

É melhor a Grã-Bretanha reconhecer a R.P. de Donetsk se quiser salvar seus meninos

#Traduzido em português do Brasil

Andrew Korybko* | One World

O Reino Unido precisa decidir urgentemente se reconhece formalmente a República Popular de Donetsk na tentativa de salvar a vida de seus dois homens que acabaram de ser condenados à morte por tentar derrubar seu governo como mercenários ou deixá-los morrer, embora seu fim sempre possa ser fiado para fins de guerra de informação anti-Rússia se isso acabar acontecendo.

A República Popular de Donetsk (DPR) condenou dois britânicos e um marroquino à morte na quinta-feira por serem mercenários que tentaram derrubar o governo deste país em grande parte não reconhecido. A Western Mainstream Media (MSM), liderada pelos EUA, já está enlouquecendo alegando que não era nada além de um chamado “julgamento de fachada”, mas esses cidadãos estrangeiros foram de fato capturados em Mariupol e, portanto, longe de suas pátrias britânicas e marroquinas. Eles não estavam lá para apoiar os combatentes da liberdade, mas para literalmente matá-los a mando de Kiev por qualquer motivo pessoal que os levou a ir à guerra ao seu lado.

Ninguém pode, portanto, negar com credibilidade que esses estrangeiros são mercenários, mas, no entanto, o Ocidente liderado pelos EUA ainda não quer que eles sejam executados. Não há quase nenhuma probabilidade de que as autoridades marroquinas façam muito para apoiar seu cidadão condenado, porque provavelmente querem que o mundo esqueça que um de seus homens estava lutando lá, mas o Reino Unido é um assunto completamente diferente, pois tem uma participação direta no resultado. da guerra por procuração da OTAN liderada pelos EUA contra a Rússia através da Ucrânia , na qual dois de seus cidadãos estavam participando.

O problema, no entanto, é que Londres não reconhece Donetsk, portanto, não pode entrar em negociações formais com ela sobre seus futuros. Há uma chance, por menor que seja, de que eles peçam clemência e, assim, sejam perdoados a 25 anos de prisão em vez de executados, mas esse cenário, é claro, não pode ser dado como certo. Sendo esse o caso, o Reino Unido tem que decidir urgentemente se reconhece formalmente a DPR na tentativa de salvar a vida de seus dois homens ou deixá-los morrer, embora sua morte sempre possa ser inventada para fins de guerra de informação anti-russa se acabar. acontecendo.

Não está claro o que o público britânico realmente pensa sobre o conflito ucraniano , já que as pesquisas não podem ser confiáveis ​​neste ambiente de guerra de fato, nem pode ser descontado que os dissidentes não estão se autocensurando por medo de assédio político ou pior por suas crenças . Seja como for, provavelmente o britânico médio não quer ver seus filhos executados em uma terra estrangeira, muito menos possivelmente até de maneira pública, dependendo de como esse processo se desenrola na república amplamente não reconhecida. Por essa razão, eles podem se unir para pressionar seus líderes a salvar a vida de seus homens.

O Reino Unido tem muito em jogo nessa situação, já que sua falha em fazer qualquer coisa em apoio a seus cidadãos condenados enviaria um sinal muito desconfortável para os outros de que seu governo não os apoiará se eles forem lutar em terras estrangeiras em nome de “democracia” ou qualquer outra coisa que suas autoridades tenham feito lavagem cerebral para acreditar que vale a pena morrer. Uma coisa é morrer no campo de batalha em defesa de qualquer causa em que se acredite e outra é ser executado depois de ser capturado por seus oponentes como um mercenário a quem a Convenção de Genebra não se aplica legalmente.

Ninguém deve ter esperanças de que Londres reconhecerá Donetsk, já que isso seria um terremoto diplomático que o parceiro menor de Washington nunca faria unilateralmente por conta própria, nem parece provável que seu suserano permita. Por essa razão, a menos que a DPR sinta que pode ganhar algo politicamente valioso ao conceder clemência aos mercenários condenados que tentaram realizar uma mudança de regime contra sua república, é muito possível que sejam executados, mas resta saber se isso será feito em público como um impedimento para outros mercenários ou não.

*Andrew Korybko -- analista político americano

A FACE OCULTA DE VOLODYMYR ZELENSKY

Guy Mettan* 

Este texto (merece a pena referir que a tradução é do general Raul Luis Cunha) é uma excelente sequência para o que publicámos ontem. Ilustra detalhadamente a natureza e o papel do homem a quem o primeiro ministro do nosso país foi prestar solidariedade e levar 250 milhões. Um traste, homem de mão de oligarcas e nazis, primeiro responsável por um regime de bárbara repressão, pela criminosa destruição a que conduziu o seu país. Um “herói” para os media dominantes. Cujas páginas de arquivo devem ser cuidadosamente preservadas, porque algum dia terão de prestar contas por elas perante a opinião pública.

“Herói da Liberdade”, “Hero of our time”, “Der Unbeugsame (O indomável)”, “The Unlikely Ukrainian Hero Who Defied Putin and United the World”, “Zelensky, l’Ukraine dans le sang”: os media e os líderes ocidentais já não sabem que mais superlativos utilizar para cantar louvores ao presidente ucraniano, tão fascinados estão pela “surpreendente resiliência” do actor milagrosamente transformado em “cabo de guerra” e “salvador da democracia”.

Há três meses que o chefe de Estado ucraniano vem a encher as primeiras páginas das revistas, a abrir os noticiários, a inaugurar o Festival de Cinema de Cannes, a discursar nos parlamentos, a felicitar e repreender os seus colegas chefes de Estado dez vezes mais poderosos que ele e com uma sorte e um sentido tático que nenhum actor de cinema ou líder político antes dele tinham conhecido.

Como não cair no encanto deste improvável Mr. Bean que, depois de ter conquistado o público com as suas caretas e as suas extravagâncias (por exemplo, a andar nu numa loja e a imitar um pianista a brincar com o seu pénis), soube numa só noite trocar as suas ousadas travessuras e trocadilhos por uma camiseta verde-acinzentada, uma barba de uma semana e palavras sérias para galvanizar as suas tropas cercadas pelo malvado urso russo?

Desde 24 de fevereiro, Volodymyr Zelensky deu, sem dúvida, a prova de que é um artista da política internacional com um grande talento. Aqueles que acompanharam a sua carreira de comediante não ficaram surpresos porque conheciam o seu sentido inato de improvisação, as suas faculdades miméticas, a sua audácia de actuação. A forma como conduziu a campanha e em poucas semanas, entre 31 de dezembro de 2018 e 21 de abril de 2019, arrasou duros adversários como o ex-presidente Poroshenko, ao mobilizar a sua equipa de produção e os seus generosos oligarcas doadores, já havia demonstrado a amplitude dos seus talentos. Mas faltava ainda transformar esse teste. O que agora está feito.

Talento para o jogo duplo

No entanto, como muitas vezes acontece, a fachada raramente se assemelha aos bastidores. Os holofotes escondem mais do que mostram. E aí, fica claro que o quadro é menos cor-de-rosa: tanto as suas realizações como chefe de Estado como a sua actuação como defensor da democracia deixam seriamente a desejar.
Esse talento para o jogo duplo, Zelensky mostrou-o assim que foi eleito. Recorde-se que foi eleito com um resultado máximo de 73,2% dos votos, prometendo acabar com a corrupção, conduzir a Ucrânia no caminho do progresso e da civilização e, sobretudo, fazer a paz com os russófonos do Donbass. Assim que foi eleito, traiu todas as suas promessas com um zelo tão intempestivo que o seu índice de popularidade caiu para 23% em janeiro de 2022, ao ponto de ser superado pelos seus dois principais adversários.

A partir de maio de 2019, para satisfazer os oligarcas seus patrocinadores, o recém-eleito lançou um programa massivo de privatização de terras incidindo sobre 40 milhões de hectares de boas terras agrícolas sob o pretexto de que a moratória sobre a venda dessas terras teria feito perder bilhões de dólares ao PIB do país. Dando continuidade aos programas de “descomunização” e “desrussificação” iniciados desde o golpe pró-americano de fevereiro de 2014, lançou uma vasta operação de privatização dos bens estatais, de austeridade orçamental, de desregulamentação das leis do trabalho e de desmantelamento dos sindicatos, o que exasperou a maioria dos ucranianos que não compreendiam o que seu candidato queria dizer com “progresso”, “ocidentalização” e “normalização” da economia ucraniana. Num país que em 2020 tinha um rendimento per capita de 3.726 US $ contra 10.126 US $ do adversário russo, quando em 1991 o rendimento médio da Ucrânia superava o da Rússia, a comparação não é lisonjeira. E entende-se que os ucranianos não tenham aplaudido essa enésima reforma neoliberal.

Quanto ao caminho para a civilização, tomou forma com outro decreto que, em 19 de maio de 2021, garantiu o domínio da língua ucraniana e excluiu o russo em todas as áreas da vida pública, administrações, escolas e empresas, com grande satisfação dos nacionalistas e a estupefação dos russófonos no sudeste do país.

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