Artur
Queiroz*, Luanda
Nas eleições de 1992, os partidos
da oposição puseram a circular que o Presidente José Eduardo dos Santos era
santomense. O PRD, partido que juntava os golpistas do 27 de Maio de 1977 e uns
restos da Revolta Activa, pôs a circular a mentira. Os outros seguiram a
aldrabice, salvo a UNITA que nunca tocou no assunto. Talvez porque no Planalto
Central, no Leste, no Litoral Centro e no Sul circulava entre as populações que
Savimbi era zambiano.
O meu amigo José Cunha Velho era
alto funcionário do Registo Civil e eu pedi-lhe uma cópia da certidão de
nascimento de José Eduardo dos Santos. Recusou. Mas garantiu-me que ele é
angolano, nascido em
Luanda. Eu precisava de um papel oficial para a peça
jornalística que estava a escrever. Resolvi o problema na Missão de São Paulo,
onde o secretário do cartório me mostrou o registo de baptismo de José Eduardo
dos Santos, na época era obrigatório para as matrículas no ensino oficial.
Publiquei na revista “Sábado” (primeira série) o material e ninguém mais disse
que o Presidente da República era santomense.
A revista “Sábado” (actual)
publicou um trabalho jornalístico (VER AQUI) onde o autor prova que Adalberto da Costa
Júnior não é engenheiro, nem sequer à civil. O Instituto Superior de Engenharia
do Porto onde ele diz que estudou, informou que não consta nos arquivos que
Adalberto seja licenciado (engenheiro técnico). A Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto também declarou que não consta nos arquivos que Adalberto
da Costa Júnior seja licenciado naquela escola superior.
Confrontado pelos jornalistas,
Adalberto da Costa Júnior fez o papel de vítima e disse misteriosamente “eu
estudei…”. E insinuou que se trata de um ataque para denegrir a sua imagem, em
período eleitoral. Claro que atira com a responsabilidade para cima do MPLA. Há
mais de um ano eu consultei a secretaria do Instituto Superior de Engenharia no
Porto e fui informado de que o cidadão português Adalberto da Costa Júnior não
tinha obtido qualquer grau naquela escola. Comecei a trata-lo por engenheiro à
civil.
Adalberto não fez no Instituto
Superior de Engenharia do Porto qualquer bacharelato, licenciatura, mestrado ou
doutoramento. Mas como o chefe da UNITA se faz passar por engenheiro, este
problema resolve-se com a maior das facilidades. Ele chama os jornalistas e faz
distribuir uma cópia do certificado de habilitações. É facílimo. Assim o MPLA
fica desmascarado e cai sobre o partido a autoria de um acto repugnante que é
caluniar um adversário político para daí obter uma vantagem indevida.
Venha daí esse certificado
passado pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto, que eu garanto, pela fé
de quem sou, não existe. Se aparecer e não for tão falso como o Adalberto,
desde já assumo o compromisso de entregar a minha carteira profissional e não
mais exercer a profissão de jornalista. E, claro, peço desculpa e perdão ao
caluniado.
Luísa Fançony e Guilherme Mogas
prestaram relevantes serviços a Angola na área da comunicação social. E já no
ocaso das suas vidas profissionais publicaram um livro sobre a Rádio. Ambos
foram destacados trabalhadores da Emissora Oficial de Angola (RNA) ainda que
nunca tenham sido condecorados com o prémio arrebatado pelo Artur Arriscado. És
o maior, camarada! A Luisinha ofereceu-me um exemplar, que agradeço
publicamente. Li, reli e voltei a ler. Mogas, Luísa, aceitem a minha gratidão
pelo que fizeram pela Rádio da Minha Vida. O Mogas perguntou-me o que achava da
obra. E eu respondi: Tu e a Luisinha prestaram-nos um serviço extraordinário,
Obrigado.
O livro inclui depoimentos de
trabalhadoras e trabalhadores que serviram a RNA. Um deles, Reginaldo Silva,
diz que começou a sua carreira de jornalista com 19 anos, em 1975, na então
Emissora Oficial de Angola. Papel cadê? Mostre a carteira profissional.
Um dos buracos da minha vida foi
quando liderei uma lista concorrente aos órgãos sociais do Sindicato dos
Jornalistas de Angola. A lista adversária, liderada pelo Ventura Martins, era
apoiada pelos patrões da comunicação social da época. E nós vencemos! O Bobela
Mota era o presidente da Assembleia-Geral, o Antero Gonçalves presidia ao
Conselho Técnico e Deontológico. Eu presidia à direcção.
As careiras s profissionais eram
emitidas pela Direcção, depois do parecer do Conselho Técnico e Deontológico,
Na época existiam apenas 150 jornalistas profissionais em Angola. Eu conhecia-os
todos.
O Conselho Técnico e Deontológico
só emitia o título profissional aos candidatos que apresentassem uma declaração
da empresa que atestava terem cumprido o período de jornalismo tutelado
(estágio), uma declaração onde atestavam por sua honra que não exerciam
qualquer actividade incompatível com o exercício do jornalismo, nomeadamente
publicidade, relações públicas e colaboração em empresas de comunicação e
imagem. Os candidatos a profissionais tinham igualmente de apresentar um
certificado de habilitações literárias no mínimo a conclusão do ensino médio. E
por fim um certificado de registo criminal limpo.
Na época, quem entrava para a
profissão tinha de fazer seis meses como candidato a jornalista. Depois um ano
de estagiário, findo o qual prestava provas. Se aprovasse, passava a estagiário
de segundo ano. No final desse período terminava a fase do jornalismo tutelado.
Como não tínhamos profissionais, esses prazos eram encolhidos.
O senhor Reginaldo Silva não
tinha carteira profissional logo não era jornalista. Nem em 1975 nem em 1976.
Depois não sei. Mas os assassinos do 27 de Maio e seus apoiantes já nasciam
comandante s das FAPLA e profissionais de todas as artes e ofícios. Por isso,
pode ser que Nito Aves ou José Van-Dúnem tenham feito dele jornalista. Mas o
Sindicato dos Jornalistas, não.
José Carrasquinha diz que foi
jornalista do jornal O Comércio e da revista Notícia. Depois o Chico Simons
levou-o para a Rádio. Outro buraco imenso da minha vida foi quando aceitei a
responsabilidade de dirigir a informação e chefiar a Redacção da Emissora
Oficial de Angola, com António Cardoso e Manuel Rodrigues Vaz. A Reportagem
ficou sob a minha responsabilidade. Uns artistas queriam deitar abaixo o Chico
Simions. E eu dei-lhe a responsabilidade de coordenar a Reportagem.
Carrasquinha e outros jovens entraram
na Rádio porque decidimos que era preciso levar à antena o Português falado em Angola. O sotaque
angolano. Assim se fez. Mas Carrasquinha nunca obteve uma carteira profissional
porque não tinha habilitações académicas para isso. Nunca teve carteira profissional.
Insinua que está na origem do Kudibanguela. Mentira. O programa Contacto
Popular fazia parte da grelha da emissora Voz de Angla. Era realizado por mim,
produzido e apresentado pelo Zé Andrade (ZAN) e incluía a rubrica Kudibanguela,
espaço de jovens seleccionados pelo Órgão Coordenador das Comissões Populares
de Bairro.
A Voz de Angola foi extinta e eu
pedi à Luísa Fançony e ao Horácio da Fonseca, responsáveis pela programação da
Emissora Oficial (RNA) para incluírem na grelha o Kudibanguela. Assim se fez.
Quando fui para o Diário de Luanda ninguém mais tutelou o trabalho daqueles
jovens e os golpistas do 27 de Maio de 1977, criminosamente
instrumentalizaram-nos. O Carrasquinha não esteve nunca na rubrica inicial.
O edifício sonoro do Kudibanguela
e o indicativo eram da responsabilidade dos manos Neves (Artur e Fernando). O
indicativo foi criado por Artur Neves, na época o melhor sonoplasta da Rádio
Angolana e depois emprestado à televisão (TPA). Por favor, não falsifiquem a
História Contemporânea de Angola. É quase tão grave como matarem os comandantes
do Estado-Maior General das FAPLA. O ministro das Finanças que com Agostinho
Nerto criou a moeda nacional Kwanza. E todos os outros, desde os guardas da
Emissora Oficial de Angola aos chefes militares e dirigentes políticos de um
país em guerra.
O pior está para vir. A partir de
agora e por decisão do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, os
assassinos perdoam e desculpam as suas vítimas. Os assassinos e traidores são
promovidos a oficiais superiores das forças armadas que traíram. Os que tentaram
destruir Angola, são heróis. Os que enfrentaram os golpistas (heroínas e heróis
de verdade) foram muito maus. Os dirigentes de hoje têm de pedir desculpa e
perdão pela sua maldade.
Um dia fui apanhado pelo avanço
dos mercenários e tropas zairenses, entre Samba Caju e o Lucala. Os nossos
comandantes e “faplinhas” resistiram, rechaçando o inimigo. Quando acabaram os
combates, saímos do Lucala em direcção a Samba Caju. Nas duas bermas da estrada
estavam centenas de corpos. Mulheres, crianças e idosos. Algumas mamãs levavam
os bebés às costas e a mesma bala matou os dois. Senhor ministro! Entregue-me
as ossadas dessas angolanas e angolanos que só eu chorei e ainda chofro. Quero
as ossadas de todos, para lhes fazer um funeral digno. Os abutres, mabecos e hienas
deixaram seguramente os ossos. Vá reconhecê-los com os seus técnicos. Se não
cumprir, tenha a cuidado com o cão e comigo.
Hoje, miseráveis mentais e
leprosos morais da estirpe do motorista do RI20 (Jacques dos Santos), Carlos
Rosado de Carvalho, Justino Pinto de Andrade, Reginaldo Silva, Teixeira Cândido
ou Filomeno Vieira Lopes vão participar numa conferência intitulada “Processos
de Democratização e Desenvolvimento em Angola”. Conclusão antecipada: A
democracia angolana só tem pernas para andar com as fogueiras da Jamba e os
racistas de Pretória na sombra. Todos a toque de caixa dos assassinos do 27 de
Maio de 1977. Deus os criou e o diabo os juntou na Universidade Católica. Os
ministros Laborinho e Queiroz são participantes surpresa!
*Jornalista