sábado, 11 de junho de 2022

Angola | Conferencistas Mentirosos e Vigaristas – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Nas eleições de 1992, os partidos da oposição puseram a circular que o Presidente José Eduardo dos Santos era santomense. O PRD, partido que juntava os golpistas do 27 de Maio de 1977 e uns restos da Revolta Activa, pôs a circular a mentira. Os outros seguiram a aldrabice, salvo a UNITA que nunca tocou no assunto. Talvez porque no Planalto Central, no Leste, no Litoral Centro e no Sul circulava entre as populações que Savimbi era zambiano. 

O meu amigo José Cunha Velho era alto funcionário do Registo Civil e eu pedi-lhe uma cópia da certidão de nascimento de José Eduardo dos Santos. Recusou. Mas garantiu-me que ele é angolano, nascido em Luanda. Eu precisava de um papel oficial para a peça jornalística que estava a escrever. Resolvi o problema na Missão de São Paulo, onde o secretário do cartório me mostrou o registo de baptismo de José Eduardo dos Santos, na época era obrigatório para as matrículas no ensino oficial. Publiquei na revista “Sábado” (primeira série) o material e ninguém mais disse que o Presidente da República era santomense. 

A revista “Sábado” (actual) publicou um trabalho jornalístico (VER AQUI) onde o autor prova que Adalberto da Costa Júnior não é engenheiro, nem sequer à civil. O Instituto Superior de Engenharia do Porto onde ele diz que estudou, informou que não consta nos arquivos que Adalberto seja licenciado (engenheiro técnico). A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto também declarou que não consta nos arquivos que Adalberto da Costa Júnior seja licenciado naquela escola superior. 

Confrontado pelos jornalistas, Adalberto da Costa Júnior fez o papel de vítima e disse misteriosamente “eu estudei…”. E insinuou que se trata de um ataque para denegrir a sua imagem, em período eleitoral. Claro que atira com a responsabilidade para cima do MPLA. Há mais de um ano eu consultei a secretaria do Instituto Superior de Engenharia no Porto e fui informado de que o cidadão português Adalberto da Costa Júnior não tinha obtido qualquer grau naquela escola. Comecei a trata-lo por engenheiro à civil. 

Adalberto não fez no Instituto Superior de Engenharia do Porto qualquer bacharelato, licenciatura, mestrado ou doutoramento. Mas como o chefe da UNITA se faz passar por engenheiro, este problema resolve-se com a maior das facilidades. Ele chama os jornalistas e faz distribuir uma cópia do certificado de habilitações. É facílimo. Assim o MPLA fica desmascarado e cai sobre o partido a autoria de um acto repugnante que é caluniar um adversário político para daí obter uma vantagem indevida. 

Venha daí esse certificado passado pelo Instituto Superior de Engenharia do Porto, que eu garanto, pela fé de quem sou, não existe. Se aparecer e não for tão falso como o Adalberto, desde já assumo o compromisso de entregar a minha carteira profissional e não mais exercer a profissão de jornalista. E, claro, peço desculpa e perdão ao caluniado. 

Luísa Fançony e Guilherme Mogas prestaram relevantes serviços a Angola na área da comunicação social. E já no ocaso das suas vidas profissionais publicaram um livro sobre a Rádio. Ambos foram destacados trabalhadores da Emissora Oficial de Angola (RNA) ainda que nunca tenham sido condecorados com o prémio arrebatado pelo Artur Arriscado. És o maior, camarada! A Luisinha ofereceu-me um exemplar, que agradeço publicamente. Li, reli e voltei a ler. Mogas, Luísa, aceitem a minha gratidão pelo que fizeram pela Rádio da Minha Vida. O Mogas perguntou-me o que achava da obra. E eu respondi: Tu e a Luisinha prestaram-nos um serviço extraordinário, Obrigado. 

O livro inclui depoimentos de trabalhadoras e trabalhadores que serviram a RNA. Um deles, Reginaldo Silva, diz que começou a sua carreira de jornalista com 19 anos, em 1975, na então Emissora Oficial de Angola. Papel cadê? Mostre a carteira profissional.

Um dos buracos da minha vida foi quando liderei uma lista concorrente aos órgãos sociais do Sindicato dos Jornalistas de Angola. A lista adversária, liderada pelo Ventura Martins, era apoiada pelos patrões da comunicação social da época. E nós vencemos! O Bobela Mota era o presidente da Assembleia-Geral, o Antero Gonçalves presidia ao Conselho Técnico e Deontológico. Eu presidia à direcção.

As careiras s profissionais eram emitidas pela Direcção, depois do parecer do Conselho Técnico e Deontológico, Na época existiam apenas 150 jornalistas profissionais em Angola. Eu conhecia-os todos.

O Conselho Técnico e Deontológico só emitia o título profissional aos candidatos que apresentassem uma declaração da empresa que atestava terem cumprido o período de jornalismo tutelado (estágio), uma declaração onde atestavam por sua honra que não exerciam qualquer actividade incompatível com o exercício do jornalismo, nomeadamente publicidade, relações públicas e colaboração em empresas de comunicação e imagem. Os candidatos a profissionais tinham igualmente de apresentar um certificado de habilitações literárias no mínimo a conclusão do ensino médio. E por fim um certificado de registo criminal limpo.

Na época, quem entrava para a profissão tinha de fazer seis meses como candidato a jornalista. Depois um ano de estagiário, findo o qual prestava provas. Se aprovasse, passava a estagiário de segundo ano. No final desse período terminava a fase do jornalismo tutelado. Como não tínhamos profissionais, esses prazos eram encolhidos. 

O senhor Reginaldo Silva não tinha carteira profissional logo não era jornalista. Nem em 1975 nem em 1976. Depois não sei. Mas os assassinos do 27 de Maio e seus apoiantes já nasciam comandante s das FAPLA e profissionais de todas as artes e ofícios. Por isso, pode ser que Nito Aves ou José Van-Dúnem tenham feito dele jornalista. Mas o Sindicato dos Jornalistas, não. 

José Carrasquinha diz que foi jornalista do jornal O Comércio e da revista Notícia. Depois o Chico Simons levou-o para a Rádio. Outro buraco imenso da minha vida foi quando aceitei a responsabilidade de dirigir a informação e chefiar a Redacção da Emissora Oficial de Angola, com António Cardoso e Manuel Rodrigues Vaz. A Reportagem ficou sob a minha responsabilidade. Uns artistas queriam deitar abaixo o Chico Simions. E eu dei-lhe a responsabilidade de coordenar a Reportagem. 

Carrasquinha e outros jovens entraram na Rádio porque decidimos que era preciso levar à antena o Português falado em Angola. O sotaque angolano. Assim se fez. Mas Carrasquinha nunca obteve uma carteira profissional porque não tinha habilitações académicas para isso. Nunca teve carteira profissional. Insinua que está na origem do Kudibanguela. Mentira. O programa Contacto Popular fazia parte da grelha da emissora Voz de Angla. Era realizado por mim, produzido e apresentado pelo Zé Andrade (ZAN) e incluía a rubrica Kudibanguela, espaço de jovens seleccionados pelo Órgão Coordenador das Comissões Populares de Bairro. 

A Voz de Angola foi extinta e eu pedi à Luísa Fançony e ao Horácio da Fonseca, responsáveis pela programação da Emissora Oficial (RNA) para incluírem na grelha o Kudibanguela. Assim se fez. Quando fui para o Diário de Luanda ninguém mais tutelou o trabalho daqueles jovens e os golpistas do 27 de Maio de 1977, criminosamente instrumentalizaram-nos. O Carrasquinha não esteve nunca na rubrica inicial. 

O edifício sonoro do Kudibanguela e o indicativo eram da responsabilidade dos manos Neves (Artur e Fernando). O indicativo foi criado por Artur Neves, na época o melhor sonoplasta da Rádio Angolana e depois emprestado à televisão (TPA). Por favor, não falsifiquem a História Contemporânea de Angola. É quase tão grave como matarem os comandantes do Estado-Maior General das FAPLA. O ministro das Finanças que com Agostinho Nerto criou a moeda nacional Kwanza. E todos os outros, desde os guardas da Emissora Oficial de Angola aos chefes militares e dirigentes políticos de um país em guerra.

O pior está para vir. A partir de agora e por decisão do ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, os assassinos perdoam e desculpam as suas vítimas. Os assassinos e traidores são promovidos a oficiais superiores das forças armadas que traíram. Os que tentaram destruir Angola, são heróis. Os que enfrentaram os golpistas (heroínas e heróis de verdade) foram muito maus. Os dirigentes de hoje têm de pedir desculpa e perdão pela sua maldade. 

Um dia fui apanhado pelo avanço dos mercenários e tropas zairenses, entre Samba Caju e o Lucala. Os nossos comandantes e “faplinhas” resistiram, rechaçando o inimigo. Quando acabaram os combates, saímos do Lucala em direcção a Samba Caju. Nas duas bermas da estrada estavam centenas de corpos. Mulheres, crianças e idosos. Algumas mamãs levavam os bebés às costas e a mesma bala matou os dois. Senhor ministro! Entregue-me as ossadas dessas angolanas e angolanos que só eu chorei e ainda chofro. Quero as ossadas de todos, para lhes fazer um funeral digno. Os abutres, mabecos e hienas deixaram seguramente os ossos. Vá reconhecê-los com os seus técnicos. Se não cumprir, tenha a cuidado com o cão e comigo.

Hoje, miseráveis mentais e leprosos morais da estirpe do motorista do RI20 (Jacques dos Santos), Carlos Rosado de Carvalho, Justino Pinto de Andrade, Reginaldo Silva, Teixeira Cândido ou Filomeno Vieira Lopes vão participar numa conferência intitulada “Processos de Democratização e Desenvolvimento em Angola”. Conclusão antecipada: A democracia angolana só tem pernas para andar com as fogueiras da Jamba e os racistas de Pretória na sombra. Todos a toque de caixa dos assassinos do 27 de Maio de 1977. Deus os criou e o diabo os juntou na Universidade Católica. Os ministros Laborinho e Queiroz são participantes surpresa!

*Jornalista

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