quarta-feira, 13 de julho de 2022

LEITÃO E DOIS PORQUINHOS

Artur Queiroz*, Luanda

O Balsemão pagava a dois porquinhos para soltarem grunhidos e disparates numa coisa chamada Quadratura do Círculo. Um dia, a pocilga mudou para a TVI e os porquinhos passaram a fazer chiqueiro na Circulatura do Quadrado. Quando o barqueiro do Douro apareceu como testa de ferro dos compradores da TVI, aquilo mudou para CNN (serviço da CIA) e agora a kibanga tem o nome de Princípio da Incerteza. Ali está uma amostra fidedigna das elites corruptas e ignorantes que dominam Portugal.

Esta noite o guarda da pocilga perguntou ao Pacheco Pereira como vê José Eduardo dos Santos. E o porquinho vomitou ódio em vez de grunhir. Disse aldrabices em vez de se calar. Manipulou com ar de dono da verdade. Insultou como quem não quer a coisa. Não vou repetir os insultos da alimária mas dar-lhe uma pista, para que na próxima não seja tão estupidamente racista. E ressabiado. Em Portugal, as elites ignorantes e corruptas jamais perdoarão ao MPLA ter desmantelado o império colonial português.

A guerra na Ucrânia leva quatro meses. A Europa já está de pantanas. Os europeus pagam os bens essenciais ao preço do ouro. A inflação enlouqueceu. Os bancos dizem que precisam de ser capitalizados. O Boris Johnson vai mandar as ossadas políticas para o negócio do Francisco Queiroz. O couro cabeludo vai pra o museu da rainha, até o neto chegar a rei e usa aquela beleza como chinó. O Macron está de joelhos ante os gaulistas e outros istas que tresandam a alho e mostarda de dijon. O Pedro de Madrid mata emigrantes. O Tio Célito e o Costa andam agarrados às mangueiras apagando os fogos que grassam desde o mato ao governo da nação.

A guerra da Ucrânia deu uma chicotada tão grande no Sri Lanka (Ceilão) que o povo invadiu o palácio de Belém e o palácio de São Bento lá do sítio. Presidente e o primeiro-ministro fugiram a sete pés. A guerra continua e a Alemanha não consegue reparar o motor gripado. Guerra é guerra. 

Em Angola a guerra dos Dembos, às portas de Luanda, começou em 1872 e terminou em 1919. Mas desde essa data sucederam-se as revoltas em toda a colónia. Guerra de baixa intensidade. Em 1926, os portugueses acordaram com os belgas uma troca de territórios da qual resultou o mapa que hoje temos. A guerra de baixa intensidade continuou. Em 1961 começou a guerra colonial. Nesse ano, a taxa de analfabetismo era superior a 98 por cento. Até os colonos eram analfabetos! O meu pai ensinou alguns a escrever o nome. Eu escrevi-lhes cartas para a família. Alguns choravam quando me ditavam recomendações aos filhos.

Em 11 de Novembro de 1975, os portugueses regressaram a Portugal e deixaram-nos uma guerra sem quartel. Mário Soares e a CIA organizaram pontes aéreas em Luanda e Huambo para Lisboa levando todos os quadros, todos os técnicos, todos os operários especializados, todos o que sabiam fazer alguma coisa. Exércitos estrangeiros (Zaire e África do Sul, nazis do Exército e Libertação de Portugal-ELP capitaneados pelo coronel comando Santos e Castro), operacionais da CIA e matilhas de mercenários puseram a República Popular de Angola a ferro e fogo. 

Os analfabetos, em vez de irem para as escolas, tiveram de defender o solo sagrado da Pátria Angolana. E ainda ficámos com mais analfabetos. No Triângulo do Tumpo derrotámos o regime de apartheid da África do Sul e obrigámos os nazis a capitular. Daí resultaram os Acordos de Nova Iorque. 

PARA ALÉM DA MEMÓRIA

A DIGNA FIDELIDADE, A TODA A PROVA, À REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA

Martinho Júnior, Luanda

Sabemos das razões profundas da ausência de memória em relação à revolução dos escravos e do que se lhe seguiu até hoje no Haiti e por todo o Sul Global…

Em tempo de escravatura e de colonialismo, em tempo de opressão e repressão, tal como acontece ainda não só em relação ao Haiti, a memória é inimiga do domínio bárbaro, apto desde a fermentação de sua matriz a dividir e a triturar os povos, condicionando-os e formatando neles a mentalidade de sua única conveniência… por isso há ainda tanto afã em subverter a memória, subverter a história, subverter a ciência, subverter o ambiente sociopolítico contemporâneo, por que só assim o poder dominante continua a ser exercido em pleno século XXI…

De igual modo entendemos das dificuldades de memória em relação a muitos combatentes que por amor à humanidade tombaram do lado da dignidade, sabendo que pagaram com sua vida a imensa dívida moral para com os povos de África, tal como um dia em nome do povo cubano assumiu o Comandante Fidel e continuam a assumir todos os que com ele alimentam a batalha das ideias honrando o passado e a história do lado dos “deserdados da Terra”!...

01- No dia 9 de Julho de 1984, pelas 02H20 da madrugada, morreu em combate meu camarada e companheiro de luta, capitão António Carlos, Delegado da Segurança do Estado na Província do Huambo.

Daqui a mais dois anos já lá vão 40 desde esse marcante acontecimento.

É este um dos depoimentos de um dos seus contemporâneos de então, seu subordinado:

“António Carlos morreu a 09 de Julho 1984, com António de Melo Ferreira (Tony), chefe do plano na altura, Marito, Chefe de Gabinete e Fortes, quadro, recém-enquadrado e colocado no sector da administração e serviços.

O Pires, chefe transportes e um escolta cujo nome não me vem à memória agora, foram os dois sobreviventes.

O inimigo realizou um ataque no Instituto Agrário da Chianga e o António Carlos foi reforçar o dispositivo de defesa; de regresso a sua viatura acionou uma mina nas mediações da Chiva.

A equipa do Sector de Operações que ia reforçar a missão, dirigida pelo chefe da altura, Rasgado (em memória), equipa essa que eu fazia parte, saiu pouco depois deles; próximo das imediações das instalações da Cuca Protector recebemos informação do sucedido… só nos restou recolher os corpos”…

OU VOCÊ ESTÁ CONNOSCO OU É UMA “AMEAÇA SISTÉMICA” -- Pepe Escobar

#Publicado em português do Brasil

Pepe Escobar* | DossierSul

Veloz, mas não furioso, o Sul Global pisa no acelerador. O principal resultado da cúpula BRICS+ realizada em Pequim, bem diferente do G7 dos Alpes bávaros, é que tanto o Irã, do Oeste Asiático, quanto a Argentina, da América do Sul, candidataram-se oficialmente a ingressarem no BRICS.

O Ministério das Relações Exteriores iraniano ressaltou que o BRICS traz “um mecanismo muito criativo de amplos aspectos”. Teerã, um parceiro muito próximo a Pequim e Moscou – já havia realizado “uma série de  consultas” sobre essa candidatura: os iranianos estão confiantes de que ela irá “acrescentar valor” ao BRICS expandido.

E dizem que a China, a Rússia e o Irã estão tão isolados. Bem, afinal, estamos todos profundamente atolados no espectro do metaverso, onde as coisas são o oposto do que parecem ser.

O fato de Moscou teimar em não seguir o Plano A de Washington, que é começar uma guerra pan-europeia, vem abalando profundamente os nervos atlanticistas. De modo que, logo em seguida à cúpula do G7, realizada, de forma muito significativa, em um sanatório nazista, entra em cena a OTAN, paramentada para a guerra da cabeça aos pés. 

Portanto, sejam bem-vindos a um show de atrocidades, consistindo na total demonização da Rússia definida como a suprema “ameaça direta”; a promoção do Leste Europeu à condição de “forte”; uma torrente de lágrimas  derramadas sobre a parceria estratégica Rússia-China; e, como bônus extra, a China sendo tachada  de “ameaça sistêmica”. 

É isso aí: para o combo OTAN/G7, os líderes do mundo multipolar emergente, bem como as grandes partes do Sul Global que desejam ingressar nesse mundo, são uma “ameaça sistêmica”.

A Turkiye, sob o Sultão da Ginga – Sul Global em espírito, artista da corda bamba na prática – conseguiu literalmente tudo o que queria em troca de magnanimamente  concordar com que a Suécia e a Finlândia abrissem caminho para serem absorvidas pela OTAN.

Façam suas apostas quanto ao tipo de mutretas as marinhas da OTAN irão aprontar no Báltico contra a Frota Báltica Russa, a serem seguidas por diversos cartões de visita distribuídos pelo Sr. Khinzal, pelo Sr. Zircon, pelo Sr. Onyx e pelo Sr. Kalibr, capazes, é claro de aniquilar  qualquer movimentação da OTAN, incluindo seus “centros de decisão”.

Veio como uma espécie de alívio cômico perverso o lançamento pelo Roscosmos de um conjunto de divertidíssimas imagens de satélite apontando com precisão as coordenadas desses “centros de decisão”.

Os “líderes” da OTAN e o G7 parecem estar gostando de encenar um vagabundíssimo jogo de tipo ‘tira incompetente’/’tira palhaço’. A cúpula da OTAN disse ao comediante cheirador Elensky (lembrem-se, a letra Z agora é proibida) que a operação policial russa de forças combinadas – ou a guerra –  tem que ser “resolvida” militarmente. A OTAN, portanto, continuará a ajudar Kiev a lutar até o último ucraniano bucha-de-canhão. 

Em paralelo, no G7, o Primeiro-ministro alemão Scholz foi solicitado a especificar que “garantias de segurança” seriam fornecidas ao que restar da Ucrânia após a guerra. A resposta do sorridente primeiro-ministro: “Sim… eu poderia (especificar). E saiu de fininho. 

EUA | DETRITOS IMPERIAIS

#Traduzido em português do Brasil

O marketing da primazia global americana começou com uma edição de 1941 da revista Life , escreve Andrew Bacevich. Agora, após o desperdício imprudente do poder dos EUA, é hora de se concentrar no objetivo mais modesto de salvar uma república unificada.

Andrew J. Bacevich* | TomDispatch.com | Consortium News

“O século americano acabou.” Assim afirma a capa de julho de 2022 da  Harper's Magazine,  adicionando uma pergunta muito pertinente: "O que vem a seguir?"

O que, de fato? Oitenta anos depois que os Estados Unidos embarcaram na Grande Cruzada da Segunda Guerra Mundial, uma geração depois de reivindicar o status de única superpotência após a queda do Muro de Berlim e duas décadas após a Guerra Global ao Terror foi remover quaisquer dúvidas remanescentes sobre quem dá as ordens no Planeta Terra, a pergunta dificilmente poderia ser mais oportuna.

Empire Burlesque ”, a matéria de capa da Harper de Daniel Bessner   , fornece uma resposta útil, ainda que preliminar, a uma pergunta que a maioria dos membros de nossa classe política, preocupados com outros assuntos, prefeririam ignorar. No entanto, o título do ensaio contém um toque de gênio, capturando em uma única frase concisa a essência do século americano em seus dias de declínio.

Por um lado, dada a propensão desenfreada de Washington para usar a força para impor suas prerrogativas reivindicadas no exterior, a natureza imperial do projeto americano tornou-se evidente. Quando os Estados Unidos invadem e ocupam terras distantes ou as submetem a punições, conceitos como liberdade, democracia e direitos humanos raramente são mais do que reflexões tardias. Submissão, não libertação define a motivação subjacente, embora raramente reconhecida, por trás das ações militares de Washington, reais ou ameaçadas, diretas ou por meio de procuradores.

Por outro lado, o desperdício imprudente do poder americano nas últimas décadas sugere que aqueles que presidem o império americano são incrivelmente incompetentes ou simplesmente loucos como chapeleiros. Com a intenção de perpetuar alguma forma de hegemonia global, eles aceleraram as tendências para o declínio nacional, embora aparentemente alheios aos resultados reais de seu trabalho manual.

Considere o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio. Com razão, provocou uma investigação minuciosa do Congresso com o objetivo de estabelecer a responsabilização. Todos nós devemos ser gratos pelos esforços conscientes do Comitê Seleto da Câmara para expor a criminalidade da presidência de Trump. Enquanto isso, no entanto, os  trilhões de dólares desperdiçados e as centenas de milhares de vidas perdidas durante nossas guerras pós-11 de setembro foram essencialmente descartados como o custo de fazer negócios. Aqui vislumbramos a essência do bipartidarismo do século XXI , ambas as partes conspirando para ignorar desastres pelos quais compartilham responsabilidades conjuntas, enquanto efetivamente consignam a grande maioria dos cidadãos comuns ao status de cúmplices passivos.

Bessner, que leciona na Universidade de Washington, é apropriadamente duro com os (des)gerentes do império americano contemporâneo. E ele faz um bom trabalho ao traçar as bases ideológicas desse império até seu ponto de origem. Nesse sentido, a data-chave não é 1776, mas 1941. Esse foi o ano em que a defesa da primazia global americana invadiu o mercado de ideias, deixando uma marca que persiste até os dias atuais.

EUA | O PAPEL DA CIA EM WATERGATE

#Traduzido em português do Brasil

James DiEugenio reúne evidências de um papel da agência no escândalo. 

James DiEugenio* | Especial para o Consortium News

Jefferson Morley começa seu novo livro sobre Watergate, Scorpions' Dance , de maneira hábil e contundente. O ex-diretor da CIA Richard Helms foi chamado de volta a Washington de seu novo cargo, embaixador no Irã. Ele está começando seu depoimento perante o Comitê Watergate do Senado.

Logo no início, Helms faz declarações categóricas sobre a falta de envolvimento da agência com praticamente todos os aspectos do desdobramento do escândalo Watergate. Helms nega especificamente qualquer envolvimento com a invasão e acrescenta que estava determinado a deixar esse ponto claro desde quando aconteceu até aquele momento.

O dia era 2 de agosto de 1973. As negações de Helms lideraram os noticiários noturnos da CBS e da ABC. Eles foram anunciados pelo The New York Times e elogiados por Lou Cannon no The Washington Post . Como Morley e outros revelaram, o problema com o testemunho de Helms é que ele era, na melhor das hipóteses, enganoso, na pior, simplesmente falso. E, pior ainda, Helms provavelmente sabia disso antes de dizer.

Por exemplo, um dos ladrões capturados de Watergate, Eugenio Martinez, tinha um agente de casos da agência antes e depois do arrombamento. Martinez estava recebendo uma bolsa mensal.  Mesmo antes da invasão de Watergate, a CIA estava estendendo ajuda a um dos líderes da banda, Howard Hunt. Isso envolveu uma batida no consultório dos psiquiatras de Daniel Ellsberg. 

Como observa Morley, embora Helms tenha tentado dizer que nem conhecia o Dr. Louis Fielding, esta foi provavelmente outra negação duvidosa. Porque a agência estendeu o apoio e a ajuda a Hunt para aquela invasão. Eles até elaboraram um perfil psicológico de Ellsberg.

Helms disse que nem sabia que Ellsberg tinha um psiquiatra. No entanto, ele tinha visto as fotos da carcaça do prédio antes do arrombamento. E isso porque a Agência estava dando ajuda fotográfica a Hunt na operação. 

Mas nesta primeira aparição, Helms tentou ir ainda mais longe. Ele tentou insinuar que realmente não sabia muito sobre Hunt. Este é outro ponto que Morley mostra ser falso. 

O autor atesta o primeiro encontro entre os dois provavelmente em 1957 em Havana. 

Mas Helms sabia de Hunt ainda antes, devido aos esforços literários de Howard; neste caso, tentando obter os direitos da CIA para a Orwell's Animal Farm.

Helms mais tarde encorajou e auxiliou as tentativas de Hunt de comercializar uma série de romances de espionagem para a Paramount Pictures. Mas, como Hunt observa no final de Dança do Escorpião , uma vez que as audiências de Watergate começaram, era como se Helms nunca o tivesse conhecido.

Brasil | CONSPIRAÇÃO MILITAR E PISTOLAGEM POLÍTICA

#Publicado em português do Brasil

O comportamento das cúpulas partidarizadas das Forças Armadas brasileiras não é o esperável de comandos profissionais, legalistas e leais à Constituição.

Os comandantes militares sabem disso. Eles também sabem perfeitamente o que estão fazendo, mas perigosamente continuam se distanciando da legalidade e da institucionalidade.

Não são só os setores democráticos brasileiros que vêm alertando sobre a postura antiprofissional e conspirativa dos chefes militares que, ao interferirem na política, agem como milícias fardadas.

O mundo inteiro também já percebeu que eles ameaçam a democracia, intimidam as instituições civis e planejam replicar no Brasil um processo semelhante ao ocorrido em 6 de janeiro de 2021 nos EUA, a invasão do Capitólio.

Com uma diferença trágica: enquanto nos EUA as Forças Armadas não endossaram a investida criminosa da matilha de Trump, no Brasil os comandos militares não só desejam como estimulam o tumulto e a ação de hordas armadas que tiveram enormes facilidades para adquirir arsenal bélico devido à flexibilização, pelo Exército, das normas de porte e posse de armas e munições.

Num cenário de caos planejado combinado com a omissão das polícias militares, as Forças Armadas deverão pretextar uma operação de Garantia da Lei e da Ordem para fechar o regime.

Está muito claro que o argumento de “cooperação técnica com o TSE” é mera dissimulação retórica. Por trás desse discurso oportunista se escamoteia o plano de sabotar a eleição, causar caos institucional e promover um cenário de brutal violência.

O absurdo e despropositado convite do TSE para militares integrarem a Comissão de Transparência Eleitoral foi hipocritamente aproveitado por eles para legitimarem a intromissão indevida no processo eleitoral. Era a brecha que planejavam. E ganharam na bandeja.

O ativismo político e a ameaça das instituições pelos militares vêm de longe; muito antes do famoso tweet do general Villas Bôas, de 3 de abril de 2018, que foi decidido coletivamente pelo Alto Comando do Exército, uma espécie de “comitê central”.

Brasil | BOLSONARO E A SUA TEIA DE FISIOLOGISMO BLINDADO

#Publicado em português do Brasil

O sigilo de cem anos sobre atos do governo e o bilionário orçamento secreto visam ocultar a aliança entre bolsonarismo e centrão. Lula promete expor ilegalidades, mas presidente fará de tudo para tornar invisíveis suas tenebrosas transações

Paulo Kliass* | Outras Palavras

O envio atabalhoado da PEC do desespero pelo governo ao Congresso Nacional escancara, sem nenhum traço de vergonha, as tentativas de última hora de um candidato que deixa transparecer sua aflição com a proximidade das eleições. As pesquisas de opinião e de intenção de voto insistem em colocar Lula no primeiro lugar da preferência do eleitorado, inclusive apontando a possibilidade de que a disputa para a Presidência da República se resolva já no primeiro turno.

O movimento de Bolsonaro em direção ao colo do Centrão já vem de muito tempo atrás. Começou com a campanha explícita que o ocupante do Palácio do Planalto fez a favor dos candidatos ao comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Ele foi vitorioso com a chegada de Arthur Lira (PP/AL) e Rodrigo Pacheco (DEM/MG) à presidência das duas casas do Legislativo no início de 2021. Em seguida, ofereceu o principal cargo de seu ministério a Ciro Nogueira (PP/PI), expoente máximo do fisiologismo, que passou a dirigir a Casa Civil em julho do ano passado. Ao jogar na lata do lixo sua falaciosa promessa de levar a cabo uma “nova forma de fazer política”, Bolsonaro joga as suas fichas na busca de alguma capacidade de sobrevivência até o começo de outubro, tentando criar condições de levar o pleito para ser definido no último domingo daquele mês.

A aliança com os personagens políticos do Centrão pressupõe uma relação de dependência mútua. Os parlamentares exigem verbas, cargos e outras benesses, em troca de oferecer ao governo alguma garantia de tranquilidade na aprovação de medidas de interesse do mesmo no Congresso Nacional. Além disso, parece óbvio, é de se imaginar que haja algum tipo de engajamento na campanha do candidato à reeleição presidencial. Ocorre que nem mesmo essa contrapartida está plenamente assegurada, uma vez que Lula apresenta uma vantagem considerável nos estados do Nordeste, por exemplo. Assim, espera-se algum grau de traição, uma vez que o perfil do político profissional fisiológico não bate muito com alguém disposto a cumprir os acordos para caminhar rumo a uma provável derrota nas urnas.

Centrão e tenebrosas transações

O Centrão é bastante conhecido em sua preferência por governos fracos e encurralados, pois assim consegue aumentar os preços por seu apoio no mercado secundário das trocas fisiológicas. No caso atual, o grupo conseguiu articular a mais completa apropriação privada de recursos públicos às escuras de que se tem conhecimento na história republicana. A novidade veio sob sob a denominação genérica de Orçamento Secreto. A disputa sobre o comando dos valores orçamentários teve um de seus primeiros arranjos mais “profissionais” de assalto ao fundo público logo depois da aprovação da nova Constituição. Ao longo da primeira metade da década de 1990, em meio ao processo de impeachment de Fernando Collor, foi denunciado o chamado “escândalo dos anões do Orçamento”. Mas, desde então, pouca coisa mudou na essência das transações. Apenas tratou-se de aperfeiçoar e tornar mais sofisticados os instrumentos para viabilizar os desvios.

Os parlamentares mais marcados por sua ganância em aprovar emendas destinadas a despesas em suas áreas de atuação e dispostos a negociar seu poder de influência na tramitação da matéria orçamentária passaram a disputar com maior vigor os cargos na poderosa Comissão Mista do Orçamento (CMO) do Congresso Nacional. Composta por integrantes da Câmara e do Senado, o colegiado elege um presidente e um relator, bem como sub-relatores temáticos e regionais. Afinal, os valores trilionários das rubricas a serem aprovadas chamam a atenção e atiçam o apetite dos mais gulosos. A peça de 2022, por exemplo, apresenta um total de R$ 5 trilhões de despesas. A criatividade dos malfeitores deve se restringir a alguns itens desse total, mas ainda assim não se deve subestimar, por exemplo, os quase R$ 2 trilhões que compõem apenas o Orçamento Fiscal.

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