sábado, 30 de julho de 2022

Mortos não contam histórias: Kiev bombardeou seus soldados presos no Donbass

Andrew Korybko* | One World

Certamente parece ser o caso de Kiev ter entrado em pânico com o fato de seus soldados presos logo falarem sobre a ampla gama de crimes de guerra que foram acusados ​​de cometer e, portanto, decidiram matá-los com o HIMARS antes que pudessem falar.

#Traduzido em português do Brasil

O bombardeio de sexta-feira de manhã em um centro de detenção em Donbass matou pelo menos 50 pessoas e feriu cerca de 75. A Rússia e a República Popular de Donetsk (DPR) acusaram Kiev de realizar este crime de guerra contra seus próprios soldados presos que estavam detidos lá, enquanto aquela ex-república soviética alegou ridiculamente que seus oponentes se bombardearam. Objetivamente falando, a interpretação do incidente do primeiro mencionado é muito mais realista do que a do segundo.

Para explicar, há uma certa lógica inerente a Kiev usando o HIMARS fornecido pelos EUA para matar seus soldados presos – incluindo aqueles que foram capturados durante a rendição de Azovstal – para que eles não desabafem sobre seus crimes de guerra. Ele quer silenciar seus militantes a todo custo para que eles não forneçam provas que possam ser usadas contra Kiev no tribunal ou, pelo menos, para dar a Moscou a chamada “vitória da propaganda”. Como dizem, os mortos não contam histórias.

Por outro lado, as alegações deste procurador da OTAN liderado pelos EUA não resistem ao escrutínio. A Rússia e/ou a DPR poderiam ter matado silenciosamente aqueles soldados presos se eles realmente quisessem encobrir a tortura como Kiev especulou. Além disso, essas pessoas foram recursos valiosos para provar que seus oponentes não são os anjos inocentes como eles se apresentam. Não faz sentido matá-los, muito menos bombardeando-se de uma maneira tão dramática que aumenta a infâmia desse sistema de mísseis fornecido pelos EUA.

O leitor também deve estar ciente de que a Rússia e a DPR alegam ter encontrado destroços de alguns mísseis HIMARS no local do incidente, o que acrescenta mais credibilidade à alegação de que Kiev foi responsável pelo ataque. Também não ajuda a causa da ex-república soviética que um alto funcionário da defesa americano já começou a dar desculpas para o procurador de seu país durante uma entrevista coletiva na sexta-feira, quando argumentava preventivamente que Kiev “não pretendia fazer isso”.

A citação exata do site oficial do Departamento de Defesa diz o seguinte: “Aqui está a última coisa que eu diria, se fosse um ataque ucraniano, eu prometo a você, número um, eles não pretendiam fazer isso, certo ? Eles certamente se preocupam com seu próprio povo e se preocupam com os civis e militares uniformizados de seu próprio exército”. Não é muito convincente quando a mesma instituição responsável por vomitar inúmeras mentiras ao longo dos anos começa a encobrir seu parceiro com antecedência alegando um acidente.

Isso por si só sugere que a inteligência americana provavelmente está muito ciente da alta probabilidade de Kiev ter usado o HIMARS para matar seus próprios soldados presos para que eles não compartilhassem evidências dos crimes de guerra que foram incumbidos de cometer em Mariupol e em outros lugares. . Não há outra explicação lógica para o fato de o Departamento de Defesa se comportar de forma tão suspeita se eles estivessem extremamente confiantes na inocência de seu procurador como eles estão tentando fazer parecer.

Angola | RUÍDO É A MORTE DO ARTISTA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Democracia é uma das formas do Estado exercer o seu poder soberano. Governo do Povo que através do voto escolhe as e os governantes. Todo o mundo sabe disto, até o Adalberto da Costa Júnior, o Presidente Joe Biden e outros senhores do mundo e da guerra. Estado de Direito. Não há legitimidade sem as Leis e ninguém está acima da Lei. Muito menos existe Estado de Direito se não existir a separação de poderes. O Poder Judicial, por isso, é a marca indelével da democracia. 

A informação é vida. Sem informação nada existe mesmo que exista. Censura, jamais! Liberdade de Imprensa, sempre. Todos deviam saber isto, da Jamba a Helsínquia, da Terra do Fogo ao Polo Norte. 

Um Tribunal europeu recusou a acção da televisão Russia Today que visava remover a censura que foi imposta aos Media russos, pela União Europeia. O Poder Judicial de cócoras perante Úrsula, Michel, Roberta ou Borrell. Desmoronou-se o Estado de Direito. Triunfou a censura. 

Um Tribunal britânico decidiu entregar o jornalista Julien Assange, fundador do WikiLeaks, aos carrascos dos EUA, país onda arrisca a pena de morte, porque publicou documentos secretos que provam, de uma forma exuberante, um sem número de crimes de Washington contra os Direitos Humanos. As informações difundidas revelaram um estado terrorista. O Poder Judicial britânico e os EUA coligaram-se contra a Liberdade de Imprensa mas também para matarem o mensageiro. Desmoronou-se o Estado de Direito no Reino Unido que, dizem as trombetas da propaganda, é uma democracia muito antiga.

O Papa Francisco é o mais alto magistrado da civilização ocidental. Saiu do Vaticano e foi ao Canadá pedir perdão pelo genocídio dos ameríndios, donos da terra há milénios. Os primeiros genocidas foram britânicos. Depois os franceses. Por fim os canadianos descendentes dos genocidas e eles também matadores. O crime foi de tal dimensão que neste momento a população do Canadá tem apenas cinco por cento dos povos aborígenes. Milhões de seres humanos foram cruelmente assassinados ao longo dos séculos. E a sua cultura dizimada. A Igreja colaborou no genocídio humano e cultural. O Papa Francisco foi pedir perdão. 

Em Angola só não aconteceu um genocídio igual ao do Canadá porque o MPLA se opôs, de armas na mão, aos genocidas. Nessa luta heroica, os combatentes da liberdade tiveram o apoio concreto de vários países do Movimento dos Não Alinhados, nomeadamente Cuba e Jugoslávia, da União Soviética e todo o Bloco de Leste. Além de organizações progressistas de vários países do mundo, com destaque para as sociais-democracias nórdicas. Os genocidas do Povo Angolano (Portugal e todos os países da OTAN ou NAT O) nunca pediram perdão. Nem sequer pelo esclavagismo! E são todos muito democratas. Dão lições de democracia!

Um Tribunal britânico decidiu que o ouro da Venezuela depositado em bancos do Reino Unido só pode ser gerido por Juan Guaidó, um bandidito inventado por Washington. O Poder Judicial ao serviço do latrocínio. Nem Democracia nem Estado de Direito. Soubemos hoje que o senhor Boris Johnson é filho de um espião soviético. O papá lançou-o na espionagem, ainda muito novo. O rapaz continuou espião russo até lhe abrirem as portas do poder, donde acaba de ser removido por indecente e má figura. Segundo Zelensky, a anterior Procuradora-Geral da República da Ucrânia, Iryna Venediktova, é espiã russa. Acontece que foi ela e Boris Johnson que inventaram aquela coisa de Bucha e Irpin. O mundo está mesmo muito perigoso.

Sem democracia e com o Poder Judicial de cócoras ante os senhores da guerra, do latrocínio e do genocídio, as grandes potências ocidentais são um perigo para a existência da Humanidade. 

Hoje a TPA brindou-nos com a repetição de um documentário sobre a Batalha do Cuito Cuanavale. Fizeram bem, porque é preciso dar a conhecer as páginas mais importantes da História Contemporânea de Angola. O problema é que o som estava avariado. Mandam as regras básicas e o dever de cuidado que o material não podia ser exibido.

Se não me levarem a mal, vou repetir o que dizia aos meus alunos na RNA. No audiovisual trabalhamos com a atenção gerada pela expectativa. Se o som estiver avariado, se existir o mínimo ruído, lá se vai o trabalho. Ninguém ouve, ninguém presta atenção, ninguém consome. O mesmo acontece com a imagem. Quando temos som e imagens avariadas não há emissão. Não vale a pena. 

No que diz respeito ao som, a atenção gerada pela expectativa está no máximo na banda dos zero aos 20 segundos. Para mantermos sempre esse nível, temos de saber “vender bilhetes” para o espectáculo do som e da voz humana. Perguntem ao sonoplasta Artur Neves, um dos melhores do mundo, como isso se faz. Encontram-no no Huambo.

A técnica é simples. Os profissionais estão sempre a acrescentar novos elementos ao edifício sonoro para que a atenção gerada pela expectativa esteja sempre no nível máximo. Estas coisas aprendem-se, treinam-se e apuram-se. Com as imagens o problema é ainda mais complexo de resolver. Logo, se a imagem não tem qualidade, não há emissão. Quanto mais não seja por uma questão de respeito pelos consumidores.

As “chamas” que envolvem a campanha eleitoral da UNITA chamam-se “fogo de vista”. Aquilo é um vazio inquietante, Pior, é impossível. Agora dizem que além da fraude, os mortos vão votar! 

Eles já perceberam que os vivos vão infringir-lhes nas urnas de voto a maior derrota de sempre. Valham-nos os novos partidos porque daqui a cinco anos Angola precisa de uma oposição a sério. A UNITA entrou no caminho da FNLA. Está a desintegrar-se. Adalberto da Costa Júnior foi o primeiro a saber e já transferiu para uma conta bancária em Portugal umas centenas de milhões de euros! Ele é o rosto da fraude política. E da derrota eleitoral anunciada.

*Jornalista

Declínio militar do Reino Unido revela colapso da NATO em credibilidade-capacidade

Scott Ritter [*]

O plano da NATO de aumentar enormemente a sua força avançada é uma ilusão e a luta do Reino Unido pela relevância militar é o exemplo perfeito.

O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, anunciou recentemente o objetivo do bloco militar liderado pelos EUA de expandir a sua chamada "Força de Resposta" de atualmente 40 000 soldados para uma força de mais de 300 000 soldados. "Vamos melhorar a qualidade dos nossos grupos de batalha na parte leste da Aliança até aos níveis de brigada", declarou Stoltenberg. “Vamos transformar a Força de Resposta da NATO e aumentar o número de nossas forças de alta prontidão para bem mais de 300 000”.

O anúncio, feito no final da cimeira anual da NATO, realizada em Madrid, aparentemente apanhou de surpresa vários responsáveis pela defesa dos membros da NATO, com um desses responsáveis chamando ao número de Stoltenberg de "número mágico". Stoltenberg parecia estar a trabalhar a partir de um conceito que tinha sido desenvolvido na sede da NATO com base em suposições feitas pelos seus funcionários, na realidade em oposição a qualquer coisa que se assemelhe a uma política coordenada entre as diversas organizações responsáveis pela defesa nas 30 nações do bloco.

Confusão é o nome do jogo da NATO nos dias de hoje, com a Aliança ainda a recuperar do desastre afegão do ano passado e incapaz de disfarçar adequadamente a impotência mostrada diante da operação militar da Rússia em andamento na Ucrânia. O bloco é apenas uma sombra da sua antiga identidade, uma coleção patética de organizações militares subfinanciadas, mais adequadas para os desfiles do que para o campo de batalha. Nenhuma organização militar representa mais este colossal colapso em credibilidade e capacidade do que o Exército Britânico.

Mesmo antes do início da atual crise na Ucrânia, os militares britânicos serviam mais como objeto de escárnio do que como modelo de profissionalismo. Veja-se, a título de exemplo, a visita do ministro da Defesa do Reino Unido Ben Wallace a Zagreb, na Croácia, no início de fevereiro de 2022. O presidente croata Zoran Milanovic acusou os britânicos de incitarem a Ucrânia a uma guerra com a Rússia, em vez de tentarem resolver as preocupações da Rússia sobre o quadro de segurança europeu existente. Wallace voou para Zagreb para consultas, apenas para ser repreendido por Milanovic, que se recusou a encontrar-se com ele, observando que só se encontra com ministros da defesa de superpotências, acrescentando que "o Reino Unido deixou a UE, e isso dá-lhe menos importância”.

Portugal - UE | TRABALHO DIGNO OU UM FUTURO DE PRECARIEDADE?

Está lançada uma autêntica “guerra social” contra os trabalhadores e os povos, com escalada especulativa de preços e do custo de vida, inflação galopante, esmagamento dos salários, individualização e desregulação das relações laborais e uma enorme precariedade.

José Casimiro* | opinião

1. Vivemos dias de constragimentos e incertezas, com uma guerra no seio da Europa, resultante de uma condenável invasão levada a cabo pelo exército de Putin na Ucrânia. Este conflito acentuou todas as formas de exploração e opressão, impondo uma política do medo e um controlo social, expressos através da subjugação colonial da Europa pelos Estados Unidos e pela NATO na sua afirmação de uma “nova ordem mundial”, gerando uma enorme polarização social sem precedentes.

2. O sistema capitalista vem juntando crise à crise que se generalizou com o aumento geral de preços, estaglafação, interrupção das cadeias mundiais de distribuição, interrupção de canais de distribuição da energia, falta de cereais para a alimentação de milhões de seres humanos, fome, entre outros.

Estaremos a caminhar para uma recessão marcada por uma crise da dívida (pública e privada) grave e estagflacionária.

3. Está lançada uma autêntica “guerra social” contra os trabalhadores e os povos, com escalada especulativa de preços dos bens de primeira necessidade e do custo de vida, inflação galopante, esmagamento dos salários, individualização e desregulação das relações laborais e uma enorme precariedade. Ao mesmo tempo, o governo do PS recusa-se a taxar os lucros excessivos das empresas e das multinacionais e a distribuir a tributação fiscal excessiva que acumulou (3 mil M €) para enfrentar este ciclo inflacionista – assumindo, nomeadamente, o controlo e o congelamento do preço dos produtos energéticos e dos bens alimentares.

Esta enorme transferência do trabalho para o capital, acentua ainda mais as desigualdades sociais, laborais e de género.

4. As empresas recorreram crescentemente a estratégias de reestruturação e a formas de externalização e outsourcing - banca, telecomunicações, energia, entre outras - que privaram muitos trabalhadores da proteção das convenções colectivas, reduzindo direitos, salários e até estendendo as jornadas de trabalho, (muitas vezes não remuneradas), procederam a despedimentos, agravaram os níveis de precariedade, degradando substancialmente as suas condições de trabalho.

Portugal | O ESCLAVAGISMO À MODA DO LIDL

Lidl penaliza trabalhadores

O CESP denuncia a penalização e a discriminação dos trabalhadores da empresa através das avaliações e na atribuição dos prémios.

O Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP/CGTP-IN) sublinha também que o «Lidl continua a impor aos operadores funções de limpeza e de vigilância», para que sejam eles «a limpar as lojas e a controlar os clientes para evitar roubos», enquanto nos armazéns se exige que «o tratamento/separação dos resíduos [...] seja feito por operadores de armazém».

O CESP chama ainda a atenção para o contrato colectivo em vigor, segundo o qual «as funções vigilância e limpeza não cabem aos operadores, mas sim aos vigilantes e a trabalhadores da limpeza». Aliás, o sindicato alerta para a falta de «vigilantes e trabalhadores da limpeza nas lojas e armazéns», que a empresa não tem contratado.

O Sindicato dos Trabalhadores do Comércio reivindica o aumento salarial de 90 euros para todos os trabalhadores, a «valorização das carreiras e qualificações profissionais adquiridas», bem como o fim da obrigatoriedade de utilização dos auscultadores pelos trabalhadores, por razões de saúde.

AbrilAbril | Imagem: Google, loja da Penha de França - Lisboa

Portugal | A INOCÊNCIA DOS CARDEAIS

Pedro Ivo Carvalho* | Jornal de Notícias | opinião

Os telhados de vidro da Igreja Católica em matéria de abusos sexuais de menores são demasiado finos para que alguém possa ter a pretensão de caminhar temerário sobre um tema tão sensível e complexo. Mas há, nessa fronteira vaporosa entre a moralidade, a religiosidade e o crime, valores nucleares que não podemos remeter para o breu redentor do confessionário. Dois cardeais-patriarcas de Lisboa pouco ou nada fizeram para travar, primeiro, e denunciar, depois, um padre que, em finais dos anos 1990, terá molestado crianças. D. José Policarpo, já falecido, não afastou o clérigo de funções, depois de ter ouvido a história da boca da mãe de um dos rapazes. O abusador continuou até 2001 com responsabilidades nas duas paróquias da capital, com acesso, presume-se, a menores.

Em 2019, essa vítima, já homem, encontrou-se com o atual patriarca, D. Manuel Clemente, e contou-lhe o sucedido. Mais uma vez, os contornos deste crime hediondo ficaram sob a batina da instituição. E nada foi comunicado às autoridades judiciárias. D. Manuel Clemente alega, em sua defesa, que não o fez a pedido da vítima ("a preocupação da vítima era a não repetição do caso"), parecendo desconhecer que as denúncias podem ser anónimas e que, mais do que respeitar a suposta vontade deste homem certamente amargurado, tinha o dever cívico e moral de levar o caso às autoridades. Aliás, foi precisamente essa a indicação dada em 2019 pelo Papa Francisco aos bispos, numa célebre cimeira em que foram traçadas as linhas gerais da legislação canónica aprovada um ano mais tarde. A Igreja portuguesa podia perfeitamente ter denunciado o padre sem denunciar a vítima.

Ao contrário do que sugeriu, de forma ligeira, o presidente da República, que falou como "pessoa" e não como chefe de Estado, não está em causa nem a honradez nem a seriedade de nenhum dos patriarcas. A obrigação de ambos, enquanto responsáveis máximos da Igreja, era denunciarem em devido tempo o padre abusador à justiça civil, não partindo do princípio de que as leis canónicas bastavam. Não o tendo feito, foram coniventes com um comportamento criminoso. E para isso não há perdão.

*Diretor-adjunto

Angola | GRANDEZA HUMANA TAMBÉM É GRATIDÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A vida só faz sentido quando temos a certeza de que há sempre uma amiga ou um amigo à nossa espera. Quando sabemos que há sempre um braço amigo para nos amparar. Uma palavra sábia que nos ajuda a ver melhor o que parece baço, triste, perdido, inatingível. A amizade é mais do que a mãe de um rio. Muito mais do que a água fresca. Mais ainda do que o Sol nascente. Mário Pizarro é um angolano de excepção e meu amigo há mais de meio século. Naquele tempo de guerra e sem liberdade ele encarava os ocupantes e dizia com a sua voz grave: Viva o MPLA! Viva Angola Independente! Era preciso coragem. Eu só o imitava quando metia um copinho a mais.

O meu amigo, quando eu não tinha onde cair morto, abria-me as portas de sua casa, dava-me comida, dormida e o calor da amizade. Ele e a sua companheira Vera. Na época só ainda existiam os seus filhos Paulo e Miguel. Recebiam-me como se eu fosse um rei mago perdido do presépio da manjedoura na Palestina. Gente muito, muito amiga e que me salvou da indigência. Iam todos dormir e eu matraqueava umas crónicas na velha máquina de escrever Hermes Baby. Dormia a correr e depois partia, antes dos da casa acordarem, para não incomodar.

O Mário Pizarro nunca se vergou, nunca calou o que pensa. E um dia foi afastado do cargo que desempenhava no Banco Nacional de Angola, pelo Presidente José Eduardo, de quem era muto próximo. Partilhou comigo os seus receios porque se sentiu perseguido. Nunca mais os dois amigos se reconciliaram. Quando falávamos do tema, ele apelidava o Presidente José Eduardo de Zeca Diabo! 

Um dia  não muito longínquo (há quatro anos…) disse-lhe: Ainda vais ter saudades do Zeca Diabo. Ele olhou-me muito sério e respondeu:

- Eu reconheço que o Presidente José Eduardo dos Santos fez coisas muito positivas em Angola. O Povo Angolano deve-lhe muito. 

Hoje mandou-me o texto que vos envio, intitulado Em Defesa do Presidente José Eduardo. Faço a sua distribuição na esperança de que muitas e muitos dos que tudo lhe devem, tenham um assomo de dignidade. E no pacote incluo quem teve a coragem de cuspir na sua Honra dizendo que antes de falecer, recomendou o voto na UNITA e em Adalberto da Costa Júnior. Nunca ninguém tinha chegado tão longe no insulto ao Presidente José Eduardo. Os do MPLA não mudam de lado nem de bandeira, nem mortos! Leiam a peça.  

"Ponto prévio: 

Os meus amigos ficarão seguramente surpreendidos com um texto escrito por mim com este título. De facto, o Presidente José Eduardo não teve um comportamento correcto no processo que levou à minha saída do Banco Nacional de Angola. Foi um processo injusto, pouco transparente e que teve impactos negativos para mim e para a minha família.

Mas isso são histórias de uma outra história que oportunamente contarei. 

O que aqui interessa assinalar é que não sou um admirador do Presidente José Eduardo dos Santos, nem tenho dívidas para com ele para alem daquelas que, como cidadão angolano, reconheço e que decorrem dos aspectos positivos do seu mandato.

E é por isso mesmo que tenho dificuldade em aceitar de forma passiva os comentários que se vão fazendo, em jornais ou televisões, na maior parte dos quais tratam o Presidente José Eduardo de forma insolente, pouco respeitosa e revelando pouco conhecimento da história e realidade angolanas.

Desde que foi noticiada a morte do Presidente José Eduardo que vejo surgir de todos os lados artigos de opinião, crónicas, editoriais onde se pinta uma imagem dantesca do mesmo. Ditador, déspota, corrupto, etc. É um facto que Angola, como muitos outros países produtores de petróleo, não escapou ao chamado “Dutch Desease” – com todas as consequências negativas que daí resultam.

No caso particular de Angola, as consequências foram ainda mais desastrosas pelos efeitos acumulados da guerra, de uma economia enfraquecida por anos de politicas económicas centralizadoras, em que o Estado era ao mesmo tempo o maior produtor, comercializador e controlador… Estado esse que à data da independência se encontrava fragilizado e inoperacional (o funcionamento do aparelho de estado dependia em grande parte dos portugueses, que entretanto se tinham retirado de Angola) e cuja operacionalidade levou muitos anos a repor.

É, pois, um facto que o “boom” do petróleo não trouxe aos angolanos a prosperidade que todos esperavam. É um facto que as práticas de corrupção e nepotismo atingiram níveis chocantes. É um facto que tudo isso aconteceu na vigência dos seus mandatos do Presidente José Eduardo dos Santos. É um facto que muitas das pessoas que rodeavam o Presidente, familiares ou não, beneficiaram de tais práticas de corrupção.

Citando um artigo recente de Jonuel Gonçalves (Jornal Publico – 22.07.2022) …” Foi um período de perto de uma década crucial para compreender a formação da nova burguesia angolana. Crucial no encaminhamento porque na prática não teve nada de diferente das outras formações de classes ou grupos ou segmentos no resto do mundo. Como disse Paul Krugman, numa palestra em Luanda, ‘isto raramente foi feito de mãos limpas’. É um facto que oportunidades houve, em que toda esta situação poderia ter sido revertida, ou pelo menos atenuada. Tal não aconteceu. Como dizia o meu amigo Gerald Bender …’ MPLA never lost an oportunity to loose an oportunity’…”

É um facto que Angola viveu praticamente em guerra desde a Independência até 2002. É um facto que Angola sofreu invasões dos exércitos Sul Africano e Zairense. É um facto que, sobretudo a seguir às eleições de 1992, a guerra resultou na destruição de grandes infraestruturas produtivas e vias de comunicação. É um facto que as negociações de Nova Iorque, que levaram à Independência da Namíbia, e a subsequente libertação de Nelson Mandela foram consequência directa da derrota da África do Sul em Angola, e dos esforços diplomáticos do Presidente José Eduardo. É um facto que o Presidente José Eduardo afirmou com independência e dignidade o nome de Angola na comunidade internacional. É um facto que, depois da morte de Jonas Savimbi não se disparou mais um tiro de guerra em Angola. É um facto que no mandato de José Eduardo dos Santos a pena de morte foi abolida em Angola.

É um facto que quando ocorreu a morte de Jonas Savimbi, a questão foi tratada com o máximo de discrição e dignidade por parte do Presidente José Eduardo. Não foi permitida qualquer manifestação pública, nem o Governo manifestou qualquer júbilo por tal facto – afinal tratou-se de uma vitoria militar! Isto ao contrário do que diz um comentador do jornal Expresso “…Depois da exibição pública da morte de Savimbi, também comprou a UNITA e reforçou assim o poder do MPLA…”. É um facto que não obstante as invasões estrangeiras, a guerra muitíssimo violenta e destrutiva contra a UNITA em Angola nunca foi imposta a lei marcial.

É um facto que a paz que se seguiu à morte de Jonas Savimbi, permitiu a total integração dos elementos da UNITA quer nas forças armadas quer nos serviços públicos e na sociedade civil. Quem não sabe que dezenas de generais e dirigentes da UNITA poderiam ter sido mortos na parte final da guerra que culminou com a morte de Savimbi? Não há memória em África de uma transição tão pacífica como esta. Será que esta transição pacífica resultou da compra da UNITA pelo Presidente José Eduardo – como diz o mesmo comentador, ou será que resultou de uma política deliberada e implementada de forma consequente?

É um facto, como já disse, que o aparelho de Estado em Angola se encontrava em frangalhos por alturas da Independência. É preciso fazer notar que, em Angola, ao contrário de outros territórios coloniais, os portugueses preenchiam toda a escala de postos de trabalho – desde empregados de bar até professores universitários. Por isso mesmo, quando os portugueses se retiraram houve o colapso da administração pública e de muitas empresas e serviços.

Foi no mandato do Presidente José Eduardo que a administração do Estado foi reposta em todo o território nacional. Angola é um país com 1.246.700 km2. É obra repor a administração do território num país com esta dimensão, e com a escassez de quadros que resultou do processo colonial. É também e sobretudo por isso que Angola não é um Estado falhado. 

É um facto que em Angola foram realizadas eleições em 1992, 2008, 2012 e 2017. Não foi seguramente responsabilidade do Presidente José Eduardo a UNITA ter perdido as eleições em 1992 e ter recusado o resultado das mesmas (resultado esse aceite pelas Nações Unidas). A este propósito vale a pena mais uma vez citar o artigo de Jonuel Gonçalves no Público …” Após Bicesse, José Eduardo e o seu partido venceram as primeiras eleições democráticas muito ajudados pela campanha da UNITA, que recorreu a símbolos militares num país cansado de guerra e revelou grande desconhecimento das mudanças operadas na economia e sociedade angolanas naqueles 15 anos. Nessas eleições, José Eduardo venceu na primeira volta, mas aceitou um acordo de bastidores que lhe tirou a percentagem suficiente para ficar ligeiramente abaixo dos 50% e, portanto, oferecer a segunda volta a Savimbi. Nem isso evitou a segunda guerra civil…”

Mas foi responsabilidade do Presidente José Eduardo o MPLA ter ganho as eleições em 2008, 2012 e 2017. Haverá seguramente outros, mas são estes, em meu entender, os pontos marcantes do mandato do Presidente José Eduardo. Isso não o absolve, ou melhor, não desculpa os pecados e excessos que cometeu, mas dá-lhe direito ao reconhecimento e ao respeito por aquilo que alcançou.

Algumas das pessoas que hoje comentam o Presidente José Eduardo, nunca tiveram de exercer a coragem de hipotecar os melhores anos da sua juventude para defender e lutar pela liberdade da sua pátria, nunca experimentaram a angústia de viver num país em guerra, a angústia de tomar decisões que poderiam ou não resultar na morte de pessoas, nunca sentiram o peso da responsabilidade de ser o último a decidir…

Não foi por acaso que ao longo do texto sempre usei a expressão Presidente José Eduardo dos Santos, e não simplesmente José Eduardo. É por reconhecimento, por respeito!

Mário Pizarro Lisboa, Julho de 2022

Angola | JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS, UM PERCURSO HERÓICO

O ex-Presidente José Eduardo dos Santos, que governou o país durante 38 anos, entre 1979 e 2017, nasceu no bairro do Sambizanga, em Luanda, a 28 de Agosto de 1942.

Filho de Avelino Eduardo dos Santos, carpinteiro, e de Jacinta José Paulino, quitandeira, frequentou a escola primária em Luanda, onde também fez o ensino médio, no Liceu Salvador Correia, actual Mutu-ya-Kevela. Iniciou a actividade política integrando-se nas fileiras da luta clandestina, em 1960, aos 18 anos, em Luanda.

A propósito da integração no movimento de resistência anticolonial, Avelino dos Santos, o irmão mais velho, falecido em 2016, aos 88 anos, lembrou, num depoimento ao Jornal de Angola, em 2016, que, em determinado momento, começou a notar um José Eduardo dos Santos mais retraído do que o habitual. A casa da família Eduardo Avelino dos Santos tinha virado ponto frequente de encontro entre amigos, com destaque para Afonso Van-Dúnem Mbinda, Brito Sozinho, Paiva Nvunda, Pedro de Castro Van-Dúnem Loy e Maria Mambo Café.

Partida para a resistência

A 7 de Novembro de 1961, com o aumento da repressão colonial devido à revolta nacionalista do 4 de Fevereiro, José Eduardo dos Santos, juntamente com outros companheiros, sai clandestinamente de Angola para Leopoldville (actual Kinshasa), na República Democrática do Congo. Pouco tempo depois, recebeu o cartão de militante do MPLA.

Avelino dos Santos lembra que, nos dias que antecederam a partida para a clandestinidade, José Eduardo dos Santos deixou de trabalhar, intensificando os encontros com amigos, com quem desenvolvia actividades políticas clandestinas. Um dia desses, José Eduardo dos Santos e o amigo Brito Sozinho aparecem na casa de Avelino dos Santos para se despedirem dele.

"Vi que eles estavam decididos e não contrariei. Não valia a pena. Ofereci-lhes algumas roupas e calçado e desejei-lhes boa sorte”, recorda, no depoimento ao Jornal de Angola, em Agosto de 2016.

José Eduardo dos Santos coordenou, em Brazzaville, República do Congo, a actividade da JMPLA, organismo de que foi um dos fundadores e durante algum tempo vice-presidente. Integrou, em 1962, o Exército Popular de Libertação de Angola (EPLA), braço armado do MPLA, e, em 1963, foi o primeiro representante do MPLA na capital da República do Congo.

Em Novembro do mesmo ano, beneficiou de uma bolsa de estudo para o Instituto de Petróleo e Gás de Baku, na antiga União Soviética, tendo-se licenciado em Engenharia de Petróleos, em Junho de 1969. Ainda na URSS, depois de terminados os estudos superiores, frequentou um curso militar de Telecomunicações, que o habilitou a exercer, de 1970 a 1974, funções nos Serviços de Telecomunicações, na 2ª Região Político-Militar do MPLA, em Cabinda.

De 1974 a meados de 1975, José Eduardo dos Santos voltou a desempenhar a função de representante do MPLA em Brazzaville. Em Setembro de 1974, numa reunião realizada no Moxico, foi eleito membro do Comité Central e do Bureau Político do MPLA. Em Junho de 1975, passou a coordenar o Departamento de Relações Exteriores do MPLA e, cumulativamente, o Departamento de Saúde do movimento, organizando a instalação desses serviços em Luanda e desenvolvendo intensa actividade diplomática.

Com a proclamação da Independência de Angola, a 11 de Novembro de 1975, é nomeado ministro das Relações Exteriores. Durante o período em que exerceu essas funções, depois de intensa luta diplomática, Angola foi reconhecida como membro de pleno direito da OUA (Organização de Unidade Africana, antecessora da União Africana), em Fevereiro de 1976, e da ONU, em Dezembro do mesmo ano.

No 1º Congresso do MPLA, realizado em Dezembro de 1977, foi reeleito membro do Comité Central e do Bureau Político do MPLA - Partido do Trabalho. Nessa qualidade, desempenhou, entre 1977 e 1979, as funções de secretário do Comité Central para a Educação, Cultura e Desportos, primeiro, e depois de secretário do Comité Central para a Reconstrução Nacional e, mais tarde, para o Desenvolvimento Económico e Planificação.

A nível do Estado, exerceu também o cargo de Vice-Primeiro Ministro, até Dezembro de 1978, altura em que foi nomeado ministro do Plano.

Angola | JUVENTUDE LIVRE E INTELIGENTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O mundo desenvolvido está em crise profunda. O caminho traçado pelo sistema de economia de mercado (capitalismo) levou os povos a um beco com saída para a pobreza e em vez da felicidade encontraram a angústia e o sofrimento. No lugar da prosperidade está instalada a penúria. No fim da viagem, com o paraíso à vista, surgiu uma ideologia que aposta tudo na debilidade dos Estados e o esmagamento dos mais vulneráveis. Os defensores deste mundo retrógrado estão a sacrificar aqueles que mais precisam de protecção: Os idosos, os pobres e os jovens que chegam ao mercado de trabalho e não têm saídas. 

Países desenvolvidos estão a viver autênticas catástrofes sociais. Os EUA entraram em recessão ao mesmo tempo que despejam triliões de dólares na guerra contra a Federação Russa por procuração passada à Ucrânia. No chamado mundo ocidental, os que chegaram ao fim da sua vida activa estão a perder boa parte das suas pensões de reforma devido a uma inflação galopante que já atingiu números muito próximos dos que causaram a Grande Depressão de má memória. 

O neoliberalismo reinante não dá o mínimo espaço à esperança. O Estado Social, construído ao longo de décadas para eliminar graves convulsões sociais e o perigo de guerras mortíferas e destruidoras, está a ser friamente desmantelado, deixando sem protecção milhões de seres humanos. Angola vive neste quadro planetário as mesmas dificuldades de todos os países que lutam pela paz e o progresso. As economias emergentes tentam a todo o custo libertar-se do garrote da pobreza e remam contra a maré, dando cada vez mais força ao Estado Social, multiplicando os investimentos públicos, como forma eficaz de criar riqueza.

O Executivo, ao longo da legislatura, multiplicou os investimentos públicos, alargou cada vez mais a protecção social às franjas mais vulneráveis, universalizou o direito à Educação, à Saúde, à Habitação. Lançou políticas que multiplicam os postos de trabalho. Criou condições para a criação da própria empresa, a formação profissional, o acesso ao crédito bonificado. A crise global causou grandes dificuldades ao Executivo, mas no meio da tempestade, ninguém fica para trás. Nenhuma angolana, nenhum angolano é descartável. 

Angola adoptou, há muitos anos, políticas arrojadas e inovadoras para a Juventude. Ainda na vigência do regime revolucionário, jovens do MPLA protagonizaram a abertura política que desembocou no pluripartidarismo e na economia de mercado. Desde então, todos os governos têm a marca da juventude, nos conteúdos e nas estruturas. O MPLA teve sempre o cuidado de lançar pontes para que as novas gerações tivessem uma importante palavra a dizer nas decisões políticas e nos grandes desígnios nacionais. A renovação dos quadros políticos é uma evidência, desde que assumiu a liderança do nosso país, em 11 de Novembro de 1975.

A grande riqueza de Angola é a sua Juventude. Temos uma população cada vez mais jovem e, na última década, a mais qualificada. Ainda temos um longo caminho a percorrer até que essas qualificações atinjam o nível ideal. Mas é inquestionável que existe uma explosão da população escolar a todos os níveis e o Ensino Superior está a refinar a qualidade, depois da sua expansão a todas as províncias e até aos mais importantes municípios do interior. Nestas eleições, mais de 60 por cento dos eleitores são jovens! Vão seguramente votar no partido da Juventude, o MPLA. 

Todos gostávamos que as nossas Universidades estivessem nesta altura a contribuir decisivamente para a investigação e desenvolvimento de que Angola necessita. Mas duas décadas de paz não são suficientes para atingir o nível ideal. O nosso país tem um défice de massa crítica. Mas não é em 20 anos que se criam elites nas Ciências, na Economia, no Empresariado, nas Artes. 

Ainda é necessário o trabalho árduo de muitas gerações para recuperarmos das destruições e malefícios da guerra de agressão estrangeira. Uma tarefa ainda mais difícil de realizar porque temos de partilhar o quotidiano com aqueles que se colocaram ao lado dos agressores e continuam a agredir, sabotar, impedir, destruir. Não sabem fazer mais nada. Nem querem aprender a viver em democracia. Sim, a UNITA disparou contra o Povo Angolano. A UNITA partiu tudo em nome do regime racista da África do Sul. A UNITA alugou as suas armas a quem fez tudo para atentar contra a Soberania Nacional e a Integridade Territorial. 

A missão ficava simplificada e facilitada se os actores que se associaram ao regime de apartheid da África do Sul na guerra de agressão contra Angola, agora ajudassem a limpar os escombros e as ruínas, contribuíssem para o curar das feridas, ajudassem os jovens e encontrar o rumo do progresso e da felicidade, em vez de andarem a manipulá-los para a violência, com falsas promessas e recorrendo a argumentos xenófobos e racistas. 

Mas a democracia tem esta grandeza, aceita e acolhe mesmo os que todos os dias atentam contra os seus princípios. Os democratas aceitam pacientemente os que nunca reconhecem as derrotas eleitorais. Aceitam no seu seio quem estando na política, lança ataques violentos contra a Justiça Eleitoral e o Poder Judicial, pondo em causa a sua credibilidade, competência e independência, só porque não se submetem aos seus anseios. A democracia aceita no seu seio mesmo os que se servem da política para satisfazer as ambições golpistas.

A Juventude é a maior riqueza de Angola e por isso tem uma via sempre aberta no MPLA. Num momento em que pela manipulação e a demagogia certas forças políticas tentam lançar os jovens contra o seu futuro, o diálogo permanente está a ser reforçado. Nenhum país do mundo dá aos jovens tanta atenção como Angola. Em nenhum país os jovens têm tantas facilidades de acesso ao ensino técnico e profissional, à constituição das suas próprias empresas, ao crédito, ao apoio institucional permanente. Nenhum país do mundo coloca os seus jovens no centro de todas as políticas de Estado. O poder político em Angola cuida bem dessa grande riqueza que é a Juventude Angolana. E essa opção política é permanente. 

Há muito por fazer, é verdade. Ainda existem muitas lacunas, é certo. É urgente responder às necessidades dos jovens nas áreas do Emprego e da Educação. As respostas estão a ser dadas com a urgência possível. Um país que foi destruído durante décadas de guerra, precisa de pelo menos um século para regressar à normalidade. As e os jovens que nasceram depois de 2002, o ano mágico da Paz, votam em Agosto. Os profetas da desgraça vão ter uma grande surpresa. Criticar o MPLA não significa votar na UNITA. Significa apenas independência e inteligência. Nunca premiar os que dispararam contra o Povo Angolano e destruíram Angola.

*Jornalista

A TIRANIA DO MÉRITO E COMO SUPERÁ-LA -- Dowbor

A ideia de que todo esforço será recompensado esconde a filosofia neoliberal de guerra de todos contra todos. Justifica a captura das riquezas pelo 0,01% e impõe o fardo da culpa aos mais pobres. Enfrentá-la exigirá combates políticos e éticos

Ladislau Dowbor* | Outras Palavras

A desigualdade tem de estar no centro das nossas preocupações. Para muita gente, basta se preocupar com o seu próprio bem-estar, e da sua família. É o nível em que a insegurança joga um papel determinante na indiferença relativamente ao que acontece com os outros. No caso dos empresários, predomina a busca do lucro apenas, sem pensar nos impactos sociais e ambientais. É uma visão de curto prazo. Como escreveu Peter Drucker, “não haverá empresa saudável numa sociedade doente”. Quanto aos muito ricos, com fortunas acima de 30 milhões de dólares, ganhar mais já não é questão de bem-estar seu ou da empresa, pois têm muito mais do que jamais poderão gastar, e sim de sentimento de dominância: basta ver o comportamento surrealista, de mandar um carro para o cosmos, de subir no espaço com o seu próprio foguete, de batalhar o seu ranking na Fortune ou na Forbes. Considerando os dramas que se acumulam no planeta, econômicos, sociais e ambientais, bem conhecidos no andar de cima dos afortunados, isso já é área do patológico. É a tirania do ego, e burrice social.

Estamos num mundo em que nem os pobres merecem a sua pobreza, nem os ricos a sua riqueza. Os pobres, evidentemente, porque não foram eles que montaram esse sistema em que os direitos sobre o excedente que a sociedade produz sai da mão deles e vai para os mais ricos. O botijão de gás que a família mais pobre paga pelo absurdo preço de 130 reais gera lucro adicional para acionistas em qualquer parte do mundo, sem precisarem produzir mais. Cobrar taxas de juros mais elevadas – até o botijão já é vendido a prazo – ou ainda, e particularmente, extrair mais dividendos das empresas, asseguram enriquecimento com o esforço dos outros. Na era do dinheiro virtual, o enriquecimento dos improdutivos é generalizado.

Sandel insiste no crescente papel das finanças: “A financeirização da economia pode ser mais destrutiva para a dignidade do trabalho e mais desmoralizante. Isso porque oferece talvez o mais elucidativo exemplo, em uma economia moderna, da distância entre o que o mercado recompensa e o que realmente contribui para o bem comum…Isso não seria problema se toda atividade financeira fosse produtiva, se aumentasse a capacidade da economia de produzir bens e serviços de valor. Mas esse não é o caso…Cada vez mais envolve engenharia financeira complexa que resulta em grandes lucros para pessoas envolvidas, mas que não fazem qualquer coisa para tornar a economia mais produtiva.”(306) Equivale a ganhar dinheiro com dinheiro.

O argumento moral tem muito peso. Porque há um imenso esforço da mídia comercial, seja tradicional ou utilizando as mídias sociais, de apresentar o enriquecimento como legítimo, portanto merecido, ainda que não corresponda à contribuição produtiva. O merecimento tornou-se uma questão central: sou rico porque batalhei, por que você não se esforça mais? A grande justificativa moderna do sistema grotesco em que vivemos é que quem é rico é porque se esforçou, e, portanto, quem é pobre é porque não soube batalhar. A grande vitória da comunicação dos mais ricos não é só de aparecer como merecedores da sua fortuna, mas de acusar os pobres de serem incapazes de seguir o seu exemplo. Ao orgulho da riqueza, acrescentam o desprezo da pobreza. Mas de que os donos de grandes fortunas têm de se orgulhar? Mereceram?

O NEOLIBERALISMO É O CAMINHO PARA O NEOFASCISMO

João Rodrigues | Ladrões de Bicicletas

Contra os arrebatamentos da “esquerda” euro-liberal que se entrega a banqueiros, já aqui defendi que a Itália é um imenso laboratório neoliberal, construído em cima de um imenso cemitério político das esquerdas e de uma economia mista que funcionava muito melhor do que a economia estagnada há mais de duas décadas, obra da UEM. 

Nunca se esqueçam dos seguintes pontos de história política e da economia política, assinalados por Manuel Loff, historiador dos fascismos: 

“A extrema-direita só chega ao poder pela mão do resto das direitas (…) O seu crescimento coincide com a imposição da nova ordem neoliberal (…) O ciclo histórico do novo assalto da extrema-direita ao poder (o anterior foi o do fascismo no período entre guerras mundiais) é diretamente proporcional à crise dos partidos dominantes liberal-conservadores e social-democratas (…) A extrema-direita avança tanto mais quanto menos esquerda a sério houver para se lhe opor.”

Entretanto, Thomas Fazi, um raro observador soberanista da economia política italiana, escreveu um artigo que merece tradução. O contexto é o da demissão do desastroso governo dito de unidade nacional de Draghi, um dos criadores do letal vínculo externo indissociável do euro: “é mais provável que a próxima crise do euro rebente nas ruas da Europa do que nos mercados financeiros”. 

Gostava também de ter escrito isto – “a realidade é que a crise do euro nunca terminou: o euro é a crise”.

Ler em Ladrões de Bicicletas:

Inflação: ironias de um debate – Diogo Martins

UE - BCE | FAZEDORES DE RECESSÕES E OS SEUS CÃES

Só haverá apoios do BCE se os países cumprirem os compromissos assumidos para receber os fundos do PRR. Quem não acatar a sua eventual condicionalidade, leva com os “mercados”. E já se se conhece de há dez anos as condições que a troica defende: a desvalorização salarial. 

João Ramos de Almeida* | Setenta e Quatro

No reino da Europa neoliberal parece não haver outra visão que não passe pela desgraça da espécie sub-humana que vive ou viveu do seu trabalho; e pela boa vida da super-raça que empresta dinheiro àquela subespécie. E que, entre as duas, deve haver uma vintena de polícias que mandam nos cães que mantêm o sistema assim a girar.

Há coisa de dez anos, as instituições da troica – Banco central Europeu BCE), Comissão Europeia (CE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) – ficaram a olhar o poder desbragado dos mercados, libertos para desencadear uma operação de chantagem política sobre diversos países – nomeadamente Grécia e Portugal -, por forma a que aceitassem a “ajuda” da troica. Essa “ajuda” não visava melhorar a situação económica desses países, vítimas de uma desequilibrada moeda única (que os faz acumular dívidas externas, sobretudo privadas).

Visava, sim, conceder-lhes meios financeiros para que pagassem a sua dívida a bancos alemães e franceses, colocando os seus pobres povos a pagar essa “ajuda”, ao mesmo tempo que lhes era imposto um cardápio de políticas lesivas dos seus interesses soberanos. E, para o conseguir, tudo passava pela criação de um regime de exceção, de uma recessão artificial e, consequentemente, de uma desvalorização salarial, tida como a única forma de ganhar competitividade no quadro de uma moeda única.

A chantagem terrorista do BCE e da CE (instituições não eleitas) atingiu limites impensáveis no caso da Grécia, chegando ao fecho da “torneira” das caixas multibanco e a ameaças nas vésperas de um referendo cujos resultados poderiam representar o princípio do fim do euro. A situação social na Grécia degradou-se como nunca visto. Em Portugal, a taxa de desemprego atingiu os 17% e a taxa de subutilização do trabalho 25% (!) e hoje é consensual que o nível irrisório dos salários médios – fruto das políticas seguidas – tem de subir. 

Consensual? Não para o BCE. Agora, o BCE – sob a aparência diáfana de Christine Lagarde – visa uma quadratura do círculo.

Por um lado, o conselho de governadores do BCE não está disposto a que se repita o trauma vivido há dez anos, em que os “mercados” – ou seja, quem manda neles - fizeram o que quiseram e, ao contrário da teoria neoliberal, desestabilizaram economias da zona euro e a própria zona euro. Mas também não quer assumir publicamente a continuação do “desvario” teórico que foi a compra pelo BCE de títulos no mercado – numa dimensão “custe o que custar”, como dissera Mario Draghi – que, afinal, e ao contrário dos cânones teóricos da teoria neoliberal, estabilizou os mercados durante dez anos (disciplinando-os à vontade do poder político que é quem deve mandar).

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