terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Angola | RECORDAÇÃO DE UMA GOLPADA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O sonho dos gringos é a extinção dos partidos históricos que protagonizaram as Independências Africanas. Bill Clinton, o abusador sexual de estagiárias, propôs isso ao Presidente José Eduardo dos Santos, na Sala Oval da Casa Branca. Pediu-lhe ajuda para essa missão. Recebeu de troco, um rotundo não. Mas o plano continua de pé. O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) quer mesmo decapitar as elites políticas africanas para lançar o neocolonialismo em todo o continente, sem resistência. Entre 1974 e 2002 levaram uma tareia militar em Angola. Mas pelos vistos querem mais.

O ministro das Relações Exteriores da Federação Russa, Sergey Lavrov, chegou hoje à África do Sul, para uma visita oficial. À sua chegada estavam cinco brancas e sete brancos com uns papéis na mão repudiando a guerra na Ucrânia. Os Media do “ocidente alargado” falaram em grandes manifestações de protesto! Naquele país não pegou o “efeito Mandela”. O Presidente Zuma corrigiu o que estava mal e o Presidente Ramaphosa segue o mesmo roteiro. 

Angola já esteve na vanguarda da luta anticolonialista no continente africano, quando Agostinho Neto proclamou a resistência popular generalizada, que só terminou com a assinatura do Acordo de Nova Iorque após a famosa “Acta da Derrota” onde os chefes militares e PW Botha reconheceram que foram derrotados no Triângulo do Tumpo, Cuando Cubango.

No dia 28 de Agosto de 1988 o presidente PW Botha, invocando os seus poderes constitucionais, “delegou no Dr. Neil Barnard, Chefe da Inteligência Nacional, para preparar negociações com Nelson Mandela e providenciar a sua libertação”. Isto está escrito na acta da célebre reunião secreta. 

O futuro presidente da África do Sul foi da Cidade do Cabo para Pretória e deu início ao processo de transição. Teve um encontro “muito cordial” com P W Botha que considerou um homem simpático e muito cortês, até lhe serviu chá. Assim nasceu o “efeito Mandela”, para manter a África do Sul, libertada do regime de apartheid, na órbita dos genocidas do “ocidente alargado”. 

Angola está a caminho da “americanização” da política. Nos EUA o poder é disputado entre o Partido Democrata e o Partido Republicano. Assim as coisas ficam mais baratas e mais controláveis. Vários partidos que elegem muitos parlamentares dá confusão e fica caríssimo. Se Angola continua pelo caminho iniciado em Agosto do ano passado, em breve temos as eleições disputadas apenas pelo MPLA e pela UNITA. Todos os outros são reduzidos a nada ou quase nada. Falta definir se o MPLA é o partido democrata e a UNITA o republicano. Para os sicários do Galo Negro tanto faz, se choverem os milhões e os Lexus.

Adalberto da Costa Júnior deu uma entrevista ao jornal português Nascer do Sol, antigo Sol de sobrinhos e madalenos. O engenheiro à civil entrou a matar: “Nem eu, nem o partido reconhecemos a vitória do MPLA, porque sabemos que a UNITA teve mais votos. Escutámos as pessoas em todo o país. A sociedade queria que tomássemos conta das instituições, mas não quisemos o caos”. 

A tropa de choque da UNITA queria que na sequência da derrota eleitoral, a direcção partisse para o golpe. Adalberto diz que “a sociedade queria que tomássemos conta das instituições”. E a direcção do Galo Negro só não “tomou conta” das instituições porque as Forças Armadas Angolanas mostraram que não admitiam aventuras golpistas. Mais um serviço relevante prestado pelos militares ao Povo Angolano. Evitaram um banho de sangue.

Instruído pelos seus mentores portugueses, Adalberto atira com umas bocas sem nexo como esta: “Quem ganha em Luanda nunca perde as eleições nacionais. Vencemos também em Benguela e Lobito”.  Sim, até agora só o MPLA ganhou as eleições em Angola. Nas anteriores, ganhando em Luanda. Nas últimas, perdendo em Luanda. A “regra” do Adalberto é mesmo de branco matumbo. Mas cuidado! Ele diz que ganhou em Benguela e no Lobito. Continua a fraude, a mentira, a invenção, a falta de respeito perlas instituições. 

Por que razão o chefe dos sicários da UNITA diz isto? Ele responde em modo delírio: “Entregámos as actas originais com as votações das mesas de voto. Pessoas que tinham as actas foram presas ou raptadas durante uns dias para atrasar o processo de contagem. Tivemos de resgatar alguns documentos que estavam com pessoas que fugiram devido a ameaças. Isso fez com que tivéssemos grandes atrasos na recolha da informação, mas posso dizer que, ao dia de hoje, temos 94% das actas nacionais, o que é um número muito significativo para podermos demonstrar resultados de caráter global”. 

Este homúnculo é perigoso. As actas das assembleias de voto afinal estavam nas mãos de pessoas que fugiram! Por isso a UNITA demorou algum tempo a recolher os “números verdadeiros”. As pessoas que “foram presas e raptadas” pelos vistos entregaram o material que nunca por nunca podia estarnas suas mãos. As actas não podem sair do circuito oficial! Adalberto da Costa Júnior é deputado mas não é inimputável. O Ministério Público tem a obrigação de investigar estas afirmações. E, se for caso disso, solicitar o levantamento da imunidade parlamentar. O chefe dos sicários da UNITA levou as aldrabices demasiado longe. 

As eleições foram acompanhadas por observadores internacionais, nomeadamente portugueses. Sabem como Adalberto da Costa Júnior os qualificou: “Os senhores que foram convidados para verificar as eleições vieram, de certa forma, fazer turismo, e serviram para proteger os interesses do regime. Essas pessoas não têm coragem de denunciar certas práticas e deviam ter mais atenção à forma como são usadas em prol de algumas ditaduras.” Para ele, Angola é uma ditadura. Então o que faz na Assembleia Nacional? Ele e mais 89 deputados eleitos nas listas da UNITA? O “partido republicano” dos gringos está mal…

As autoridades devem ler a entrevista e tomar nota desta parte: “Houve grande pressão no sentido de declararmos levantamentos em todo o país. Naquele momento entendemos que não era a solução desejável (...) Mesmo depois de ter declarado vitória, o regime estava assustado e tinha vindo para a rua com o seu aparato bélico para fazer um banho de sangue. Estamos a falar de uma ditadura”. 

Esta é a verdadeira UNITA. Um perigo existencial para a democracia.

*Jornalista

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