quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Portugal | CURTO-CIRCUITO

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Uau! Que semanas alucinantes em São Bento e que excelente augúrio para 2023. Governantes a despenharem-se uns atrás dos outros, castelo de cartas, queda de dominós. Um verdadeiro espectáculo de cortar a respiração. Puxa! Este é mesmo inédito e inaudito. Palmas para António Costa!

Portugal já assistiu a muito regabofe na política, mas este nível alucinante é, realmente, uma grande estreia! E para grandes males, grandes remédios! Logo, o nosso excelso primeiro-ministro veio propor uma magnificente solução. Mais ovação, por favor. Bis! Bravo! Ele é o Nosso Grande Salvador.

No Parlamento, o PM anunciou que vai sugerir ao Presidente da República um Circuito para garantir maior transparência e confiança de todos no momento da nomeação de membros do governo, "que permita evitar desconhecer factos que não estamos em condições de conhecer". Criativo circuito! Genial! Desconhecer factos que não estamos em condições de conhecer é, efectivamente, de visionário. Agora sim, estes problemas que carcomem os pilares do regime vão ficar sanados e sarados.

Só que não. Tudo isto não passa, claro, de prestidigitação, truques de algibeira, ilusão. Lembram-se do Galpgate? Em 2016, dois ex-secretários de Estado foram acusados do crime de recebimento indevido de vantagem - bilhetes para o Euro. Nessa altura, António Costa também tirou um coelho da cartola e avançou com o então designado Código de Conduta para os membros do governo. Estes comprometiam-se a a rejeitar ofertas que excedessem os 150 euros. O executivo garantiu que se tratava de um instrumento de auto-regulação ética, mas olhando para o cortejo de sobas que tem desfilado, definitivamente, auto-regulação ética é coisinha que até sobeja.

Cadê esse tal Código de Conduta? Já ninguém se lembra agora?

E do familygate? Quem se recorda? Por causa do escândalo do nepotismo, em 2019 António Costa quis então mandar areia para os olhos com a chamada Lei dos Primos. Em agosto desse ano, o Presidente da República promulgou-a e enalteceu o seu "significado ético". Porreiro pá, como dizia Sócrates. Este Outono, o PM cortou com a regra de não ter familiares à mesa do Conselho de Ministros e lá meteu os conhecidos "Irmãos Mendes". Pronto. Simples assim. Um verdadeiro gangue de Irmãos Metralha, um clube privado de dinheiros públicos a que meia dúzia tem acesso. Lá se foi o "significado ético" de vela e a toda a bolina.

Que não restem dúvidas - estas medidas só servem para fingir que se faz, em bom português, para encanar a perna à rã, empatar e caçar votos. Basta atentar na novelita da Entidade da Transparência para o confirmar - anunciada pelo PM como uma prioridade na dita Estratégia Nacional de Combate à Corrupção, criada em 2019 para fiscalizar rendimentos, interesses e incompatibilidades dos políticos e altos cargos públicos, ainda não funciona!

Portanto, se alguém ainda tem esperanças ou a expectativa de que este colossal pantanal algum dia se resolva enquanto este Partido Socialista estiver no poder, desengane-se.

É por demais óbvio que a "Estratégia" é uma e uma apenas: continuar a saquear e a esbulhar o dinheiro dos nossos impostos de todas as maneiras e feitios possíveis, com o maior topete e total impunidade. Circuito de Manutenção.

*Psicóloga clínica.
Escreve de acordo com a antiga ortografia

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