sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Angola | A Nossa Banda e Aprendizes de Feiticeiro – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Kilamba Kiaxi é um município filho da Independência Nacional. Este nome homenageia o nosso líder Agostinho Neto, que conduziu a luta armada até à libertação da Pátria e do Povo Angolano. Foi lá que hoje começou um projecto sensacional: “A Administração na Nossa Banda”. Vários serviços públicos foram ao Bairro Malanjino. Os funcionários instalaram-se e começaram a prestar serviços essenciais aos moradores. Foram abertos balcões para o registo de pessoas que até hoje não tinham o estatuto de cidadãos nacionais. Serviços públicos importantes estavam disponíveis à porta de casa! Além do registo, também existiam equipas para vacinação de animais.

Pela fé de quem sou vos digo que só mesmo o MPLA podia arrancar com um projecto tão importante. Porque mais nenhuma organização política angolana é capaz de mobilizar recursos para promover o bem-estar de todos. Espero que “A Administração na Nossa Banda” chegue em alta velocidade a todos os municípios e comunas de Angola. E não temam os aprendizes de feiticeiro que puseram todas as fichas na roleta das eleições autárquicas, mesmo sabendo que nos municípios não há recursos humanos que respondam aos desafios do Poder Local Democrático.

 Levar todos os serviços da administração pública à nossa banda, ao nosso bairro é projecto que o Executivo deve promover até chegar às mais recônditas comunidades de Angola. Quando eu era miúdo via chegar, todos os anos, as “brigadas da pentamidina” para combater a doença do sono. Andavam de fazenda em fazenda, sanzala em sanzala, para imunizarem todas as pessoas contra a picada da mosca tsé-tsé. Os enfermeiros e auxiliares eram todos negros. Uma coisa nunca vista no Congo Português!

No final dos anos 50 as autoridades coloniais decidiram registar todos os negros (e não apenas os assimilados) como “cidadãos nacionais”. Centenas de brigadas percorreram todo o país fazendo o registo. Deu excelentes resultados. O projecto “Administração na Nossa Banda” também vai resultar. É uma solução inteligente e eficaz até à institucionalização do Poder Local. Vamos ter autarquias móveis. Serviços públicos ao domicílio. O MPLA é o Povo e o Povo é o MPLA.

Por falar em aprendizes de feiticeiro, o Novo Jornal de Sobrinhos & Madalenos publica hoje um artigo de opinião intitulado “A Queda de Bamako É uma Grande Queda na Segurança de Todos”. O autor do trambolhão chama-se Diogo Alexandre Carapinha. Quem é? O jornal não identifica. Pelo conteúdo da peça cheguei facilmente à sua identidade. Mais um eurocentrista, racista e idiota inútil. Vou resumir o texto.

O governo do Mali correu com os franceses. Como os brancos juntaram as imbambas e zarparam, os pretos não se entendem e agora o Mali vai ficar nas mãos de terroristas. Para cúmulo da desgraça, os russos apoiam a libertação de um país que até hoje viveu sob a pata dos neocolonialistas e velhos genocidas franceses.  O jornal de Sobrinhos & Madalenos só tem 15 anos mas já tresanda a lixo mediático infecto. 

O conselho nacional do Bloco Democrático (BD) elegeu Nelson Pestana (Bonavena) vice-presidente do partido em substituição de Justino Pinto de Andrade, que suspendeu a militância activa. Tenho pena por vê-lo metido naquele sinédrio de canalhas porque é alguém que considero há muitos anos, quando ele era do MPLA.

Bonavena foi ao castigo porque o aprendiz de feiticeiro Justino Pinto de Andrade é deputado da UNITA. E a lei não lhe permite ser dirigente de um partido e representar outro, na Assembleia Nacional. Este velho rábula tem ética de lombriga. A sua moral anda a cair de podre, aos pedaços, há muitos anos. 

Após o 25 de Abril de 1974 traiu o MPLA. Justificou a traição com este argumento: “A direcção de Agostinho Neto não é democrática. Neto é um ditador”. Só mesmo um aprendiz de feiticeiro mal sucedido pode ser agora kaxiko de Adalberto da Costa Júnior, um traficante de diamantes de sangue e cúmplice de criminosos de guerra. Belicista kiavulu-kiavulku! O pobre Justino está a cair de podre e já só faz mal a ele próprio. Mais grave é o caso de Ismael Mateus porque este aprendiz de feiticeiro pode fazer muito mal aos Jornalismo e aos jornalistas, sobretudo aos jovens que estão em início de carreia.

Ismael publicou um texto no Jornal de Angola que tem tanto de incoerente como de perigoso. Confunde conceitos, falsifica princípios e dá um festival de ignorância só possível porque a dita cuja é muito atrevida. O autor fala do que pouco ou nada sabe a propósito de um seminário sobre Jornalismo e Privacidade dos Cidadãos organizado pela Agência de Protecção de Dados. 

Pelo que percebi vai ser aprovada uma Lei de Protecção de Dados. Ismael pede que o legislador tenha em conta “cenários e hipóteses de futuro e não se baseie em realidades do passado”. O aprendiz de feiticeiro ainda não chegou à parte do livro da sabedoria onde se ensina que as Leis são para o presente. E se for preciso são alteradas caso as circunstâncias se alterem. Seja no presente ou no futuro.

O sábio escriba falou do passado e do futuro para mergulhar de cabeça na ignorância mais confrangedora. E falsifica princípios fundadores do Jornalismo, além de ignorar os conteúdos do Direito à Inviolabilidade Pessoal que é de ontem, de hoje e de sempre, enquanto forem protegidos pela Constituição da República e a ordem jurídica mundial os Direitos Fundamentais dos Cidadãos. Direitos de Personalidade.

Diz Ismael que se alterou o papel do Jornalismo na sociedade. Aqui está a ser voz de donos como o George Soros e outros bandidos internacionais que tentam o tudo por tudo para destruir a Democracia e o Estrado de Direito a nível planetário. O Jornalismo hoje tem a função de sempre: Informar. Constituição da República, Lei de Imprensa e Estatuto do Jornalista definem como isso se faz. 

Ismael, o falhado aprendiz de feiticeiro, diz que “o jornalismo perdeu o monopólio da divulgação de informações”. Jornalismo é produzir. Divulgar é o difícil comércio das palavras, sons e imagens. O Jornalismo nunca teve monopólios. Foi é e será sempre mediação técnica entre os acontecimentos e os destinatários, O Jornalismo não trabalha com informações. Trabalha com factos. Com fragmentos de informação. O jornalista faz o recorte desses elementos, produz a mensagem informativa e ela é divulgada em forma de notícia, reportagem ou entrevista. 

Ismael diz que as redes sociais “tomaram a liderança desse papel” (divulgação de informações). Menino aprendiz de feiticeiro, já ouviu falar de Lei de Imprensa? Da Constituição da República? As redes sociais nada têm a ver com mensagens informativas produzida por mediadores autorizados (jornalistas!) devidamente acreditados por uma Carteira Profissional. E que são obrigados a produzir as mensagens informativas com factos, só os factos e nada mais do que factos. Tudo chancelado com fontes credíveis.

Um exemplo que até os aprendizes de feiticeiro percebem. Um médico presta cuidados de saúde segundo os seus conhecimentos científicos e respeitando o seu código profissional. Eu posso usurpar a profissão de médico mas isso é crime. Posso receitar ao Ismael um milongo que cura a estupidez e a lepra moral. Mas isso jamais fará de mim médico. Até posso ser preso por usurpar a profissão. Percebido? Nas redes sociais é quase sempre assim. Crime. 

Ismael, nos seus delírios de aprendiz de feiticeiro, diz que se alterou “o conceito de notícia”. Leiam: “O mercado reconhece e sustenta as chamadas ‘fake news’, feitas sem nenhuma relação com a verdade ou distorcendo a verdade e com o expresso fim de enganar os destinatários ou denegrir os seus protagonistas”. Eis um Chicago Boy ainda mais neoliberal do que os ditos cujos. O “mercado” é que manda, Logo, uma aldrabice é notícia. Uma chantagem é notícia. Um insulto é notícia. Uma difamação é notícia. Um atentado contra a honra e o bom-nome de pessoas e instituições é notícia! Mas quem meteu isto na cabeça do Ismael? 

A grande confusão vem depois. O Ismael não sabe (roubaram-lhe o livro da sabedoria ou trocou-o por um lugar no Conselho de Estado?) que os Direitos de Personalidade não existem apenas há 30 anos. E a lista está sempre aberta. Os conflitos entre a Liberdade de Imprensa e o Direito à Inviolabilidade Pessoal não nasceram no dia em que o Ismael começou a ser acomodado. Tomem nota. Os jornalistas têm de respeitar a esfera privada, a esfera pessoal, a esfera do segredo e a história pessoal de todos. Sejam ou não figuras públicas. Quem não respeitar, viola a lei e sofre as consequências.

Outra confusão que faz este aprendiz de feiticeiro é com o interesse público. Tive um professor que me dizia: “Não penses que o interesse público é uma criada para todo o serviço”. É verdade. Eu acrescento: O interesse público só interessa aos jornalistas (sérios e profissionais) como causa de exclusão do ilícito. Nunca para violar direitos constitucionalmente protegidos. Para violar a Lei de Imprensa. Para violar o código de conduta dos jornalistas.

O Ismael também faz uma grande confusão com o conceito de figura pública. Alguém tem de explicar ao desastrado aprendiz de feiticeiro que ninguém, desde o Chefe de Estado ao mais humilde roboteiro é o Miradouro da Lua. Uma montra. Um ser sem jardins secretos. Uma boneca ou boneco de vidro. O Jornalismo não pode ser uma maquineta de vitrificar a pessoa humana. A transparência tem limites. 

Este Ismael é perigoso. Camarada Presidente leve-o para o seu Executivo porque como escriba está a revelar-se altamente perigoso para a democracia e o Jornalismo Angolano. Ponha-o a copiar os discursos do Joe Biden.

*Jornalista

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