Recebido em Kinshasa por milhares de pessoas, o Papa apelou ao fim da exploração desenfreada dos recursos naturais em África e exigiu que os interesses estrangeiros parem de dividir a RDC.
De visita à República Democrática do Congo, o Papa Francisco apelou esta terça-feira (31.01) ao fim da exploração desenfreada dos recursos naturais em África. Recebido em Kinshasa por milhares de pessoas - naquela que é a primeira visita papal ao país nas últimas décadas - o chefe da Igreja Católica exigiu ainda que os interesses estrangeiros parem de dividir a RDC para seu interesse próprio.
"Há uma noção – que sai do inconsciente de tantas culturas e pessoas – que África deve ser explorada. Isso é terrível. A exploração política deu lugar a um 'colonialismo económico' e igualmente escravizador", afirmou perante oficiais do Governo e membros do corpo diplomático nos jardins do palácio nacional de Kinshasa. "O veneno da ganância manchou os diamantes [deste país] com sangue. Parem de sufocar África: não é uma mina a ser explorada, nem uma terra a ser saqueada", apelou.
Também em declarações no palácio presidencial, ao lado do Papa, o chefe de Estado do país, Felix Tshisekedi, criticou "o silêncio cúmplice" da comunidade internacional perante os ataques perpetrados no lestes do país por grupos terroristas "armados por potências estrangeiras".
"A hospitalidade que nos caracteriza tem sido destruída pelos inimigos da paz e grupos terroristas vindos de países vizinhos. Esta desgraça acontece hoje e há 30 anos numa parte do nosso território que é vítima de violência, onde os grupos, armados pelas potências estrangeiras ávidas dos minerais que existem no nosso subsolo, cometem, com o apoio direto do nosso vizinho Ruanda, crimes cruéis", acusou o Presidente congolês.
"Um genocídio esquecido"
Desde 1998 que o leste da RDC está mergulhado num conflito alimentado pelas milícias rebeldes e pelos ataques dos soldados do exército, apesar da presença da missão de paz das Nações Unidas no país (MONUSCO), com cerca de 14 mil efetivos mobilizados no terreno.
A ausência de perspetivas futuras e de alternativas e meios de subsistência no presente empurraram milhares de congoleses a pegar em armas e, segundo o Barómetro de Segurança de Kivu, o leste do país é um campo de batalha para pelo menos 122 grupos rebeldes.
O Presidente criticou que tudo isto "é favorecido pelo silêncio e pela inação da comunidade internacional", o que fez com que "mais de 10 milhões de pessoas tenham sido atrozmente privadas da vida, mulheres inocentes, e também grávidas, são violadas e esfaqueadas, rapazes e jovens são degolados e famílias inteiras ficam condenadas a viver em fuga, à procura da paz por causa das execuções cometidas por estes terroristas ao serviço de interesses estrangeiros".
Perante estas palavras, o papa Francisco também denunciou o que diz ser "um genocídio esquecido" na RDC. "Não podemos continuar assim, perante uma injustiça e este silêncio cúmplice da comunidade internacional", concluiu depois o Presidente do país africano.
Goma fora da agenda
A 40.ª viagem internacional de Francisco, de 86 anos, que se antevê como particularmente desafiante devido aos seus problemas de mobilidade, esteve agendada para julho do ano passado, mas uma dor no joelho provocou o seu adiamento e, desde então, a situação de segurança na região tornou-se mais complicada em ambos os países.
Nesta viagem ao continente africano, estava inicialmente planeada uma paragem na cidade de Goma, nesta região da RDC. No entanto, os recentes combates entre as forças governamentais e o movimento M23 impediram esta deslocação do Papa.
Em Kinshasa, a população tem esperança de que a vinda do Papa ao país traga "soluções". "Quando vi o Papa, vi o rosto da paz, e não chorei de sofrimento mas de alegria por ver o nosso Pai, um Pai que vem com muitas soluções, tanto para o leste do Congo, como para as congregações (igreja católica) e instituições. O Papa trouxe a paz", disse Regine Nsanga, residente em Kinshasa.
"Que o Papa acabe com todos os problemas que existem no Congo, fale com os políticos, fale com o M23. Obrigado, Papa Francisco!", agradeceu por sua vez Chimi Chabene, outro residente.
O Papa Francisco estará no continente africano durante sete dias. Para além da República Democrática do Congo, visitará ainda o Sudão do Sul.
Deutsche Welle | rl | com agências
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