Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião
Visto o espetáculo, confirmadas as pateadas, registada a falta de educação, poderia parecer prudente passar à frente. Evitar dar importância ao que não passou de um número de circo, acreditando que aquele grupo de evangélicos embevecidos com o seu messias acabarão no caixote de lixo da história, como costuma acontecer aos fenómenos populistas de segunda categoria.
Sucede que isso seria transformar
o Chega no elefante na sala. O problema de que evitamos falar, suspirando para
que ele desapareça. Não vai acontecer. Mas também não é razoável constatar,
apenas, que o Chega é o elefante na loja de porcelanas. E apontar-lhe uma
câmara de televisão de cada vez que ameaça partir a louça, só porque isso
garante animação
Augusto Santos Silva, que, a propósito do número circense durante a receção a Lula da Silva, chamou os bois pelos nomes, aproveitou a cerimónia do 25 de Abril para deixar o recado a Marcelo Rebelo de Sousa: depois de tanto ouvir o presidente da República teorizar sobre uma hipotética dissolução da Assembleia da República (seja para a negar, seja para a atirar para outro tempo), lembrou que são as eleições (e não o presidente, as sondagens, ou os comentadores) que "determinam a composição do Parlamento" e que "é a partir dessa composição e só dela que se formam os governos e as oposições". Tudo certo, exceto na tentativa de resumir a crise do Governo a "erros localizados". Na verdade, e usando a sua terminologia, vislumbra-se uma crise "prolongada e sistémica". Se a ideia é cumprir o ciclo de quatro anos, António Costa tem de arrepiar caminho. A não ser que também se queira transformar num elefante em loja de porcelanas.
*Diretor-adjunto
Sem comentários:
Enviar um comentário