quarta-feira, 26 de abril de 2023

Portugal | ELEFANTES EM LOJA DE PORCELANAS

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

Visto o espetáculo, confirmadas as pateadas, registada a falta de educação, poderia parecer prudente passar à frente. Evitar dar importância ao que não passou de um número de circo, acreditando que aquele grupo de evangélicos embevecidos com o seu messias acabarão no caixote de lixo da história, como costuma acontecer aos fenómenos populistas de segunda categoria.

Sucede que isso seria transformar o Chega no elefante na sala. O problema de que evitamos falar, suspirando para que ele desapareça. Não vai acontecer. Mas também não é razoável constatar, apenas, que o Chega é o elefante na loja de porcelanas. E apontar-lhe uma câmara de televisão de cada vez que ameaça partir a louça, só porque isso garante animação em antena. Tem razão António Costa quando diz que é perigoso para a democracia que haja um excesso de representação mediática de quem tem uma representação minoritária. A Comunicação Social (e os que gravitam na sua órbita) tem de cumprir a sua função: explicar a quem a vê, ouve, ou lê, que aquilo é uma ópera bufa.

Augusto Santos Silva, que, a propósito do número circense durante a receção a Lula da Silva, chamou os bois pelos nomes, aproveitou a cerimónia do 25 de Abril para deixar o recado a Marcelo Rebelo de Sousa: depois de tanto ouvir o presidente da República teorizar sobre uma hipotética dissolução da Assembleia da República (seja para a negar, seja para a atirar para outro tempo), lembrou que são as eleições (e não o presidente, as sondagens, ou os comentadores) que "determinam a composição do Parlamento" e que "é a partir dessa composição e só dela que se formam os governos e as oposições". Tudo certo, exceto na tentativa de resumir a crise do Governo a "erros localizados". Na verdade, e usando a sua terminologia, vislumbra-se uma crise "prolongada e sistémica". Se a ideia é cumprir o ciclo de quatro anos, António Costa tem de arrepiar caminho. A não ser que também se queira transformar num elefante em loja de porcelanas.

*Diretor-adjunto

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