Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião
1. Não parece, mas passou pouco mais de um ano desde as eleições que deram a maioria absoluta (apenas a quarta em 50 anos de democracia) a António Costa e ao PS. E não parece porque não há histórico de um Governo tão rápido a desagregar-se (seria preciso recuar aos anos 70).
Recordando apenas cinco episódios: o ministro Pedro Nuno Santos desautorizado e humilhado publicamente por causa do novo aeroporto de Lisboa; a ministra Marta Temido que passou de bestial a besta por causa de mais uma crise nas Urgências; um secretário de Estado Ajunto do primeiro-ministro, Miguel Alves, com um cadastro político que não o recomendava para coisa nenhuma; o ministro Fernando Medina, que parece ter recebido a pasta das Finanças como "prémio" de consolação por ter perdido a Câmara de Lisboa, que não sabe nada (nem procura saber) sobre questões fundamentais da gestão política e pública; e de novo Pedro Nuno Santos, que se demitiu ainda antes de termos percebido que mentiu com todos os dentes que tem.
2. O que está a acontecer a Costa e a este Governo (não confundir com os dois anteriores) tem sido comparado ao caótico período de Pedro Santana Lopes. Não há dúvida que há várias semelhanças: a valorização desmedida da máquina de comunicação e propaganda; ministros incompetentes que originam múltiplos escândalos; governos em permanente estado de entropia e tolerados a contragosto pela Presidência da República. Sendo assim, porque não demitir o Governo, dissolver a Parlamento e convocar eleições? Porque, como explicou Marcelo Rebelo de Sousa, há diferenças fundamentais: Costa foi eleito com maioria absoluta (Santana herdou uma coligação formada por Durão Barroso); o país está a sair de uma pandemia, envolvido numa guerra e a sofrer uma crise profunda; há milhares de milhões de euros para gastar em pouco tempo; não se vislumbra alternativa política, apenas uma alternativa aritmética (o PSD ficaria dependente do Chega para governar). São argumentos sensatos. Mas, como também deixou claro o presidente, têm prazo de validade.
*Diretor-adjunto
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