quinta-feira, 4 de maio de 2023

Angola | Alegrias e Tristezas no Primeiro de Maio – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Embaixador Domingos Culolo foi Procurador-Geral da República numa fase muito difícil. Iniciou o seu mandato quando rebentou a rebelião armada de Jonas Savimbi. O criminoso de guerra perdeu as primeiras eleições multipartidárias e tentou tomar o poder pela força. Pela primeira vez na História Universal, no regime de democracia representativa, um partido tinha representação parlamentar e, ao mesmo tempo, a maioria dos seus membros fazia da UNITA um quadrilha perigosa, que matava cidadãos angolanos indefesos e destruía tudo o que apanhava pela frente. O programa maior era matar a democracia ainda no ovo e reproduzir em todo o país as fogueiras da Jamba. 

Depois de tantos desafios à sua capacidade, o PGR Domingos Culolo teve um prémio no final do seu mandato. Um porta-voz das Forças Armadas Angolanas anunciou a morte em combate do chefe da quadrilha, Jonas Savimbi. A este angolano excepcional devemos serviços relevantíssimos na área da diplomacia mas também na Procuradoria-Geral da República. Foi durante o seu mandato que o Poder Judicial teve a coragem de deter o empregado de George Soros, Rafael Marques. Segundo o próprio criado, esteve detido 42 dias. Porquê? 

Ele próprio revelou no Maka Angola: “Chamei corrupto e ditador ao Presidente da República No mesmo contexto, fui também acusado de ter difamado e injuriado o Procurador-Geral da República”. Esses feitos valeram-lhe mais tarde uma condecoração do Presidente João Lourenço.

Chamar ditador e corrupto, seja a quem for, é crime. Porque tanto tem direito à honra quem é muito honrado como quem é muito desonrado. Se a vítima for uma figura pública além de crime é uma cobardia porque está mais exposta, menos protegida pela Lei. Se é um servidor do Estado a gravidade do crime aumenta. Qualquer jornalista estagiário sabe isto. Rafael Marques não sabe e jamais saberá. Porque para os servidores da seita UNITA isso de personalidade não existe. Portanto, também não existem Direitos de Personalidade. 

Hoje, nos pasquins que servem a seita UNITA, o Presidente João Lourenço é gravemente difamado e injuriado. Não acontece nada. Os difamadores e injuriadores vão ser condecorados pelo próximo Chefe de Estado. Está garantido. Porque se para os sicários da UNITA os seres humanos não têm personalidade, para os aprendizes de feiticeiro que dominam o panorama mediático, a liberdade de imprensa não tem limites. Insultos, mentiras, manipulações são exercícios do direito a dar opinião. É ponto assente. 

O sicário da UNITA Carlos Kandanda abocanhou os calcanhares (não conseguem subir além da sujidade do chão que pisamos) do Embaixador Domingos Culolo mas, desta vez, esse exercício de banditismo mediático foi útil. Já ninguém se lembrava que o então Procurador-Geral da República, num acto de grande coragem, ordenou, em Janeiro de 1999, a detenção dos deputados da UNITA Carlos Alberto Calitas, Carlos Tiago Kandanda, Manuel Savihemba, Daniel José Domingos Maluka e João Vicente Viemba. Estavam sentados na Assembleia Nacional recebendo salário e usufruindo das mordomias, mas ao mesmo tempo alinhavam na rebelião armada da quadrilha! Estiveram detidos dez meses.

Daniel José Domingos Maluka foi nomeado por Adalberto da Costa Júnior membro do Conselho da Presidência da UNITA. Carlos Tiago Kandanda saiu da quadrilha e foi eleito deputado pela CASA-CE. Hoje conhecemos o essencial do seu pensamento político: “O MPLA tornou-se fraude eleitoral” 

Manuel Saviemba foi eleito deputado pelo círculo do Bié. Depois de alinhar clandestinamente na rebelião armada revelou o seu pensamento mais profundo: “as obras de terraplanagem deviam ser planificadas, antes da sua execução contando com a época chuvosa”. João Vicente Viemba e Carlos Alberto Calitas são apenas terroristas. Os cinco sicários da UNITA disfarçados de deputados eram acusados de “rebelião armada contra a segurança do Estado em flagrante delito”. As autoridades apreenderam-lhes um arsenal de armas e explosivos. Foram libertados à boleia da unidade e reconciliação nacional!

Tal como os mentores do banditismo mediático acham que a carteira de jornalista é uma licença especial para mentir, manipular, falsificar, injuriar e difamar, os sicários da UNITA também acham que uma vez eleitos deputados, ficam imunes à prisão. Não ficam. Se forem apanhados em flagrante delito com armas e explosivos vão mesmo presos doa a quem doer. Devemos mais este serviço relevantíssimo ao Embaixador Domingos Culolo, quando era Procurador-Geral da República.

O Soldado Motorista do RI20 tem como alcunha Jacques dos Santos e ganhou o penacho de escritor quando aprendeu a escrever os nomes dele, do pai e da mãe. Um verdadeiro doutoramento. O assassino da gramática voltou a atacar ao matabicho dos domingos. No regresso ataca violentamente o MPLA e os seus líderes dos últimos 60 anos: Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos e João Lourenço. 

Alimária da escrita balbuciante e vírus do papel, ele acha que todos os males de Angola radicam na Luta Armada de Libertação Nacional. As e os angolanos excepcionais que se levantaram em armas contra o colonialismo são péssimos. Bom é ele que foi soldado da tropa portuguesa. E como bom português, depois de desmobilizado recebeu um prato de comida como escriturário.

O escriba diz que o MPLA não tem ideologia! Esta parte é gravíssima. Os militantes do MPLA morriam nas frentes de combate entre 4 de Fevereiro de 1961 e Outubro de 1974. O soldado motorista ajudava a matá-los ao serviço da tropa portuguesa. Depois recebia um dinheirito como escriturário, o degrau mais baixo da hierarquia dos beneficiários do colonialismo. Também não merecia mais. Sempre escreveu polícia com um “u” e pensa assim. 

O Presidente José Eduardo dos Santos assinou com Jonas Savimbi o Acordo de Bicesse. Ao fazê-lo acabou a República Popular de Angola, o MPLA Partido do Trabalho e o regime socialista. Nasceu a democracia representativa. O MPLA adoptou o “socialismo democrático” que assenta na social-democracia, ideologia dominante no ocidente alargado. O partido é membro da Internacional Socialista

Na hora da mudança, os militantes do MPLA tiveram dois caminhos. Primeiro, aderir à nova ideologia. Segundo, não aceitarem a mudança. Quem não aceitou, das duas, uma: Adeus camaradas ou eu fico e não atrapalho. Tão simples como isto. Jacques dos Santos não só aceitou o novo regime mas também o serviu, ao ser incluído nas listas do partido nas primeiras eleições multipartidárias. Foi eleito deputado! E ficou na Assembleia Nacional até 2007, sem fazer mais do que receber a massa e desfrutar das mordomias! 

Também recebeu o Cine Teatro Nacional e toneladas de dinheiro para brincar à cultura, ele que é pouco mais do que analfabeto. A Associação Chá de Caxinde valeu-lhe mais kumbu do que uma mina de diamantes. Como ficou sem tachos, virou-se para a UNITA. O escriturário desqualificado atreve-se a pôr em causa as angolanas e os angolanos que têm servido a causa pública, desde a Independência Nacional. Diz que são incompetentes. É preciso ter lata. Ele foi deputado 15 anos e só sabe ler e escrevinhar. Hoje temos no Executivo mulheres e homens com doutoramentos de verdade. E o soldado motorista acha que é melhor do que eles. 

Nós podemos criticar o Executivo e o Presidente da República. Podemos e devemos dar opinião sobre a governação. Podemos considerar que as políticas são más ou erradas. Mas as angolanas e os angolanos da minha geração têm o dever de reconhecer que nunca tivemos no Governo pessoas tão qualificadas. Nas Forças Armadas e na Polícia Nacional temos oficiais com doutoramentos!

O problema é que Angola viveu em guerra de alta ou baixa intensidade, entre 1872 (Dembos) e 2002 (Lucusse). A guerra colonial (1961-1974) e a rebelião armada entre 1992 e 2002 deixaram Angola sem recursos humanos qualificados ou mesmo especializados em ofícios. Mas também sem níveis de produção aceitáveis, sem circuitos de distribuição. 

Em 20 anos de paz é impossível criar uma massa crítica. Avançar na investigação e desenvolvimento. Reconstruir o que foi destruído em mais de 150 anos de guerra com escravatura e colonialismo no meio. Haja respeito, ainda que se há governo eu sou contra. Mas não é o Soldado Motorista do RI20 que tem autoridade para deitar abaixo o Executivo e o MPLA. Viva o Primeiro de Maio. Um Só Povo Uma Só Nação. A luta continua. A vitória era certa, agora não sei mas gostava que fosse.

Hoje é o Dia dos Tipógrafos, os meus queridos amigos e companheiros nesta longa viagem pelo Jornalismo. Agora são artistas gráficos. Caminho com estes desde 1976, quando em Angola triunfou a “composição a frio”. No antigamente da vida, íamos para o Mussulo a bordo do Kaposoka ou do Kitoko, do senhor Guimarães. Levávamos caixas cheias de cerveja refrescada com barras de gelo compradas na Vila Clotilde. Para comer, o aperitivo era a fotografia de uma azeitona. As mulheres dos pescadores faziam-nos mufetes de peixe fresquinho, meia dúzia custava meia cinco. Quando estávamos bem chibados gritávamos vivas à liberdade. Sempre a liberdade ajudando-me a respirar. Nunca fui capaz de viver sem ela.

* Jornalista

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