Angola | JULGAMENTOS À PRESSÃO E UMA DEMISSÃO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Redução gradual dos subsídios ao preço da gasolina. Hoje o senhor governador da Huíla informou que recebeu cartões de desconto! Hoje. Só amanhã, sexta-feira, os “multicaixa” vão ser entregues. Até lá os pobres que equilibrem a tesouraria da Sonangol. A propósito, um dia destes ouvi declarações do PCA da empresa, Sebastião Pai Querido Martins, arrotando postas de milhões em “projectos” dos tais que nunca saem do capim.

No Huambo 50 manifestantes contra o preço da gasolina começaram a ser julgados. Não sou um homem de intrigas mas penso que a Dona Vera devia estar sentada no banco dos réus. Lembram-se do poema de Brecht que fala do rio? A correnteza espevitada por chuvas fortes leva tudo à frente. Arrasa as zonas ribeirinhas. E logo chamam violento ao rio. Mas ninguém chama violentas às margens que o oprimem. O aumento de 100 por centro no preço da gasolina é o ponto de partida! O programa da Dona Vera chama-se “Redução Gradual dos Subsídios ao Preço da Gasolina”. Vêm aí outras “reduções” e outros aumentos no preço do combustível que move taxistas, kupapatas, camponeses, funcionários públicos e todos os que precisam da economia informal para sobreviver. 

O Presidente da República nomeou José de Lima Massano ministro de estado para a coordenação económica. Que seja feliz e tenha peito para cumprir cabalmente a sua missão. Manuel Nunes Júnior foi exonerado. Do Magrebe ao Cabo poucos sabem tanto como o exonerado. Nenhum tem tanta experiência. Dificilmente existirá quem tenha dado tantas provas de fidelidade ao MPLA. Sendo assim, só podia mesmo ser exonerado. 

Há um clamor nacional contra a política de “Redução Gradual dos Subsídios ao Preço da Gasolina” da Dona Vera? Arranja-se um bode expiatório, condenam-se uns miúdos nos Tribunais e está tudo resolvido. Puro engano de alma. Eu sou bom rapaz e gosto de fedelhos, até lhes dou conselhos. Então aí vai: Este não é o tempo de aumentar preços mas sim diminuir. É tempo de aumentar salários (estão a ser comidos pela inflação) e adoptar políticas sociais que combatam a pobreza em que estão mergulhadas as famílias em todo o país. Ao sacrificarem um sábio como Manuel Nunes Júnior só pioram a situação. 

Ao sacrificar Manuel Nunes Júnior o Presidente da República e Titular do Poder Executivo mostrou, sem subterfúgios, que está disposto a governar contra o MPLA e contra o Povo Angolano em nome de interesses obscuros, cumprindo uma agenda política que nada tem a ver com o Programa de Governo apresentado ao eleitorado pelo partido e sufragado por uma maioria absoluta de eleitores.

Luísa Damião declarou hoje, durante uma reunião metodológica para analisar a vida interna do MPLA, que é preciso trabalhar mais e comunicar melhor. A vice-presidente do partido afirmou que os militantes e dirigentes têm de ser mais criativos, mais inovadores e mais fortes para melhor interpretar os anseios e aspirações do povo angolano. 

Depois entrou na vertigem do discurso desatinado falando de preços, mercado, distorções, investimento que não pode ficar abaixo do potencial. Para ninguém ter dúvidas, Luísa Damião afirmou resolutamente: ”Saudamos as medidas para retirar os subsídios ao preço da gasolina. Porque assim vão beneficiar as populações!”

A dirigente do MPLA, empolgada, anunciou uma campanha de esclarecimento para todos saberem que foi excelente aumentar 100 por cento o preço do litro da gasolina. É uma medida justíssima que muito beneficia milhões de funcionários públicos, trabalhadores de todos os sectores, camponeses, pescadores e transportadores de pessoas mais as mercadorias. 

Por favor, que ninguém me venha explicar que a Dona Vera fez muito bem ao aumentar descomunalmente o preço da gasolina. Para já. Porque este aumento foi o pontapé de saída. Outros se seguem. Eu sou burro do mato. Não vou perceber os argumentos e não vou alinhar. Pela primeira vez na vida fecho os ouvidos ao MPLA.

Uma militante com mais tempo de partido do que a vice-presidente Luísa Damião disse-me um dia destes com lágrimas nos olhos: Há dias saí de casa fardada para participar numa acção do MPLA. Fui vaiada e insultada pelos jovens!

António Costa disse na África do Sul que lideres como Nelson Mandela e Mário Soares contribuíram muito para a concórdia entre os povos. Isso mesmo. O tal defunto presidente de Portugal foi muito cordato no apoio à UNITA e ao criminoso de guerra Jonas Savimbi. Foi ele que montou em Portugal o “lóbi” da UNITA para destruir Angola e matar angolanos.

Vítor Ramalho, agente da UNITA em Lisboa e junto de Mário Soares, ganhou grande protagonismo como servente de Jonas Savimbi. À custa desse passado conseguiu um tacho de respeito. É o secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA). Como todos os comilões do Galo Negro é um básico, inculto e oco. Hoje no Novo Jornal escreve isto sob o tema Angola Não Pode Desconseguir: “Há também os chamados BRIC’s – Brasil, Rússia, Índia e China com uma agenda que pretende ser própria”. Não sei porquê, mas quando estas alimárias têm o intestino grosso ligado ao cérebro arranjam sempre grande tachos e estão permanentemente em alta.

O agente da UNITA disfarçado de secretário da UCCLA desconhece que as siglas não têm plural. Impossível, rapaz. Ou não sabes o que é uma sigla? Mas o bicharoco savimbista também não sabe que o “S” de BRICS quer dizer África do Sul. E nesta altura do campeonato, com a Europa resvalando para a guerra da Ucrânia e respectiva derrota estrondosa, o Vítor Ramalho ainda não percebeu que os países do bloco não têm uma agenda que “pretende ser própria”. Tem uma agenda que está a mobilizar o Sul Global. Imparável. Se o servente do Savimbi não abre os olhos ainda acaba como porteiro da nova UCCLA.

A Federação Russa acusou a Ucrânia de fazer explodir o oleoduto de amoníaco Togliatti-Odessa, o mais longo do mundo. “Nas proximidades da cidade de Masyutivka, na região de Kharkiv, um grupo de sabotagem ucraniano fez explodir o oleoduto de amoníaco Togliatti-Odessa”, afirmou o ministério da Defesa russo. Quem destruiu o gasoduto North Stream II ali para os lados da Suécia? Como foi o estado terrorista mais perigoso do mundo, “ninguém sabe”. Quem sabotou a barragem em Kherson? No fim da guerra saberemos. O Zelensky vai confessar tudo. Até vai revelar a lista dos laboratórios onde o estado terrorista mais perigoso do mundo e seus aliados ricaços fabricavam armas biológicas.

*Jornalista