quinta-feira, 22 de junho de 2023

O MUNDO INTEIRO ESTÁ A OLHAR PARA O FUNDO DO MAR

João Pedro Barros, editor online | Expresso (curto)

Bom dia,

Quando se fizer um daqueles programas do Canal História sobre os eventos mais importantes do ano de 2023, não há dúvida de que o caso do submarino/submersível (as opções dividem-se, risque o que não interessar) Titan vai lá estar. É um daqueles acontecimentos que supera a ficção, que apela à superação humana e que nos prende a atenção: assim de repente, encontro paralelos com o resgate dos 33 mineiros no Chile, em 2010, o da equipa de futebol na gruta de Tham Luang, na Tailândia, em 2018, e até mesmo o chamado Milagre dos Andes, em 1972.

Ontem, um avião canadiano detetou sons subaquáticos na zona, o que fez aumentar ligeiramente as esperanças de poder haver um final feliz. Em conferência de imprensa, a Guarda Costeira dos EUA admitiu desconhecer a origem dos sons, mas garantiu que as operações – que decorrem em condições difíceis, com nevoeiro e ondas de mais de três metros – continuam a intensificar-se, com cada vez mais meios em ação. O tempo é que urge: os cálculos apontam para que o oxigénio a bordo se esgote por volta do meio-dia de hoje.

A operação de resgate e as caraterísticas do Titan têm sido dissecadas nos últimos dias – o Expresso conta-lhe o essencial em cinco perguntas e respostas –, mas sobre o que se passou a bordo nada mais pode fazer-se, neste momento, do que especular: o submarino pode estar no fundo do oceano, a flutuar na superfície ou pode ter implodido com a pressão da água. A bordo estão cinco pessoas: o empresário e aventureiro britânico Hamish Harding, o empresário paquistanês Shahzada Dawood e o seu filho Suleman, o mergulhador e ex-comandante da Marinha Francesa Paul-Henry Nargeolet, e Stockton Rush, o piloto e diretor executivo da empresa responsável por estas viagens aos destroços do Titanic, a OceanGate Expeditions.

Cada viagem custa cerca de 227 mil euros e o submarino – que pode ver aqui em três dimensões, num trabalho do “New York Times” – tem uma janela de apenas 53 centímetros de diâmetro para se ver o exterior e um interior exíguo. Esta era a primeira expedição de 18 planeadas para 2023, depois de mergulhos bem-sucedidos em 2021 e 2022. O submarino não é homologado por nenhuma entidade e essa foi uma das preocupações de segurança levantadas por peritos dentro e fora da empresa, de acordo com outro trabalho do jornal norte-americano.

Talvez o fundo do mar possa ser considerado, a par do espaço, como a última fronteira: "Debaixo de água a tecnologia ainda não evoluiu o suficiente", afirmou ontem o comandante da Marinha Batista Pereira, na TVI. A esperança é que, tal como no Chile, na Tailândia e, parcialmente, nos Andes, possa ocorrer uma espécie de milagre.

OUTRAS NOTÍCIAS

Inelegibilidade de Bolsonaro – O ex-Presidente brasileiro pode ser impedido de concorrer a eleições durante oito anos. O julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral pode não terminar hoje, mas a probabilidade de condenação, segundo especialistas ouvidos pelo Expresso, é alta – e até Bolsonaro a admite. O caso tem passado ao lado da atualidade em Portugal e até no Brasil os apoiantes do militar parecem resignados. A direita no país pode ter de procurar um novo líder, resta saber se mais ao centro ou mantendo o perfil radical.

Costa não quis perguntas – O Governo está em peso em Évora, onde hoje realiza um Conselho de Ministros descentralizado, e procura mostrar obra. Costa já esteve ontem no distrito, com João Galamba, mas não se disponibilizou para responder a perguntas dos jornalistas.

Cavaco e amigos – Os antigos primeiros-ministros Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes e o presidente do Chega, André Ventura, foram algumas das personalidades políticas que marcaram ontem presença no lançamento do livro de crónicas da bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, intitulado "Um país na triagem".

Apoio às rendas – Governo admite que o despacho, conhecido ontem, que alarga o âmbito dos rendimentos considerados para definir quem é apoiado (diminuindo o total de beneficiários) pode ter de ser vertido em leiA oposição protesta.

Explosão em Paris – Uma violenta explosão, que terá sido provocada por gás, causou pelo menos 37 feridos, ontem, no centro da capital francesa.

Apanha ilegal de amêijoa – polícias encontraram 300 imigrantes “em condições absolutamente deploráveis” e “nojentas” em “barracos” no Montijo.

Vestvind – Navio com bandeira portuguesa tem dois alegados extremistas a bordo e espera porto de desembarque há mais de uma semana.

A contraofensiva ucraniana em análise – “É muito cedo para dizer se é um sucesso ou um fracasso. As forças ucranianas ainda estão a avançar, mas a velocidade dos avanços é baixa”, diz ao Expresso o coronel Mark Cancian, antigo conselheiro do Departamento de Defesa dos EUA.

Jack Teixeira – O lusodescendente de 21 anos declarou-se inocente no caso de fuga de informação do Pentágono.

O calor que aí vem – Temperaturas vão subir 10°C em dois dias e vem aí a quarta onda de calor do ano. Amanhã e no sábado, sete distritos vão estar sob aviso amarelo.

Traduções – Uso de inteligência artificial acende polémica no mercado editorial.

Arranque em falso – Portugal perdeu ontem o seu primeiro jogo no Europeu sub-21, frente à equipa da casa, a Geórgia, por 2-0.

Liga 3 – Fusão entre B SAD e Cova da Piedade não foi licenciada pela FPF para jogar no terceiro escalão. O novo clube vai recorrer da decisão.

Taylor Swift – Como é o concerto que traz a Lisboa: 44 ou 45 canções, 10 atos diferentes e duas surpresas.

FRASES

Eu não inviabilizei Santarém, mas não há muitas cidades, ou não há mesmo nenhuma cidade, com um aeroporto a 80 quilómetros.
João Galamba, ministro das Infraestruturas, no Parlamento, comentando declarações da véspera em que considerava Santarém “longe” para ser opção para a construção do novo aeroporto de Lisboa

A sesta, necessidade de dormir um pouco, parênteses no tempo do trabalho, instante de fuga, espécie de refúgio interior, pequeno descanso do corpo, deveria ser muito mais bem tratada pela nossa sociedade. É um oásis temporário no meio de dias complicados. Mas ainda é vivida com culpabilidade por quem a deseja. Como se fosse um indício de preguiça ou manifestação de falta de eficiência.
José Soeiro, deputado do Bloco de Esquerda, em artigo de opinião publicado no Expresso.

Esta temporada já sabe, cheira e se parece com “O Sexo e a Cidade”.
Sarah Jessica Parker, atriz e produtora, sobre a segunda temporada de “And Just Like That...”, em entrevista ao Expresso.

Na escola, o miúdo sem comida não tem o mesmo rendimento do miúdo de barriga cheia. A meritocracia é uma das maiores mentiras.
Carlão, no podcast da SIC Geração 70, de Bernardo Ferrão

PODCASTS A NÃO PERDER

As sugestões da equipa multimédia do Expresso:

Cresceu num bairro em Cacilhas, de onde “saíram todo o tipo de pessoas”, desde membros do Governo a “bandidos e traficantes que acabaram presos”. Carlos Nobre, o Pacman que virou Carlão, veio ao Geração 70 contar a sua história. Ouça o podcast e venha nesta viagem que vai dos anos 70 até aos nossos dias conduzida por Bernardo Ferrão.

A Efacec vai sobreviver à reprivatização? O Governo prepara-se para vender a empresa ao fundo Mutares. Não se conhecem os contornos do negócio e falta ainda luz verde de Bruxelas. Três anos depois da nacionalização, são enormes os riscos que pairam sobre o futuro da empresa. Saiba mais com o podcast Money Money Money.

Prighozin e Navalny. O poderoso oligarca russo, líder do grupo de mercenários Wagner, de que tanto se tem falado, e o conhecido opositor político do regime de Putin. Porquê falar dos dois no mesmo programa? Ouça o podcast Bloco de Leste e saiba mais sobre estas duas personalidades que são os polos opostos da dissensão que o regime de Putin odeia.

O QUE EU ANDO A LER

Para uma boa parte dos fãs, os Clash efetivamente acabaram em setembro de 1983, quando o guitarrista Mick Jones – a par de Joe Strummer o grande dínamo criativo da banda – foi despedido. Da formação original, apenas Strummer participou na composição e gravação de “Cut the crap”, de 1985, e acabou a renegar o disco, deixado de lado na maior parte das compilações da banda e abordado de relance em quase todas as biografias. O fim seria oficializado em 1986.

“We Are The Clash: Reagan, Thatcher, and the Last Stand of a Band That Mattered” (de Mark Andersen e Ralph Heibutzki, Akashic Books, 2018) apresenta uma teoria completamente distinta: considera que este derradeiro impulso criativo é uma das fases mais vitais da banda e apresenta argumentos para isso: essencialmente, cruza a atividade do então quinteto – que, em 1985, embarcou numa digressão de apresentação em espaços públicos, transportando apenas guitarras acústicas e sobrevivendo com o dinheiro que conseguia na rua – com o clima político da época. Já agora, este vídeo de uma atuação em Edimburgo é mesmo imperdível.

Era o tempo em que Thatcher enfrentava a greve dos mineiros no Reino Unido e afirmava o neoliberalismo de mão dada com Reagan, que, do outro lado do Atlântico, estava especialmente preocupado em abafar os movimentos esquerdistas na América Central. Claro que os Clash – que Strummer um dia definiu como “antifascistas, antiviolência, antirracistas e pró-criativos” – estavam nos antípodas, ou não tivessem um álbum publicado com o nome “Sandinista”.

Tenho muitas dificuldades em aceitar a tese, porque só uma grande dose de revisionismo pode classificar “Cut the crap” – escrito debaixo de uma luta intensa pelo controlo criativo entre Strummer e o manager e produtor Bernard Rhodes – como um grande disco. Ensopado em reverberação e coros ao estilo de cânticos de futebol e com a percussão entregue a uma caixa de ritmos, há pouco que o salve. E, militâncias à parte e Strummer que me perdoe, a música é mesmo fundamental.

A tese que o livro defende é, porém, desafiante. Os Clash arregaçaram as mangas e tentaram que o punk fosse o impulso para um movimento popular que nunca levantou voo. Os anos 80 já eram mesmo outro mundo

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