sábado, 22 de julho de 2023

Angola | Tragédia Humanitária Anunciada -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Até os burros não mudam mas mudar pode ser para pior ou nada valer. Um amigo disse-me que Jaime Nogueira Pinto mudou desde que acampou no Morro da Cal, durante a Batalha de Kifangondo, como terrorista e assassino do ELP. Desde a fronteira com o Zaire de Mobutu até aos arredores de Luanda, a organização deixou um rasto de morte e destruição. Agora já não é terrorista nem assassino. Tornou-se um amigo de Angola. 

Adoro ter amigos que ainda acreditam no Pai Natal. Lá na nossa casinha de pau a pique da Kapopa, no Negage, não havia chaminé e o velhote simpático não nos deixava os presentes de Natal no sapatinho, porque não tinha por onde entrar. Também não existia neve e as renas eram cabras manhosas que devoravam as lavras de batata-doce e mandioca. Para nós o Pai Natal nunca existiu. 

O terrorista do ELP Jaime Nogueira Pinto mudou sim. Trocou a coligação da CIA, tropa zairense, mercenários de várias nacionalidades e fascistas portugueses apeados do poder, pelo Savimbi e o regime racista de Pretória. Foi de mal a pior. O terrorista assassino de camponeses no Norte de Angola criou a imensa fraude chamada Guerra Civil Angolana. Ele sabe que Angola foi invadida por tropas estrangeiras. Fez parte dos invasores. Nunca existiu guerra civil.

Ele sabe que o regime racista de Pretória fez tudo para que Angola fosse um dos seus satélites na África Austral. Jaime Nogueira Pinto, racista e fascista, colaborou com os racistas. Leiam o que escreveu sobre Jonas Savimbi. Era o seu deus. Claro que estava ofuscado pelos diamantes de sangue mas os seus escritos provam que o assassino e terrorista mudou para muito pior, desde que acampou no Morro da Cal, em 1975. Ontem, como convidado de honra da Deloitte, estava sentado ao lado da ministra Vera Daves. Ele enfadado porque a presença de uma negra na sua mesa mexia com a sua crença racista. Ela orgulhosa por ter ali à mão um assassino racista do ELP. Um agente do regime de apartheid.

Triste figura fez Vera Daves. Eu sei que é jovem, nas escolas não ensinam a História Contemporânea de Angola, na Faculdade que frequentou não lhe explicaram que o capitalismo é contra a vida e há defensores do sistema que são capazes até de aderir a uma organização terrorista como o ELP, para matar quem luta pela liberdade e pela vida. Mas a senhora ministra das Finanças tem de aprender a escolher as companhias antes que um dia destes apareça de braço dado com o Riquinho e, quem sabe, seja sua companheira de negócios baseados na burla e extorsão.

Pior figura fez o Presidente João Lourenço na abertura da Feira Internacional de Luanda (FILDA). Além de agradecer as migalhas de Joe Biden, o chefe do estado terrorista mais perigoso do mundo, fez uma despudorada declaração de amor ao neoliberalismo. Vamos privatizar tudo! O Estado não sabe gerir nada! Os privados é que são bons. Os empresários é que sabem. Depois deste discurso fiquei a perceber por que razão trocou o xadrez pelo ciclismo. Isto de pensar dá imenso trabalho, cansa, esgota. Pedalar é só força. Vamos a isso!

O problema é que em 2017, mal se apanhou no poder, escorraçou, desonrou, perseguiu ou prendeu as empresários e  os empresários angolanos que criaram riqueza. Que criaram emprego. Tudo arrasado. Se pensa que o Grupo Carrinho é um exemplo de virtudes, está mesmo muito enganado. Se espera da Omatapalo mais do que camisolas para os músicos da orquestra que abrilhantou a cerimónia de abertura da FILDA, bem pode esperar sentado no selim da bicicleta presidencial. Os seus empresários de eleição só têm missangas para dar a Angola. Mas exigem em troca toneladas de ouro e dinheiro vivo. O costume.

A Cimeira dos Povos sucedeu à reunião entre os Países da América Latina e Caraíbas com a União Europeia. Os participantes decidiram criar um Tribunal Internacional contra o Bloqueio dos Estados Unidos da América a Cuba. A primeira audiência do julgamento está marcada para o Parlamento Europeu, nos dias 16 e 17 de Novembro. Espero que o Presidente João Lourenço não se apresente como testemunha de defesa do estado terrorista mais perigoso do mundo. O que se espera do líder do MPLA é o contrário. 

Sob a Bandeira do MPLA os angolanos venceram a Grande Batalha do Ntó em Cabinda. João Lourenço estava lá como combatente. Sabe que a vitória só foi possível porque os internacionalistas cubanos nos ajudaram.

Sob a Bandeira do MPLA, os angolanos derrotaram os exércitos invasores e a CIA na Grande Batalha de Kifangondo. Essa vitória decisiva só foi possível porque os combatentes cubanos nos ajudaram. Se têm dúvidas perguntem aos Generais Ndalu, Kianda, Led, Ngongo, Dinho Martins e outros que ainda estão vivos. Eles combateram lá e sabem que sem os cubanos a vitória era impossível.

Sob a Bandeira do MPLA os angolanos derrotaram os invasores sul-africanos na Grande Batalha do Ebo, já depois da Independência Nacional. Essa vitória só foi possível porque os combatentes cubanos lutaram ao nosso lado. Muitos deles até à morte. Se não acreditam, perguntem aos Generais Luís e António Faceira. Eles estavam lá. Luís Faceira um dia contou-me como morreu em combate o General cubano Arguelles, um Herói do Povo Angolano.

Sob a Bandeira do MPLA os angolanos esmagaram o regime de Pretória, com a ajuda decisiva dos cubanos. Pode ser que o Presidente João Lourenço já não se recorde mas o Acordo de Nova Iorque foi assinado por Angola, Cuba e África do Sul. Em rigor, Pretória assinou a capitulação. O fim do regime de apartheid também se deve aos combatentes cubanos. 

Angola nasceu como Estado Soberano declarando que ia promover relações amistosas com todos os países do mundo. Os EUA só se aproximaram de Angola porque o governo angolano aceitou abandonar a democracia popular e o socialismo. Angola só pode aprofundar relações com os EUA se Washington acabar com o criminoso bloqueio a Cuba. É o mínimo que o nosso Chefe de Estado pode exigir. 

Mas não fez isso. Está de joelhos ante o patrão Joe Biden. Derrotado. Escravizado. Colonizado. Já se esqueceu que o estado terrorista mais perigoso do mundo se serve dos seus serventes e depois mata-os ou atira-os para a prisão. Saddam Hussein, Kadaffi, Bin Laden, Guiadó da Venezuela, Ashraf Ghani do Afeganistão e tantos outros. Até viraram as costas a Mobutu e ao Savimbi. O retrato do colonizado é mais tenebroso do que aquele que foi revelado por Franz Fanon. E há mais mentalidades brancas em máscaras e peles negras do que nunca! 

A UNITA está ao serviço de João Lourenço. Quem tinha de desencadear o processo de destituição do Presidente da República era o Grupo Parlamentar do MPLA. Antes que fosse destituído por indecente e má figura, veio a UNITA em seu socorro. Claro que vai continuar!

O Tribunal Constitucional tem nas mãos a longa lista de nulidades no processo do empresário Carlos São Vicente. O jogo está viciado desde o primeiro momento, mas a luta pela liberdade não admite intervalos nem tréguas. 

O primeiro a viciar gravemente o processo foi João Lourenço dizendo que os corruptos têm de ir todos para a cadeia. Mas esqueceu-se de apontar para o lado dele. Depois comprou quem tem de fazer Justiça. Saca bens aos corruptos que não estão comigo e eu dou-te uma percentagem! Hélder Pita Grós foi o segundo a violar o jogo. Chamou os jornalistas e disse-lhes que no processo de Carlos São Vicente “existem abundantes provas que vão conduzir a uma condenação”.  Acontece que nessa fase o processo estava em segredo de justiça. O Procurador-Geral da República cometeu o crime publicamente, em directo na TPA.

Hélder Pita Grós deu o recado do chefe. O processo tem de dar condenação custe o que custar. E deu. Com base num papelito falso, sem assinatura. Mais uns depoimentos de corruptos de papel passado. E chamando-lhe funcionário público, qualidade que nunca teve. 

Ao publicar a lista dos bens que o empresário Carlos São Vicente “perdeu” a favor do Estado, quando a condenação ainda não transitou em julgado, mais uma vez a Procuradoria-Geral da República deu aos juízes que vão apreciar a arguição de nulidades o recado do chefe, de joelhos ante o estado terrorista mais perigoso do mundo, mas muito forte para com os angolanos honrados e dignos. 

A demolição do Poder Judicial pela dupla João Lourenço/Miala começou com o julgamento do General Zé Maria, condenado por desviar documentos que lhe pertenciam! Ninguém se opôs. Ninguém se indignou. Ninguém se solidarizou. Essa negligência cívica, essa indiferença, condenou-nos a um mobutismo retardado, mas muito mais cruel do que o original. Não tens dinheiro nem empresas nem nada? Só tens papéis? Vais preso na mesma. Sabem o que deu o mobutismo sem Mobutu? Perguntem ao Campeão da Paz em África e que inferniza a vida aos seus compatriotas. Ele sabe com são pacíficas as relações entre a RDC e o Uganda. 

Não foi por acaso que o Estado terrorista mais perigoso do mundo lhe deu o Prémio Águia da Liberdade. E ele aceitou. A humilhação suprema aos angolanos vai acontecer quando João Lourenço receber a recompensa no próximo dia 24 de Agosto em Atlantic City, EUA. O nosso luto começa nesse dia e segue até ao dia 28,aniversário natalício do Presidente José Eduardo dos Santos. O resto do ano é aguentar até o MPLA exigir que o neoliberalismo, uma tragédia humanitária, não se imponha ao socialismo democrático por acção directa do seu líder actual. Alguém tem de impedir a tragédia humanitária que João Lourenço anunciou. Travem a águia da liberdade antes que seja ratazana de sarjeta.

*Jornalista

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