sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Angola | O Povo Tomou a Direção da Barca* -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Naquele 11 de Setembro de 1973 choveu sangue em Santiago do Chile. O Presidente Salvador Allende ganhou as eleições em 1970 e a sua vitória significou o triunfo do socialismo. Richard Nixon, presidente do estado terrorista mais perigoso do mundo, Henry Kissinger, o seu chefe da diplomacia e Richard Helms, patrão da CIA, decidiram que o vencedor não podia governar. Desencadearam a Operação FUBELT que consistia em impedir que tomasse posse quem o povo escolheu para tomar a direcção da barca, líder da coligação de esquerda Unidade Popular.

A CIA mobilizou organizações nazis chilenas, como a “Partria y Libertad”, que desencadearam operações encobertas de sabotagem económica e terrorismo selectivo. Os 16.000 documentos publicados no National Security Archive, da Universidade George Washington revelam que só nos preliminares foram assassinados 10.000 civis chilenos conotados com o socialismo! Era preciso fazer tudo para que Allende não tomasse posse. O seu exemplo podia desencadear revoluções em toda a América Latina e particularmente no Brasil e Argentina, governados por militares golpistas.

Henry Kissinger, em meados de 1970, decidiu radicalizar as acções golpistas. Numa reunião da cúpula da CIA foi revelado isto: “O presidente (Richard Nixon) pede à Agência que impeça Allende de chegar ao poder. Caso chegue temos que derrubá-lo. O presidente autorizou 10 milhões de dólares para estas operações”.  Na época era uma fortuna! Os oficiais da CIA tentaram mobilizar o comandante das forças armadas chilenas, general René Schneider, para um golpe militar que eliminasse o “perigo socialista”. Sendo um democrata, recusou. Foi assassinado pelos terroristas da CIA e do Partria y LIbertad.

Salvador Allende, aquele que o povo elegeu para tomar a direcção da barca, tomou posse. A Casa Branca deu ordens para redobrarem as sabotagens económicas e os atentados terroristas. Outro general progressista que chefiava as forças armadas, Carlos Pratts, foi assassinado pela CIA na Argentina, paraíso de golpistas militares que em 28 de Junho de 1966 derrubaram o presidente eleito, Arturi Umberto Illia. O ditador de serviço contra o Chile de Allende era o general Alejandro Agustín Lanusse Gelly. Milhares de desaparecidos. Milhares de presos e torturados. Milhares de executados.

Depois de três anos de sabotagens económicas e acções terroristas Kissinger e a CIA conseguiram colocar na chefia das forças armadas Augusto Pinochet, assumido nazi. O golpe de estado aconteceu no dia 11 de Setembro de 1973, há 50 anos. Eu vi chover sangue em Santiago! O governo democrático e constitucional de Salvador Allende foi varrido. O Palácio de la Moneda (Presidência da República) foi bombardeado e Allende tombou. Nixon, Kissinger e Richard Helms triunfaram.

O golpe mobilizou forças do exército e da marinha, oficiais da CIA e grupos terroristas chilenos. O estado terrorista mais perigoso do mundo colocou tropas no terreno! E financiou todas as operações, desde 1970, no âmbito da Operação FUBELT. O nazi Augusto Pinochet declarou-se presidente. A Casa Branca passou a ter ditadores militares golpistas no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Argentina. 

Os grupos terroristas e oficiais da CIA mataram milhares de civis. O Estádio Chile foi lugar de detenção. Os esbirros do estado terrorista mais perigoso do mundo prenderam e fizeram desaparecer os militantes de esquerda. Outros foram mortos a sangue frio no próprio estádio. 

Um dos assassinados foi Victor Jara. Sabem quem era? Um jornalista. Professor de Jornalismo na Universidade do Chile. Mas também diretor de teatro, músico e cantor. Mobilizou artistas para o Movimento Nueva Canción Chilena. Era membro do Partido Comunista do Chile. Foi preso no dia 11 de Setembro na Universidade onde dava aulas e enviado para o Estádio Chile. No dia 16 de Setembro foi fuzilado e o seu corpo abandonado num musseque de Santiago. Antes as suas mãos foram esmagadas. 

Após o golpe de 11 de Setembro a CIA e o FBI foram organizar a DINA, polícia política de Pinochet. Também lançaram a “Operação Condor”, que consistiu no sequestro, tortura e morte de democratas latino-americanos exilados no Chile durante o mandato de Salvador Allende. Estes factos estão descritos nos 16.000 documentos que foram desclassificados e estão sob consulta pública no National Security Archive, da Universidade George Washington. 

No ano de 1973 Henry Kissinger, o líder do golpe militar que derrubou Salvador Allende no Chile, primeiro responsável pela tortura, assassinato e desaparecimento de milhares de pessoas, foi agraciado com o Prémio Nobel da Paz. Meio século depois, líderes de vários países foram a Santiago homenagear Salvador Allende e condenar Pinochet, um simples peão no golpe militar que fez chover sangue no Chile. Nem um condenou os autores do golpe: Nixon e Kissinger. Eles odeiam a liberdade. Odeiam a Humanidade que pensa. Odeiam aqueles que o povo escolhe para dirigir a barca. Mas nas suas falinhas mansas metem sempre a democracia.

Kissinger e Nixon fizeram uma guerra contra o Povo Angolano por procuração passada ao Zaire de Mobutu e ao regime racista de Pretória. Os invasores subcontrataram a FNLA e a UNITA. Fizeram tudo para impedir a Independência Nacional. Foram derrotados pelo MPLA sob a direcção de Agostinho Neto. O Povo Tomou a Direção da Barca. O estado terrorista mais perigoso do mundo fez a guerra contra a soberania nacional e a integridade territorial por procuração passada ao regime nazi da África do Sul, reforçado com os sicários da UNITA. José Eduardo dos Santos, aquele que o povo escolheu para dirigir a barca, derrotou-os. 

A “comunidade internacional” aprovou sanções no Conselho de Segurança da ONU contra a África do Sul, para acabar com a guerra do estado terrorista mais perigoso do mundo contra Angola. Reagan usou o poder de veto e protegeu os nazis de Pretória. Um dia destes João Lourenço foi ajoelhar-se ante Joe Biden e entregou a direcção da barca aos que mataram centenas de milhares de angolanos, causaram milhões de refugiados ou deslocados e destruíram Angola. O embaixador Tulinabo Mushingi dá ordens na Cidade Alta. A União Europeia controla Dona Vera Daves. Sabem o que dá uma guerra pro procuração?

O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) fez isso na Ucrânia contra a Federação Russa. O país está destruído. Escasseia carne de ucranianos para os canhões. A União Europeia impôs sanções a Moscovo e está em vias de falir. Alemanha entrou em recessão. Zona Euro igualmente! A “democrática” Polónia anda aos tiros nos refugiados que tentam entrar no país. 

Os falidos gastam biliões de euros para uns quantos nazis içarem a bandeira da Ucrânia na costa da Crimeia. Para Zelensky soltar uns roncos nas televisões. Para Biden e seu filho salvarem os seus negócios. Para Blinken fazer figura de bobo da corte. Estão perdidos. Vai ser difícil repetirem o golpe do Chile. Cada vez mais povos no mundo querem assumir a direcção da barca. João Lourenço ainda vai a tempo de riscar o estado terrorista mais perigoso do mundo da sua lista de amigos e aliados. É dever de todos os patriotas angolanos impedir que chova sangue em Luanda como choveu em Santiago do Chile há 50 anos.

Victor Jara, dois dias antes de ser fuzilado, escreveu este poema que vos deixo em língua castelhana. A tradução pode prejudicar o ritmo imprimido às palavras pelo autor:

Estádio Chile

Somos cinco mil aquí
En esta pequeña parte la ciudad
Somos cinco mil
¿Cuántos somos en total
En las ciudades y en todo el país?
Somos aquí
Diez mil manos que siembran
Y hacen andar las fábricas
Cuánta humanidad
Con hambre, frío, pánico, dolor
Presión moral, terror y locura

Seis de los nuestros se perdieron
En el espacio de las estrellas
Un muerto, un golpeado como jamás creí
Se podría golpear a un ser humano
Los otros cuatro quisieron quitarse
Todos los temores
Uno saltando al vacío
Otro golpeándose la cabeza contra un muro
Pero todos con la mirada fija de la muerte

¡Qué espanto causa el rostro del fascismo!
Llevan a cabo sus planes con precisión artera
Sin importarles nada
La sangre para ellos son medallas
La matanza es un acto de heroísmo

¿Es este el mundo que creaste, Dios mío?
¿Para esto tus siete días de asombro y de trabajo?
En estas cuatro murallas sólo existe un número
Que no progresa
Que lentamente querrá la muerte

Pero de pronto me golpea la consciencia
Y veo esta marea sin latido
Pero con el pulso de las máquinas
Y los militares mostrando su rostro de matrona
Llena de dulzura

¿Y México, Cuba y el mundo?
¡Qué griten esta ignominia!
Somos diez mil manos
Que no producen

¿Cuántos somos en toda la patria?
La sangre del compañero presidente
Golpea más fuerte que bombas y metrallas
Así golpeará nuestro puño nuevamente

Canto, qué mal me sales
Cuando tengo que cantar espanto
Espanto como el que vivo
Como el que muero, espanto

De verme entre tantos y tantos
Momentos de infinito
En que el silencio y el grito
Son las metas de este canto

Lo que nunca vi
Lo que he sentido y lo que siento
Hará brotar el momento

*Verso de Agostinho Neto

*Jornalista

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