segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Estado da Palestina em Perigo de Extinção -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os ataques do Hamas em Israel são bárbaros. Desumanos. Os ataques de Israel à Palestina são civilizados, elegantes, plenos de charme e humanidade perfumada. As Forças de Defesa de Israel (TZAHAL) são guiadas pelos direitos humanos. Matam palestinos porque são terroristas desprezíveis. As crianças que também matam, não passam de animais de talho, cabritos, carneirinhos, coelhos, frangos. Estão no lugar errado quando são mortas a tiro. O seu destino é a faca do açougueiro sionista. Se conseguirem crescer e chegar à idade adulta então morrem às mãos dos militares israelitas no exercício do seu direito à defesa.

O Hamas fez dezenas de reféns israelitas. São todas e todos meus amigos e meus familiares. Libertem-nos imediatamente! Israel mantém dois milhões de reféns palestinos na Faixa de Gaza, há mais de dez anos. Um cerco permanente por terra, mar e ar. Também são meus irmãos e meus amigos. Libertem imediatamente os que ainda não mataram. Os que ainda não estão soterrados nos escombros dos prédios bombardeados no centro da cidade de Gaza. 

Um dia fiz uma série de reportagens sobre os campos de refugiados na Jordânia, Líbano e na Palestina. Só na Cisjordânia e na Faixa de Gaza eram 27. Hoje devem ser mais. A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Médio Oriente forneceu-me uma lista com 58 campos. Os activistas da Organização de Libertação da Palestina (OLP) deu-me mais 20 “não oficiais”. Revelei como vivem (?) milhares de seres humanos. Muitas mulheres e homens, já casados e com filhos, tinham nascido na condição de refugiados. Cresceram nos campos e lá estão. 

De vez em quando as tropas israelitas invadem os campos de refugiados invadem os campos de refugiados. Dizem que andam â procura de terroristas. Matam uns quantos, para que não se apague a chama do ódio e do ressentimento. O governo de Telavive tomou posse e o ministro da Defesa foi à Esplanada das Mesquitas mostrar que é dono e senhor de todo o território. Só há um estado: Israel. Palestina só nas páginas da Bíblia. Pode? Claro que não. 

Hitler quis exterminar os judeus. Não conseguiu. Foi ele exterminado. Destruiu a Europa e a Alemanha. Matou milhões de seres humanos. O Exército Vermelho entrou em Berlim e pôs fim ao pesadelo. A “comunidade internacional” criou um país para os judeus, na Palestina. Os palestinos não tinham qualquer peso e ficaram sem lar. Condenados à condição de refugiados mais ou menos maltratados desde Maio de 1948, já lá vão 75 anos.

A tragédia continua, com mais ou menos reféns, mais ou menos prisioneiros, mais ou menos feridos, mais ou menos mortos. A extrema-direita nazi está no poder em Israel, com mais ou menos protagonismo. Hoje mais do que nunca. Os palestinos são vítimas de apartheid. Racismo puro e duro. É muito ódio acumulado. Muito ressentimento. Quem semeia ventos, colhe tempestades. O que se passa hoje em Israel e na Palestina é resultado dessa sementeira.

Joe Biden e Úrsula von der Leyen apressaram-se a dizer aos nazis de Telavive que podem matar palestinos à vontade. Direito de defesa! Mas só um lado pode defender-se. O outro não tem bases militares. Não tem armas sofisticadas. Não tem forças regulares. Apenas combatentes da liberdade que lutam com pedras e as armas que conseguem. Na verdade não estão sozinhos. E nem todos consideram os palestinos animais de talho. 

No início do Século XX, após a implantação da República em Portugal, Theodor Herzl, fundador do movimento sionista, fez contactos com as novas autoridades portuguesas para instalar em Angola um estado judaico, já que estava difícil criá-lo na Palestina. Nessa época os judeus eram perseguidos em toda a Europa e particularmente no Leste. O projecto falhou, apesar de existirem muitas vozes de peso, em Lisboa, defendendo a colonização de Angola pelos judeus.

Após a II Guerra Mundial o projecto voltou a ser discutido. Desta vez até foi apontado o território do Cuando Cubango para instalar “um lar para os judeus”. Salazar recuou. Sendo um seguidor convicto de Hitler e das suas políticas, é natural que destilasse o mesmo ódio contra os judeus que sobreviveram ao Holocausto.

O actual governo de Israel (extrema-direita aliada à extrema-direita) quer enterrar os Acordos de Oslo assinados com a Organização de Libertação da Palestina (OLP) sob mediação de Bill Clinton, presidente dos EUA. Os dois lados comprometeram-se a unir esforços no sentido de realizar a paz entre os dois povos. 

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, hoje deu ordens aos dois milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza padra abandonarem o território. Vão para onde? Essa parte esqueceu-se de dizer. Mas Israel já destruiu quatro torres de apartamentos na cidade de Gaza. Centenas de moradores ficaram sob os escombros. Entre as vítimas estão dezenas de crianças. Uma mesquita foi arrasada. Lá dentro estavam velhos, mulheres e crianças. Todos mortos. Biden e Úrsula von ser Leyen deram ordens para matar e os nazis de Telavive estão a cumprir. 

A Faixa de Gaza vai ser ocupada por Israel. Depois avançam sobre a Cisjordânia. Direito à defesa passa pela liquidação do Estado da Palestina. As imagens das torres e prédios de habitação ruindo, na cidade de Gaza, correm mundo. O Ocidente alargado condena o ataque do Hamas a Israel. Mas nada diz sobre a destruição da cidade de Gaza onde não há militares, só civis indefesos. O ódio extravasa as fronteiras. O mundo está contaminado e já não há remédio. 

No dia anterior a rebentar a guerra do Iraque entrevistei em Bagdade o Comandante Yasser Arafat. Ele disse que o ocidente perdia para sempre a paz se avançasse com o conflito. Ninguém lhe deu ouvidos. Aí está o resultado. Quando um ser humano se deixa apoderar pelo ódio, não deixa lugar à paz. 

Olhem para os sicários da UNITA. Odeiam de tal forma Angola e o Povo Angolano que só pensam em violência. Até contrataram uma “perita” israelita para os ajudar a demitir o Presidente João Lourenço. Mal por mal, antes com ele. Sim ao Presidente! Mas só até 2027. Depois vai contar o dinheiro da recuperação de activos.

*Jornalista

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