Após ter ordenado bloqueio total, agora o ministro da Defesa israelita diz estar a preparar uma ofensiva total. Através do seu presidente, EUA dão sinal de alinhamento com Telavive, enquanto UE e ONU salientam a ilegalidade do cerco à Faixa de Gaza.
Foi junto da fronteira com Gaza que o ministro da Defesa de Israel anunciou o "ataque total" àquele território, embora sem explicitar se o mesmo irá incluir uma invasão terrestre. Um par de horas depois, em Washington, um emocionado presidente norte-americano condenou o ataque do Hamas em termos duros e prometeu ajudar Telavive com assistência militar. "Temos de ser cristalinos. Estamos com Israel", afirmou Joe Biden.
Ao quarto de dia de confrontos entre as forças do Hamas e tropas israelitas, o ministro Yoav Gallant, que na véspera comparara os terroristas do Hamas a "animais" e ordenara o bloqueio total àquele território, disse que Israel está a avançar para um "ataque total" contra a Faixa de Gaza. "Libertei todas as restrições, recuperámos o controlo da área e estamos a avançar para um ataque total", disse o ministro da Defesa às tropas depois de as forças israelitas terem recuperado o controlo total do território.
"O Hamas queria uma mudança em Gaza, vai mudar 180 graus em relação ao que pensava. Vão arrepender-se deste momento, Gaza nunca mais voltará a ser o que era", afirmou. "Quem quer que venha decapitar, assassinar mulheres, sobreviventes do Holocausto, nós eliminá-lo-emos com todas as nossas forças e sem concessões." Gallant não entrou em pormenores sobre a operação militar, mas segundo uma fonte do regime egípcio, em declarações ao The Times of Israel, Telavive está a preparar uma campanha terrestre em Gaza há meses e a intenção foi partilhada com o Cairo.
Foi também da capital egípcia que, na véspera, chegou a informação de que o ministro dos Serviços de Informações, Abbas Kamel, tinha avisado diretamente o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, dez dias antes do ataque do Hamas, de que estava a preparar-se uma "operação terrível". O gabinete do chefe do governo israelita negou ter sido informado pelo Egito, arrumando a notícia na categoria de "fake news".
Netanyahu esteve pela terceira vez desde sábado em videoconferência com o presidente norte-americano Joe Biden (e também com a vice Kamala Harris e o secretário de Estado Antony Blinken, que na quinta-feira visita Israel). No final, o democrata fez uma declaração às televisões na qual confirmou a existência de um número indeterminado de norte-americanos tomados reféns pelo Hamas, além de 14 mortos.
Biden mostrou as suas emoções - irado e emocionado com os ataques terroristas - como não o fez com a invasão russa da Ucrânia. "Há momentos na vida, e digo-o literalmente, em que um mal puro e integral é libertado neste mundo. Este é um ato de pura maldade", disse sobre os ataques do Hamas que mataram mais de mil pessoas.
O presidente dos EUA chegou a comparar o Hamas com o Estado Islâmico, ao mencionar os reféns que estão sob ameaça de execução. Na declaração, Biden não deu espaço para falar das aspirações dos palestinianos, ou dos esforços para a paz: "Não há justificação para o terrorismo. O Hamas só oferece terror e derramamento de sangue, sem olhar a quem paga o preço", tendo de seguida reafirmado o direito "e o dever" de Israel responder. Deixou ainda uma advertência a "países e organizações" que queiram aproveitar-se do momento - numa indireta ao Irão -, numa simples palavra: "Não."
Biden disse que o seu país iria oferecer assistência militar para Israel ser capaz de se defender "hoje e amanhã", tendo precisado que se trata de material para a Cúpula de Ferro, o sistema de defesa antiaéreo israelita. Já o secretário da Defesa, Lloyd Austin, revelou que um pequeno grupo de forças de operações especiais dos EUA está a trabalhar em conjunto com as forças israelitas para ajudar na recolha de informações e no planeamento das operações contra o Hamas.
Biden apelou também para o cumprimento das normas da guerra, o que Telavive não está a fazer ao cortar a água, a eletricidade e o acesso de alimentos e medicamentos a 2,3 milhões de pessoas, como notaram o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, e o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
Além disso, segundo a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), no ativo na Cisjordânia, o governo israelita rejeitou um pedido para levar alimentos e material médico à Faixa de Gaza. Também a Organização Mundial de Saúde tinha pedido a criação de um corredor humanitário. A passagem de Rafah, entre o Egito e Gaza, é a única que não está sob controlo israelita, mas já foi alvo de vários bombardeamentos, e foi mandada encerrar pelas autoridades egípcias.
César Avô | Diário de Notícias
Imagem: Edifícios em Gaza atingidos por bombardeamentos israelitas. © BELAL AL SABBAGH / AFP
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