sábado, 28 de outubro de 2023

Portugal | Não à criminalização do antirracismo

Mamadou Ba merece toda a nossa solidariedade, onde com ela denunciamos também a perseguição política da qual tem sido alvo. Esta decisão do tribunal significa a criminalização do antirracismo.

Beatriz Realinho* | Esquerda.net | opinião

No passado dia 20 de outubro o dirigente antirracista, Mamadou Ba foi condenado pelo tribunal por constatar factos: Mário Machado é um neonazi condenado, que fez parte do grupo que assassinou Alcindo Monteiro na noite de 10 de junho de 1995.

Mamadou Ba merece toda a nossa solidariedade, onde com ela denunciamos também a perseguição política da qual tem sido alvo. Esta decisão do tribunal significa a criminalização do antirracismo. Acompanha também a vontade do racismo estrutural que afeta a nossa sociedade e instituições, continuando a reproduzir o colonialismo sobre o qual as estas foram construídas.

Não podemos esquecer Alcindo Monteiro que na noite de 10 de junho de 1995 atravessou o Tejo porque apenas queria ir até Lisboa dançar, mas acabou por ser violentamente assassinado por um grupo de skinheads que espalhavam o terror. É preciso salvar na memória Alcindo e de todas as pessoas racializadas que são vítimas da discriminação diária, sistémica e estrutural reproduzidas nas ruas, nos currículos, nas instituições. O racismo mata. O silêncio, o optar criminalizar o antirracismo e não a extrema-direita é ser-se aliado desta violência.

A justiça continua aqui cúmplice de algo que se faz sentir há anos: o silenciar de vozes que lutam por uma sociedade mais justa, igual e pela democracia. É necessário que estas instituições descolonizem de forma a fazerem um combate verdadeiro ao racismo que afeta a vida de todas as pessoas que têm que lutar diariamente pelos seus direitos. Contudo, para a juíza que condenou Mamadou Ba o que interessa é que Mário Machado não participou no assassinato de Alcindo, apesar de ter sido condenado por um outro episódio de violência naquela noite e de ser um dos principais protagonistas que na noite da “caça ao preto” não mostra qualquer tipo de arrependimento. Com isto ignoramos o que representa na realidade a morte de Alcindo Monteiro: um crime executado em nome do ódio e da extrema-direita onde Mário Machado é rosto principal. Mamadou constatou esse facto no exercício do seu direito de opinião no espaço público, apenas isso.

A luta contra o racismo e pela descolonização das nossas instituições é uma responsabilidade coletiva, que exige a mobilização de todos os setores da sociedade de modo a lutar pela igualdade e combater todas as formas de discriminação racial.

Toda a solidariedade para com Mamadou Ba, e a luta antirracista.

* Licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais. Ativista política e das causas LGBTQIAP+, ambientais e feministas. Autora do podcast “2 Feministas 1 Patriarcado”

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