sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Portugal: “Quantos novos pobres estão a ser criados por causa da crise da habitação?”

Mariana Mortágua visitou esta quinta-feira o Centro de Acolhimento de pessoas sem abrigo do Beato, onde chegam cada vez mais pessoas que trabalham, mas ainda assim não conseguem pagar uma casa. A crise da habitação, defendeu, só se resolve “com casas a preços acessíveis e salários dignos”.

O Bloco de Esquerda esteve esta quinta-feira no Centro de Acolhimento de pessoas sem abrigo do Beato, o maior de Lisboa, e que dá resposta a centenas de pessoas. Na visita às instalações, Mariana Mortágua começou por notar que estas são instalações temporárias desde o final dos anos 1990, continuando-se à espera de uma verba para obras e que, entretanto, “não têm condições físicas neste momento para dar a melhor resposta possível”.

Apesar disso, salientou que a Vitae, o grupo que o gere, alterou o paradigma do que é o acolhimento de pessoas sem abrigo, “passando de um modelo punitivo, de tratar as pessoas como delinquentes, para um modelo em que as pessoas são acompanhadas com os seus casos individuais, as suas especificidades, as dificuldades que encontraram na vida e também são acompanhadas para que possam ser reinseridas na sociedade com um emprego, e que possam não voltar a uma situação de sem abrigo, depois tornando muito mais difícil o seu acolhimento e a sua reinserção”.

Na reunião com os responsáveis deste centro de acolhimento, falou-se “de novas realidades sociais e de antigas realidades sociais”. O que significa que “há pessoas sem abrigo que têm um histórico de pobreza, de marginalização, de problemas muitas vezes de foro psiquiátrico, de dependências de consumo, mas também há um histórico mais recente de novas pessoas sem abrigo, cada vez mais jovens, que vêm parar estes centros de acolhimento temporário porque são despejadas ou porque não conseguem ter acesso a um alojamento, apesar de trabalharem”.

Isto deve-nos fazer pensar, insistem, em “como é que se acolhem as pessoas sem abrigo, como é que se dá a resposta a situações estruturais de pobreza, de marginalização". Mas também, questionou, "quantas pessoas sem abrigo estão a ser criadas neste país, quantos novos pobres estão a ser criados neste país por causa da crise da habitação?".

Neste centro há pessoas que não conseguem aceder a uma habitação porque “não conseguem ter um trabalho que pague o suficiente para uma casa ou para um quarto”, um drama "que se está a tornar uma regra” e um fenómeno que não devia existir, com o crescimento do número de pessoas em situação de sem abrigo de “20, 30% todos os anos por causa da crise da habitação”.

Para a coordenadora do Bloco, “já é mau demais ter tanta gente na rua, quanto mais acrescentar a esses números simplesmente porque a habitação se transformou num negócio e em especulação e não um direito a ser respeitado”. Estes centros não foram feitos para responder a uma situação de crise da habitação. E esta só se resolve “com casas a preços acessíveis e salários dignos”, sendo necessário exigir do Governo que “garanta o direito à habitação”, concluiu.

Esquerda.net


Neste dossier publicamos o vídeo da apresentação "A teia de interesses", feita por Mariana Mortágua em torno do negócio das barragens e da capacidade de produção hídrica em Portugal (também em podcast). Passamos em revista a intervenção do Bloco sobre os projetos de exploração do lítio e traçamos os perfis e os percursos de três protagonistas da "Operação Influencer": Vítor Escária, chefe de gabinete do primeiro-ministro; Diogo Lacerda Machado, o "melhor amigo" de António Costa; e Nuno Lacasta, o presidente da Agência Portuguesa do Ambiente.

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