quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Angola | MAU JORNALISMO E BOA MILITÂNCIA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Presidente Hakainde Hichilema, da Zâmbia, está de visita a Angola. O noticiário da TPA hoje, às 13 horas, dedicou praticamente todo o espaço ao acontecimento, com estas parcelas: O Presidente João Lourenço falou, num tom fastidioso e monocórdico, durante 21 minutos. O Chefe de Estado zambiano foi mais modesto e falou sete minutos. A conferência de imprensa que se seguiu ficou esgotada com uma pergunta de um jornalista angolano e uma pergunta de um jornalista zambiano. Ao todo a peça durou 52 minutos.

Má notícia para quem gere a televisão em Angola: Não é assim que se faz jornalismo no audiovisual. Não passa pela cabeça do jornalista mais tapado, mais incompetente e mais irresponsável pôr o Presidente João Lourenço a falar durante 21 minutos sobre a visita do seu homólogo zambiano. Fazê-lo, tem o seu quê de loucura irremediável.

Sob o ponto de vista económico é uma tragédia. Um anúncio de 20 segundos, fora de horário nobre, pode custar 5.000 euros. Baratinho. Porque de há muitos anos a esta parte, as tabelas publicitárias na televisão têm descontos de 80 e 90 por cento. Foi assim que os donos da Redacção Única rebentaram com a Imprensa e puseram a Rádio de joelhos. Isto é uma forma insidiosa de censura mas ninguém fala dela. A festança continua porque ninguém trava este atentado gravíssimo à liberdade de imprensa.

Daqui parto para o livro de José Guerreiro, “EU, O MEU PERCURSO, O MEU PARTIDO”. Faço desde já uma declaração de interesses. Sou camarada e amigo do autor. E entre os milhões de angolanos que sabem ler e escrever, devo ser o único que já leu a obra duas vezes. A primeira, durante dez horas consecutivas. A segunda, durante um fim-de-semana. Conclusão: Um livro importantíssimo. Sobretudo para os militantes e dirigentes do MPLA. É a primeira vez que um militante activo fala de uma forma desassombrada e sem auto-censura das suas actividades partidárias.

José Guerreiro prestou relevantíssimos serviços ao MPLA e ao Povo Angolano. Sei disso não por ouvir dizer. É um saber de experiências feito. Não merece que o seu livro seja apresentado como um grito de revolta por ter sido exonerado do cargo de presidente do conselho de administração da TPA ou alguém que entrou em rota de colisão com esta ou qualquer outra direcção do partido. Os conteúdos do livro são importantíssimos e não podem ser fulanizados. Se eu tivesse responsabilidades na organização de massas e na esfera ideológica do MPLA fazia tudo para que cada comité de acção tivesse um exemplar da obra de José Guerreiro. Estimulava leituras colectivas, individuais e discussões sobre o tema.

O instrumento de agressão chamado Club K reduz o importantíssimo livro a uma questão pessoal devido à exoneração do autor do conselho de administração da TPA. E a uma constatação do autor: A TPA é controlada editorialmente pela Presidência da República e pela segurança interna. O noticiário de hoje, às 13 horas, no canal público de televisão prova esta afirmação. Mas sempre foi assim.  

O autor de “EU, O MEU PERCURSO, O MEU PARTIDO” dedica algumas páginas à questão da intolerância no seio do MPLA. A tropa da falsificação e manipulação retirou essa parte do contexto geral para mostrar as garras. José Guerreiro não escreveu um manual escolar ou de edificação moral. Por isso não explica em profundidade essa parte da “intolerância”. Vou explicar eu. O MPLA nasceu como um “amplo movimento” que juntou todas as forças nacionalistas. Mas logo a seguir à fundação surgiu uma corrente revolucionária que defendia a luta armada. Triunfou. A prova disso é o 4 de Fevereiro de 1961 e sobretudo os longos anos de luta armada de libertação nacional, até 2002.

Um movimento revolucionário que atingiu o estádio supremo (luta armada contra o colonialismo) não pode tolerar acções e práticas contrárias ao seu programa. Tem mesmo de ser intolerante. Se assim não for, é derrotado. E a tolerância pode significar perdas de vidas humanas. Como todos sabemos (alguns fingem que não sabem...) apenas uma minoria, esclarecida e corajosa, aderiu à luta armada. Se a direcção do MPLA, em nome da “tolerância” permitisse que essa minoria morresse nas frentes de combate, era a tragédia total. E ainda hoje Angla era uma colónia.

A guerra colonial acabou. Mas a “intolerância” no seio do MPLA continuou. Facilmente se percebe porquê. Desde 25 de Abril de 1974 até hoje, dia 11 de Janeiro de 2022, o MPLA não teve uma fracção de segundo de descanso. Os ataques sucedem-se. Surgem constantemente novos golpes e golpadas. As sucessivas direcções não têm descanso. Há uma espada em riste, sempre pronta a decapitar o MPLA. Daí a tolerância ter pouco espaço. Eu compreendo. O José Guerreiro não. E daí? Continuamos amigos e camaradas. Agradeço-lhe muito o livro.

Um exemplo gritante. O assassino e criminoso de guerra Abílio Camalata Numa deu o nome a um insulto soez, por escrito, no Club K. O traidor a triplicar (traiu a Igreja que o ensinou a ler e escrever, ainda que pessimamente, traiu o criminoso de guerra Jonas Savimbi e trai o Povo Angolano que lhe paga principescamente para insultar e ameaçar) diz que “O MPLA devia ter vergonha pelos 47 anos de governação que formou militantes em vez de cidadãos”.

Sim, o MPLA formou militantes. Graças a essa formação, Angola é independente. Os militantes garantiram a soberania nacional e a integridade territorial. Os militantes formados ao longo de 47 anos são uma muralha intransponível aos golpes criminosos da UNITA. 

Se o MPLA mão tivesse formado militantes, hoje o Povo Angolano estava sob a patorra do regime de apartheid que os sicários da UNITA serviram numa guerra sem quartel contra Angola independente. Os militantes do MPLA continuam a lutar até à vitória final. E essa vitória só é possível quando traidores como Abílio Camalata Numa e organizações terroristas como a UNITA se integrarem no regime democrático.

O MPLA fez muito pelo Povo Angolano, desde a sua fundação. Mas o serviço mais relevante foi ter formado militantes que abnegadamente garantem a todos, liberdade e cidadania. Sem os militantes do MPLA jamais existiriam cidadãs e cidadãos angolanos.

Intolerância sem limites contra os traidores, os genocidas, o banditismo político. A luta continua e a vitória é certa. Juro mesmo!

*Jornalista

Guiné-Bissau: É O FIM DA POLÉMICA EM TORNO DA LAGOA M’BATONHA?

Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle

Ambientalistas consideram a destruição do parque de natureza, em Bissau, um ataque ao meio ambiente e acusam as autoridades de abuso de poder. Governo garante que a construção em M'batonha é legal.

Na Guiné-Bissau, o vice-primeiro-ministro, Soares Sambú, deu esta terça-feira (10.01) por encerrada a polémica sobre a extinção do Parque Lagoa M'batonha, que vai dar lugar a várias infraestruturas sociais. Ambientalistas consideram que a destruição do espaço é "um ataque" ao meio ambiente e acusam as autoridades de abuso de poder. 

Situado no centro da capital guineense, o Parque Lagoa M'batonha é tido como um elemento central da ecologia urbana em Bissau. As organizações ambientais dizem que é um "importante" local de alimentação, reprodução e descanso das aves locais e migratórias, principalmente as oriundas dos países da Europa.

Numa carta aberta datada de 31 de dezembro de 2022 enviada ao presidente da Câmara Municipal de Bissau (CMB), mais de uma dezena de organizações de defesa do meio ambiente exigem a suspensão das obras em M'batonha e lembram que, segundo um estudo do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP), 125 espécies de aves utilizam esse lugar, por ano.

O debate sobre o assunto tem sido intenso e a polémica persiste. A situação preocupa vários cidadãos ouvidos, nas ruas de Bissau, pela DW África.

"Uma zona húmida como aquele lugar é de interesse, não só nacional, mas também de interesse ambiental. A Guiné-Bissau tem muitos lugares que podiam ser aproveitados para a construção", disse um estudante. "Não estou de acordo com os atos que estão a fazer [em M'batonha], por ser um lugar onde vivem outros seres vivos e esses seres vivos, com certeza, não terão lugar onde possam ficar", disse outra cidadã, funcionária pública. 

CONFLITO REBELDE EM CASAMANÇA LONGE DO FIM

Davide Lemmi | Marco Simoncelli | Deutsche Welle

Casamança, uma antiga colónia portuguesa com uma cultura distinta do resto do Senegal, é palco da mais longa revolta separatista em África. Mas alguns habitantes locais querem seguir em frente.

Quatro décadas de luta entre rebeldes separatistas do MFDC (Movimento das Forças Democráticas de Casamança) e o governo senegalês deixou 60.000 pessoas deslocadas e quase 5.000 vítimas - incluindo centenas de mortos devido a minas terrestres.

Charles Ndeeky perdeu uma perna depois de uma mina terrestre ter explodido numa área de Casamença que tinha sido considerada "segura".

"Tinha acabado de regressar à aldeia após alguns anos passados no estrangeiro por causa da guerra", disse Ndeeky. "Nessa altura, as autoridades disseram-nos que a área era segura. Mas estavam enganados. O MFDC e os militares deixaram minas em todo o lado".

Casamança situa-se numa parte do Senegal que está geograficamente quase totalmente separada do resto do país pela Gâmbia. Cerca de 1,5 milhões de pessoas vivem na região, numa atmosfera de "nem guerra nem paz".

As fações do MFDC escondem-se nas profundezas das florestas

Apesar das numerosas tentativas de negociar a paz, o conflito continua. Após a morte em 2007 do seu líder, Augustin Diamacoune Senghor, o MFDC foi dividido em fações cujos membros agora se escondem nas densas florestas. Hoje em dia, parecem mais empenhados no lucrativo negócio do tráfico de madeira do que em alcançar a independência.

Amidou Djiba, que se apresenta como o atual porta-voz do MFDF, disse que desde o início dos combates em 1982, os presidentes senegaleses têm utilizado estratégias diferentes numa tentativa de resolver o conflito, "desde a mão dura das operações militares, passando pela corrupção, até às promessas de desenvolvimento, mas nunca ninguém atingiu o seu objetivo".

E se Djiba e os rebeldes veteranos estão convencidos de que a maioria dos habitantes de Casamança está do seu lado, basta um passeio de moto táxi até as aldeias próximas para perceber como a vontade de seguir em frente parece prevalecer entre a população local.

Os EUA falharam em criar uma barreira entre a Rússia e seus parceiros asiáticos

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

A percepção compartilhada na entrevista do vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrey Rudenko, ao Izvestia leva a cinco conclusões sobre o estado dos assuntos estratégicos na Ásia, a partir das quais um número igual de previsões sobre a política asiática da Rússia pode ser feito.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrey Rudenko, confirmou em entrevista ao Izvestia que os EUA não conseguiram criar uma barreira entre seu país e seus parceiros asiáticos no ano passado. Este é um ponto significativo, uma vez que prova que a política de dividir para reinar da hegemonia unipolar em declínio não é tão eficaz quanto antes, contrária às reivindicações propagadas pela Mainstream Media (MSM) do Ocidente liderado pelos EUA. Longe de estar “isolada”, a Rússia está se inserindo mais profundamente no centro do crescimento econômico global.

Como explicou Rudenko, essa tendência não é nada de novo, mas o resultado natural do envolvimento mutuamente benéfico da Rússia com a Ásia, que começou muito antes de sua operação especial na Ucrânia. Embora as exportações de energia para a China e a Índia desempenhem um papel descomunal em seu comércio com a região, elas não representam a totalidade de seus laços com esses países. A cooperação agrícola, comercial, epidemiológica, interpessoal, policial, militar, nuclear e tecnológica também está crescendo com ambos.

Não só isso, mas a ASEAN também ocupa um papel de destaque no quadro da política externa asiática da Rússia, o que contribui para desacreditar a afirmação dos HSH de que os laços de Moscou com a região são sinocêntricos. A China continua entre os principais parceiros da Grande Potência da Eurásia em todo o mundo, mas suas parcerias estratégicas com a ASEAN como um todo e especialmente com a Índia ajudam a equilibrar qualquer percepção de dependência desproporcional da República Popular.

Além desses três, a Rússia também mantém laços importantes com a Mongólia, observou Rudenko. Além disso, ele observou que as relações com a Coréia do Sul não são tão ruins quanto alguns poderiam pensar, apesar da inclusão desse país na lista de países hostis de Moscou. Este importante diplomata elogiou o pragmatismo de Seul em implementar apenas a mais moderada das exigências de sanções anti-Rússia de Washington e disse que Moscou está interessada em melhorar os laços sempre que seu parceiro estiver pronto.

Quanto ao Japão, observou que, apesar de Tóquio cumprir inquestionavelmente as exigências de seu senhor norte-americano hoje, continua participando dos projetos energéticos regionais da Rússia sob o pretexto de “garantir a segurança energética nacional”. Essa observação reforça a percepção de que realmente há limites para até que ponto os EUA podem impor sua vontade mesmo sobre seus vassalos mais leais, que permanecem relutantes em ceder unilateralmente em todos os aspectos de seus interesses nacionais objetivos apenas para agradar seu patrono do outro lado do mundo.

A semelhança estratégica entre a Rússia e seus parceiros asiáticos, com a discutível exceção da Coréia do Sul e do Japão, como acabamos de explicar, é que eles estão unidos em seu desejo de expandir a cooperação mutuamente benéfica com vistas a acelerar a transição sistêmica global para a multiplexidade . Rudenko acrescentou que isso é evidenciado por mais países expressando interesse em ingressar na SCO , em claro desafio aos diplomatas ocidentais que os pressionam a entrar no movimento das sanções anti-russas.

A visão compartilhada em sua entrevista leva a cinco conclusões sobre o estado dos assuntos estratégicos na Ásia. Primeiro, os EUA realmente falharam em criar uma barreira entre a Rússia e seus parceiros asiáticos. Em segundo lugar, os laços da Rússia com a Ásia não são sinocêntricos, mas equilibrados devido às suas parcerias estratégicas com a ASEAN e especialmente com a Índia . Em terceiro lugar, nem mesmo a Coréia do Sul e o Japão cortaram totalmente os laços com a Rússia. Quarto, a Ásia como um todo é cada vez mais independente dos EUA. E quinto, a Ásia está rapidamente se tornando o centro da multipolaridade.

A partir dessas cinco conclusões, um número igual de previsões pode ser feito sobre a política asiática da Rússia. Primeiro, a Ásia continuará sendo a principal prioridade da política externa da Rússia. Em segundo lugar, a Rússia continuará diversificando seus esforços de alcance na Ásia. Em terceiro lugar, fará isso expandindo de forma abrangente os laços com a ASEAN e especialmente com a Índia. Quarto, nenhuma das duas previsões anteriores prejudicará os laços com a China. E quinto, o núcleo da Rússia-Índia-China (RIC) da Ásia liderará coletivamente o futuro multipolar do continente.

*Andrew Korybko -- Analista político americano especializado na transição sistêmica global para a multipolaridade

"Eles querem transformar a Rússia em Moscóvia" -- Patrushev em entrevista

Nikolay Patrushev - sobre o Ocidente e a Ucrânia

Que ações do Ocidente estão se preparando em Moscou e que política pode se opor a isso? Nikolai Patrushev, secretário do Conselho de Segurança da Federação Russa , disse a aif.ru sobre isso.

 AIF. ru | # Traduzido em português do Brasil

Ambiente turbulento 

Vitaly Tseplyaev, aif.ru: Nikolai Platonovich, como você avalia a situação no mundo que se desenvolveu no início do ano novo?

Nikolai Patrushev : A situação no mundo é extremamente complexa e tem um caráter turbulento. Muitos países em diferentes regiões estão simultaneamente em uma crise político-militar, econômica, social e espiritual. Esperemos que haja mudanças positivas este ano. 

- Você disse uma vez que a liderança dos países ocidentais não está fazendo nada para melhorar a situação, não só no mundo, mas também em seus próprios países. Explique o que está em jogo?

- Os políticos ocidentais não têm força e capacidade de mudar para melhor a vida em seus estados, pois há muito não são figuras independentes. Todo mundo tem conexões com grandes empresas, lobistas e fundações pelas costas. Eles nem mesmo escondem esses fatos. Há exemplos muito recentes. Como se viu, dezenas de deputados eram controlados pelas estruturas de George Soros, e a Comissão Europeia, a mando de uma das maiores empresas farmacêuticas americanas do mundo, criou uma série de esquemas de corrupção para a compra de vacinas no valor de dezenas de bilhões de euros. É claro que o verdadeiro poder no Ocidente está nas mãos de clãs engenhosos e corporações transnacionais. 

- Você quer dizer Rockefellers e Rothschilds? 

— Na verdade, existem muito mais dessas corporações e clãs. Assim, a receita total das 500 maiores empresas do mundo, segundo dados não oficiais, chegou a quase US$ 38 trilhões em 2021. A maior parte das empresas transnacionais são corporações sediadas nos Estados Unidos. Suas receitas geraram cerca de US$ 16 trilhões, com um lucro líquido de US$ 1,8 trilhão.

O capital de várias empresas transnacionais supera o PIB da maioria das economias do mundo, e os fundos por elas criados para maior enriquecimento pretendem ser um mecanismo supranacional de gestão da humanidade. A mesma Fundação Soros tornou-se quase o principal centro mundial de planejamento e implementação de “revoluções coloridas”. 

“O projeto de orçamento americano para 2023 é a melhor evidência dos planos de Washington de desencadear novas guerras em detrimento do bem-estar de seus próprios cidadãos.”

Dois atores em uma peça

- Você quer dizer que nem mesmo as autoridades americanas estão seguindo uma política independente? 

- Na verdade, o estado americano é apenas uma casca para um conglomerado de grandes corporações que governam o país e tentam dominar o mundo. Para as transnacionais, até os presidentes dos EUA são apenas figurantes que podem ser calados, como Trump . Todos os quatro assassinatos de líderes americanos estão conectados à trilha corporativa. Não é por acaso que um número crescente de americanos está dizendo que republicanos e democratas são apenas dois atores em uma peça que nada tem a ver com democracia. 

As autoridades americanas, fundidas com o grande capital, atendem aos interesses das corporações transnacionais, inclusive do complexo militar-industrial. A política externa assertiva da Casa Branca, a agressividade desenfreada da NATO, a emergência do bloco militar AUKUS e outros são também consequência da influência corporativa. O projeto de orçamento americano para 2023 é a melhor evidência dos planos de Washington de desencadear novas guerras em detrimento do bem-estar de seus próprios cidadãos. Dos gastos planejados do governo federal de US$ 1,7 trilhão, metade é destinada à defesa — mais de US$ 850 bilhões. Apenas para a continuação das hostilidades na Ucrânia e o prolongamento do conflito, planeja-se alocar 45 bilhões de rublos. 

Isso apesar do fato de que os próprios Estados Unidos e seus capangas estão irremediavelmente caindo no buraco da dívida. A dívida pública americana atingiu mais de trinta e um trilhões de dólares. A dívida de £ 2,4 trilhões da Inglaterra é a maior desde a Segunda Guerra Mundial, excedendo 101% do produto interno bruto. O recorde mundial da relação dívida/PIB - mais de 2,6 vezes - foi estabelecido pelo Japão, com uma dívida pública de quase dez trilhões de dólares. Só os países que se consideram donos do mundo não vão devolver essas dívidas. 

Anteriormente, o Ocidente chegou à prosperidade e alcançou a dominação mundial por meio de conquistas coloniais. É exatamente assim que as empresas transnacionais se comportam hoje, preferindo aumentar seu capital bombeando recursos de outros países. Ao mesmo tempo, eles usam seu sistema de lavagem cerebral nas massas para impor à população do planeta de todas as maneiras possíveis a ideia de certas regras que eles mesmos inventaram e que não cumprem o direito internacional

“Não há lugar para o nosso país no Ocidente. A Rússia incomoda um monte de governantes mundiais porque possui recursos ricos, um vasto território, pessoas inteligentes e autossuficientes.”

Portugal | CURTO-CIRCUITO

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

Uau! Que semanas alucinantes em São Bento e que excelente augúrio para 2023. Governantes a despenharem-se uns atrás dos outros, castelo de cartas, queda de dominós. Um verdadeiro espectáculo de cortar a respiração. Puxa! Este é mesmo inédito e inaudito. Palmas para António Costa!

Portugal já assistiu a muito regabofe na política, mas este nível alucinante é, realmente, uma grande estreia! E para grandes males, grandes remédios! Logo, o nosso excelso primeiro-ministro veio propor uma magnificente solução. Mais ovação, por favor. Bis! Bravo! Ele é o Nosso Grande Salvador.

No Parlamento, o PM anunciou que vai sugerir ao Presidente da República um Circuito para garantir maior transparência e confiança de todos no momento da nomeação de membros do governo, "que permita evitar desconhecer factos que não estamos em condições de conhecer". Criativo circuito! Genial! Desconhecer factos que não estamos em condições de conhecer é, efectivamente, de visionário. Agora sim, estes problemas que carcomem os pilares do regime vão ficar sanados e sarados.

Só que não. Tudo isto não passa, claro, de prestidigitação, truques de algibeira, ilusão. Lembram-se do Galpgate? Em 2016, dois ex-secretários de Estado foram acusados do crime de recebimento indevido de vantagem - bilhetes para o Euro. Nessa altura, António Costa também tirou um coelho da cartola e avançou com o então designado Código de Conduta para os membros do governo. Estes comprometiam-se a a rejeitar ofertas que excedessem os 150 euros. O executivo garantiu que se tratava de um instrumento de auto-regulação ética, mas olhando para o cortejo de sobas que tem desfilado, definitivamente, auto-regulação ética é coisinha que até sobeja.

Cadê esse tal Código de Conduta? Já ninguém se lembra agora?

E do familygate? Quem se recorda? Por causa do escândalo do nepotismo, em 2019 António Costa quis então mandar areia para os olhos com a chamada Lei dos Primos. Em agosto desse ano, o Presidente da República promulgou-a e enalteceu o seu "significado ético". Porreiro pá, como dizia Sócrates. Este Outono, o PM cortou com a regra de não ter familiares à mesa do Conselho de Ministros e lá meteu os conhecidos "Irmãos Mendes". Pronto. Simples assim. Um verdadeiro gangue de Irmãos Metralha, um clube privado de dinheiros públicos a que meia dúzia tem acesso. Lá se foi o "significado ético" de vela e a toda a bolina.

Que não restem dúvidas - estas medidas só servem para fingir que se faz, em bom português, para encanar a perna à rã, empatar e caçar votos. Basta atentar na novelita da Entidade da Transparência para o confirmar - anunciada pelo PM como uma prioridade na dita Estratégia Nacional de Combate à Corrupção, criada em 2019 para fiscalizar rendimentos, interesses e incompatibilidades dos políticos e altos cargos públicos, ainda não funciona!

Portanto, se alguém ainda tem esperanças ou a expectativa de que este colossal pantanal algum dia se resolva enquanto este Partido Socialista estiver no poder, desengane-se.

É por demais óbvio que a "Estratégia" é uma e uma apenas: continuar a saquear e a esbulhar o dinheiro dos nossos impostos de todas as maneiras e feitios possíveis, com o maior topete e total impunidade. Circuito de Manutenção.

*Psicóloga clínica.
Escreve de acordo com a antiga ortografia

Portugal | Educação: Fenprof apela a "grande manifestação de professores" no dia 20

O secretário-geral da Fenprof apelou hoje a uma "grande manifestação" no dia 20, à margem da reunião negocial com o Governo, porque a probabilidade de as reivindicações serem atendidas é maior se os docentes mantiverem uma "pressão forte".

"Parece-nos que há mais possibilidades de haver respostas se houver pressão sobre o Governo do que se não houver. Por isso é que, depois de termos sabido que havia reunião no dia 20, no Ministério da Educação, foi convocada uma grande manifestação/concentração de professores para dia 20, à porta do Ministério da Educação", destacou o secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (Fenprof), Mário Nogueira.

À entrada para um plenário de professores do Agrupamento de Escolas Rainha Santa Isabel, em Coimbra, Mário Nogueira admitiu aos jornalistas que tem poucas expectativas para a reunião negocial sobre a revisão do regime de recrutamento e mobilidade, agendada para dia 20 de janeiro, no Ministério da Educação.

"É evidente que se, no dia 20, as respostas forem as que se exigem, obviamente que a luta poderia parar. Não sendo, e sinceramente tenho muito pouca expectativa nisso, tendo em conta o que foram as outras reuniões, a luta irá continuar", prometeu, lembrando ainda que para dia 11 de fevereiro está também agendada uma manifestação nacional, em defesa da profissão.

O secretário-geral da Fenprof chegou à sede do Agrupamento ao qual pertence por volta das 08:30, altura em que se começaram a concentrar à entrada da escola vários professores, exibindo cartazes a pedir respeito ou a exigir: "Precariedade não! Carreira recomposta. Salários atualizados. Horários legais. Aposentação justa".

Aos professores juntaram-se perto de duas centenas de alunos, que ecoava cânticos a pedir a união pela educação.

"Ministro escuta, a escola está em luta", "está na hora de o ministro ir embora" ou "é greve porque é grave" foram outros dos chavões gritados por alunos desta escola (entre o 5.º e o 9.º ano).

A partir de segunda-feira, inicia-se uma greve que, distrito a distrito, abrangerá todo o território continental.

No distrito de Coimbra a greve terá lugar no dia 24 de janeiro, na Praça 8 de Maio.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Lusa

Leia em Notícias ao Minuto: 

Fenprof quer soluções em cima da mesa de reuniões com Governo

Portugal | A DANÇA DO “VETTING”* DOS NOVOS GOVERNANTES E A VIDA NUA

Aqui se defende que a crise no Governo é espelho distorcido de um terramoto social e político que não excita os telejornais. Num campo mediático em que se fala muitas vezes de corrupção para esconder a exploração de todos os dias.

Nuno Ramos de Almeida | AbrilAbril | opinião

Na conhecida banda desenhada do cowboy que disparava mais depressa que a sua própria sombra, Lucky Luke, há uma tira em que um par de vaqueiros passa ao pé do cowboy e do seu cavalo Jolly Jumper. Equídeo e cavaleiro disputam uma animada partida de xadrez. Um dos vaqueiros comenta impressionado: «Estás a ver aquele cavalo a jogar xadrez?», ao que o outro lhe responde calmamente, «não percebo a excitação, ele não joga assim tão bem».

Esta crise tem uma estrutura semelhante, em vez de nos escandalizarmos com uma situação generalizada, indignamo-nos com uma indemnização que não terá sido «assim tão bem».

O meio milhão de euros que a antiga secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, recebeu para sair da TAP é uma quantia escandalosa? É, sim senhor. Era bom é que a indignação não ficasse só por este caso, mas contestasse uma prática generalizada para administradores de grandes empresas, com os seus paraquedas dourados, ordenados e prémios sumptuosos.

No mundo do trabalho existem duas realidades que parecem ser de mundos distintos, mas pertencem ao mesmo planeta da exploração: por um lado, há accionistas e administradores das grandes empresas que ganham salários milionários; por outro lado, mais de 75% dos trabalhadores ganham menos de 1000 euros brutos por mês.

Vivemos num socialismo de ricos: os lucros são para eles, os prejuízos são pagos por nós.

Os contribuintes pagaram mais de 21 mil milhões de euros para os buracos e imparidades do sistema bancário, os administradores continuaram, apesar de ter os bancos falidos, a receber prémios anuais.

Os supermercados Pingo Doce têm como slogan: «sabe bem pagar tão pouco», uma intenção que visivelmente não se cumpre em relação ao CEO da Jerónimo Martins que é a proprietária da cadeia de supermercados: este ganha 262, seis vezes mais que o salário médio dos seus trabalhadores. Apenas em relação aos salários dos trabalhadores se aplica o «é bom pagar tão pouco».

A ópera bufa da sucessão de demissões de membros do governo do Partido Socialista mostra que existe incapacidade política crescente no executivo de António Costa. Uma semana depois, de ter garantido impante, em entrevista à revista Visão, sentadinho e contentinho no sofá, a fortaleza da maioria absoluta; estava a mendigar no parlamento, que o Presidente da República passasse a garantir a seriedade dos novos membros do governo, num processo que apelidou de vetting.

A crise da dança das cadeiras é uma espécie de reflexo desfocado da enorme crise social que o país vive, e a situação de crescente dificuldade em que estão a quase totalidade das pessoas que vivem em Portugal.

Um sintoma é sempre um sintoma, mas por vezes mascara a verdadeira causa da doença. Enquanto nos mergulham nos casos, casinhos, corrupções e arranjinhos que se multiplicam no espaço mediático, são ignoradas as políticas económicas de austeridade, aumento de taxas de juros e baixa dos salários que estão na origem da crise profunda em que vivemos.

O histerismo da corrupção é muito apetecível para a comunicação social, tem a dose de emoção que dá audiências. Politicamente serve para alimentar populismos de extrema-direita e esconder os problemas e as causas das desigualdades e do nosso crescente atraso económico.

Toda a corrupção é intolerável, mas o maior roubo no capitalismo é o próprio funcionamento dito «normal» do capitalismo. No fundo, as luzes dos escândalos do Governo servem aqui para disfarçar a escuridão das injustiças de todos os dias.

*Nota tradutória: O que é vetting?

Vetting é o processo de realizar uma verificação de antecedentes de alguém antes de oferecer-lhe emprego, conferir um prémio ou fazer uma verificação de factos antes de tomar qualquer decisão. Além disso, na coleta de informações, os ativos são examinados para determinar sua utilidade.

Imagem: Primeiro-ministro, António Costa, durante a discussão da moção de censura no parlamento / António Pedro Santos / Lusa

Após mortes em protestos, presidente do Peru será investigada por genocídio

Ministério Público investigará Dina Boluarte pelos supostos crimes de genocídio, homicídio qualificado e lesões graves durante os protestos contra ela, que deixaram 40 mortos em um mês.

# Publicado em português do Brasil

O Ministério Público do Peru anunciou nesta terça-feira (10) que irá investigar a presidente Dina Boluarte pelos supostos crimes de "genocídio, homicídio qualificado e lesões graves" durante os protestos contra ela, que deixaram 40 mortos em um mês.

"A Procuradora da Nação ordenou o início de uma investigação preliminar contra a presidente Dina Boluarte; o presidente do Conselho de Ministros, Alberto Otárola; o ministro do Interior, Víctor Rojas; o ministro da Defesa, Jorge Chávez", informou o MP no Twitter.

A investigação é pelos supostos crimes de "genocídio, homicídio qualificado e lesões graves" durante as manifestações antigovernamentais nas regiões de Apurímac, La Libertad, Puno, Junín, Arequipa e Ayacucho.

A investigação também inclui o ex-chefe de gabinete Pedro Ángulo e o ex-ministro do Interior César Cervantes, que fizeram parte do governo Boluarte entre 7 e 21 de dezembro de 2022, período em que houve 22 mortes devido à repressão das forças de ordem.

Os protestos se concentram nas áreas andinas do Peru, onde a população exige a renúncia de Boluarte e eleições presidenciais e legislativas imediatas. Em um mês de manifestações, a repressão deixou 40 mortos e mais de 600 feridos.

Dina Boluarte foi vice-presidente do país até 7 de dezembro de 2022, quando o Congresso destituiu Pedro Castillo, depois que ele tentou fechar o parlamento, intervir no sistema de Justiça e governar por decreto. Castillo, que era investigado por corrupção, cumpre 18 meses de prisão preventiva ordenada por um juiz, sob acusações de rebelião.

G1 | France Press

Imagem: A presidente do Peru, Dina Boluarte, fala durante uma coletiva de imprensa após o término de uma reunião ministerial no Palácio do Governo em Lima em 5 de janeiro de 2023 — Foto: Cris BOURONCLE / AFP

AS CONEXÕES EXTERNAS DO GOLPISMO - Boaventura

Fatos indicam: fascistas tentaram no Brasil um Capitólio aperfeiçoado, mas faltou-lhes mobilização. Apoio empresarial e militar precisa ser cortado. Mas para dissipar a ameaça falta uma democracia vibrante, que se estenda às maiorias e as acolha

Boaventura de Sousa Santos* | Outras Palavras

Ocorreu em Brasília no dia 8 deste mês, uma semana depois da tomada de posse do presidente Lula, um acontecimento que só tomou de surpresa quem não quis ou não pôde informar-se sobre os seus preparativos amplamente difundidos nas redes sociais. A ocupação violenta dos edifícios do poder legislativo, executivo e judiciário e dos espaços circundantes, bem como a depredação de bens públicos existentes nestes edifícios por parte de manifestantes de extrema-direita, configuram atos de terrorismo planejados e minuciosamente organizados pelos seus cabecilhas. Trata-se, pois, de um acontecimento que põe seriamente em causa a sobrevivência da democracia brasileira e que, pelo modo como ocorreu, pode amanhã ameaçar outras democracias no continente e no mundo. Convém, pois, analisá-lo à luz da importância que tem. As características e as lições principais são as seguintes:

1. O movimento de extrema-direita é global e as suas ações a nível nacional beneficiam das experiências antidemocráticas estrangeiras e muitas vezes agem em aliança com elas. É notória a articulação da extrema-direita brasileira com a extrema-direita norte-americana. O conhecido porta-voz desta, Steve Bannon, é amigo pessoal da família Bolsonaro e tem sido uma figura tutelar da extrema-direita brasileira desde 2013. Além das alianças, as experiências de um país servem de referência a outro país e constituem uma aprendizagem. A invasão da Praça dos Três Poderes em Brasília é um copia “melhorada” da invasão do Capitólio em Washington em 6 de janeiro de 2020, aprendeu com esta e tentou fazer melhor. Foi organizada com mais detalhes, procurou trazer muito mais gente a Brasília, e utilizou várias estratégias para que a segurança pública democrática se sentisse tranquilizada de que nada anormal aconteceria. Os cabecilhas tinham por objetivo ocupar Brasília com pelo menos 1 milhão de pessoas, criar o caos e permanecer o tempo necessário para permitir a intervenção militar que pusesse fim às instituições democráticas.

2. Pretende-se fazer acreditar que se trata de movimentos espontâneos. Pelo contrário, são organizados e com capilaridade profunda na sociedade. No caso brasileiro, a invasão de Brasília foi organizada a partir de diferentes cidades e regiões do país e em cada uma delas havia líderes identificados com número de telefone para poderem ser contatados pelos aderentes. A participação podia ter várias formas. Quem não pudesse viajar para Brasília, tinha missões a cumprir nos seus locais, bloqueando a circulação de combustíveis e do abastecimento dos supermercados. O objetivo era criar o caos pela carência de produtos essenciais. Alguns se lembrarão das greves de caminhoneiros dos combustíveis que precipitaram a queda de Salvador Allende e o fim da democracia chilena em setembro de 1973. Por sua vez o caos em Brasília tinha objetivos precisos. Foi invadida a sala de estratégia do Gabinete de Segurança Institucional, situada no porão do Palácio do Planalto, de onde foram furtados documentos sigilosos e armamento ultra-tecnológico, o que demonstra que havia treinamento e espionagem. Também foram encontradas cinco granadas no Supremo Tribunal Federal e Congresso Nacional.

BOLSONARO EXTRADITADO, OU A BANHA DA COBRA QUE ENGANA E VENDE?

Do Brasil, de Portugal, da lusofonia e do mundo. A seguir é este o trato do Curto do Expresso com um título sugestivo tipo banha da cobra: “Bolsonaro Extraditado”. Não. O “monstro fascista” está por lá pelos EUA – a Casa Branca e Grande Desgraça que Veio ao Mundo sabe o que faz de acordo com as secretas cujos operativos tem no Brasil e países das ilhargas brasileiras, muitos disfarçados de diplomatas. Tão depressa o Brasil não vai ter sossego ou, provavelmente, nunca mais. Sem dó nem piedade os EUA estão com Bolsonaro e regimes que lhes obedeçam. O que Biden diz a reboque de outros dos seu clã de hipócritas não vale, não conta para a verdade da história. A União Europeia segue-lhe obedientemente as passadas como boa e fiel organização colonizada pelos EUA. Quem não sabe isto sobre os vendidos europeus que andam por aí a tramar-nos no continente europeu e arredores?

Pois. Mas viemos aqui para divulgar o Expresso Curto em forma de newsletter. É o que faremos já a seguir. Leiam e pensem, não dói nada. Estejamos atentos ao estilo assimilado dos novos jornalistas em Portugal e em tantos outros países. Redação Única é como  muitos dos mais antigos e calejados definem a fabricação das notícias, dos comentários, etc. Comprar uma publicação ou outra vai quase dar no mesmo. Até parece que são máquinas a botarem palavras. Também chamam a isso “lavagem ao cérebro”, manipulação em massa, etc… Nós, por cá, preferimos arroz de polvo. Que petisco!

Bom dia e siga para o Curto. A seguir. Mais do mesmo. Porque não?

MM | PG

BOLSONARO EXTRADITADO

Cristina Peres, jornalista de internacional | Expresso

Este é o tempo verbal que a administração norte-americana gostaria de já ter usado perante a incómoda presença do ex-Presidente do Brasil, que se encontra em exílio auto-imposto em território americano desde que perdeu a reeleição, em 3 de outubro. Se por pressão do Congresso Jair Bolsonaro vai ser extraditado ou não ainda é uma incógnita. Contudo, o Presidente americano, Joe Biden, foi claro na condenação dos ataques de 8 de janeiro à democracia no Brasil em conjunto com os líderes do México (Andrés Manuel López Obrador) e do Canadá (Justin Trudeau) a partir da cimeira sobre migrações que os reuniu no México. Biden convidou Lula da Silva a visitar a Casa Branca em fevereiro, visita que vai coincidir com o fim da validade da extensão do visto concedida a Bolsonaro para permanecer nos Estados Unidos. Jair, que esteve a ganhar tempo de novo agarrado a dores abdominais, já abandonou o hospital da Florida onde esteve internado e regressou à residência que tem ocupado em Orlando, Florida.

Nas ruas do Brasil milhares de pessoas manifestam-se exigindo sanções contra os apoiantes do ex-PR do Brasil, que está cada vez mais isolado, e o Ministério Público pede o bloqueio dos seus bens. “Bolsonarista típico” é a descrição dos primeiros financiadores identificados da invasão das sedes dos três poderes. Em apenas 24 horas, o ministério da Justiça brasileiro recebeu 30 mil denúncias de suspeitos por terem participado ou organizado a insurreição de Brasília. O setor agrícola de bastiões de Bolsonaro está sob holofote das autoridades, que divulgaram o código por eles usado para convocar a invasão de Brasília: “Festa da Selma”. Trata-se de uma alusão à palavra “Selva”, uma expressão comummente associada às forças armadas brasileiras que se tornou na palavra de ordem para os veteranos.

A simbiose da extrema-direita nos Estados Unidos e no Brasil está na origem da semelhança entre o ataque ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021 e a invasão das casas dos três poderes em Brasília dois anos e dois dias mais tarde. A análise da ligação dos movimentos das famílias e grupos de influência dos dois ex-PR, Donald Trump e Jair Bolsonaro, permitiu ao especialista em desinformação David Nemer prever em 2021 a preparação de um golpe semelhante nas eleições brasileiras de 2023, como pode ler no “The Guardian”.

“Brazil: The Mob leaves Its Mark”, declaração do International Crisis Group (organização não governamental que prevê, analisa e monitoriza conflitos em todo o mundo) de 10 de janeiro de 2023 relativo ao assalto aos três poderes no Brasil: “O assalto às instituições do Estado brasileiras evocou a incursão de 2021 no Capitólio dos Estados Unidos. Tal como na sequência desse evento, o papel da contenção pelas forças da ordem sobrepõe-se à tarefa mais delicada de identificar os círculos políticos e financeiros que tornaram a rebelião possível”.

Se ainda não ouviu aqui fica o link para a edição extra do podcast O Mundo a Seus Pés sobre o 8 de janeiro em Brasília.

OUTRAS NOTÍCIAS

“TAP no olho do furacão” implica turbulência séria: pré-aviso de greve para dias 25 e 31 avança em simultâneo com a Comissão de Inquérito.

Centeno pede “alguma paciência”: bancos demoram a subir juros dos depósitos.

Banco Mundial avisa: a economia global está “perigosamente perto” de uma recessão.

A Uniqlo, retalhista japonês com lojas em praticamente todo o mundo, anunciou que vai aumentar 40% os salários aos trabalhadores no Japão para lhes permitir fazer face à inflação. Leu bem: 40%.

Operação Vórtex: promete complicar-se. A casa do vice-presidente do grupo parlamentar do PSD “foi objeto de busca”.

Haiti à beira do caos. Os últimos dez senadores abandonaram os cargos deixando o Haiti sem políticos eleitos. O domínio dos gangues está a prevalecer quando a população está a sofrer de má nutrição e um surto de cólera não pára de ganhar dimensão.

Moçambique. As forças regionais que combatem a violência jihadista no território lançaram uma investigação após ter surgido um vídeo nas redes sociais onde se veem soldados atirarem corpos para uma pira ardente, declarou o exército da África do Sul (SANDF), incidente que deve ter ocorrido em novembro do ano passado, escreve o site Africanews com a agência AFP.

Jogos de guerra provam que Taiwan é capaz de deter um ataque da China a um preço altíssimo.

Carros engolidos por um escoadouro num subúrbio de Los Angeles, esgotos a invadirem as ruas da zona da baía de São Francisco e a subida das águas que já provocaram evacuações em partes do condado de Monterey: há três semanas que a Califórnia vem a ser fustigada por “uma parada de tempestades”, como lhe chama o Serviço Nacional de Meteorologia. E vai continuar.

Turquia apoia plano de paz de Volodymyr Zelensky e França fornece à Ucrânia os primeiros tanques de fabrico ocidental. Siga aqui o direto sobre a guerra na Ucrânia. Visita a Kharkiv da ministra alemã dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, alimenta esperança de fornecimento de tanques alemães Leopard 2. Pelo seu lado, o Reino Unido está a considerar a entrega de “uma mão cheia” de tanques Challenger 2 ao país invadido pela Rússia. A Arménia cancelou os exercícios militares da aliança liderada pela Rússia frustrada por Moscovo não assegurar trânsito livre no corredor que liga a Arménia a Nagorno-Karabakh.

O verão de 2022 foi o mais quente de sempre desde que existem registos. Onze países europeus registaram os seus máximos.

A 80ª edição dos Globos de Ouro 2023 aconteceu esta noite. Se tiver sido um bom espectador vai saber logo do que se fala quando ler que “Os Espíritos de Inisherin” e “Os Fabelmans” vencem nas salas de cinema e “House of Dragon” e “The White Lotus” vencem no sofá.

FRASES

“[Os ucranianos] devem saber que podem contar com a nossa solidariedade e com o nosso apoio [o que] inlcui mais entregas de armas”, Annalena Baerbock, ministra dos Negócios Estrangeiros da Alemanha durante a visita a Kharkiv, no leste da Ucrânia

“Há muito para fazer no que diz respeito à relação com o mar”, Filipe Duarte Santos, professor universitário e investigador em alterações climáticas ao JN

“Em particular, o Conselho de Administração da TAP deve esclarecimentos ao Parlamento e aos portugueses”, Brilhante Dias, presidente da bancada do PS

“Se esta é a primeira família do Reino Unido como serão as outras?”, Marina Hyde, na sua coluna de opinião do jornal “The Guardian” a propósito do livro do príncipe Harry a quela ela chama “É o príncipe Harry Voando sobre o Ninho dos Windsor”. O Expresso já leu “Spare”, o livro que promete abalar a monarquia britânica

SUGESTÕES DE PODCASTS

"Os números não mentem, há 2% de mulheres que levantam capital de risco no mundo". No segundo episódio de O CEO é o Limite, Cátia Mateus recebe Daniela Braga, fundadora e CEO da Defined.ia e conselheira do presidente norte-americano Joe Biden para a estratégia de desenvolvimento da inteligência artificial no país. Uma conversa sobre ir além das “limitações aparentes” e o desafio de ser mulher, estrangeira, cientista e empreendedora no mercado tecnológico americano

https://expresso.pt/podcasts/o-ceo-e-o-limite/2023-01-09-Daniela-Braga-CEO-da-Defined.ia-Os-numeros-nao-mentem-ha-2-de-mulheres-que-levantam-capital-de-risco-no-mundo-65d75194

Começar de novo com menos lei e mais ética, menos Governo e mais TAP. A Comissão Política desta semana debate a situação da TAP e de Fernando Medina. Com a crise política a abrandar, estarão “safos”? O primeiro-ministro garante que o governo está coeso, embora ainda lhe falte uma secretária de estado. O PSD concorda com o Marcelo: não é o momento para derrubar o governo

https://expresso.pt/podcasts/comissao-politica/2023-01-10-Comecar-de-novo-com-menos-lei-e-mais-etica-menos-Governo-e-mais-TAP-e4bac166

Há regras que os jogadores são obrigados a saber. Depois, há a que apareceu no Benfica-Portimonense. Começando pela queixa de insultos racistas alegadamente ocorridos no Vitória-Rio Ave e do protocolo dos ‘Três Passos’ que os árbitros devem seguir quanto tal acontece, no episódio desta semana do A Culpa é do Árbitro, com Duarte Gomes, segue-se para o raro lance que mostrou uma lei do jogo pouco vista no Estádio da Luz

https://expresso.pt/podcasts/a-culpa-e-do-arbitro/2023-01-10-Ha-regras-que-os-jogadores-sao-obrigados-a-saber.-Depois-ha-a-que-apareceu-no-Benfica-Portimonense-9e948d24

O QUE ANDO A LER

Por causa e a propósito de um (curto) artigo que escrevi para a edição dos 50 anos do Expresso sobre deep fakes e media sintéticos intitulado (na versão digital) “Inteligência artificial aterrou com estrondo na política mundial: ver já não garante que se possa crer” não parei as leituras. O assunto é tão fascinante quanto polémico e traz consigo uma certeza: veio para ficar. Aparte a potência que tem para alimentar teorias da conspiração (provavelmente o aspeto menos interessante), vem levantar uma quantidade de questões, muitas delas relacionadas com regulação ou a dificuldade em tê-la. Para começar, implica uma série de técnicas de identificação das imagens manipuladas, que não existem, e as tecnologias de inteligência artificial nelas usadas são de fácil acesso. Verdade ou mentira?, eis a questão que veio para ficar. Há gente incrível a escrever e a pensar sobre o assunto, deixo aqui um artigo da última edição da revista “The Economist”: “Proving a photo is fake is one thing. Proving it isn’t is quite another”, a questão é fundamental para o reporte de crimes de guerra.

Se quiser ver o estupendo “trabalho de casa” da organização não governamental com sede em Berlim Democracy Reporting International (DRI), dedicada a identificar e combater desinformação, veja neste relatório de setembro de 2020 a importância que os deepfake têm neste capítulo. Para informação mais recente sobre as soluções encontradas para novos desafios leia aqui o relatório da DRI acabado de publicar no mês passado com exemplos de cinco países e múltiplas regiões. A boa notícia é que o público (nós todos) pode contribuir para resistir aos maus efeitos dos media sintéticos, conclui a DRI. Fica aqui matéria para dar uma ideia e passar uma noite… em branco.

Este meu primeiro Curto de 2023 termina aqui. Sugiro que fique na nossa companhia da panóplia de sugestões que lhe damos em expresso.pt. Boa quarta-feira.

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