terça-feira, 24 de janeiro de 2023

ALEMANHA INDICIA CINCO SUSPEITOS DE PLANEAR GOLPE DE ESTADO

Segundo a Procuradoria, grupo pretendia sequestrar o ministro da Saúde, matar seus seguranças, se necessário, e desencadear "condições de guerra civil por meio da violência" para derrubar governo e o sistema democrático.

# Publicado em português do Brasil

A Procuradoria federal da Alemanha apresentou nesta segunda-feira (23/01) acusações de alta traição contra cinco pessoas suspeitas de planejar o sequestro do ministro da Saúde, Karl Lauterbach, e a derrubada do governo alemão.

Segundo os promotores, o grupo formado há cerca de um ano pretendia desencadear "condições de guerra civil na Alemanha por meio da violência" a fim de derrubar o governo e a democracia parlamentar.

Todos os cinco indiciados estão presos desde o ano passado, quando as autoridades revelaram pela primeira vez os detalhes da suposta conspiração.

Em nota, a Procuradoria federal, com sede na cidade de Karlsruhe, informou que o grupo estava disposto a usar violência e até cometer assassinatos para alcançar seus objetivos.

Nesta segunda-feira, o ministro da Saúde agradeceu aos investigadores e ao Departamento Federal de Investigações (BKA, na sigla em alemão) por sustar a trama. "Os oficiais do BKA arriscam suas vidas por nós. Isso é uma grande conquista", escreveu Lauterbach no Twitter.

ATAQUES E FRACASSOS DA DIREITA NA AMÉRICA LATINA

Os direitistas da região enfrentaram três grandes reveses ultimamente. O golpe fracassado no Brasil foi precedido por um golpe fracassado na Bolívia e o naufrágio das conspirações na Venezuela.

Cláudio Katz | Cuba Debate | # Traduzido em português do Brasil

Essas derrotas não anulam o contínuo ataque das formações reacionárias. Conseguiram se firmar na Argentina, repensar sua atuação na Colômbia, retomar o legado pinochetista no Chile, destacar-se no México e participar da feroz repressão desencadeada no Peru. A análise de cada caso ilustra o perfil dessa corrente na América Latina.

Uma aventura fracassada

Bolsonaro liderou a principal experiência da onda reacionária . Não conseguiu a reeleição, mas obteve um grande apoio nas eleições. Ele se preparava para desempenhar um papel político de destaque, antes de ser afetado pela tentativa de golpe realizada por seus seguidores.

Já existem documentos comprobatórios do plano inicialmente concebido pelo ex-capitão para ignorar sua derrota eleitoral. Essa conspiração foi abandonada, mas os preparativos para o golpe continuaram com a instalação de um acampamento em Brasília para exigir a obstrução militar da posse de Lula.

Eles se posicionaram por dois meses fora da sede, divulgaram seus planos nas redes sociais, tentaram um mega-ataque e bloquearam várias rotas.

O assalto ao Congresso, ao Palácio do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal tentou forçar a intervenção do Exército. Os atacantes presumiram que uma faísca era suficiente para induzir os generais a trazer os tanques para a rua. Imaginavam que o caos gerado por sua ação precipitaria aquela intervenção (Arcary, 2023). O plano B era forçar um cenário de ingovernabilidade, enfraquecer o governo Lula no início de seu governo (Stedile; Pagotto, 2023).

Esse cálculo delirante foi baseado na cumplicidade descarada dos militares que visitaram o acampamento para facilitar uma incursão que o governador do Distrito Federal também validou. Os assaltantes ocuparam os principais prédios do Estado com total impunidade e em três horas de vandalismo destruíram móveis, objetos de decoração e obras de arte. Numerosos policiais vigiaram os agressores, participaram da revolta e foram fotografados durante o saque.

O ataque trazia a marca típica de Bolsonaro, que na década de 1980 alcançou certo renome com ações desse tipo. Para pressionar por um aumento salarial, ele organizou um esquema de bombardeio na época que lhe custou a carreira. Da presidência, aperfeiçoou essa trajetória sustentando as milícias, que continuaram ensaiando ataques após o exorbitante atentado em Brasília.

Os militares consentiram na aventura para perpetuar os privilégios que obtiveram nos últimos quatro anos. Eles buscaram garantir sua impunidade pelos delitos cometidos naquele período. Juntamente com os líderes das gangues de Bolsonaro, eles facilitaram uma ação insana destinada a unir os setores de extrema-direita.

As ocupantes dos três principais prédios do estado exibiram abertamente seu racismo, destruindo um retrato inestimável das meninas afrodescendentes. Também ratificaram seu propósito cristofascista de coroar uma "guerra santa" contra o PT.

Bolsonaro tentou fugir das responsabilidades com seu silêncio e ficar no exterior. Mas toda a aliança que o cerca vacila como resultado do golpe fracassado. Os deputados, senadores e governadores de seu partido que obtiveram denúncias repudiaram o golpe, aprovaram a intervenção federal em Brasília e marcharam ao lado de Lula, no ato de revalidação das instituições agredidas.

Os bolsonaristas com cargos em governadores e legislaturas já estão repensando a volta à direita clássica e à tradicional negociação de votos em troca de itens orçamentários. O presidencialismo de coalizão trabalha com essas negociações, que podem agora assimilar a extrema direita, caso seu líder seja demolido pelos efeitos do golpe fracassado.

Brasil | MILITARES: COMO LULA DEFENESTROU UM GOLPISTA

Além de defender vândalos com tanques em 8/1, ex-comandante do Exército quis promover militar-chave no esquema bolsonarista. Novas demissões virão. E ministro Múcio permanece – mas sua política de apaziguamento a qualquer custo, não

Antonio Martins* | Outras Palavras | # Publicado em português do Brasil

Por que o ex-comandante do Exército, general Júlio César Arruda, foi demitido no sábado (21/1) pela manhã, horas depois de sair satisfeito e confiante de uma reunião com Lula? Que estratégia o presidente está adotando para lidar com os bolsões golpistas no Exército? A postura de apaziguamento a qualquer custo, defendida pelo ministro da Defesa, Múcio Monteiro, perdurará? Nem todos os fatos estão claros, mas para buscar respostas vale acompanhar as informações e raciocínio do historiador Francisco Teixeira (UFRJ), que estuda há muito os militares brasileiros e foi professor da Escola Superior de Guerra. No próprio sábado, os jornalistas Eleonora e Rodolfo Teixeira, do site Tutameia, mantiveram com ele uma entrevista brilhante.

O episódio da demissão inscreve-se, pensa Francisco, na estratégia geral de Lula para as Forças Armadas. Ela busca evitar um confronto em bloco contra o comando militar (que, segundo o historiador não é majoritariamente golpista). Mas implica agir com precisão para punir todos os fardados que tenham se envolvido em atos contra a democracia (“seja qual for a patente”, disse o chefe de governo a Natuza Nery, no Jornal Nacional). Foi esta postura que o levou a aceitar a proposta do ministro Múcio Monteiro (Defesa) e se reunir, na sexta-feira (20/1), com os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica. Num gesto de boa vontade, Lula chegou, aliás, a incluir no encontro o presidente da Fiesp, José de Alencar Filho. Queria acenar com a possibilidade de estimular a indústria nacional a participar do esforço de reequipamento das Forças Armadas. Este fato deixou o general Arruda confiante, segundo relataram interlocutores.

Ocorre que já pesava contra Arruda a passividade geral do Exército na tentativa de golpe de 8 de Janeiro. Pior: segundo o colunista Guilherme Amado, do site Metrópoles, ele desafiara, na noite daquele dia, o ministro Flávio Dino (Justiça), ao proteger da prisão – inclusive com uso de tanques – os vândalos que haviam depredado a Praça dos Três Poderes e se refugiavam diante do QG do Exército. Chegara a levar o dedo ao rosto de Ricardo Capelli, interventor nomeado por Lula para a Segurança Pública do Distrito Federal, e a ameaçar o então comandante da PM: “O senhor sabe que minha tropa é um pouco maior que a sua, né”?

O que fez Lula mudar de vez de atitude, segundo Francisco Teixeira, foram os sinais de que Arruda se recusaria a agir contra o tenente-coronel Mauro Cid, uma peça-chave no esquema militar do bolsonarismo. Principal ajudante de ordens de Bolsonaro, Cid é, há meses, investigado por transações financeiras realizadas com cartões corporativos da presidência de República. Na quinta-feira (20/1), vazaram novas informações sobre sua possível participação central num grande esquema de desvio de verbas do Palácio do Planalto, sempre por meio destes cartões. Mas Arruda afirmava que não permitiria sua investigação pela Justiça Civil. E insistia, além disso, em manter sua nomeação para o comando do batalhão do Exército em Goiânia – a se consumar em fevereiro. Trata-se, frisa Francisco, de uma tropa de deslocamento rápido, capaz de chegar muito rapidamente à capital federal.

Portugal | TAMBÉM NA HABITAÇÃO, NÃO PINGA E NÃO É DOCE

A vulnerabilidade dos inquilinos, devido a sucessivas rondas de liberalização, é cada vez maior. Solução da fundação pingo doce? Mais liberalização, claro. 

O dinheiro concentrado em poucas mãos paga estudos que escapam à ética da responsabilidade, contra toda a evidência, mobilizada, por exemplo por Nuno Serra ou por Ana Cordeiro Santos. O importante é manter a utopia liberal viva, ou seja, transferir cada vez mais direitos sociais para a propriedade, reduzindo as suas obrigações sociais. 

O estudo da fundação pingo doce é de resto da irresponsabilidade de um antigo Presidente do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, ao tempo em que o governo da troika fazia definhar o IHRU, degradando os serviços e o seu escasso parque público. O mesmo círculo vicioso de sempre.

Agora, vem dizer, qual fanático da IL, que os custos sociais do que é na prática uma distopia se devem à intervenção do Estado, de resto sempre necessária para que exista o tão propalado mercado. O truque é simples e está testado há décadas. Só é preciso dinheiro para o repetir as vezes que forem necessárias, até para bloquear reversões e avanços regulatórios que reconheçam a realidade da sociedade, superando esta rematada distopia neoliberal.

João Rodrigues | Ladrões de Bicicletas

Ler em Ladrões de Bicicletas:

Crise de habitação e o mito do excesso de Estado e de regulação

O Expresso publicou, recentemente, uma sondagem com resultados interessantes, que demonstram haver hoje, na opinião pública, uma muito escassa adesão à tese de que existe um excesso de Estado e de regulação do mercado habitacional em Portugal. Uma tese, velha e relha, segundo a qual são esses excessos de intervenção pública no setor que impedem que o mercado funcione, gerando crises de habitação.

Mais no Cravinho que na ferradura: será difícil ao ministro provar que não mentiu

Vítor Matos | jornalista | Expresso (curto)

Bom dia!

O ministro dos Negócios Estrangeiros,  João Gomes Cravinho,  não gostou “nada mesmo de ser acusado de mentir, muito menos de mentir ao Parlamento português”, sobre a derrapagem nas obras para converter o antigo Hospital Militar de Belém em centro para doentes com Covid-19. Ao fim de quatro dias de silêncio,  o antigo ministro da Defesa acabou por reagir ontem à notícia do Expresso desta sexta-feira, a provar que teve conhecimento formal do aumento exponencial dos custos da obra. João Gomes Cravinho garante que não mentiu, mas admitiu saber que a estimativa inicial de €750 mil era insuficiente (no total acabou nuns chorudos €3,2 milhões). Uma coisa não bate certo com a outra e as justificações do ministro ainda lhe dificultam mais a tarefa de provar que falou verdade aos deputados.

Ora, o que disse então o ministro no Parlamento a 20 de dezembro? Depois de conhecida a operação judicial “Tempestade Perfeita”, que fez arguidos três antigos altos quadros da Defesa com responsabilidades naquela obra, Gomes Cravinho disse esta frase: “Se autorizei algum acréscimo de despesa para além dos €750 mil? Não, não autorizei, nem me foi solicitado que autorizasse”. Palavras arriscadas.

E que disse agora? Reconheceu que “houve uma estimativa inicial” para os trabalhos, mas “percebeu-se que [a verba] era insuficiente”. Ou seja, o ministro admitiu que conhecia o aumento da despesa que não travou quando lhe foi enviado o ofício a dizer que o custo crescia para €1,7 milhões: “Não havia razão nenhuma para travar o que quer que seja naquele momento”, justificou Cravinho ontem em Bruxelas.

E porquê? Porque a obra tinha mesmo de ser feita porque faltavam camas para os doentes com covid-19: “Naquele momento era uma prioridade absoluta criar capacidade para receber doentes Covid, e o edifício precisava de ser preparado”. A prioridade era tão absoluta que uma semana antes de arrancarem as obras, o Governo publicou um decreto-lei a criar um “regime excecional de autorização de despesa” que considerava “tacitamente deferidos” ou aprovados os pedidos de autorização financeira não respondidos em 24 horas.

Angola | RECORDAÇÃO DE UMA GOLPADA – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O sonho dos gringos é a extinção dos partidos históricos que protagonizaram as Independências Africanas. Bill Clinton, o abusador sexual de estagiárias, propôs isso ao Presidente José Eduardo dos Santos, na Sala Oval da Casa Branca. Pediu-lhe ajuda para essa missão. Recebeu de troco, um rotundo não. Mas o plano continua de pé. O estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) quer mesmo decapitar as elites políticas africanas para lançar o neocolonialismo em todo o continente, sem resistência. Entre 1974 e 2002 levaram uma tareia militar em Angola. Mas pelos vistos querem mais.

O ministro das Relações Exteriores da Federação Russa, Sergey Lavrov, chegou hoje à África do Sul, para uma visita oficial. À sua chegada estavam cinco brancas e sete brancos com uns papéis na mão repudiando a guerra na Ucrânia. Os Media do “ocidente alargado” falaram em grandes manifestações de protesto! Naquele país não pegou o “efeito Mandela”. O Presidente Zuma corrigiu o que estava mal e o Presidente Ramaphosa segue o mesmo roteiro. 

Angola já esteve na vanguarda da luta anticolonialista no continente africano, quando Agostinho Neto proclamou a resistência popular generalizada, que só terminou com a assinatura do Acordo de Nova Iorque após a famosa “Acta da Derrota” onde os chefes militares e PW Botha reconheceram que foram derrotados no Triângulo do Tumpo, Cuando Cubango.

No dia 28 de Agosto de 1988 o presidente PW Botha, invocando os seus poderes constitucionais, “delegou no Dr. Neil Barnard, Chefe da Inteligência Nacional, para preparar negociações com Nelson Mandela e providenciar a sua libertação”. Isto está escrito na acta da célebre reunião secreta. 

O futuro presidente da África do Sul foi da Cidade do Cabo para Pretória e deu início ao processo de transição. Teve um encontro “muito cordial” com P W Botha que considerou um homem simpático e muito cortês, até lhe serviu chá. Assim nasceu o “efeito Mandela”, para manter a África do Sul, libertada do regime de apartheid, na órbita dos genocidas do “ocidente alargado”. 

Angola está a caminho da “americanização” da política. Nos EUA o poder é disputado entre o Partido Democrata e o Partido Republicano. Assim as coisas ficam mais baratas e mais controláveis. Vários partidos que elegem muitos parlamentares dá confusão e fica caríssimo. Se Angola continua pelo caminho iniciado em Agosto do ano passado, em breve temos as eleições disputadas apenas pelo MPLA e pela UNITA. Todos os outros são reduzidos a nada ou quase nada. Falta definir se o MPLA é o partido democrata e a UNITA o republicano. Para os sicários do Galo Negro tanto faz, se choverem os milhões e os Lexus.

MNE RUSSO CHEGA HOJE A LUANDA PARA ENCONTROS BILATERAIS

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússa, Serguei Lavrov, chega hoje a Luanda, após visita à África do Sul que reforçou a proximidade com Moscovo. A deslocação acontece numa altura em que Angola se aproxima dos EUA.

A chegada de Serguei Lavrov ao Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro está marcada para as 18:05 locais, realizando-se o programa oficial apenas no dia seguinte.

Na quarta-feira (25.01), o chefe da diplomacia russa, acompanhado da sua delegação, vai encontrar-se de manhã com o ministro das Relações Exteriores, Téte António, seguindo depois para uma audiência com o Presidente angolano, João Lourenço.

O ministro russo visita em seguida o Memorial Dr. António Agostinho Neto, bem como o jazigo do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, que morreu em 8 de julho do ano passado.

Lavrov segue logo depois para uma visita guiada ao Museu Nacional de História Militar, antes de passar pela Escola da Embaixada da Federação Russa. O diplomata regressa a Moscovo na quinta-feira (26.01) de manhã.

ANIVERSÁRIO DE LUANDA | A Fortaleza Construída nos Rochedos da Falésia

Artur Queiroz*, Luanda

Luanda, a cidade das fortalezas, tem em São Pedro da Barra uma das fortificações mais singulares. É a única que não foi construída na totalidade pelos portugueses, mas também pelos holandeses, que decidiram construir o forte na falésia. A bateria inferior foi escavada por prisioneiros, à picareta, nos rochedos que se erguem do mar. E lá montaram artilharia suficiente para impedir a entrada de navios hostis aos ocupantes. O local escolhido foi o Morro de Cassandama.

Salvador Correia de Sá e Benevides expulsou os holandeses e a fortaleza foi abandonada. Mas em 1703, o Nobre Senado da Câmara de Luanda, que governava a colónia, por morte do capitão general e governador Bernardo de Távora, resolveu criar uma bateria superior, “a olhar para terra” e mandou fazer as muralhas actuais, de pedra e cal.

Durante quase quatro anos, a metrópole nem sequer se dignou enviar o substituto do defunto Bernardo de Távora. A lei determinava que no impedimento do capitão general e governador nomeado pela metrópole, o Senado da Câmara devia assumir o governo da colónia. E assim foi durante quase quatro anos. As obras de edificação das muralhas de São Pedro da Barra demoraram três anos e foram pagas exclusivamente pela Câmara de Luanda hoje Governo Provincial.

Os documentos da época dão nota que o forte “fica a uma légua da cidade de Loanda” e do lado de terra há duas colinas, no tempo cobertas de cajueiros e excelentes pastagens. Numa das colinas há uma fonte de água sulfurosa, a Fonte de Cassandama. Os jesuítas fizeram a exploração dessas águas termais. Mas só mais tarde, já com a administração portuguesa restaurada, foi construído um canal de telhas de meia cana e tijolos, que transportava a água até às proximidades da esplanada da fortaleza. A bica corria para um grande tanque onde o gado bebia e os camponeses se abasteciam para consumo e para rega das plantações.

Os padres jesuítas construíram ao lado de São Pedro da Barra um hospício que acolhia todos os loucos que vagueavam pelas ruas de Luanda. Muitos eram criminosos condenados ao degredo e que devido aos maus-tratos e à sífilis acabavam por enlouquecer. O hospício e a prisão do forte de São Pedro da Barra também serviram como centros de detenção dos hereges e sobretudo daqueles que atentavam contra os “bons costumes” promovendo a feitiçaria, os chamados xinguilas.

“A porta principal da fortaleza de São Pedro da Barra foi aberta na parede interior do reparo”. E lá foi colocada uma lápide com esta inscrição: “D. Pedro II rei de Portugal e da Etiópia mandou fazer este forte, e o fundou o Nobre Senado da Câmara, governador e capitão general destes reinos. Ano d e1703”.Alápide ignora os holandeses, verdadeiros fundadores da fortaleza, como atestam todos os documentos da época e que o general Francisco Xavier Lopes confirma, no seu relatório produzido em 1846, após uma inspecção aos fortes de Luanda e de Angola.

Angola | PARLAMENTO ACEITA SEGUNDO VICE-PRESIDENTE DA UNITA

Parlamento angolano retoma na sexta-feira (27.01) a eleição da composição da mesa da Assembleia Nacional, seguindo a proposta apresentada há quatro meses pela UNITA, que "exigia" ter o segundo vice-presidente do órgão.

A iniciativa da Assembleia Nacional, proposta pela presidente, Carolina Cerqueira, foi apreciada e aprovada esta segunda-feira (23.01) na conferência dos presidentes dos grupos parlamentares, como deu a conhecer a responsável no final da reunião.

"Na próxima sexta-feira de manhã, vamos ter uma reunião plenária extraordinária para propor a composição da mesa da Assembleia Nacional, retomando a proposta que a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola, maior partido na oposição) tinha feito em setembro aquando da constituição dos órgãos da Assembleia Nacional", afirmou Carolina Cerqueira.

Para a presidente do Parlamento, a proposta da eleição definitiva da mesa do órgão "responde à necessidade" de fortalecer "o papel institucional da Assembleia Nacional com pluralidade e espírito democrático".

"E, sobretudo, com a oportunidade de podermos todos contribuir, os partidos que têm assento nesta magna casa, de uma forma construtiva, apaziguadora, que possa efetivamente contribuir para o reforço da democracia e para o papel institucional que a Assembleia tem vindo a desempenhar", salientou.

Moçambique: RENAMO EXIGE DEMISSÃO DO GOVERNO

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) exige a demissão do Governo pelo que apelidou de fracasso na implementação da Tabela Salarial Única (TSU), acusando o Executivo de "desprezo" pelos funcionários públicos.

O principal partido da oposição pediu a demissão do Governo esta segunda-feira (23.01), acusando-o de desprezar os funcionários públicos.

"Perante esta violação grosseira e sistemática da Constituição da República e das demais leis, que demonstram incompetência absoluta e o desprezo pelos moçambicanos pelo Governo do dia, a RENAMO e o seu presidente exigem a demissão imediata do Governo de Moçambique", afirmou esta segunda-feira (23.01) o presidente do conselho jurisdicional da RENAMO, Saimone Macuiana, falando em conferência de imprensa.

Macuiana considerou "inaceitável e vergonhoso" que o executivo tenha feito aprovar no parlamento a Tabela Salarial Única (TSU) sem um estudo profundo sobre o impacto orçamental, o que está a resultar no falhanço na implementação da nova grelha remuneratória.

A TSU, prosseguiu, fracassou no objetivo de promover a justiça salarial na administração pública, porque não conseguiu reduzir o fosso entre os salários mais altos e os mais baixos.

"A implementação da TSU mostra-se desastrosa, com avanços e recuos, já lá vão mais de sete meses em que os funcionários e agentes do Estado ainda não conhecem ao certo o quantitativo real dos seus salários", avançou Saimone Macuiana.

O fracasso na implementação da TSU atirou os trabalhadores para uma situação de incerteza e instabilidade, degradando a qualidade dos serviços públicos, continuou Macuiana.

Guiné-Bissau | EXTINGUIR FERIADOS “NÃO FAZ SENTIDO”

Iancuba Dansó (Bissau) | Deutsche Welle

Guineenses reprovam decisão do Governo de acabar com vários feriados nacionais, incluindo o dia 23 de janeiro, em que se celebra o início da luta armada pela independência. Jurista diz que decreto é ilegal.

23 de janeiro, dia do Início da Luta Armada para a Libertação Nacional, foi riscado do calendário como feriado. 8 de março, Dia Internacional das Mulheres, e 3 de agosto, Dia dos Trabalhadores Guineenses, também já não são feriados nacionais, de acordo com um decreto governamental publicado na semana passada.

O Executivo justificou o corte com a necessidade de aumentar a "produtividade" devido à "crise financeira e alimentar que tem sacudido o mundo".

Mas muitos cidadãos guineenses não gostaram das mudanças. Alguns recusaram-se a trabalhar esta segunda-feira, em protesto – até porque se assinalam 60 anos desde o início da guerra de independência contra o colonialismo português. Os cidadãos dizem que em datas como estas não se mexe.

"Isso não faz sentido. São datas marcantes da sociedade e não faz sentido eliminá-las" como feriados nacionais, argumentou uma funcionária pública. "Não estou de acordo com essas decisões e nós não vamos aceitar isso, porque está errado", disse outro funcionário público. "Todos os feriados [extintos] têm significados e nós não podemos esquecer as coisas importantes que aconteceram no país", frisou. 

Para além dos bancos comerciais, que funcionaram em pleno, e algumas instituições estatais que mantiveram os serviços a meio-gás, as escolas públicas e privadas estiveram fechadas em todo o país.

A DW contactou o secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG), Júlio Mendonça, mas não foi possível obter uma reação à decisão do Governo.

O Presidente Umaro Sissoco Embaló desvalorizou a polémica: "Não somos comunistas ou marxistas, é a República da Guiné-Bissau, onde o Estado se sobrepõe ao partido", afirmou.

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