terça-feira, 7 de março de 2023

OPERAÇÃO MILITAR ESPECIAL E A PROMESSA DE VLADIMIR PUTIN

Se a Rússia sobreviver, o resto do mundo sobreviverá. Qualquer coisa oposta a isso certamente não é uma opção.

Tatiana Obrenovic | Strategic Culture Foundation  | # Traduzido em português do Brasil

Este artigo é baseado em uma reportagem em vídeo do renomado jornalista sérvio Nikola Vrzic, RT Balkan. Traduzido por Tatiana Obrenovic.

A equipe da BBC chegou a Belgrado, na Sérvia, há algum tempo, para mostrar que os sérvios são diferentes de qualquer outra nação. No entanto, a BBC está usando o padrão definido por Peter Ustinov , o comandante da Ordem do Império Britânico e seu cavaleiro também. Ustinov, aquele cavaleiro daquele império deles, costumava dizer que os sérvios são humanos bidimensionais. “Os animais usam seus próprios recursos de maneira muito mais adequada do que essas criaturas medonhas, cuja pertença à raça humana é extremamente atrasada.”

Porém, ainda há quem se lembre que em janeiro de 1972, Robert De Niro, Milos Forman, Vittorio De Sica e Sergey Bondarchuk e Peter Ustinov com eles, costumavam ser “arrastados” para kafana crawls (1) em Belgrado. Dizem que o aspirante a cavaleiro (ou seja, Peter Ustinov) costumava beber muito como o referido animal, e muito propenso a folia com isso. “No vinho está a verdade” e, portanto, no beber pesado, o caráter de todos inevitavelmente vem à tona. Só depois daquela folia desenfreada em Belgrado Ustinov percebeu que nunca uma questão moral havia sido tão clara e que qualquer acordo com aqueles 'assaltantes' (ou seja, com os sérvios) seria contra os sentimentos de honra, decência e auto-respeito.

Em linha com isso, a BBC não poderia deixar de começar um documentário sobre um país que apóia a “invasão” russa da Ucrânia com sons sinistros de violino (2) e com os caras com capuzes na cabeça ao entardecer bem ao lado de o grafite com os símbolos da OTAN e da UE riscados. Coisas estranhas estão acontecendo na Sérvia: uma sombra pairando sobre ela – o narrador percebe com um tom conspiratório de sua voz e assim por diante nesse tom o tempo todo, embora os criadores deste documentário tenham sido um pouco mais honestos do que os anteriores. Mas tinha que haver uma menção à “propaganda russa” sendo espalhada (na Sérvia) porque “deve estar lá”, completa com o outdoor da RT Balkans (eles nos criticam, hein?) , enquanto a câmera dá zoom em uma camiseta com a imagem de Vladimir Putin.

Eles não conseguem entender que na Sérvia, o símbolo da OTAN é o símbolo da guerra, enquanto Putin pode ser algo completamente oposto. Um símbolo de vitória e rebelião que resulta dessa rebelião dele, que deve ser nossa também porque temos que nos levantar contra eles (NATO), em vez de ceder à pressão deles na subjugação, e um símbolo de paz que se seguirá à nossa vitória. Caso contrário, não seremos mais. Eles não conseguem entender isso. Este é um caso comum de sua arrogante falta de inteligência britânica.

Não só por isso, mas porque eles são capazes de pensar que devemos agir de outra forma diferente disso. As mesmas pessoas que nos bombardearam junto com os alemães e as mesmas pessoas que estão nos roubando nossa terra (ou seja, Kosovo e Metohija) e que querem nos declarar uma nação genocida. Como diabos eles podem ficar pasmos com o fato de que não estamos com eles e contra aqueles (ou seja, os russos) que nunca fizeram nada da lista (ou seja, as brutalidades mencionadas acima) para nós. Muito pelo contrário, na verdade.

CHOMSKY EM BUSCA DA PAZ NA UCRÂNIA -- entrevista

Putin entrou em cilada armada pelos EUA, diz o grande pensador — e agora Washingnton quer prolongar a guerra ao máximo, para anular a Rússia. Riscos de conflagração global crescem e é preciso que ressurja movimento pacifista

Noam Chomsky em entrevista a Anne Guion, no La Vie, com tradução no IHU* – em Outras Palavras | # Publicado em português do Brasil

Aos 94 anos, o famoso pensador estadunidense analisa com rara lucidez as questões políticas, de segurança e ecológicas do conflito na Ucrânia. Uma aula coletiva de geopolítica sem jargões nem demagogias.

Ele é um dos maiores intelectuais do mundo. Um dos poucos cujo nome está indissoluvelmente associado à sua disciplina, a linguística, da qual é uma figura de destaque. Mas ele é mais conhecido por seu compromisso político. Nascido em 1928 na Filadélfia, no seio de uma família de imigrantes judeus, de pai de origem ucraniana e mãe belarussa, Noam Chomsky é também um ativista, “anarquista socialista”, como ele mesmo se descreve. À esquerda da esquerda americana.

Ícone em seu país, admirado nos países do Sul, surpreendentemente menos conhecido na França, ele é um grande crítico da política externa estadunidense. Já em 1967, ele se opôs à Guerra do Vietnã com a publicação do artigo “As responsabilidades dos intelectuais”, onde se dedicou a revelar as fontes ocultas da política externa das grandes potências. Ele também denuncia as intervenções de seu país na América Latina e no Oriente Médio.

Assim como o grande filósofo alemão Jürgen Habermas, 93 anos, que escreveu uma coluna em 22 de fevereiro de 2023, Noam Chomsky, 94 anos, pede a abertura urgente de negociações para acabar com a guerra na Ucrânia, para acabar com o massacre e evitar uma conflagração geral. E, acima de tudo, permitir que o mundo finalmente se concentre na extraordinária crise climática que deve enfrentar. Antes que seja tarde demais.

De barba branca, sentado em frente a uma enorme biblioteca, Noam Chomsky responde às perguntas de La Vie de sua casa no Arizona, Estados Unidos. Animado e determinado, sempre com a mesma radicalidade.

EIS A PROVA DE COMO ESPECIALISTAS UCRANIANOS ENTENDEM MAL O SUL GLOBAL

Lesia Dubenko, do Politico, provou como os especialistas ucranianos entendem mal o Sul Global

Isso reflete extremamente mal do lado de Lesia Dubenko que ela espera que aumentar a consciencialização do Sul Global sobre as consequências ambientais da operação especial da Rússia consiga convencer os países em desenvolvimento a abandonar Moscou.

Andrew Korybko* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

O artigo de estreia da cientista política ucraniana Lesia Dubenko para o Politico provou como os especialistas de seu país entendem mal o Sul Global. Em seu último artigo explicando como “Para punir Putin, o Ocidente deve conversar com o Sul Global como parceiros”, ela propõe aumentar a consciencialização sobre as supostas consequências ambientais da operação especial da Rússia na Ucrânia em parceria com embaixadas ocidentais. Isso, espera Dubenko, ajudará a garantir o apoio dos países em desenvolvimento para um “tribunal especial” contra a Rússia.

É constrangedor que o Politico não tenha se recusado a publicar seu artigo na tentativa de proteger a falsa percepção que hoje é popular no Ocidente, alegando que “os ucranianos sabem como vencer a Rússia em qualquer coisa melhor do que ninguém”. Essa narrativa foi agressivamente divulgada nas mídias sociais ao longo do ano passado por trolls da “NAFO” apoiados pela SBU e até mesmo autoridades americanas como Arthur Paul Massaro, da Comissão de Helsinque, que foi pego em um escândalo no mês passado por ter abraçado descaradamente o fascismo.

Talvez devido à pressão “politicamente correta” sobre eles para publicar qualquer proposta de ucranianos como Dubenko, a fim de evitar acusações de suposto “viés pró-russo”, o Politico tomou a decisão imprudente de liberar seu artigo às custas da falsa opinião dos ucranianos. reputação. Uma coisa é distorcer os eventos do ano passado de forma a argumentar que “os europeus deveriam ter ouvido os ucranianos sobre a Rússia” e outra é promover tudo o que eles propõem sobre o Sul Global.

As percepções ocidentais são muito mais fáceis de manipular devido ao domínio da mídia dominante naquele bloco de fato da Nova Guerra Fria, mas as percepções das pessoas do resto do mundo são muito mais difíceis de manipular, pois essas plataformas de propaganda têm concorrentes locais poderosos. Isso ajuda a neutralizar o efeito das narrativas de guerra de informação armada do Ocidente, o que explica por que a maior parte do Sul Global apóia a Rússia.

MEMÓRIA E LINGUAGEM DOS JORNALISTAS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Memória todos temos e não é comprada nas grandes superfícies dos oligarcas do “ocidente alargado”. Pertence-nos de nascença e o manual de instruções tem apenas uma palavra: Usar! É a única ferramenta que faz falta aos jornalistas. Todos escrevemos de memória. Mas o grosso da manada não a usa nem quer usar. Recebem recados que depois transmitem acefalamente. Distraem, manipulam, falsificam. Lá se foi o Jornalismo que herdámos desde as mensagens rupestres e das Tábuas Brancas do império Romano.

O ministro russo das relações exteriores, Sergey Lavrov, esteve na África do Sul e numa conferência de Imprensa disse isto: “Apoiamos activamente o interesse dos países africanos em serem representados no G20 através da União Africana.  Vamos bater-nos por isso”. Cumpriu, juntamente com a Índia, China, Brasil e a própria África do Sul que, pela voz do Presidente Cyril Ramaphosa, apresentou a proposta ao plenário. 

A partir da Cimeira da Índia, a União Africana faz parte do G20 e com o mesmo estatuto da União Europeia. Esta decisão importantíssima foi ignorada. Os Media do “ocidente alargado” ousaram noticiar que a reunião deu nada! Nem sequer puxaram a memória atrás, citando a conferência de Lavrov na África do Sul. Assim matam o Jornalismo e destroem criminosamente a liberdade de imprensa, substituindo-a por omissões, mentiras e manipulações. 

A gramática dos jornalistas é muito simples. Nasceu com a Rádio e desde então continua aberta a novos contributos. Regra básica e suficiente: As mensagens informativas nos Media são compostas numa linguagem directa, substantiva e afirmativa, tendencialmente imperativa. Afirmamos de forma a eliminar todos os caminhos que vão dar à dúvida. A palavra “não” é proibida. Excepto se qualificar o sujeito. Adjectivos são proibidos. Os tempos verbais futuro e condicional são proibidos. Só podemos usar os verbos no indicativo. Tudo muito simples e acessível a todos.

Hoje uma desgraçada que é estrela da RTP, canal público português, entrou em directo no noticiário das 13 horas a partir de Kiev para falar do que estava a acontecer em Bakhmut, a 700 quilómetros! Começou assim: “Parece que está a acontecer…” Esta faltou às aulas quando ensinaram que a linguagem jornalística é directa, substantiva e afirmativa. 

Angola | JUSTIÇA PREMEDITADA E O EMBAIXADOR AVARIADO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

George Junius Stinney Júnior era um menino de 14 anos, negro, magrinho devido à fome. Vivia nos subúrbios de uma pequena cidade da Carolina do Sul. Duas meninas brancas andavam a passear de bicicleta e pararam em frente ao tugúrio onde vivia o adolescente com a família. Queriam saber se existiam na zona “flores da paixão”. E ele foi mostrar um campo à beira do rio com muitas. Depois voltou para casa.

As duas meninas desapareceram e no dia seguinte a polícia foi procurar as desaparecidas. Encontraram-nas num charco de lama com a cabeça desfeita e a seu lado uma barra de ferro que pesava dez quilos. George Junius foi preso, agredido, torturado, isolado numa cela e quase morto confessou que tinha assassinado as duas meninas. Como era negro e pobre foi condenado à morte. O seu advogado disse aos membros do júri, todos brancos: Um adolescente de 14 anos, magrinho, não pode pegar numa barra de ferro, com dez quilos, e golpear a cabeça das vítimas. Em 16 de Junho de 1944 foi executado. 

Em 2014, a sentença foi anulada. Um Tribunal concluiu que a condenação do menino com 14 anos foi motivada por racismo. O desfecho do caso impressionou-me e decidi procurar notícias da época na Imprensa Local. Um festim. Assassino, negro desumano, monstro, diabólico foram adjectivos usados pelos jornalistas para condenarem na praça pública aquele que em 2014 foi considerado inocente. Provavelmente, os autores destes crimes por abuso da liberdade de imprensa já tinha morrido quando foi feita Justiça a George Junius. Mas a mancha ficou. Também devia ficar o exemplo mas não acredito.

O papel dos jornalistas não é passivo e muito menos neutro. Cada jornalista é uma mulher ou um homem com ideologia, com escolhas, com partidos, com causas e com sentimentos. A imparcialidade e o rigor não são valores que matem a personalidade dos profissionais do jornalismo. Pelo contrário, são tanto mais fortes quanto mais os jornalistas estejam conscientes dos valores e princípios que defendem. 

Os jornalistas (antes do assassinato do Jornalismo em directo na Ucrânia) perante os acontecimentos recolhem os fragmentos essenciais para construir uma mensagem informativa rigorosa, objectiva e imparcial. Não fabricam acontecimentos nem manipulam os factos, como estão a fazer com a ex-Presidente do Tribunal de Contas e fizeram antes com outros e outras, destruindo as suas vidas como foi destruída a vida de George Junius.

Não há no jornalismo seres assexuados, que não são carne nem peixe. Os jornalistas são mulheres e homens que prezam a sua condição humana e a sua forma de estar na vida. Falo de jornalistas, não de criados às ordens, vendedores de notícias, profissionais da chantagem e extorsão, falsificadores, manipuladores, seres abjectos que vendem a honra e a dignidade por pouco ou nada.

Angola | DOMINGAS ALEXANDRA ASSUME PRESIDÊNCIA INTERINA DO TC

Conselho da Magistratura Judicial aceitou pedido de renúncia da antiga presidente do Tribunal de Contas Exalgina Gambôa, acusada de peculato, extorsão e corrupção.

A vice-presidente do Tribunal de Contas, Domingas Alexandre, vai assumir a presidência daquele tribunal superior, depois de aceite pelo Conselho da Magistratura Judicial (CSMJ) o pedido de renúncia do cargo, da antiga presidente, Exalgina Gambôa.

A informação avançada à imprensa pelo porta-voz do CSMJ, Correia Bartolomeu, dá conta que aquele órgão judicial apreciou o pedido de renúncia apresentado por Exalgina Gambôa e "deliberou em aceitar este pedido de renúncia, quer do cargo de juíza presidente quer da função de conselheira do Tribunal de Contas".

"Subsidiariamente apreciou também a informação vertida numa das informações que o plenário do Tribunal de Contas enviou ao conselho, dando nota de que a veneranda juíza vice-presidente do Tribunal de Contas passa efetivamente por força da lei a exercer a função interinamente de juíza conselheira presidente do Tribunal de Contas", disse.

presidente demissionária do Tribunal de Contas (TdC), Exalgina Gambôa, apresentou demissão na quarta-feira passada ao Presidente da República, João Lourenço, com conhecimento ao Conselho Superior da Magistratura Judicial, um dia após ser constituída arguida por crimes de extorsão, peculato e corrupção, num processo onde consta também o seu filho Hailé Vicente da Cruz, igualmente arguido.

Na segunda-feira passada, João Lourenço anunciou que convidou Exalgina Gambôa a renunciar ao cargo em 21 de fevereiro, devido a várias "ocorrências" que a envolviam, mas a juíza só se demitiu dois dias depois, após ter pedido jubilação antecipada e ter sido constituída arguida.

Um novo concurso deverá ser aberto nos próximos 60 dias para o preenchimento da vacatura no Tribunal de Contas.

Deutsche Welle | Lusa

Portugal | QUEM ESTÁ A FICAR COM O NOSSO DINHEIRO?

Daniel Oliveira* | TSF | opinião

O que explica o encarecimento do custo de vida? Pode apontar-se os abusos "aqui e ali" dos supermercados, onde o preço de muitos produtos disparou muito acima de 20% de inflação; podem culpar-se os "impostos, como dizem sempre alguns, seja qual for o assunto", mas "Espanha pôs o IVA a 0% para bens essenciais e uns ficaram ao mesmo preço, outros ainda subiram mais".

Para Daniel Oliveira, "quando aumenta é generalizado e sempre muito acima da inflação geral não é possível que as explicações sejam tão variadas". Certo é que "o dinheiro foi parar ao bolso de alguém, mas não foi ao dos consumidores."

No seu espaço de opinião semanal na antena da TSF, Daniel Oliveira assume que os custos de produção e distribuição aumentaram, mas questiona porque é que esse aumento está a ser transferido integralmente para os consumidores.

"Como se explica que as grandes superfícies, as energéticas ou a banca tenham simpáticas margens de lucro? Não seria normal que lhes acontecesse o que acontece a outras empresas, que assumem uma parte desses custos, reduzindo as suas margens ou pelo menos mantendo essas margens estáveis?", questiona.

A resposta, afirma o jornalista, foi reconhecida pelo Banco Central Europeu, que descobriu, "seguramente sem espanto, que o aumento das margens de lucros tem um peso relevante na inflação" e "que o aumento dos custos, em vez de contrair essas margens, as dilatou".

"Não apenas esse aumento de custos está a ser exclusivamente refletido nos consumidores finais, como ainda pagamos por cima o aumento dos lucros", aponta Daniel Oliveira. E "o que pode o aumento das taxas de juro contra isto? rigorosamente nada".

O que acaba por acontecer em Portugal, é que "com os mais pobres a serem esmagados pela inflação descontrolada dos produtos alimentares e a classe média a ser esmifrada com o aumento das taxas de juro, enquanto os lucros das distribuidoras e da banca disparam, assistimos a uma transferência de dinheiro de baixo para cima".

O CANSAÇO GERA A PERSONIFICAÇÃO DA INCOMPETÊNCIA*

O ESTRABISMO DE ANTÓNIO COSTA

Henrique Monteiro, em 08.10.15

* Título PG

Portugal | TAP É CASO ENCERRADO, AS INDEMNIZAÇÕES VÊM JÁ A SEGUIR

Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião

Quem ontem escutasse Medina e Galamba podia jurar que nada do que aconteceu na TAP tem mão do governo de António Costa, que ambos servem. O novo CEO, Luís Rodrigues, "é um português com muita experiência, que até já esteve na administração da companhia", descrevia o novo ministro das Infraestruturas, como se não tivessem sido os seus camaradas Pedro Nuno Santos e António Costa a escolher os destinos da transportadora. Como se a opção por uma CEO estrangeira, através de um head hunter americano, não tivesse sido tomada pelo governo socialista como sinal de desprendimento - ainda que os mais cínicos digam que o governo não encontraria em Portugal quem lhe desfizesse a TAP em TAPzinha e desse a cara pelo despedimento de milhares de trabalhadores. Como se o empurrão dado a Miguel Frasquilho, pondo no seu lugar Manuel Beja a representar o acionista Estado, em 2021, não tivesse sido vontade do próprio António Costa.

"Notem que fizemos tudo com rapidez e transparência", sublinhava ontem Fernando Medina, feliz porque o caso que rebentou quando chamou Alexandra Reis ao seu gabinete, como secretária de Estado, está resolvido com a saída de um ministro, dois secretários de Estado, CEO e chairman da companhia, ao longo de três meses. Ainda que o tema não seja quanto Alexandra Reis recebeu porque foi forçada a sair, mas antes que o governo, o governo de António Costa, tenha firmado contratos nestes termos com os administradores da TAP. E se o primeiro-ministro ignorava o que Pedro Nuno Santos fazia, e é grave, ou tinha conhecimento, e é ainda mais incrível.

Para o PS, a tempestade passou e a maior prova disso é a insistência para ouvir em comissão de inquérito quem assinou a privatização. Não quem gastou milhões de euros dos cofres públicos para recuperar a transportadora para a esfera do Estado, sem racional que não o preconceito ideológico, para dois anos depois confessar a via da privatização como única saída. Não quem injetou, numa dúzia de meses, milhares de milhões na companhia, para cumprir os objetivos de reestruturação, contratando uma CEO por meio milhão de euros/ano, acrescidos de outro tanto em bónus caso cumprisse a missão para a qual fora contratada. Não quem renacionalizou a companhia travando o seu crescimento com investimento privado e substituindo-o por despedimentos em massa, corte de salários e rotas, enquanto se tentava comprar frotas de BMW e contratava empresas externas para assegurar o serviço que a anorética TAP já não consegue fazer.

Alexandra Reis, que já não estava na TAP e nem chegou a aquecer a cadeira no governo, vai agora ter de devolver a indemnização recebida - ainda que pudesse contestar o parecer da IGF, decidiu não o fazer. Ao contrário do que certamente fará a CEO, a quem foi retirada a cadeira e o tapete na reta final da reestruturação para a qual foi mandatada.

Venha o meio milhão, que nos vai dar jeito para pagar, além dos bónus que ontem Medina tentou por todos os meios fazer esquecer que são devidos a Christine Ourmières-Widener (os media apontavam para 2 milhões), a indemnização por despedimento irregular. Alegar "justa causa" é muito discutível quando a CEO cumpriu a parte mais dura da reestruturação para a qual foi mandatada e até negociou um acordo mais benéfico para a TAP na saída de Alexandra Reis.

PASSO A PASSO, PASSOS. MASOQUISTAS VÃO VOLTAR A CAIR NA RATOEIRA PASSOS

Portugal dos Pequeninos

Legítimas indignações

Pedro Lima, editor-adjunto de economia

Bom dia,

Antes de começar, deixamos-lhe um convite: junte-se à Conversa com João Vieira Pereira, David Dinis e Vítor Matos sobre o futuro político de Pedro Passos Coelho e a situação do PSD. É já na quarta-feira, às 14h00, e basta inscrever-se aqui: https://us06web.zoom.us/webinar/register/3616777695563/WN_yOaPnKEjR-qUenfYKjrAbA. Esta é uma iniciativa reservada a assinantes do Expresso.

A TAP continua no topo da atualidade após ontem ter sido conhecido o relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) sobre a indemnização paga a Alexandra Reis. As consequências foram pesadas: não só a ex-administradora da TAP vai ter de devolver 450 mil euros como foram demitidos, com justa causa, os presidentes do conselho de administração e da comissão executiva da companhia aérea, respetivamente Manuel Beja e Christine Ourmières-Widener. Serão substituídos por Luís Rodrigues, que acumulará os dois cargos e que deixa o cargo de presidente executivo da companhia aérea açoriana SATA. Os dois arriscam o pagamento de multas, mas os ministros envolvidos foram excluídos de responsabilidades financeiras.

O Governo decidiu também enviar o relatório da IGF ao Tribunal de Contas para o apuramento de eventuais responsabilidades financeiras por parte dos gestores da empresa e por isso este caso deverá continuar a dar que falar, até porque se aproxima a comissão parlamentar de inquérito. Os partidos da oposição não demoraram a criticar fortemente o Governo por ter permitido que se chegasse onde se chegou. Apesar de à custa disto já terem caído um ministro, dois secretários de Estado, a presidente executiva e o presidente do conselho de administração da TAP, as miras continuam apontadas a Fernando Medina mas o ministro das Finanças continua a rejeitar responsabilidades.

Este foi um caso que provocou “legítima indignação” nos portugueses, disse o ministro das Finanças ao anunciar as decisões que pretendem recuperar a confiança do país na TAP. Fernando Medina quer um “novo ciclo na vida da empresa”, que mantenha a estabilidade e não atrapalhe a privatização de parte do capital que se pretende que ocorra em breve e que recupere algum do dinheiro perdido na empresa. A questão é que esta “legítima indignação” junta-se a outras “legítimas indignações” recentes e deixa a dúvida no ar sobre se não teremos outros casos idênticos noutras empresas e noutras entidades na órbita do Estado.

Entretanto Alexandra Reis, embora discorde da interpretação da IGF, anunciou que vai devolver a indemnizaçãoJá Christine Ourmières-Widener diz que foi discriminada, desresponsabiliza-se de erros jurídicos e deixa em aberto a hipótese de recorrer à justiça para contestar as conclusões.

Para compreender melhor as conclusões a que chegou a IGF pode ler o artigo “Quem, como, quando e quanto: as respostas a estas perguntas revelaram problemas na indemnização da TAP a Alexandra Reis”.

MINISTRO CHINÊS ALERTA PARA POTENCIAL CONFLITO COM OS EUA

Ministro das Relações Exteriores da China alerta para potencial conflito com os EUA e elogia relações com a Rússia

Em uma primeira coletiva de imprensa belicosa, Qin Gang repreendeu Washington por sua política de Taiwan e pelo incidente do balão, enquanto elogiava o relacionamento de Pequim com a Rússia.

Helen Davidson em Taipé | The Guardian | # Traduzido em português do Brasil

Os EUA e a China estão caminhando para um conflito inevitável se Washington não mudar sua abordagem, disse o novo ministro das Relações Exteriores da China em uma coletiva de imprensa na qual defendeu o fortalecimento das relações de seu país com a Rússia .

Em sua primeira aparição na mídia como ministro das Relações Exteriores, realizada na terça-feira à margem da reunião política das “duas sessões” , Qin Gang delineou a agenda de política externa da China para os próximos anos, apresentando a China e seu relacionamento com a Rússia como um farol de força e estabilidade , e os EUA e seus aliados como fonte de tensão e conflito.

Qin disse que o lado dos EUA alegou que queria superar a China , mas não buscou conflito “mas, na realidade, a chamada competição do lado dos EUA é contenção e supressão total, um jogo de soma zero onde você morre e eu vivo.

“Se os EUA não pisarem no freio, mas continuarem acelerando no caminho errado, nenhuma proteção poderá impedir o descarrilamento, e certamente haverá conflito e confronto.”

Qin defendeu a estreita amizade entre a China e a Rússia, uma relação observada de perto pelo Ocidente à luz da guerra na Ucrânia . Ele disse que os laços entre Pequim e Moscou “dá um exemplo para as relações exteriores globais”.

“Com a China e a Rússia trabalhando juntas, o mundo terá uma força motriz”, disse ele. “Quanto mais instável o mundo se torna, mais imperativo é para a China e a Rússia avançarem constantemente em suas relações.”

AGITAÇÃO SOCIAL E GREVES IMPARAVEIS EM FRANÇA PARALISAM O PAÍS

A França perante uma grande perturbação quando os trabalhadores dos transportes começam a fazer greves

Angelique Chrisafis em Paris | The Guardian | # Traduzido em português do Brasil

Os serviços rodoviários, ferroviários e aéreos serão todos afetados em protesto contra os planos de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos

A França está enfrentando protestos de rua e grandes transtornos na terça-feira, quando os trabalhadores do transporte e o pessoal da refinaria começaram a greve devido ao plano de Emmanuel Macron de aumentara idade de aposentadoria para 64 anos.

Pela sexta vez desde o início do ano, os sindicatos convocam um dia nacional de greves e manifestações, com o objetivo de repetir o grande comparecimento do primeiro grande protesto, em 19 de janeiro, quando mais de um milhão de pessoas marcharam contra as mudanças nas aposentadorias .

Espera-se que a interrupção seja maior e dure mais, pois os sindicatos ferroviários convocaram greves contínuas e indefinidas, que podem afetar todos os trens nacionais, bem como as rotas internacionais, incluindo o Eurostar.

Ônibus urbanos locais e trens do metrô nas grandes cidades também serão afetados. As companhias aéreas serão atingidas, com até 30% dos voos cancelados na terça e quarta-feira devido à greve dos controladores de tráfego aéreo. Os transportadores rodoviários podem desacelerar e bloquear rotas para as principais cidades. É provável que as entregas a supermercados e empresas sejam interrompidas.

“A ideia é paralisar a França”, disse Fabrice Michaud, do ramo ferroviário do sindicato CGT.

EUA | O preço da greve que podia ter sido e do desastre que foi – António Santos

António Santos*

Nos EUA, que se arrogam o direito de impor a sua “democracia” ao mundo, os meios de luta dos trabalhadores são precários ou inexistentes e, se a classe dominante achar necessário, são proibidos e reprimidos. Os trabalhadores ferroviários decidiram fazer greve em defesa não só dos seus direitos e condições de trabalho mas também reclamando medidas de salvaguarda da segurança de uma infraestrutura em acelerada degradação. O Congresso proibiu a greve. Passados dois meses, a vida mostrou a razão dos trabalhadores: o descarrilamento de um comboio de mercadorias carregado de matérias tóxicos provocou uma autêntica catástrofe ambiental. E depois desse já sucederam outros.

Vinte dias volvidos desde o descarrilamento de um comboio carregado de materiais perigosos em East Palestine, no Ohio, EUA, começamos a saber quanto custou evitar uma greve.

No início de Dezembro, os trabalhadores ferroviários estado-unidenses decidiram fazer greve. Denunciavam uma perigosa falta de trabalhadores, horários desumanos, desinvestimento público na infra-estrutura e na segurança. A paralisação não chegou a acontecer: numa didáctica demonstração de consciência de classe, o Congresso esqueceu diferenças partidárias e proibiu a greve. Exactamente dois meses depois, descarrilava um comboio de 150 carruagens derramando no solo do Midwest mais de 18 000 toneladas de químicos perigosos, um cocktail de cloreto de vinil, acrilato de butilo, 2-etoxietanol; butoxietanol; benzeno e isobutileno.

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