quarta-feira, 8 de março de 2023

Nord Stream | Ataque do "grupo pró-ucraniano" - notas à margem da matriz narrativa

A última reportagem do New York Times sobre o bombardeio do oleoduto Nord Stream é outra coisa. De acordo com fontes anônimas do governo dos EUA do NYT, os oleodutos foram explodidos por um "grupo pró-ucraniano" que não tinha conexões conhecidas com nenhuma agência militar ou de inteligência, mas de alguma forma tinha todas as informações, habilidades, equipamentos de mergulho e explosivos militares necessários para transportar tal ataque.

Caitlin Johnstone* | Substack | # Traduzido em português do Brasil

É realmente um insulto o quão estúpido é. Parece uma criança pequena mentindo sobre quem quebrou a lâmpada na sala de estar; "Uhh, algum bandido entrou e quebrou, então ele saiu. Ele estava vestindo uma capa preta e tinha um bigode retorcido." Pelo menos nos respeite o suficiente para inventar uma mentira melhor do que "Sim, acontece que eram apenas algumas pessoas aleatórias com um barco, cara! É uma loucura, eu sei!"

Eles literalmente escreveram um artigo inteiro sem nunca abordar o quão bizarro é apenas continuar se referindo aos supostos perpetradores como apenas um "grupo". Como se isso fosse uma coisa. "Sim, você sabe, um daqueles Grupos de que todos ouvimos falar nas notícias. Você conhece os Grupos, eles navegam ao redor do mundo destruindo a infraestrutura internacional de energia submarina."

Imagine ter que contar essa história no estilo Scooby Doo sobre um iate de criadores de travessuras amantes da Ucrânia que pregaram peças no suprimento de energia da Europa como se fosse real. Tipo, "Ah, vamos lá, quem de nós não pegou um barco cheio de explosivos militares para explodir oleodutos internacionais para se divertir com seus amigos?"

Nord Stream. "Não tenho medo da verdade, mas falamos de especulações" -- Borrell

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, reagiu às informação de que um grupo pró-ucraniano pode ser responsável pela sabotagem dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, que aconteceu em setembro passado.

O Alto-Representante da União para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança avisou, esta quarta-feira, que não se devem tirar conclusões precipitadas em relação à sabotagem dos gasodutos Nord Stream 1 e 2, depois de o New York Times ter avançado, com base em informações dos serviços secretos norte-americanos, que “um grupo pró-ucraniano” pode ser o responsável por esta.

"Não tenho medo da verdade. Qualquer que seja. Mas estamos a falar de especulações", afirmou Josep Borrell em declarações aos jornalistas depois de uma reunião com os ministros da Defesa europeus em Estocolmo, na Suécia.

O responsável pela diplomacia europeia lembrou ainda que as investigações no que diz respeito a esta questão ainda estavam a decorrer, e a ser levadas a cabo pela Suécia, Dinamarca e Alemanha.

"Enquanto as investigações estão a decorrer, não podemos tirar conclusões definitivas. Tenho de esperar que haja uma compreensão do que veio a acontecer", atirou.

Também o responsável pela pasta da Defesa Suécia apoiou esta ideia. "Enquanto a investigação estiver a decorrer, não quero tirar conclusões precipitadas em relação aos [alegados] responsáveis. Quero esperar pelas conclusões", rematou Pal Jonson. 

A situação em concreto refere-se às avarias nos gasodutos anunciadas durante o mês de setembro pelo grupo russo Gazprom. O gasoduto esteve parado para a reparação de uma turbina, após a Gazprom ter indicado “fugas de óleo” durante uma operação de manutenção. 

O conflito entre a Ucrânia e a Rússia começou com o objetivo, segundo Vladimir Putin, de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia. A operação foi condenada pela generalidade da comunidade internacional.

A Organização das Nações Unidas confirmou que mais de oito mil civis morreram e cerca de 13 mil ficaram feridos na guerra, sublinhando que os números reais serão muito superiores e só poderão ser conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combate. 

Notícias ao Minuto | Imagem: © Reuters

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Pró-ucranianos atacarem Nord Stream? "Teorias da conspiração divertidas"

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NATO admite que Bakhmut poderá cair nos próximos dias para os russos

Depois de referir-se à situação em Bakhmut o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg declarou sobre a sabotagem  no Nord Stream:

Os jornalistas presentes em Estocolmo, onde decorre a reunião ministerial, insistiram em questionar Stoltenberg sobre a notícia de terça-feira do diário norte-americano The New York Times sobre um relatório preliminar que sugere que a sabotagem do gasoduto Nord Stream 2, em setembro de 2022, foi feita por uma organização pró-ucraniana.

Sobre isto, o secretário-geral da NATO repetiu o mesmo que disse na terça-feira, quando foi confrontado com a notícia depois de um encontro com o primeiro-ministro da Suécia, Ulf Kristersson.

Segundo Jens Stoltenberg é necessário aguardar pelo fim das investigações ao incidente e é igualmente importante reforçar as infraestruturas críticas europeias.

New York Times diz que grupo pró-ucrânia, mas não a Ucrânia, explodiu oleodutos

O jornal citou “funcionários americanos” não identificados que se recusaram a falar sobre a “inteligência” que culpa um grupo pró-Ucrânia não ligado a Kiev e que convenientemente aponta a história para longe de um possível envolvimento dos EUA, relata Joe Lauria.

Joe Lauria | especial para Consortium News | # Traduzido em português do Brasil

Um sombrio “grupo pró-Ucrânia” que não tinha laços com o governo ucraniano explodiu os oleodutos Nord Stream em setembro passado, informou o The New York Times na terça-feira, citando “funcionários americanos” anônimos que o chamaram de “a primeira pista significativa conhecida sobre quem foi o responsável pelo ataque.

O segundo parágrafo da história de 2.039 palavras evita a culpa do governo ucraniano, que foi retratado na mídia ocidental como digno de apoio incondicional como vítima de um ataque russo “não provocado”. 

“As autoridades americanas disseram que não tinham evidências de que o presidente Volodymyr Zelensky da Ucrânia ou seus principais assessores estivessem envolvidos na operação, ou que os perpetradores estivessem agindo sob a direção de qualquer funcionário do governo ucraniano”, disse o Times .

“O governo ucraniano e oficiais da inteligência militar dizem que não tiveram nenhum papel no ataque e não sabem quem o executou”, diz o Times . Mas acrescentou que “a Ucrânia e seus aliados foram vistos por algumas autoridades como tendo o motivo potencial mais lógico para atacar os oleodutos”. 

O relatório diz que qualquer sugestão de envolvimento ucraniano direto ou indireto pode azedar “apoio entre um público alemão que engoliu os altos preços da energia em nome da solidariedade” com a Ucrânia.

A CENTELHA DA LUTA SOCIAL INCENDEIA EM FRANÇA

Quarta greve geral em dois meses paralisa país, em defesa da Previdência pública. Governo insiste em “reforma” neoliberal rechaçada pela maioria. Mais de 93% dos trabalhadores apoiam movimento – que agora pode tornar-se mais radical

Jon Bernat Zubiri Rey e Régis Arriet  para El Salto Diario | Outras Pakavras | Tradução: Maurício Ayer | # Publicado em português do Brasil

Como já é habitual, um forte movimento social se espalha pela França, liderado pelas organizações sindicais que há um mês e meio se opõem à reforma previdenciária do presidente Emmanuel Macron e de sua primeira-ministra Élizabeth Borne. Tendo construído uma unidade excepcional no fragmentado cenário sindical francês – com oito organizações de representatividade nacional – os quatro dias de ação que aconteceram desde 19 de janeiro levaram a greves no setor público e em muitas empresas privadas.

Os protestos de janeiro reuniram as maiores manifestações do país em décadas, notadamente no dia 31 de janeiro, quando os sindicatos disseram ter mobilizado 2,8 milhões de manifestantes, 1,3 milhão segundo a polícia. No dia 7 de março, voltam a medir forças em nova jornada de greve geral, convocatória de caráter renovável ao menos nos setores de energia e de transporte ferroviário, que pode estender o movimento social por várias semanas, aguardando as centenas de assembleias que serão realizadas durante o dia de mobilização e que votarão para decidir sobre continuidade da greve.

Atraso na idade de aposentadoria

Com esta contra-reforma do sistema de pensões, o governo macronista pretende aumentar a idade mínima de aposentadoria de 62 para 64 anos e também aumentar de 42 para 43 o número de anos trabalhados necessários para se aposentar, aprofundando as reformas de 2010 e, também, a campanha de 2013 da ministra “socialista” Marisol Touraine, que apoiou o liberal Emmanuel Macron em sua campanha. Para as pessoas que não tenham um número suficiente de anos trabalhados, o limite de idade de aposentadoria continuaria sendo 67 anos.

O objetivo comum de todas as organizações sindicais, mesmo as mais moderadas como a CFDT (Confederação Francesa Democrática do Trabalho), é a retirada desta reforma ou, pelo menos, a exclusão do atraso de 62 para 64 anos como idade mínima para se aposentar. O conflito se cristalizou em torno dessa medida que Borne descreveu como “não mais negociável”. O programa presidencial de Emmanuel Macron pretendia chegar a 65 anos, mas foi reduzido para 64 no projeto de lei para satisfazer os deputados ruralistas de direita.

Esse “movimento social”, como é conhecida na França a dinâmica sustentada da greve geral, está inserido em um longo ciclo de luta. Primeiro, o movimento contra a lei trabalhista de 2016, quando as manifestações foram abertas por enormes “colunas de cabeça” e black blocs organizados pelo movimento autônomo, bem como pelas grandes assembleias cidadãs permanentes das “Noites despertas” nesse mesmo ano, que foi seguido pelo movimento auto-organizado dos coletes amarelos entre 2018 e 2020, que durante meses ocupou rotundas e participou todos os sábados de manifestações espontâneas altamente conflituosas. A atual oposição à reforma da previdência marca o retorno à linha de frente de combate de um movimento social liderado pelos sindicatos.

A nova unidade sindical renovou os compromissos entre as diferentes organizações sobre as formas de atuação, como convocar uma manifestação no sábado, 11 de fevereiro, para que mais pessoas precárias possam participar, mas sem que os sindicatos ferroviários convoquem a greve neste dia porque também correspondeu ao início das férias escolares de inverno em um terço do país.

Portugal | AS MENTIRAS DE PASSOS COELHO -- Quem não se lembra?


O descaramento dos políticos de antes e da atualidade após tanto mentirem revelaram e revelam quanto nada valem no desempenho das suas funções e sobremaneira como seres de capacidades desumanas. António Costa é um desses mas Passos Coelho bateu enormes recordes e ainda continua no pódio. Do passado quem não se lembra? Pois. Vamos a ver se os eleitores portugueses afinal têm boa memória. Tem parecido que não... (PG)

Portugal | O regresso de Pedro Passos Coelho: D. Sebastião ou 'kryptonite' do PSD?

Foi no Pontal, em agosto, que o ex-primeiro ministro interrompeu um período de afastamento da política nacional. Desde então, tem aparecido cada vez mais publicamente. O que significa isto? Os politólogos ouvidos pelo DN convergem: ainda há espaço político para Passos... resta saber em que funções.

Rui Miguel Godinho | Diário de Notícias | opinião

alçadão de Quarteira, 14 de agosto de 2022, Festa do Pontal. Luís Montenegro, recém-eleito líder do PSD (a 3 de julho), estreia-se na rentrée social-democrata como presidente do partido. A ocasião é especial e ganha outra importância por uma presença rara num passado recente: Pedro Passos Coelho, ex-primeiro ministro (de 2011 a 2015) e ex-líder do PSD, está no Pontal. Primeiro, aparece ao lado de Hugo Soares, secretário-geral do PSD; depois, ao lado de Luís Montenegro. É a primeira vez que o ex-governante aparece num evento partidário desde que deixou a liderança social-democrata e, por consequência, a atividade política, em fevereiro de 2018. Na altura, define a sua visita ao Pontal, numa conversa com uma militante, como sendo de "caráter excecional" por continuar "retirado da ação política".

Assumindo que estava no Pontal para "dar um abraço" a Montenegro [foi líder parlamentar do PSD no governo de Passos Coelho e durante a maior parte da "geringonça"], Pedro Passos Coelho reaparecia assim publicamente depois de um período em que se manteve afastado dos holofotes mediáticos. Nessa ocasião, Montenegro agradeceu a presença e elogiou o companheiro e amigo Passos: "Foste um grande primeiro-ministro e foi um orgulho em ter estado ao teu lado naquele período de recuperação em que mandámos a troika porta fora."

Certo é que depois da visita ao Pontal, o ex-primeiro ministro já esteve várias vezes em eventos públicos - alguns ao lado de Luís Montenegro e, até, do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como nas comemorações do centenário da escritora Agustina Bessa-Luís (que aconteceram a 15 de outubro, no Porto).

"Este reaparecimento acontece porque há agora um espaço político para Pedro Passos Coelho", analisa a politóloga Paula do Espírito Santo, investigadora e docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP), ouvida pelo DN. "A retirada, se quisermos, foi estratégica e em tempo certo. Há outros exemplos, como o caso de Paulo Portas [ex-líder do CDS-PP]. O tempo de pousio já se fez", considera a académica. Já José Adelino Maltez, outro politólogo e também professor universitário, diz que este regresso é "um daqueles não-factos da vida política".

Segundo o docente, "o Presidente [da República] pegou na parte do discurso em que Passos Coelho disse que tinha um horizonte político. Claro, pode querer ser deputado, presidente de junta ou vereador, não se sabe o que o futuro lhe reserva".

O motivo da afirmação é simples: na passada segunda-feira (dia 27), Pedro Passos Coelho esteve num jantar, no Grémio Literário, em Lisboa, que assinalava o décimo aniversário do Senado, uma academia de formação política conservadora. No discurso, o ex-primeiro-ministro falou no seu "horizonte político", algo que, Marcelo Rebelo de Sousa, também presente na cerimónia, destacou, dizendo que valia a pena "fixar este dia", em que Passos Coelho definia a sua "vida política e pessoal, falando de futuro". Passado dois dias, na Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), o Presidente da República clarificou a sua afirmação: "Limitei-me a assistir a uma sessão na qual o antigo primeiro-ministro e antigo líder do PSD falou no seu futuro político. [Se for para regressar] é o próprio que decide a oportunidade, se, quando e como".

Que leitura faz, então, o atual líder do PSD? Tal como já acontecera noutras ocasiões, Luís Montenegro considerou, também na BTL, que Passos é "um ativo extraordinário, que o país não deve desaproveitar seja em que circunstância for". Caso decida voltar, diz Montenegro, "será sempre motivo de satisfação do PSD" e da sua pessoal. "De facto, Pedro Passos Coelho é alguém que pode ocupar lugares de relevo, até pelo seu passado primeiro enquanto primeiro-ministro e, depois, como líder da oposição após as legislativas de 2015, mas a estratégia de afirmação, se for o caso, será natural, a seu tempo, nada forçada", afirma Paula do Espírito Santo.

Questionado pelo DN sobre esta "segunda vida" de Pedro Passos Coelho e qual o seu eventual papel no futuro, Miguel Pinto Luz, um dos atuais vice-presidentes do PSD, escusou-se a fazer comentários, dizendo não ter nada a acrescentar.

Também contactado pelo DN, o ex-ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia no governo de Passos Coelho e oponente de Luís Montenegro à liderança do PSD, Jorge Moreira da Silva, se absteve de comentar o regresso de Passos Coelho à vida pública.

Belém à vista?

Depois deste regresso a conta-gotas, houve já quem colocasse em cima da mesa uma eventual candidatura de Pedro Passos Coelho à Presidência da República (as próximas eleições acontecem em 2026).

Que leitura fazem os politólogos ouvidos pelo DN? "Apesar destes anos mais recatados, continua a ser uma pessoa nova, com alguns anos de vida política pela frente. Não acho que faça sentido excluir uma eventual candidatura. Se houver dez pessoas com essa pretensão, Passos Coelho estará no lote, certamente", considera José Adelino Maltez. Mas faz depois uma ressalva: "Agora, é certo que tem de mostrar ao país aquilo a que vem."

Para Paula do Espírito Santo, Passos Coelho "é uma figura que pode ocupar lugares de relevo. É importante lembrar que é alguém relevante: foi primeiro-ministro". No entender da politóloga, este regresso serve "para, no fundo, apurar um bocadinho se há ou não recetividade e espaço para si próprio".

"Este regresso acaba por derivar atenções"

Com Passos Coelho a voltar a estar cada vez mais presente na vida pública, que papel pode o ex-primeiro-ministro ter na vida partidária? Será como D. Sebastião, salvador, ou como a kryptonite, o mineral fictício que enfraquece o Super-Homem?

Na opinião de Paula do Espírito Santo, "a estratégia é positiva". Afinal, diz, Passos Coelho foi "alguém que uniu o partido, ganhou eleições e trouxe o poder ao PSD numa altura difícil na vida do país". Apesar disso, considera, "este regresso acaba por derivar atenções, mas não deverá prejudicar nem a liderança nem a vida interna do próprio partido". José Adelino Maltez concorda: "Não acho que seja uma fragilidade para a liderança, porque é que havia de ser uma fragilidade?".

Portugal | PÁGINAS POR VIRAR NA TAP

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

1. Os dois responsáveis políticos óbvios pelo escândalo na TAP, Hugo Mendes e Pedro Nuno Santos, já tinham pago um preço político, com a demissão do Governo. Mas nem para esses a página está virada, tendo em conta o que se sabe hoje sobre o que esconderam e como se comportaram. Quanto aos dois responsáveis políticos menos óbvios, Fernando Medina e António Costa, veremos o que vai aparecer nas páginas seguintes. O ministro das Finanças porque foi negligente na forma como contratou Alexandra Reis para secretária de Estado do Tesouro. O primeiro-ministro, porque é chefe do Governo e, portanto, responsável máximo por todas as trapalhadas em que o envolvem os seus ministros.

2. Os dois principais gestores da TAP, o "chairman" Manuel Beja, e a CEO Christine Widener, foram despedidos com justa causa. Mas também aqui há páginas por virar. Os tribunais dirão se o facto da CEO se refugiar no seu desconhecimento da língua e do ordenamento jurídico, por um lado; e no facto de a tutela, isto é, o Governo, ter dado o aval ao despedimento e à indemnização, por outro; são argumentos suficientes para contestar o despedimento e conseguir, também ela, uma indemnização milionária.

3. A comissão parlamentar de inquérito à TAP faz mais sentido do que nunca. Porque é preciso perceber melhor o papel de cada protagonista nesta história e permitir aos portugueses um julgamento político. Porque é preciso perceber se outros administradores que saíram da TAP já depois da injeção de 3200 milhões receberam ou não indemnizações e porquê. Muitas páginas por virar.

4. O Governo quer voltar a privatizar a TAP. E os portugueses têm o direito de saber como e se vale a pena virar essa página. Ainda antes de saber a quem se vende, é preciso saber se o preço cobre os 3200 milhões, ou se teremos aqui mais um negócio como o do banco salvo com dinheiros públicos para benefício de acionistas privados. E, depois, saber com que grau de transparência e com que tipo de garantias será conduzido o processo. Para páginas mal viradas, já bastaram a da privatização anterior (pelo Governo de Passos Coelho) e a da nacionalização atual (pelo Governo de António Costa).

*Diretor-adjunto

O DIA INTERNACIONAL DA MULHER E A IGUALDADE AINDA POR CONQUISTAR

Isabel Leiria, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia,

Antes de começar, deixo-lhe um convite: Junte-se à Conversa com João Vieira Pereira, David Dinis e Vítor Matos, sobre o futuro político de Pedro Passos Coelho e a situação do PSD. É já hoje, às 14h00, e basta inscrever-se aqui: Atenção: a conversa é para assinantes do Expresso


Há mais de 30 anos que o número de mulheres licenciadas em Portugal supera o de homens com ensino superior. Mas essa vantagem em termos de qualificações está ainda longe de se traduzir em melhores salários ou na ocupação de cargos de poder e tomada de decisão. Apesar da evolução registada nas últimas décadas, as mulheres continuam a ganhar comparativamente menos, estão à frente de menos empresas, são mais vítimas de violência de género e os estereótipos ainda condicionam opções e modos de vida.

Hoje é Dia Internacional da Mulher e estes são alguns dos números que continua a fazer sentido lembrar. Em Portugal, a taxa de desemprego é maior entre as mulheres e os homens ganham, em média, mais 17,5%. As desigualdades acentuam-se à medida que sobem as qualificações. Em 2020, o salário médio dos homens licenciados foi de 2211 euros, enquanto o das mulheres com a mesma habilitação foi de 1629 euros, um valor 36% inferior. Há dez anos, a diferença superava os 40%, segundo os números compilados pela Fundação José Neves. Em quase todas as 129 profissões qualificadas listadas na análise da Fundação, apenas em seis elas ganham mais que eles. E mesmo entre os mais jovens e que chegaram há pouco tempo ao mercado de trabalho, as diferenças persistem, sempre em desfavor das mulheres.

Olhando para o mundo das empresas cotadas em bolsa e públicas, que desde 2018 têm de cumprir quotas (pelo menos entre 20% e 33% nos órgãos sociais de pessoas do sexo sub-representado), a situação também tem evoluído, mas para se cumprir o obrigatório e abaixo da média europeia. Além disso, a grande maioria dos cargos de administração para os quais as mulheres são nomeadas são não-executivos. Em todo o mundo empresarial, só 6% dos CEO (presidentes executivos) em Portugal são mulheres, constata um estudo da consultora McKinsey.

No combate à violência doméstica – só no ano passado registaram-se 28 vítimas mortais, 24 das quais eram mulheres -, as fragilidades continuam a ser muitas.


Perante as desigualdades que subsistem, o desígnio firmado na Estratégia para a Igualdade de Género definida pela Comissão Europeia mantém-se atual: uma “Europa em que mulheres e homens, raparigas e rapazes, em toda a sua diversidade, sejam iguais e livres de seguir o caminho de vida que escolheram, tenham as mesmas oportunidades de realizarem o seu potencial e possam participar na nossa sociedade europeia e dirigi-la, em igualdade de circunstâncias”.

Para hoje e um pouco por todo o país estão previstas dezenas de iniciativas a assinalar o dia, entre debates, concertos e apresentações de livros, como a reedição da obra de Maria Lamas “As mulheres do meu país”, apresentada esta quarta-feira na Biblioteca Nacional, pelo ministro da Cultura e secretária de Estado Cultura e pela ministra adjunta e dos Assuntos Parlamenteares.

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