quarta-feira, 8 de março de 2023

Portugal | PÁGINAS POR VIRAR NA TAP

Rafael Barbosa* | Jornal de Notícias | opinião

1. Os dois responsáveis políticos óbvios pelo escândalo na TAP, Hugo Mendes e Pedro Nuno Santos, já tinham pago um preço político, com a demissão do Governo. Mas nem para esses a página está virada, tendo em conta o que se sabe hoje sobre o que esconderam e como se comportaram. Quanto aos dois responsáveis políticos menos óbvios, Fernando Medina e António Costa, veremos o que vai aparecer nas páginas seguintes. O ministro das Finanças porque foi negligente na forma como contratou Alexandra Reis para secretária de Estado do Tesouro. O primeiro-ministro, porque é chefe do Governo e, portanto, responsável máximo por todas as trapalhadas em que o envolvem os seus ministros.

2. Os dois principais gestores da TAP, o "chairman" Manuel Beja, e a CEO Christine Widener, foram despedidos com justa causa. Mas também aqui há páginas por virar. Os tribunais dirão se o facto da CEO se refugiar no seu desconhecimento da língua e do ordenamento jurídico, por um lado; e no facto de a tutela, isto é, o Governo, ter dado o aval ao despedimento e à indemnização, por outro; são argumentos suficientes para contestar o despedimento e conseguir, também ela, uma indemnização milionária.

3. A comissão parlamentar de inquérito à TAP faz mais sentido do que nunca. Porque é preciso perceber melhor o papel de cada protagonista nesta história e permitir aos portugueses um julgamento político. Porque é preciso perceber se outros administradores que saíram da TAP já depois da injeção de 3200 milhões receberam ou não indemnizações e porquê. Muitas páginas por virar.

4. O Governo quer voltar a privatizar a TAP. E os portugueses têm o direito de saber como e se vale a pena virar essa página. Ainda antes de saber a quem se vende, é preciso saber se o preço cobre os 3200 milhões, ou se teremos aqui mais um negócio como o do banco salvo com dinheiros públicos para benefício de acionistas privados. E, depois, saber com que grau de transparência e com que tipo de garantias será conduzido o processo. Para páginas mal viradas, já bastaram a da privatização anterior (pelo Governo de Passos Coelho) e a da nacionalização atual (pelo Governo de António Costa).

*Diretor-adjunto

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