sexta-feira, 12 de maio de 2023

A ARMADILHA DA POBREZA -- Jeffrey D. Sachs

Taxas de juros mais baixas e retornos de longo prazo que correspondam ao ritmo do progresso social subjacente são essenciais para o financiamento do desenvolvimento bem-sucedido, escreve Jeffrey Sachs.

Jeffrey D. Sachs* | The New World Economy | # Traduzido em português do Brasil

A chave para o desenvolvimento econômico e o fim da pobreza é o investimento. As nações alcançam a prosperidade investindo em quatro prioridades. 

O mais importante é investir nas pessoas, por meio de educação e saúde de qualidade. O próximo é infraestrutura, como eletricidade, água potável, redes digitais e transporte público. 

O terceiro é o capital natural, protegendo a natureza. O quarto é o investimento empresarial. A chave é o financiamento: mobilizar os fundos para investir na escala e na velocidade necessárias.

Em princípio, o mundo deveria operar como um sistema interconectado. Os países ricos, com altos níveis de educação, saúde, infra-estrutura e capital empresarial, devem fornecer amplo financiamento aos países pobres, que devem construir urgentemente seu capital humano, infra-estrutural, natural e empresarial. 

O dinheiro deve fluir dos países ricos para os pobres. À medida que os países de mercados emergentes se tornassem mais ricos, os lucros e os juros fluiriam de volta para os países ricos como retorno de seus investimentos.

Essa é uma proposta ganha-ganha. Tanto os países ricos quanto os pobres se beneficiam. Os países pobres ficam mais ricos; os países ricos obtêm retornos mais elevados do que teriam se investissem apenas em suas próprias economias.

Estranhamente, as finanças internacionais não funcionam dessa maneira. Os países ricos investem principalmente em economias ricas. Os países mais pobres recebem apenas uma gota de fundos, não o suficiente para sair da pobreza. A metade mais pobre do mundo (países de renda baixa e média-baixa) produz atualmente cerca de US$ 10 trilhões por ano, enquanto a metade mais rica do mundo (países de renda alta e renda média-alta) produz cerca de US$ 90 trilhões.

O financiamento da metade mais rica para a metade mais pobre deve ser talvez de US$ 2 a 3 trilhões por ano. Na verdade, é uma pequena fração disso.

Porque os EUA estão a armar Marrocos e a combater a influência da Rússia na Argélia

O governo dos EUA está profundamente empenhado em alimentar uma corrida armamentista entre o Marrocos e a Argélia, enquanto a “Nova Guerra Fria” abre outra frente no norte da África, a rixa ameaça um conflito devastador. A guerra na Ucrânia apenas exacerbou a crise.

Robert Inlakesh* | Mint Press News | # Traduzido em português do Brasil

A Argélia anunciou que seus laços com o Marrocos atingiram “ o ponto sem retorno ”, já que seu vizinho rival estabelece um acordo de meio bilhão de dólares para sistemas de mísseis de artilharia americanos. Em meio a uma corrida EUA-China para garantir o controle sobre as principais rotas comerciais no norte da África, com Washington também trabalhando para combater a influência de Moscou no Sahel e repelir a Iniciativa do Cinturão e Rota de Pequim, a rivalidade entre vizinhos pode representar uma grande ameaça para a região estabilidade.

Em agosto de 2021, a Argélia cortou oficialmente as relações diplomáticas com o Reino de Marrocos , citando um grande número de preocupações que tinha com seu vizinho norte-africano. Isso incluiu acusações de intromissão nos assuntos argelinos, ajudando a planejar ataques terroristas e desrespeitando acordos unilaterais, além de preocupações com os laços do Marrocos com Israel.

Em novembro daquele ano, as tensões aumentaram novamente quando três argelinos foram mortos em supostos ataques de drones contra caminhões claramente marcados ao longo da fronteira da Mauritânia com a disputada região do Saara Ocidental. O ataque foi descrito como “ bárbaro ” pela mídia estatal argelina e aconteceu apenas um dia depois que o presidente da Argélia, Abdelmadjid Tebboune, rescindiu o contrato de fornecimento de gás de seu país com Rabat.

As tensões entre Marrocos e Argélia remontam a 1963, ao breve conflito conhecido como a Guerra da Areia; uma batalha que eclodiu nas províncias argelinas de Tindouf e Béchar, que a monarquia marroquina considerava como suas por direito. A fronteira terrestre entre os dois lados também está fechada desde 1994 . A rivalidade ideológica entre os dois Estados também é profunda, já que o Marrocos ficou do lado do Ocidente durante a Guerra Fria, enquanto a Argélia apoiou as lutas de libertação do Sul Global e ficou do lado do movimento não alinhado.

Operação da ONU no Mali é farsa. Apenas vimos alemães fugindo de tropas de Wagner

O que diabos está acontecendo no Mali? Muitos se perguntarão sobre o futuro da missão da ONU lá, depois que a Alemanha acaba de anunciar que pretende retirar suas tropas da missão

Martin Jay* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

De acordo com notícias, o governo alemão disse em 3 de maio que havia decidido encerrar sua participação na missão da ONU no Mali em maio próximo devido a problemas, afirma, com a junta governante.

O gabinete do chanceler Olaf Scholz disse que Berlim retiraria seus 1.110 soldados da missão da ONU MINUSMA do país da África Ocidental no próximo ano e se concentraria em mais ajuda humanitária e de desenvolvimento para a região.

“Quer queiramos ou não, o que acontece no Sahel nos afeta”, disse a ministra das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, em comunicado.

“Estamos reorganizando nosso engajamento na região e vamos deixar que nossa participação na MINUSMA se esgote de forma estruturada nos próximos 12 meses.”

Mas é realmente verdade, dado o histórico da Alemanha por suas mentiras descaradas no circuito internacional liderado por seu odioso chanceler Scholz, que nem mesmo pode admitir o papel de Berlim ou o conhecimento da explosão do oleoduto Nord Stream? Existe outra razão para Berlim sair do Mali?

SUDÃO: TRAGÉDIA NA PERIFERIA DO CAPITALISMO

Há cinco anos, uma revolução pacífica cercou os quartéis, mas não foi capaz de tomar o poder. Agora, chefes militares de um regime oligárquico guerreiam nas ruas, depois de perder o petróleo do Sul e de esmagar revolta na região do Darfur

Alex de Waal na London Review of Books | em Outras Palavras | Tradução: Antonio Martins | # Publicado em português do Brasil

A capital do Sudão, Cartum, está sendo destruída em uma luta mortal entre dois generais corruptos e brutais. Esta é uma guerra anunciada; permitir que acontecesse foi um fracasso da diplomacia internacional. Mas se examinarmos os duzentos anos de história da cidade, o conflito não dever ser visto como uma surpresa. Cartum foi fundada como um posto de comando construído para fins de saque imperial – e todos os regimes subsequentes continuaram esta prática. Em circunstâncias normais, o Sudão é governado por uma casta de comerciantes e generais que saqueiam as pessoas de pele mais escura das terras altas e levam sua riqueza para Cartum, uma cidade relativamente opulenta e um paraíso de tranquilidade. Mas a lógica da cleptocracia é inexorável: quando o cartel vai à falência, os mafiosos disputam. Vimos isso na Libéria e na Somália trinta anos atrás. O saque do Estado sudanês hoje é dez vezes maior.

Cartum foi fundada em 1821 na junção dos dois Nilos – o Nilo Branco, que nasce na África Equatorial, e o Nilo Azul, de fluxo rápido, que provoca inundações sazonais das terras altas da Etiópia. No ponto onde os rios convergem, bem em frente ao moderno prédio do Parlamento, e por alguns quilômetros rio abaixo, as águas marrom-claras e azuis correm uma paralela à outra, sem se misturarem. O local foi escolhido por Ismail Kamil ‘Pasha’, filho de Muhammad Ali, quediva [príncipe] do Egito, que despachou um exército para conquistar o que hoje é o Sudão. Ele também autorizou um bando multinacional de bandoleiros a vagar por onde quisessem, desde que o Cairo compartilhasse os lucros. Durante seis décadas, Cartum foi um posto avançado do voraz capitalismo de fronteira do século XIX : um entreposto comercial e de escravos para a devastação do Vale do Alto Nilo.

As presas de elefante eram procuradas para as teclas de piano, e os próprios elefantes eram exportados – entre eles Jumbo, que foi enviado para o Zoológico de Londres e depois vendido para o circo de Barnum e Bailey nos Estados Unidos. Os mercadores e saqueadores de Cartum faziam incursões em busca de escravos, ou dividiam para reinar entre as tribos das florestas e pântanos do sul, comprando cativos para suas próprias plantações ao longo do rio ou para serem vendidos ao Egito. Até hoje, os sudaneses têm um léxico de cor de pele, de vermelho e marrom, passando por verde e amarelo e até “azul” – o povo mais escuro do sul, ainda chamado rotineiramente de abid, que significa “escravos”. Os sudaneses do sul foram retratados como primitivos sem contato pelos antropólogos da era colonial, mas foram arrastados para a ordem capitalista imperial. O principal senhor da guerra era Zubeir Rahma, um comerciante e traficante de escravos do norte do Sudão, que estabeleceu uma série de fortes no sul do país e depois liderou seu exército particular contra o vasto sultanato ocidental de Darfur em 1874. Sua ambição de se tornar governante do que era então o domínio mais rico na orla do Saara foi frustrado quando o quediva, alarmado com sua ascensão à proeminência, o deteve no Cairo.

Angola | Comandante Ficou Mal na Fotografia – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Bicefalia nunca! A liderança do partido tem de passar imediatamente para o Presidente da República. Lembram-se desta sentença proferida por notáveis do MPLA? José Eduardo dos Santos, eleito presidente em congresso, tinha mandato até ao congresso seguinte. Quando saiu da Presidência da República decidiu levar o mandato partidário até ao fim. Invocou várias razões para fazer esse sacrifício e uma delas foi ajudar a vencer as Eleições Autárquicas. Tratado como um obstáculo acabou por se retirar. Na época escrevi: “Uma onda de loucura irrefragável abateu-se sobre Angola. Acabam de prescindir do político mais experiente e que venceu todas as batalhas que travou”. Chamaram-me conservador e bajulador.

Hoje o Presidente da República adorava ter na presidência do MPLA um político com a dimensão de José Eduardo dos Santos. Assim dispensava aquelas centenas de dirigentes que fazem lá tanta falta como o luar num dia de sol. O Bureau Político de Agostinho Neto eram 12 magníficos. Estive a analisar a Lista dos membros actuais e poucos mais contei. O resto é paisagem.

O Presidente João Lourenço está a ver desmoronar-se o edifício da Justiça. É ele que nomeia os titulares dos Tribunais Superiores. O problema é de sua excelência. Precisava de quem o ajudasse a superar as dificuldades. Não tem. Na Educação o panorama não é melhor. O que se passa com os professores do ensino superior é uma espécie de suicídio político. Ou um tiro de monakaxito nos dois pés. Ignorar ou perseguir os quadros que serviram a causa pública com José Eduardo dos Santos é uma catástrofe. Até porque eles eram os melhores. Após 2017 os melhores são aqueles que passaram do mandato anterior. 

O MPLA tem maioria absoluta na Assembleia Nacional. Os deputados são políticos por excelência ainda que tenham sido eleitos como legisladores. Passam-se meses sem vermos uma única intervenção política dos parlamentares do partido. E como eles têm trabalho para fazer. 

A Comunicação Social está encravada nas telecomunicações e tecnologias de informação como se fosse filha de um deus menor. É a informação do MPLA que suprime as falhas e tremendas omissões. Está mal. Misturar tecnocracia com política é um erro. O resultado está à vista. A TPA gaba-se de que tem tecnologias de ponta mas como os jornalistas são fracos nem se nota a diferença para o tempo das primeiras emissões em 1976.

Angola | Um Olhar Sobre a Sociedade Castrense – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

No final de 1974 Angola esvaía-se de pessoas e bens. Os portugueses faziam caixotes gigantescos e metiam lá dentro os electrodomésticos comprados a crédito, mobílias e até automóveis. Os serviços públicos definhavam. Unidades de saúde e escolas iam ficando sem profissionais. Até táxis e camiões “encostavam” por falta de motoristas. Nos musseques fechavam as cantinas, quase todas propriedade de agentes da polícia, taxistas e bufos da PIDE. 

Um mês depois da tomada de posse do Governo de Transição Daniel Chipenda e os soldados zairenses aquartelados nas delegações da FNLA cumpriam com sucesso a missão de levar a guerra às ruas de Luanda. O Norte de Angola estava ocupado pelas tropas de Mobutu e a UNITA serviu de biombo à invasão dos racistas de Pretória no Sul e Planalto Central. 

Os jovens angolanos que todos os anos eram incorporados nas tropas portuguesas no cumprimento do serviço militar obrigatório entraram em acção. Dois comandantes da guerrilha, Ingo e Tetembwa, assumiram a defesa dos musseques de Luanda. A meio do ano de 1975 começaram a chegar jovens que logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 foram receber treino militar nos Centros de Instrução Revolucionária (CIR) do MPLA. Ajudaram a levar Angola à Independência. E garantiram a vitória na guerra pela soberania e a integridade territorial.

No auge dos ataques ao processo de descolonização, Angola tinha poucos quadros. Quase todos partiram nas pontes aéreas. Mas em contrapartida o Povo Angolano estava a ser defendido por jovens militares com elevada formação. Uns formados nas fileiras das tropas portuguesas onde estavam no mínimo três anos. Outros nos CIR. Nunca antes tinham pegado numa arma. Destes, muitos acabaram por morrer de armas na mão ou dedicaram as suas vidas à sociedade castrense até se reformarem.

A guerra não parou. Pelo contrário, os invasores e seus mandantes, entre os quais o estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA), fizeram de Angola um imenso teatro de operações. Até meados dos anos 80, só formámos militares nas nossas escolas e nas academias estrangeiras como já acontecia desde o tempo da guerrilha.

Angola | Ataque Mortal ao Serviço de Saúde – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O combate à corrupção continua no topo da agenda do entretenimento. É uma novela péssima, intragável, que somos obrigados a ver uma e outra vez, centenas de vezes, episódio a episódio. Na primeira versão os actores eram abaixo de péssimos. Ernesto Bartolomeu e Carlos Rosado de Carvalho foram afastados por indecente e má figura. Mas falta mão-de-obra e teve de avançar o Procurador-Geral da República para a linha da frente. Também fracassou. Quando pensávamos que íamos ficar livres daquela xaropada eis que o Presidente da República assumiu o protagonismo. De mal a pior.

Na sua entrevista a um canal francês, João Lourenço referiu-se à engenheira Isabel dos Santos em termos pouco educados. Tirou-lhe o nome e reduziu-a a “ela” com laivos de desprezo. Valorizou desmedidamente a existência de um mandado internacional de captura contra a empresária. E cometeu um erro gravíssimo (imperdoável) ao afirmar: “ela tem contas a prestar à Justiça”.  

Calma aí. A empresária Isabel dos Santos pensa seguramente o contrário. A Justiça Angolana é que tem contas a prestar-lhe. Não é ao Presidente da República e Titular do Poder Executivo que compete dizer quem tem de prestar contas a quem. Nem à empresária Isabel dos Santos. A palavra pertence exclusivamente aos Tribunais.

O Presidente João Lourenço também soltou uma bravata que só lhe fica mal. Recordou que quem não deve não teme. Logo, a empresária Isabel dos Santos que se apresente às autoridades titulares da investigação e acção penal! Se a senhora engenheira teve capacidade para concluir cursos superiores, fazer grandes investimentos, criar riqueza e postos de trabalho não vai desembarcar em Luanda porque está convencida de que não deve nada a ninguém e por isso não teme cobradores. Pode pensar assim: Cá se fazem, cá se pagam!

O venerando conselheiro presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, é diariamente torturado nos Media controlados pelo condecorado Rafael Marques. Tudo quanto é escriba pago por baixo da mesa do poder alinha no massacre contra o meritíssimo magistrado. Se a mais alta figura da Magistratura Judicial é massacrada e torturada diariamente nos Media imaginamos o que vai acontecer a alguém suspeito de corrupção!

PARTES EM CONFLITO NO SUDÃO COMPROMETEM-SE A PROTEGER CIVIS

As partes beligerantes no conflito do Sudão assinaram um acordo para proteger a população civil e permitir a ajuda humanitária. Um compromisso que, no entanto, não implica a cessação permanente das hostilidades.

exército sudanês e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF) assinaram na quinta-feira (11.05) um acordo de princípios em que se comprometem a observar "pequenas pausas" nas hostilidades, bem como a proteger a segurança dos civis e o fluxo de ajuda humanitária.

Este compromisso foi negociado com a ajuda de Washington e Riade, durante conversações na cidade portuária de Jeddah, no Mar Vermelho.

"Abster-se de interferir nas principais operações humanitárias" e "dar prioridade à consecução de um cessar-fogo a curto prazo" figuram também entre os compromissos da "Declaração de Jeddah".

O documento também não faz referência a um compromisso entre as partes beligerantes para renegociar um cessar-fogo permanente, para por fim ao conflito que conduziu à situação humanitária mais trágica da história do Sudão.

Os responsáveis mostraram-se cautelosos quanto ao desenrolar das conversações, que designaram por "pré-negociação", e deixaram claro que o compromisso acordado na quinta-feira não implica a cessação das hostilidades.

Conversações no sentido de um cessar-fogo permanente deverão continuar esta sexta-feira (12.05), informou o jornal New York Times, citando fonte do Departamento de Estado norte-americano. Altos funcionários do Departamento de Estado acreditam que o acordo é um trampolim para a assinatura de um cessar-fogo temporário, mediado por Washington e Riade.

A CRISE DO SUDÃO E AS MÃOS OCULTAS DO FMI

Como o povo do Sudão continua a enfrentar conflitos e violência, o papel desempenhado pelas instituições financeiras internacionais é frequentemente ignorado. Décadas de políticas de austeridade impostas pelo FMI e cortes nos gastos desempenharam um papel importante na deterioração das condições de vida no país

Dian Maria Blandina | Peoples Dispatch | # Traduzido em português do Brasil

O Sudão vive sua quarta semana de conflito entre duas facções militares, que já causou a morte de mais de 700 pessoas. Os civis sudaneses fugiram completamente da capital e do país, enquanto os combates continuam sem fim à vista. Até agora, os comentaristas se concentraram nas facções militares e nos conflitos étnicos. Uma explicação redutiva foi dada para a crise alimentar no Sudão, como crise econômica, mudança climática e guerra na Ucrânia. A importância das políticas macroeconômicas e das instituições que as promovem na raiz dessas crises tende a ser negligenciada.

Derrubando a cesta de pão

O FMI impôs a liberalização no Sudão, principalmente no setor agrícola , para promover as exportações. Liberalização significa remover quaisquer barreiras ao comércio e eliminar obstáculos ao investimento estrangeiro, ao mesmo tempo em que reduz o tamanho e o poder do governo para regular a economia. A economia ortodoxa é a ideologia dos ricos e poderosos. Os países pobres que tentam se desenvolver como o Sudão não podem arcar com um regime de livre comércio. O Sudão deveria ter sido deixado para desenvolver seu setor agrícola para servir primeiro seu próprio povo.

Vendo o Sudão nas notícias agora, é difícil imaginar que já foi destinado a ser o “celeiro da África”. De fato, o Sudão não é apenas rico em petróleo e minerais, mas também em terras aráveis . Conforme explicado no relatório da Oxfam de 2002 , a rápida liberalização agrícola foi uma das principais causas do aumento da pobreza e da insegurança alimentar na África. As consequências ainda são sentidas até hoje. As políticas de liberalização também são estranhamente semelhantes às práticas extrativistas da era colonial ; neste caso, transformar o Sudão na fazenda do mundo enquanto o povo passa fome. Naquela época, havia também empresas e políticos locais e não tão locais que facilitaram as potências coloniais na extração das riquezas da África e na exploração de sua força de trabalho.

O Sudão tem uma população diversificada de mais de 600 grupos étnicos que falam 400 idiomas, sendo o Islã a religião predominante. O país passou por duas guerras civis, três golpes de estado e uma ditadura militar de 30 anos sob Omar Al-Bashir , que terminou em 2019 após uma revolta. Um governo de transição foi estabelecido sob o primeiro-ministro Abdalla Hamdok, mas era frágil e, em outubro de 2021, os militares dissolveram o governo e colocaram o primeiro-ministro em prisão domiciliar, levando a protestos e repressões violentas que resultaram na morte de mais de 100 civis e muitos mais ferimentos.

O FMI há muito está envolvido com o Sudão . Até o momento, o Sudão passou por pelo menos 11 programas do FMI entre guerras civis e conflitos. Somente entre 1979 e 1985, sob o regime de Nimeiri, houve 5 programas de empréstimos do FMI no Sudão. Fora dos programas, o FMI assessorava o governo, dando assessoria política que “ajudaria” a credibilidade do Sudão e seu acesso ao mercado internacional. 

Desde o início de seu relacionamento, o Sudão tem estado na posição mais fraca. Projetos de desenvolvimento altamente ambiciosos nos anos 70 combinados com anos de investimentos imprudentes deixaram o país em um déficit severo e sem poder de barganha contra instituições internacionais e potências estrangeiras. O FMI lidou com o Sudão de forma muito autocrática , impondo condicionalidades e esperando que o governo sudanês as implementasse sem se preocupar com a forma como isso é feito. Uma característica incomum da relação FMI-Sudão era que quase sempre se esperava que o Sudão concebesse e implementasse a austeridade por conta própria, antes de receber empréstimos. O FMI também lidou duramente com o Sudão, cortando créditos e ajudaao menor sinal de descumprimento ou discordância política, e impondo termos cada vez mais severos. A dinâmica era tão desconcertante que os estudiosos usaram o Sudão como um estudo de caso para entender a luta pelo poder nos programas do FMI.

SEM GUERRA -- SUDÃO

Ahmed Falah, Noruega | Cartoon Movement

Depois de uma semana de conversa, as facções beligerantes do Sudão ainda não concordaram com um cessar-fogo. Visite nossa coleção para ver mais cartoons sobre a violência no Sudão.

Portugal | UM PSD À SEMELHANÇA

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

A posição de Francisco Pinto Balsemão nas comemorações dos 49 anos do PSD recriou a fundo as feridas abertas entre o militante número um e a ala direita do partido. Não é para menos. Numa altura em que algumas sondagens colocam os sociais-democratas em competição acesa com o PS (todos sabemos que as sondagens são o momento e pouco mais), as críticas à incapacidade de definição na liderança de Luís Montenegro apontam às pedras no caminho, aquelas que muitos na direcção de Montenegro teimam em não querer retirar pela indefinição das políticas de alianças com a extrema-direita.

O neoliberalismo que grassa na visão passista do PSD, para além de um tiro no pé da actual liderança, é um D. Sebastião sem Alcácer-Quibir. Acima de tudo, alinha pela ideia de que nada do que o PSD defenda deva ser igual ou semelhante ao PS. O que o PSD não percebe é o que a maioria do povo português deseja: um PSD como o PS mas com melhor capacidade de execução. Maior fiabilidade. Um PSD à semelhança.

"Um partido social-democrata de centro-esquerda, como sempre disse, e defendeu (e atacou, quando necessário) Francisco Sá Carneiro", as palavras de Pinto Balsemão ecoam. "Não basta sermos livres quando ainda há desigualdades flagrantes no nosso país". O assomo de PPD que ainda existe no PSD é uma espécie em vias de extinção que conviria conservar. Pinto Balsemão não afasta apenas a extrema-direita do caminho social-democrata, afasta também as coligações com o PS. Para além do perigo do extremismo, Balsemão concretiza bem o perigo imobilizante do Bloco Central no país.

Um bloqueio central. No fundo, o que se sabe: um Bloco Central e uma maioria absoluta são equivalências.

A dificuldade que o PSD tem tido em ser social-democrata é semelhante à dificuldade que o partido socialista denota em ser socialista. A grande diferença é que o PS se situa no mesmo campo político, a social-democracia, enquanto que o PSD migrou em tese para o neoliberalismo. Ao fazerem do PS o diabo no centro da sala de Estado, não prestam apenas vassalagem à memória da iconografia passista. Vão mais longe.

Transmitem as mais sérias dúvidas à maioria que entregou o poder a António Costa, sobre a vontade de serem realmente uma alternativa para e pelo país ou pelo confronto gratuito com a social-democracia pela qual Francisco Pinto Balsemão reclama.

*Músico e jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

Portugal | ANA GOMES: "ESTE GOVERNO TAMBÉM ESTÁ A FABRICAR POPULISMOS"

Militante de base, como gosta de sublinhar ser, Ana Gomes é uma das vozes independentes do PS e não vê com bons olhos um braço de ferro com Marcelo. Não cala críticas à forma como António Costa tem respondido à crise e lembra que o Presidente da República já tinha avisado para a importância de 2023.

Rosália Amorim (DN) e Pedro Cruz (TSF) | Diário de Notícias

Era uma estrela do Partido Socialista (PS), embora não militante, no tempo de António Guterres, muito por causa do papel que teve enquanto diplomata, quando muito poucos acreditavam que Timor-Leste poderia ser independente. A embaixadora acabou por tornar-se política. E mais tarde, depois de deixar o Parlamento Europeu, ficou ainda mais livre para expor o seu pensamento. Nesta altura, é uma das figuras mais temidas pelo aparelho do PS.

ENTREVISTA

Vou começar por citá-la: "António Costa está amarrado a João Galamba". Porque acha que isso aconteceu? António Costa não amarrou Pedro Nuno Santos, não amarrou outros ministros que teve de deixar cair... Porque se amarrou a Galamba?

Amarrou. É uma escolha dele, claro, e ele melhor do que ninguém saberá, mas penso que tem consciência das vulnerabilidades, como todo o PS tem, mas, no fundo, conta com o efeito para-raios, porque ainda muita coisa vai sair, digamos, do saco, designadamente, do saco das infraestruturas da TAP, com a comissão de inquérito a decorrer. Portanto, isso também lhe serviu, foi instrumental, para o braço de ferro com o Presidente, que ele entendeu desencadear. É evidente que o Presidente o tinha provocado, com as sucessivas referências às ameaças possíveis de dissolução, que não eram, obviamente, muito credíveis, porque a dissolução tinha-se concretizado em 2020/2021, aliás, a pedido e por desejo de António Costa. Mas exatamente isso tornava bastante improvável que agora o Presidente pudesse contemplar nova dissolução. E o primeiro-ministro deve ter chegado à conclusão que valia a pena comprar essa guerra. Se calhar, algum guru dos que ele lá tem lhe deu esse horizonte, que acho que é de muito curto prazo, porque, realmente, se olharmos a médio prazo, não compensa, entrar na guerra com o Presidente, que foi, realmente, um decisivo apoiante dos governos de António Costa.

Acha que António Costa vai pagar um preço por ficar com a sua imagem colada a João Galamba? Ou seja, nessa lógica do que está a dizer, o que tinha já dito o Presidente anteriormente é que o primeiro-ministro é responsável pela escolha dos ministros, e os ministros são responsáveis pela escolha de quem trabalha com eles. Quando António Costa, de alguma forma, salva um ministro e diz, publicamente, "a responsabilidade é minha", quando vier a fatura, a fatura também é dele?

É evidente que a responsabilidade é do primeiro-ministro, isso foi sublinhado pelo próprio, e o Presidente não se eximirá a confrontá-lo com essa responsabilidade. Agora, tudo dependerá do nível de problemas que essa amarração a João Galamba venha a trazer. Provavelmente, o primeiro-ministro conta que eles sejam minimizados, sabendo, também, que o ónus, de todas as decisões na área das infraestruturas, recairá sempre, mais do que nunca, sobre o primeiro-ministro, mas, de qualquer maneira, também já era assim, não era? Já seria assim. Portanto, ele imagina que isso lhe possa ser favorável, penso eu, talvez ele imagine que possa ser positivo. Mas ainda há muita água que vai correr sob as pontes e penso que a Comissão de Inquérito Parlamentar sobre a TAP tem o potencial de trazer a lume muitas questões embaraçosas para o primeiro-ministro. Designadamente, todas as questões que têm a ver com o período da reversão da privatização que foi feita no primeiro governo de António Costa, com o amigo dele, Diogo Lacerda Machado, na administração da TAP, por nomeação do primeiro-ministro, a não poder não saber do "esquema macaco", digamos, da troca dos aviões e com todos os outros. Tudo vai depender de o Parlamento ter ou não capacidade de fazer o seu trabalho. Aquilo que vi ontem [terça-feira] na Comissão de Economia não me sugeriu que houvesse muito interesse em escavar... Mas neste tema, ainda a procissão vai no adro.

Portugal | Secas que nos consomem, nos sugam, nos atiram para a miséria e fome

Destaque à seca no Expresso Curto desta véspera de fim-de-semana. Martim Silva é o jornalista autor e corredor de fundo na abordagem às referências do tema. Ele aborda a seca por não chover, não outras. Mas devia. 

Sobre isso e a saber: a seca de aturarmos governos que se governam e aos amigos e seus suportes, a seca da pobreza, do desemprego, a seca dos casos e casinhos, a seca da extrema-direita estar a manobrar com denodo para chegar aos poderes e fazer ainda muito pior para os portugueses porque das raízes fascistas e nazis nada surge de bom para o país nem para o mundo, etc., etc. Por fim, a seca dos órgãos de comunicação social quase na generalidade a andarem nas propagandas made in USA/poltrões das “ma$$as” de modo aviltante e descarado. Desumano. O Expresso também. Muitos outros. Mercenários da coisa de (des)informar. Enfim, secas que nos consomem, nos sugam, nos atiram para a miséria e para a fome digna das consequências de ações em tudo esclavagistas, com sorrisos, falsas promessas, sistemáticos e enormes enganos. Democracia, dizem. O tanas!

Uff, que seca prolongar a lista destas e muito mais secas. Adiante.

O Curto vale o que vale, os consórcios dos patrões do jornalismo também. Os jornalistas que penduraram os tim-tins nos cabides também (lá em casa há contas para pagar). É com o que temos de gramar e sobreviver. Fuga para a frente do costume:

A seguir, além da ladainha da seca pode voltar à reprise do computador do assessor do Galamba ministro. Da casa de Montenegro em Espinho (se é golpaça não se admirem). Dos Donos Disto Tudo (Ricardos Salgados) que andam na tanga dos “esquecimentos alzheimeristas e ilusórios” também consta na abordagem de outras e outras “coisas”.

Vá adiante e leia a seguir todo o Curto. Cá por nós vamos fazer Windsurf a partir do alto do Carrapatoso, com passagem pelo monte das tangas, das trocas e baldrocas produzidas pelos donos de Portugal e dos portugueses tolhidos e mal pagos, com curso de carneirinhos e seguirem-se na esteira para ficarem a nem balirem no curral. Avante carneirada lusa, sigam os guias pastores até ao precipício e zás. Atirem-se de cabeça. Sem ao menos um 'merdoso' balido de contestação, sem revolta, sem nada a não ser cobardia cidadã.

Bom dia ao Curto e a vós. Boa semana (mas como?) Fim da linha. A vossa e a nossa. Vá para o Curto. Pois.

MM | PG

Portugal | AS CONDIÇÕES DE GALAMBA

Henrique Monteiro | Henricartoon

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