sexta-feira, 12 de maio de 2023

Angola | Ataque Mortal ao Serviço de Saúde – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O combate à corrupção continua no topo da agenda do entretenimento. É uma novela péssima, intragável, que somos obrigados a ver uma e outra vez, centenas de vezes, episódio a episódio. Na primeira versão os actores eram abaixo de péssimos. Ernesto Bartolomeu e Carlos Rosado de Carvalho foram afastados por indecente e má figura. Mas falta mão-de-obra e teve de avançar o Procurador-Geral da República para a linha da frente. Também fracassou. Quando pensávamos que íamos ficar livres daquela xaropada eis que o Presidente da República assumiu o protagonismo. De mal a pior.

Na sua entrevista a um canal francês, João Lourenço referiu-se à engenheira Isabel dos Santos em termos pouco educados. Tirou-lhe o nome e reduziu-a a “ela” com laivos de desprezo. Valorizou desmedidamente a existência de um mandado internacional de captura contra a empresária. E cometeu um erro gravíssimo (imperdoável) ao afirmar: “ela tem contas a prestar à Justiça”.  

Calma aí. A empresária Isabel dos Santos pensa seguramente o contrário. A Justiça Angolana é que tem contas a prestar-lhe. Não é ao Presidente da República e Titular do Poder Executivo que compete dizer quem tem de prestar contas a quem. Nem à empresária Isabel dos Santos. A palavra pertence exclusivamente aos Tribunais.

O Presidente João Lourenço também soltou uma bravata que só lhe fica mal. Recordou que quem não deve não teme. Logo, a empresária Isabel dos Santos que se apresente às autoridades titulares da investigação e acção penal! Se a senhora engenheira teve capacidade para concluir cursos superiores, fazer grandes investimentos, criar riqueza e postos de trabalho não vai desembarcar em Luanda porque está convencida de que não deve nada a ninguém e por isso não teme cobradores. Pode pensar assim: Cá se fazem, cá se pagam!

O venerando conselheiro presidente do Tribunal Supremo, Joel Leonardo, é diariamente torturado nos Media controlados pelo condecorado Rafael Marques. Tudo quanto é escriba pago por baixo da mesa do poder alinha no massacre contra o meritíssimo magistrado. Se a mais alta figura da Magistratura Judicial é massacrada e torturada diariamente nos Media imaginamos o que vai acontecer a alguém suspeito de corrupção!

Ninguém se apresenta ante a Justiça quando um venerando conselheiro do Tribunal Supremo, ao apreciar o pedido de liberdade condicional do antigo ministro Augusto Tomás, proferiu este acórdão: Na primeira instância a pena foi muito leve. Por isso continua na cadeia apesar de ter o direito à liberdade condicional! 

Quem não deve não teme os cobradores. Mas com um cobrador assim colocado no Tribunal Supremo, até o Presidente João Lourenço teme, apesar das protecções inerentes ao seu cargo.

Ninguém se apresenta voluntariamente ante Hélder Pita Grós mesmo que seja credor. Com ele, se receber ordens superiores, vai tudo preso: Devedores, credores ou pagadores. Nem que as ordens venham de um qualquer inferior do círculo presidencial. Este homem é tão perigoso que referindo-se ao processo do empresário Carlos São Vicente, disse muito despachado: “Estão lá provas suficientes para uma condenação.” Afinal não há provas nenhumas, apenas invenções e falsidades. Quem não deve não teme. Mas nenhum inocente arrisca a cadeia de Viana quando o Poder Judicial foi demolido propositadamente. Não há liberdades. Não há garantias. Apenas barbárie e vinganças mesquinhas. Cá se fazem mnas um dia cá se pagam.

Ao violar tão gravemente a presunção de inocência, ao usurpar de uma forma tão grave o papel dos magistrados judiciais, Pita Grós tinha de ser demitido na hora. Qual o quê. Foi reconduzido no cargo apesar de estar fora do prazo de validade. Ficou porque faz falta na novela da destruição de valor. Rebentam com tudo quanto é empresa ou grupo empresarial nacional. Vou repetir. Há angolanas e angolanos que pensam o contrário de João Lourenço: A Justiça é que tem contas a ajustar com eles. Um dia é conhecido o resultado dessas contas.

Adalberto da Costa Júnior lançou graves suspeitas sobre os profissionais da Saúde em Angola. Para homenagear Raul Danda, ladrão da minha honra e violador da minha esfera pessoal, disse isto: "Há uma lista imensa de companheiros e outros quadros da UNITA que temem ser tratados nos hospitais públicos. Os hospitais estão partidarizados, não pode ser assim”. Quando o sicário da UNITA e terrorista da FLEC faleceu, os propagandistas da associação de malfeitores puseram a circular que foi envenenado. Agora Adalberto lança suspeitas sobre todos os profissionais do serviço nacional de saúde. Inqualificável. Inaceitável até na Jamba.

Adalberto também disse que “João Lourenço deu muito mais dinheiro à Omatapalo do que José Eduardo dos Santos a Isabel dos Santos”. Um líder partidário que desce ao nível do Gangsta ou do Tanaice Neutro faz tanta falta como o Savimbi. Mas vale a pena explicar ao engenheiro à civil que Angola adoptou uma Política de Estado tendente a criar uma burguesia nacional com poder económico e financeiro, para não ficarmos ao serviço do regime racista de Pretória. Hoje o Presidente da República faz ajustes directos porque a execução das obras é tão premente, a urgência social é tal que esse é o caminho. Porquê? A UNITA destruiu Angola desde 1975 até 2002. Agora é tudo para ontem.

O chefe da associação de malfeitores UNITA teve um momento de sinceridade e disse: “Temos um Grupo Parlamentar com deputados do PRA-JA servir Angola, do Bloco Democrático e da sociedade civil. Temos de trabalhar para fazermos as reformas que Angola precisa”. O PRA-JA não existe. O Bloco Democrático eleitoralmente vale zero. A sociedade civil é uma abstracção. Quem faz reformas é quem ganhou as eleições. Os sicários do Galo Negro estão a criar condições para novo golpe armado. Não desistem de matar o regime democrático.

Adalberto da Costa Júnior fez política na província do Uíge. Foi mal recebido. E logo culpou o MPLA pela rejeição do povo. Os angolanos não estão obrigados a esquecer os crimes cometidos quando, depois de perderem as eleições, ocuparam militarmente mais de 70 por cento do país. Se há região que sofreu a violência das tropas do Galo Negro, a província do Uíge está em primeiro lugar. O povo sabe que a UNITA significa morte, sofrimento e destruições. A culpa não é do MPLA. É de quem matou, destruiu e escorraçou: O Galo Negro.

As populações das províncias ocupadas militarmente pela UNITA fugiram para Luanda e outras cidades controladas pelo Governo. Pediram a protecção das autoridades contra os assassinos do Galo Negro. A História é implacável. O excesso de população na capital (20 vezes mais!) é uma prova irrefutável.

* Jornalista

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