sexta-feira, 12 de maio de 2023

Portugal | UM PSD À SEMELHANÇA

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

A posição de Francisco Pinto Balsemão nas comemorações dos 49 anos do PSD recriou a fundo as feridas abertas entre o militante número um e a ala direita do partido. Não é para menos. Numa altura em que algumas sondagens colocam os sociais-democratas em competição acesa com o PS (todos sabemos que as sondagens são o momento e pouco mais), as críticas à incapacidade de definição na liderança de Luís Montenegro apontam às pedras no caminho, aquelas que muitos na direcção de Montenegro teimam em não querer retirar pela indefinição das políticas de alianças com a extrema-direita.

O neoliberalismo que grassa na visão passista do PSD, para além de um tiro no pé da actual liderança, é um D. Sebastião sem Alcácer-Quibir. Acima de tudo, alinha pela ideia de que nada do que o PSD defenda deva ser igual ou semelhante ao PS. O que o PSD não percebe é o que a maioria do povo português deseja: um PSD como o PS mas com melhor capacidade de execução. Maior fiabilidade. Um PSD à semelhança.

"Um partido social-democrata de centro-esquerda, como sempre disse, e defendeu (e atacou, quando necessário) Francisco Sá Carneiro", as palavras de Pinto Balsemão ecoam. "Não basta sermos livres quando ainda há desigualdades flagrantes no nosso país". O assomo de PPD que ainda existe no PSD é uma espécie em vias de extinção que conviria conservar. Pinto Balsemão não afasta apenas a extrema-direita do caminho social-democrata, afasta também as coligações com o PS. Para além do perigo do extremismo, Balsemão concretiza bem o perigo imobilizante do Bloco Central no país.

Um bloqueio central. No fundo, o que se sabe: um Bloco Central e uma maioria absoluta são equivalências.

A dificuldade que o PSD tem tido em ser social-democrata é semelhante à dificuldade que o partido socialista denota em ser socialista. A grande diferença é que o PS se situa no mesmo campo político, a social-democracia, enquanto que o PSD migrou em tese para o neoliberalismo. Ao fazerem do PS o diabo no centro da sala de Estado, não prestam apenas vassalagem à memória da iconografia passista. Vão mais longe.

Transmitem as mais sérias dúvidas à maioria que entregou o poder a António Costa, sobre a vontade de serem realmente uma alternativa para e pelo país ou pelo confronto gratuito com a social-democracia pela qual Francisco Pinto Balsemão reclama.

*Músico e jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

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