terça-feira, 13 de junho de 2023

Detalhes Perturbadores: “Escritório de Gerenciamento e Percepção” do Pentágono

Ken Klippenstein, jornalista investigativo do The Intercept, expôs como o Pentágono lançou discretamente uma nova divisão interna, batizada de "Escritório de Gestão de Influência e Percepção" (IPMO, na sigla em inglês), em março.

Kit Klarenberg* | Mint Press News | # Traduzido em português do Brasil

Sua existência não é estritamente secreta, embora não tenha havido nenhum anúncio oficial de seu lançamento, muito menos uma explicação de funcionários do Departamento de Defesa (DoD) sobre sua razão de ser ou modus operandi. Seu orçamento também permanece um mistério, mas supostamente esbarra nos "multimilhões".

Os documentos financeiros do Pentágono de 2022 oferecem uma descrição lacônica e amplamente impenetrável do IPMO. O Gabinete, diz-se, "servirá como conselheiro sénior" do subsecretário de Defesa para a Inteligência e Segurança, Ronald S. Moultrie, sobre "influência estratégica e operacional e gestão de perceção (revelar e ocultar)":

Desenvolverá orientações temáticas de influência alargadas centradas nos principais adversários; promulgar estratégias de influência competitiva focadas em questões específicas de defesa, que direcionem esforços de planejamento subordinados para a condução de atividades relacionadas à influência; e preencher as lacunas existentes em políticas, supervisão, governança e integração relacionadas a questões de gestão de influência e percepção. [IPMO]... presta o apoio necessário à Estratégia Nacional de Defesa... para enfrentar o atual ambiente estratégico de grande competição de poder".

No entanto, as referências a "revelar e ocultar" e "gestão de influência e percepção" são tentadoras ao extremo. Assim como a posição do IPMO dentro da estrutura de segurança nacional dos EUA e o diretor interino do Escritório estão intimamente ligados às operações mais assustadoras do Pentágono.

Apesar de seu lançamento discreto, o IPMO parece pronto para ser uma nova agência de DoD extremamente influente no futuro, travando uma guerra de informações incessante no país e no exterior. O que torna a nova empreitada ainda mais sinistra é que tais capacidades não são novidade; o Pentágono administrou várias operações semelhantes, se não idênticas, no passado e continua a fazê-lo, apesar da controvérsia significativa e da reação pública.

De fato, o dicionário oficial do DoD tem uma definição dedicada de "gerenciamento da percepção", ligando a prática a "operações psicológicas", que são definidas como ações destinadas a influenciar as "emoções, motivos, raciocínio objetivo e, em última análise, o comportamento" de governos, organizações, grupos e indivíduos-alvo:

Ações para transmitir e/ou negar informações e indicadores selecionados a públicos estrangeiros para influenciar suas emoções, motivos e raciocínio objetivo, bem como a sistemas de inteligência e líderes em todos os níveis para influenciar estimativas oficiais, resultando em comportamentos estrangeiros e ações oficiais favoráveis aos objetivos do originador. De várias maneiras, a gestão da percepção combina projeção da verdade, segurança das operações, cobertura e engano e operações psicológicas."

Isso, é claro, levanta a questão de por que uma nova encarnação do que veio antes e nunca desapareceu está agora sendo inaugurada pelo establishment de defesa dos EUA. Como veremos, não há respostas tranquilizadoras.

Portugal | CAVALGADAS DE TRÓIA

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião 

Ricardo Salgado já foi o Dono Disto Tudo e os Espírito Santos já brincaram muito aos pobrezinhos na Comporta, declarando guerra aos mosquitos. Hoje há os Amorim, os Novos Donos Disto. São agora eles os Reis da Comporta que arrasam o tesouro ecológico que é a Costa Azul, gozando, claro, de um "estatuto especial" como é apanágio das monarquias.

Note-se que o troço entre Tróia e Melides tem 40 kms de costa selvagem (da pouca que sobra), um paraíso de praias adornadas por dunas, lagoas e sapais, casa-mãe de uma biodiversidade única. E para que é que Paula Amorim o quer abocanhar? Para negócio, claro. Empreendimentos para ultra-ricos.

A dona de uma fortuna de 5 mil milhões de euros (na Forbes, entre os mais poderosos do Mundo num país de pobres) prepara já um restaurante de luxo junto à Praia do Pêgo. Depois de ter expulsado o concorrente, o clã da Corticeira e da Galp Energia começou as obras destruidoras cujas autorizações só podem ter sido obtidas por tráfico de influências. Foi dada uma licença para o tal clube privado nivelar o areal em frente e colocar um deck que requer a escavação de toneladas de areia na linha de maré-cheia. E prepara-se um acesso exclusivo à praia que irá garantir exclusividade aos seus associados, transformando-a numa praia privativa. Isto é, violando a lei.

Pois é. Nos Hamptons de Portugal já se pode comprar roupa de luxo, inclusive na pequena Freguesia do Carvalhal, o sítio onde tudo acontece, inclusive festas muito privadas em mansões à porta fechada e encontros nos "spots" da moda, onde os preços triplicaram em pouco mais de um ano e onde se engole rápido aquilo que a natureza levou anos e anos e anos a arquitectar.

De resto, segue a construção de resorts, campos de golfe, palácios de férias, aldeamentos balneares, piscinas, jardins, estradas. Declaram-se "eco" e de luxo, mas liquidam habitats dunares e usurpam água, logo eco não são certamente. Já o ataque à nossa natureza não é um luxo a que nos queiramos (ou devêssemos) dar.

Portugal | A OUTRA FACE

Henrique Monteiro | Henricartoon

PR Sissoco e Simões Pereira divergem sobre governação da Guiné-Bissau

O Presidente guineense e Simões Pereira, líder da coligação que venceu as legislativas, divergem sobre condução do país até à tomada de posse do novo governo. Equipa de transição está fora de questão, avisou já Sissoco.

Menos de uma semana depois do anúncio dos resultados das eleições legislativas, ganhas pela coligação Plataforma da Aliança Inclusiva - PAI Terra Ranka, abriu-se o debate sobre a forma da condução do país, até à tomada de posse do novo governo.

Perante vários problemas sociais, associados aos relatos da fome no interior do país, devido à má campanha de comercialização da castanha de caju, o líder da Plataforma da Aliança Inclusiva - PAI TERRA Ranka, a coligação que ganhou as eleições legislativas de 4 de junho na Guiné-Bissau, com maioria absoluta, anunciou um plano para sanar a situação. 

Num comício realizado em Bissau, no sábado (10.06), para celebrar a vitória eleitoral, Domingos Simões Pereira (DSP) anunciou a criação de uma equipa, destinada a trabalhar com o atual governo guineense, para resolver os vários problemas socais, enquanto se aguarda a tomada de posse do novo executivo.

"Através da Plataforma PAI Terra Ranka, vamos criar uma equipa de transição, que se vai sentar com o atual governo, para começarmos a tomar medidas de urgência, que vão resolver os problemas [do país] com a maior brevidade", disse.

Angola | O ÚLTIMO REDUTO DA DIGNIDADE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Uma conceituada jurista, doutorada, com larga experiência na magistratura judicial considerou, numa recente entrevista, que a forma como são nomeados os juízes para os Tribunais Superiores, compromete a independência dos nomeados face ao Poder Político. Põe em causa as garantias fundamentais dos cidadãos, pilares do Estado de Direito. 

A Magistratura Judicial não é pessoal do Executivo. As e os magistrados não são auxiliares do Titular do Poder Executivo. Isso de nomeações é para motoristas, governadores, administradores, secretárias e outro pessoal da administração pública ou da governação. O Poder Judicial é independente do Poder Político. Independência total e completa igual há que exigimos e pela qual nos batemos na luta pela Libertação Nacional, ao lado de Agostinho Neto.

Um caso paradigmático é o conhecido processo dos “500 milhões”, no qual quatro dos oito venerandos conselheiros do Tribunal Supremo votaram contra a confirmação da condenação dos arguidos, invocando muitos atropelos aos direitos de defesa. Um jurista bem formado que tenha lido as declarações de voto de vencido, não tem grandes dúvidas a respeito dessas grosseiras violações. 

A condenação dos arguidos nesse caso é mais do que duvidosa. José Filomeno dos Santos (Zeno) e os restantes arguidos foram vítimas evidentes da falta de imparcialidade dos venerandos conselheiros do Tribunal Supremo. Um absurdo kafkiano no quadro do Estado de Direito.

O caso Augusto Tomás revelou um esquema de extorsão montado para beneficiar judicialmente quem aceitar a candonga de sentenças. Quem não alinhar vai preso ou fica a apodrecer na cadeia. O caso é público mas tenho receios fundados de que seja apenas a ponta do iceberg. Certo (certeza que brota da realidade) é que o respeito pela legalidade cede lugar a outros interesses. Pouco interessa quais. Desde que o processo esteja inquinado por instruções ilegítimas e abusivas, temor ou simples subserviência, a legalidade será sempre espezinhada, ainda que os desvios possam divergir para satisfação de ambições pessoais.  

No caso São Vicente, ainda pendente, o arguido é inexplicavelmente mantido preso quando está largamente excedido o prazo de prisão preventiva. E não há magistrado que o ignore. Mas este processo está eivado também de muitos outros vícios. Vou revelar apenas uma pequena amostra. E se na montra é assim, imaginem o que vai no armazém.

Professores angolanos sem salários de maio e sem qualquer explicação do Governo

O Sindicato Nacional dos Professores (Sinprof) denunciou hoje que a maioria dos agentes de educação angolanos está sem receber os salários do mês de maio, sem qualquer explicação por parte do Governo.

Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral do Sinprof disse que só foram pagos até à data os professores das províncias de Luanda e de Benguela e de apenas uma escola da província do Huambo.

"Infelizmente, o Governo não está a cumprir a máxima do Presidente João Lourenço na parte do comunicar melhor. Nós já consultamos quer o Ministério das Finanças quer o Ministério da Educação -- a culpa não é do Ministério da Educação, porque não paga salários -- mas o Ministério das Finanças, infelizmente, não diz a razão real deste atraso", disse à Lusa Admar Jinguma.

Segundo o sindicalista, "especula-se apenas que seja problema de tesouraria", mas como os professores não podem especular, têm que ter "coisas concretas".

Médicos angolanos ameaçam paralisar os serviços devido a atraso nos salários

Médicos angolanos ameaçaram hoje paralisar os serviços, caso o Governo não esclareça até quinta-feira os motivos do atraso no pagamento do salário do mês de maio, disse à Lusa fonte sindical.

Segundo o secretário-geral do Sindicato Nacional dos Médicos Angolanos (Sinmea), o Governo não informou a razão do atraso e, por isso, a classe "vai ter de reagir mesmo".

"Em alguns setores, no meu hospital por exemplo, vai haver o abandono laboral, se até ao dia 15, depois de amanhã, a entidade patronal não disser nada, vamos paralisar mesmo, até que nos digam alguma coisa, porque não se justifica", garantiu Pedro da Rosa.

O sindicalista salientou que "alguns médicos de hospitais terciários foram pagos, mas a esmagadora maioria não", realçando que a situação na província de Luanda, capital de Angola, "a situação é igual".

"Hospitais gerais, provinciais, municipais, ninguém recebeu, então estamos a pensar realmente numa paralisação, temos contas a pagar e ninguém nos dá satisfação nenhuma. Ninguém diz nada nem transpira nada também, disseram-nos no princípio do mês que seriamos pagos entre 15 e 20, isso é o que se diz por aí", frisou o médico.

Angola | ENTREVISTA A UM PASSARINHO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Hoje fui visitado por um morto falante. Apareceu a esvoaçar em impulsos de asa tipo catuituí e poisou no meu nariz batata-doce. Pedi-lhe, polidamente, que fosse poisar nos galhos do professor doutor advogado jurista editor escritor vendedor Benja Satula. O passarinho soluçou, engoliu em seco e disse-me num tom quase inaudível: Eu sou o amante da Solange Faria. Tenho coisas muito interessantes para revelar. Quero ser entrevistado. 

E eu, mesmo reformado dessas coisas do jornalismo preparei o papel e a caneta. Vamos a isso.

Apaixonei-me pela psicográfica entrevistadora necrologista Solange quando ela deu o nó com o Satula. Ele cortou-me a luz. Aqui onde estou não vejo nada. Disse à minha amada psicografite que era melhor matarmos o nosso amor à nascença. Mas ela reagiu mal. E eu fui para a frente. Os filhos do Satula são meus filhos. O dinheiro do Satula é o meu dinheiro. O advogado sou eu. O Satula é o cozinheiro e lavadeiro da minha amada Solange O Satula é capado. Nem viagra o salva. Mas finge que é macho. Aqui onde estou sozinho não há luz. O sacana do ministro da energia é amigo do Satula e cortou-me a luz. O gerador está avariado. Foi o Adalberto que mandou vandalizar a máquina de dar à luz. Escuridão. Salvem-me da solidão. Salvem-me da escuridão. 

O passarinho bateu as asas, passou o bico pelo peito e continuou: 

A Solange é uma tarada. Convenceu o Satula amatar-me. E ele, fraco, matou mesmo. Estou aqui morto, na escuridão. Nem os anjos caídos em desgraça me dão confiança. Tenho encontrado o Savimbi mas ele também se queixa da falta de luz. Vai convocar uma manifestação de protesto porque não o deixam fazer fogueiras e queimar mulheres. Ele quer muito queimar a Solange mas tiraram-lhe a lenha e os fósforos. Vai abrir aqui uma Jamba.

Como foi isso do 27 de Maio, passarinho?

Justino Pinto de Andrade! Também matou o Ricardo Melo e o Nfulupinga Vítor. Ainda ontem falei com o maninho Miala e ele confirmou. Todos mortos pelo deputado da UNITA. Aqui onde estou é só escuridão. O paraíso não é o que dizem. Este condomínio é gerido pelos gajos da Cidade do Kilamba. Água nada, luz foi. Capim nos jardins. Carros nos passeios. Elevadores avariados. Aqui onde estou é muita escuridão. Quero a minha Solange. Estrou cheio de tesão. Mas não me mandem o Satula esse assassino capado, frouxo, invertido, infectado pelo vírus da sida, fonte perene de covid, fossa de maldades. Aqui onde estou é só escuridão. Estou sozinho. Nem o Savimbi se comove com a minha solidão. Passa os dias a convencer Dona Isabel Paulino que foi o Abílio Camalata Numa que a enterrou viva.

Angola | Gato Escondido com Rabo à Vista – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)  e o Instituto Nacional de Estatística (INE) fizeram um estudo  do qual retiro esta conclusão: Nove milhões de angolanos estão na economia informal e isso significa 80 por cento da população activa dos 15 aos 60 anos. A pandemia devastou esta parte da população. Porque ficaram sem qualquer rendimento. Sem trabalho. Sem clientes nas ruas, nas praças, nos passeios, nos prédios. Sem comida na mesa. Uma tragédia humanitária que devastou a sociedade angolana, das grandes cidades às comunidades rurais. A população da Grande Luanda foi a mais castigada.

Milhões de Luandenses perderam todos os recursos. Todas as fontes de receitas. Toda as hipóteses de sobrevivência com dignidade. A pequena parte que escapou à tragédia foi fustigada com o desemprego, salários em atraso, subida em flecha dos preços nos produtos essenciais. Antes do COVID 19 já enfrentavam salários rastejantes. 

O Executivo respondeu muito bem no combate à pandemia. Respondeu muito mal na protecção social dos cidadãos. Provavelmente não podia responder melhor. Mas nesse caso era necessário trabalhar muitíssimo mais e informar melhor. Não sei se houve apoios especiais às empresas para salvaguardar postos de trabalho. Se os nove milhões que labutam na economia informal tiveram prestações sociais que lhes garantissem o mínimo para viver dignamente. Não sabemos se foram tomadas medidas para amortecer o impacto da pandemia no ensino de todos os níveis. Alguma coisa foi feita. Mas insuficiente.

Os efeitos da pandemia são conhecidos. As eleições de 2022 mostraram claramente que foram devastadores no tecido social e por isso mesmo nos resultados eleitorais.

A pandemia levou organizações políticas antagónicas a juntarem os trapinhos. Amigaram por conveniência. A CASA-CE era uma dissidência radical da UNITA. A COVID 19 fez o milagre de unir Abel Chivukuvuku a Adalberto da Costa Júnior. O vinho a martelo misturado com água choca. O vírus mortífero fez o milagre de unir maoistas e revoltosos inactivos (Bloco Democrático) aos inimigos figadais do Galo Negro. Os “revus”, defensores do queremos tudo agora, entraram nas listas de deputados da UNITA que desde 1975 a 2002 serviu os interesses dos racistas da África do Sul que para hoje só tinham a dar mortes e destruições. 

O COVID19 fez o milagre de transformar a UNITA num mero partido de protesto, de costas voltadas para as instituições democráticas e para a Democracia. Ao mesmo tempo estimulou alianças contranatura. Muto interessante.

A ausência de respostas sociais, económicas e políticas eficazes por parte do Executivo apoiado pelo MPLA ditou uma abstenção nunca vista. Somados os votos brancos e nulos dava uma maioria qualificada extra parlamentar.

BERLUSCONI: VIRAR A PÁGINA OU NEM POR ISSO?

Miguel Prado, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia

José Saramago chamou-lhe “a coisa”, “vírus” e “delinquente”. Vladimir Putin fala agora numa “perda irreparável”. E a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, destaca-o como “um dos homens mais influentes da história de Itália”, no meio de um conjunto de reações que não deixam de reconhecer o peso que teve na vida política, económica e social do país nas últimas décadas. Berlusconi não foi, não é, não será consensual.

O magnata e político deixa para trás uma vida marcada por controvérsias, conquistas empresariais e políticas, processos judiciais, festas com raparigas menores de idade. A história da vida de “Il Cavaliere” é todo um filme, mas vale a pena ler no Expresso o perfil que o nosso correspondente em Roma traça de Berlusconi.

Noutro registo, o Wall Street Journal recorda a sua vida numa fotogaleria que começa com o retrato de Berlusconi enquanto jovem, figura que começou a juntar dinheiro a cantar em festas privadas e em viagens de cruzeiro, antes de criar um negócio imobiliário em Milão, com o qual iniciou a vida de empresário que o levaria a tornar-se um magnata dos media e do futebol.

Para trás ficam incontáveis episódios que ajudam a colorir a história de um homem controverso. Em abril de 2009, à chegada à cimeira da NATO em Kehl, na Alemanha, Silvio Berlusconi deixou Angela Merkel pendurada na passadeira vermelha enquanto falava ao telefone, obrigando a chanceler a receber outros chefes de Governo, incluindo José Sócrates, fora da ordem do protocolo. Esta segunda-feira, George Parker, editor político do Financial Times, também recordava, no Twitter, um encontro tenso do Conselho Europeu, em Bruxelas, no qual Berlusconi decidiu “quebrar o gelo” com uma conversa sobre futebol e mulheres, convidando Gerhard Schroder a dar o pontapé de partida.

Aos 86 anos, e com a deterioração do seu estado de saúde, a morte de Silvio Berlusconi não foi uma surpresa, mas poderá abrir novos desenvolvimentos políticos e económicos em Itália. Na análise publicada pelo britânico The Guardian, surgem agora desafios para o partido Forza Italia (o que pode também ter implicações na governação da sua aliada Giorgia Meloni). E como reportou a Bloomberg, as ações do conglomerado de media MFE – Media for Europe chegaram a valorizar em bolsa 11% esta segunda-feira, com a expectativa de que as herdeiras de Berlusconi possam vender o negócio.

A morte de Berlusconi pode virar uma página em Itália, mas não acaba com o populismo do mundo, que vai sobrevivendo às derrotas eleitorais de fenómenos como Donald Trump, que esta terça-feira irá a tribunal, em Miami, no processo em que é acusado de se ter apropriado de documentos classificados dos Estados Unidos depois de ter deixado a Casa Branca. O processo de Trump será um dos temas do dia, numa terça-feira também marcada, nos EUA, pelo início da reunião da Reserva Federal (em que é esperada uma estabilização dos juros de referência na economia norte-americana). Lá fora, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prossegue um périplo sul-americano: depois de ontem ter sido recebida em Brasília por Lula da Silva, hoje estará em Buenos Aires com o presidente argentino, Alberto Fernández.

Por cá, em feriado de Santo António, que deixará os lisboetas a descansar na ressaca da vitória da marcha da Bica no desfile da última noite, a Casa Fernando Pessoa celebra os 135 anos do nascimento do escritor (cuja vida é objeto de um filme do realizador Edgar Pêra que chegará aos cinemas em outubro). Ainda em Lisboa, termina hoje a Feira do Livro.

A atualidade nacional continua ainda marcada, no panorama político, pelos cartazes que alguns professores mostraram ao primeiro-ministro nas comemorações do 10 de Junho, com uma “linha ténue” entre a liberdade de expressão e o mau gosto, tema que exploramos neste artigo. E é também esse o assunto no episódio desta terça-feira do podcast Expresso da Manhã: a luta dos professores deu um passo atrás? É também esse um dos temas do mais recente episódio do nosso podcast Comissão Política: “Frustração, cartazes, vaias e um Costa de peito feito”. Pode ouvir aqui.

Portugal | A JUSTIÇA DA JUSTIÇA PORTUGUESA

Existe a perceção dos Oeirenses de que no concelho estão em curso decisões públicas inaceitáveis. Os oeirenses indignam-se com o que ocorre em Algés, Miraflores, Linda-a-Velha, Paço de Arcos, Caxias, Dafundo, Cruz Quebrada ou Oeiras.

Fernando Tenreiro | AbrilAbril | opinião

A morte direta da Quinta da Maruja, em Linda-a-Velha, começou com a entrada de uma construtora em Março. Os vizinhos interpuseram uma providência cautelar alegando a violação dos artigos 59.º e 60.º do Regulamento geral das edificações urbanas (RGEU) que se relacionam com as distâncias do novo prédio aos vizinhos. Segundo a Lei, um prédio que viole estes artigos não se constrói.

O juiz aprovou a providência cautelar liminarmente e mandou parar a obra. 

A câmara, alegando urgência, enviou ao juiz mais de 80 megabytes de documentos e reinicia a obra visando consumar a construção do prédio que sabe ser ilegal. Apesar de alertada pelos vizinhos e partidos, a autarquia não dialogou sobre a violação do RGEU.

Chegou-se a Junho e o juiz não se pronunciou sobre a urgência da autarquia. Ter-lhe-ia bastado ouvir as partes e especialistas como os da Ordem dos Arquitetos e decidir o respeito pelos artigos 59.º e 60.º do RGEU. Evitaria, aos cidadãos, a destruição de valor social, ambiental, urbanístico, económico e político da ilegalidade da CMO.

Durante o silêncio da Justiça, a câmara destruiu por completo a Quinta da Maruja: a fonte de água (como fez no Centro de Saúde de Algés e que continua fechado depois das inundações de há meses atrás), o arvoredo, cerca de 2 metros de profundidade de terras aráveis que tratou como entulho em vez de as proteger, misturou o solo com os restos dos muros, das árvores cortadas fora do perímetro da Maruja e os restos das casas que serviriam para fins sociais e culturais dos vizinhos.

Portugal registou o quinto maior défice da balança comercial na União Europeia

De acordo com o INE, no que toca à balança comercial na UE e Zona Euro, Portugal registou o quinto maior défice. China é o maior fornecedor extra-UE. Alemanha registou o maior excedente.

Relativamente a 2022, o INE destaca que as exportações portuguesas de bens atingiram o valor total “mais elevado de sempre das estatísticas do comércio internacional” com 78,207 milhões de euros e aumentando assim 22,9% face a 2021. Segundo o INE há um «maior dinamismo» nas exportações portuguesas no quadro do conjunto de países da zona Euro.

Relativamente às importações, Portugal registou também «o valor mais elevado de sempre das estatísticas do comércio internacional» com valores que atingem 109.243 milhões de euros, um crescimento de 31,4% face a 2021.

Numa comparação entre exportações e importações verifica-se assim um défice na balança comercial portuguesa que não consegue quebrar o ritmo das importações, algo que pode indicar um país cada vez mais dependente da capacidade produtiva de outros e com uma enorme ausência de soberania. 

Os dados no ano passado indicam ainda que as importações provenientes de países dentro da UE aumentaram 23,9% face a 2021 e na zona euro cresceram 24,3% e fora da UE a China manteve-se como principal fornecedor, passando a ser o quarto principal país parceiro com um peso de 5,1%.

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