terça-feira, 13 de junho de 2023

BERLUSCONI: VIRAR A PÁGINA OU NEM POR ISSO?

Miguel Prado, jornalista | Expresso (curto)

Bom dia

José Saramago chamou-lhe “a coisa”, “vírus” e “delinquente”. Vladimir Putin fala agora numa “perda irreparável”. E a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, destaca-o como “um dos homens mais influentes da história de Itália”, no meio de um conjunto de reações que não deixam de reconhecer o peso que teve na vida política, económica e social do país nas últimas décadas. Berlusconi não foi, não é, não será consensual.

O magnata e político deixa para trás uma vida marcada por controvérsias, conquistas empresariais e políticas, processos judiciais, festas com raparigas menores de idade. A história da vida de “Il Cavaliere” é todo um filme, mas vale a pena ler no Expresso o perfil que o nosso correspondente em Roma traça de Berlusconi.

Noutro registo, o Wall Street Journal recorda a sua vida numa fotogaleria que começa com o retrato de Berlusconi enquanto jovem, figura que começou a juntar dinheiro a cantar em festas privadas e em viagens de cruzeiro, antes de criar um negócio imobiliário em Milão, com o qual iniciou a vida de empresário que o levaria a tornar-se um magnata dos media e do futebol.

Para trás ficam incontáveis episódios que ajudam a colorir a história de um homem controverso. Em abril de 2009, à chegada à cimeira da NATO em Kehl, na Alemanha, Silvio Berlusconi deixou Angela Merkel pendurada na passadeira vermelha enquanto falava ao telefone, obrigando a chanceler a receber outros chefes de Governo, incluindo José Sócrates, fora da ordem do protocolo. Esta segunda-feira, George Parker, editor político do Financial Times, também recordava, no Twitter, um encontro tenso do Conselho Europeu, em Bruxelas, no qual Berlusconi decidiu “quebrar o gelo” com uma conversa sobre futebol e mulheres, convidando Gerhard Schroder a dar o pontapé de partida.

Aos 86 anos, e com a deterioração do seu estado de saúde, a morte de Silvio Berlusconi não foi uma surpresa, mas poderá abrir novos desenvolvimentos políticos e económicos em Itália. Na análise publicada pelo britânico The Guardian, surgem agora desafios para o partido Forza Italia (o que pode também ter implicações na governação da sua aliada Giorgia Meloni). E como reportou a Bloomberg, as ações do conglomerado de media MFE – Media for Europe chegaram a valorizar em bolsa 11% esta segunda-feira, com a expectativa de que as herdeiras de Berlusconi possam vender o negócio.

A morte de Berlusconi pode virar uma página em Itália, mas não acaba com o populismo do mundo, que vai sobrevivendo às derrotas eleitorais de fenómenos como Donald Trump, que esta terça-feira irá a tribunal, em Miami, no processo em que é acusado de se ter apropriado de documentos classificados dos Estados Unidos depois de ter deixado a Casa Branca. O processo de Trump será um dos temas do dia, numa terça-feira também marcada, nos EUA, pelo início da reunião da Reserva Federal (em que é esperada uma estabilização dos juros de referência na economia norte-americana). Lá fora, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prossegue um périplo sul-americano: depois de ontem ter sido recebida em Brasília por Lula da Silva, hoje estará em Buenos Aires com o presidente argentino, Alberto Fernández.

Por cá, em feriado de Santo António, que deixará os lisboetas a descansar na ressaca da vitória da marcha da Bica no desfile da última noite, a Casa Fernando Pessoa celebra os 135 anos do nascimento do escritor (cuja vida é objeto de um filme do realizador Edgar Pêra que chegará aos cinemas em outubro). Ainda em Lisboa, termina hoje a Feira do Livro.

A atualidade nacional continua ainda marcada, no panorama político, pelos cartazes que alguns professores mostraram ao primeiro-ministro nas comemorações do 10 de Junho, com uma “linha ténue” entre a liberdade de expressão e o mau gosto, tema que exploramos neste artigo. E é também esse o assunto no episódio desta terça-feira do podcast Expresso da Manhã: a luta dos professores deu um passo atrás? É também esse um dos temas do mais recente episódio do nosso podcast Comissão Política: “Frustração, cartazes, vaias e um Costa de peito feito”. Pode ouvir aqui.

OUTRAS NOTÍCIAS

Justiça. A PGR designou uma equipa especial para o caso Tutti Frutti, com cinco procuradores e cinco inspetores da PJ em exclusividade. Noutra frente, o caso EDP, António Mexia e Manso Neto pediram ao Supremo para afastar a juíza do seu processo. No processo da divulgação de e-mails do Benfica, o diretor de comunicação do Futebol Clube do Porto foi condenado a uma pena suspensa de um ano e dez meses de prisão. E ficámos também a saber que o juiz Carlos Alexandre foi colocado numa secção criminal do Tribunal da Relação de Lisboa.

Reino Unido. Boris Johnson anunciou, numa carta, o abandono “por agora” da vida política. Será? “Independentemente do quão genial possa ser a usar palavras, as pessoas já não acreditam no que sai da sua boca”, diz ao Expresso o especialista em sondagens John Curtice, numa análise ao futuro de Boris que pode ler aqui.

Internet. A plataforma digital de debates Reddit decidiu passar a cobrar taxas pelo acesso ao interface que permite a várias aplicações e sites usar os seus conteúdos, e em protesto mais de 6 mil grupos de debate do Reddit fecharam portas temporariamente. Será que o Reddit cede?

TAP. António Pires de Lima deixou aos deputados uma carta de 2015 sobre a TAP, cujos contornos aqui detalhamos, na véspera de a comissão parlamentar de inquérito retomar os seus trabalhos, na última semana de audições.

FRASES

“Não ofende quem quer, ofende quem pode”

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, ao desvalorizar os cartazes contra Costa de “uma minoria muito pequena de professores”

“Descobrimos sobretudo, até agora, um primeiro-ministro que há mais de 50 dias está em fuga dos portugueses”

Rui Rocha, presidente da Iniciativa Liberal, pedindo a António Costa esclarecimentos sobre a atuação do SIS no caso do ex-adjunto de João Galamba

“Isto é uma catástrofe total”

Manuel Gonçalves, presidente da Federação Nacional de Apicultores, sobre a pior crise em 40 anos na produção de mel em Portugal

“São filhos da selva, e agora também são filhos da Colômbia”

Gustavo Petro, presidente da Colômbia, sobre o bebé e as três crianças resgatadas com vida na última sexta-feira na selva amazónica no sul do país

PODCASTS A NÃO PERDER

“A Fenprof é o inimigo número um da escola pública”, a “rolha apertada” de Mendonça Mendes e a JMJ “tem francamente tudo para correr mal”. Miguel Sousa Tavares de Viva Voz assume não nutrir simpatia pelas greves dos professores, considera o assunto do SIS e do portátil uma perda de tempo e assume dúvidas quanto à exequibilidade da Jornada Mundial da Juventude.

Quando a AD era feliz e não sabia. 2013 foi um annus horribilis. Portugal sob resgate, a troika sem dar folga, o país estourado, as grandoladas nas ruas e o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas a deslaçar. Há dois homens - Luís Montenegro e Nuno Magalhães, ex-líderes parlamentares do PSD e do CDS - que viveram por dentro dramas e segredos da coligação que esteve por um fio. E é com eles que Ângela Silva revisita histórias desse ano louco, neste episódio do Liberdade para Pensar

“As pessoas desistem dos líderes. Muitas deixam a empresa porque já não suportam o chefe”. Amor, gestão e liderança. O resultado foi a job discription certa para uma das profissões do futuro: chief love officer. Cristina Amaro, presidente executiva da The Empower Brands House e autora do livro “Chief Love Officer”, é a convidada de Cátia Mateus em O CEO é o Limite

O QUE ANDO A LER

“Como perder uma eleição”, de Luís Paixão Martins, editado pela Livros Zigurate, é uma leitura que vale bem a pena, tanto para políticos inexperientes como para cidadãos curiosos, porque nos conta uma parte dos bastidores da política, do ponto de vista de um especialista em comunicação que trabalhou várias campanhas eleitorais, com Cavaco Silva, José Sócrates e António Costa. Num registo que cruza as suas experiências profissionais em comunicação política com a história de outras campanhas lá fora que marcaram o século passado, Luís Paixão Martins guia-nos sobre o que, do seu ponto de vista, se deve fazer e evitar fazer para marcar pontos (ou não os perder) numa corrida eleitoral. É também um conjunto de apontamentos sobre gestão de crises, relação com os media e capacidade de comunicar eficazmente num mundo mais globalizado e marcado pelos múltiplos desafios associados às redes sociais.

E aqui termino este Expresso Curto, deixando-lhe o convite para continuar a ler-nos na nossa edição digital, e para não deixar de visitar a Tribuna Expresso, a Blitz, o Boa Cama Boa Mesa, e a nossa seleção de exclusivos para assinantes (se ainda não é, saiba aqui que opções tem). Votos de uma boa terça-feira!

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