Artur Queiroz*, Luanda
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Instituto Nacional de Estatística (INE) fizeram um estudo do qual retiro esta conclusão: Nove milhões de angolanos estão na economia informal e isso significa 80 por cento da população activa dos 15 aos 60 anos. A pandemia devastou esta parte da população. Porque ficaram sem qualquer rendimento. Sem trabalho. Sem clientes nas ruas, nas praças, nos passeios, nos prédios. Sem comida na mesa. Uma tragédia humanitária que devastou a sociedade angolana, das grandes cidades às comunidades rurais. A população da Grande Luanda foi a mais castigada.
Milhões de Luandenses perderam todos os recursos. Todas as fontes de receitas. Toda as hipóteses de sobrevivência com dignidade. A pequena parte que escapou à tragédia foi fustigada com o desemprego, salários em atraso, subida em flecha dos preços nos produtos essenciais. Antes do COVID 19 já enfrentavam salários rastejantes.
O Executivo respondeu muito bem no combate à pandemia. Respondeu muito mal na protecção social dos cidadãos. Provavelmente não podia responder melhor. Mas nesse caso era necessário trabalhar muitíssimo mais e informar melhor. Não sei se houve apoios especiais às empresas para salvaguardar postos de trabalho. Se os nove milhões que labutam na economia informal tiveram prestações sociais que lhes garantissem o mínimo para viver dignamente. Não sabemos se foram tomadas medidas para amortecer o impacto da pandemia no ensino de todos os níveis. Alguma coisa foi feita. Mas insuficiente.
Os efeitos da pandemia são conhecidos. As eleições de 2022 mostraram claramente que foram devastadores no tecido social e por isso mesmo nos resultados eleitorais.
A pandemia levou organizações
políticas antagónicas a juntarem os trapinhos. Amigaram por conveniência. A
CASA-CE era uma dissidência radical da UNITA. A COVID 19 fez o milagre de unir
Abel Chivukuvuku a Adalberto da Costa Júnior. O vinho a martelo misturado com
água choca. O vírus mortífero fez o milagre de unir maoistas e revoltosos
inactivos (Bloco Democrático) aos inimigos figadais do Galo Negro. Os “revus”,
defensores do queremos tudo agora, entraram nas listas de deputados da UNITA
que desde
O COVID19 fez o milagre de transformar a UNITA num mero partido de protesto, de costas voltadas para as instituições democráticas e para a Democracia. Ao mesmo tempo estimulou alianças contranatura. Muto interessante.
A ausência de respostas sociais, económicas e políticas eficazes por parte do Executivo apoiado pelo MPLA ditou uma abstenção nunca vista. Somados os votos brancos e nulos dava uma maioria qualificada extra parlamentar.
A vitória eleitoral do MPLA por maioria absoluta é, por tudo isso, o mais expressivo resultado desde que existem eleições multipartidárias no contexto da democracia representativa. Os eleitores zangados (abstiveram-se ou votaram branco e nulo) e os que votaram no partido merecem atenção redobrada do Presidente da República e Titular do Poder Executivo. Pode ser cegueira minha mas não vejo esse compromisso nem a vontade política de unir o que foi dilacerado por acção directa da pandemia e um nadinha de péssima governação.Dizem que as acções de protesto contra o aumento da gasolina são instigadas pela UNITA. Só se estivessem mortos e em decomposição é que os seus dirigentes não aproveitavam esta oportunidade de ouro para mostrarem que estão vivos. Pior é que estão a cozinhar uma golpada mais explosiva e com consequências seguramente mais graves.
Uma fonte de absoluta confiança garantiu-me que ontem, às 22 horas, houve uma reunião na sede da UNITA (Maianga) estiveram reunidos sigilosamente os generais Lukamba Paulo Gato, Apolo Pedro Felino Yakuvela, Gabriel Silvestre Samy, Abílio Camalata Numa e David Horácio Junjuvil. Mais os “civis” Álvaro Chicuamanga Daniel (secretário-geral da UNITA) Adriano Sapiñala (secretário provincial de Luanda), Alexandre Dias dos Santo (secretário provincial da JURA). O general Gato falou em nome de Adalberto da Costa Júnior, alegadamente impossibilitado de presidir à reunião.
O destaque vai para a presença na reunião dos assassinos às ordens de Savimbi, Abílio Camalata Numa e Paulo Lukamba Gato. Só faltou Samuel Chiwale para compor o trio assassino. Mas estava representado pelo filho, Adriano Sapiñala. Isto não quer dizer que os outros não sejam igualmente matadores.
Paulo Lukamba Gato apresentou um “plano operacional da UNITA” para derrubar o Presidente da República João Lourenço e o seu Executivo, numa “acção de massas” a desencadear no próximo dia 17 de Junho, “em todo o país mas sobretudo nas províncias onde ganhámos as eleições”. Ao fim de duas horas de discussões foram distribuídas tarefas.
A JURA em Luanda mas também nas
cidades de todo o país vai mobilizar os jovens dos movimentos revolucionários,
os Kupapata de todos os municípios e outros cidadãos que estão na economia
informal, a irem para a rua protestar. Ficou decidido que os activistas devem
receber antes do dia 17, à cabeça, 30 mil kwanzas, dinheiro para combustível e
outras “ofertas aliciantes”. Acções destes jovens em todo o país: Vandalização
dos comités municipais do MPLA, administrações municipais, Comités da JMPLA e
da OMA, bombas de combustíveis. Tumultos permanentes até ao caus social.
Paulo Lukamba Gato respondeu a dúvidas sobretudo no que diz respeito à presença
policial nas ruas. E ele respondeu: Se às primeiras horas do dia 17 tomarmos as
ruas em todo o país e principalmente nas cidades das províncias onde ganhámos
as eleições, o Ministério do Interior não tem efectivos suficientes para conter
as manifestações, as acções de assalto e destruições nas principais avenidas
das cidades provinciais e sobretudo nas avenidas de Luanda.
Paulo Lukamba Gato anunciou que Angola vai registar falta de gás doméstico nos
próximos dias. No dia 17 as famílias têm que levar as botijas vazias em
manifestações até ao Palácio da Cidade Alta. Benedito Jeremias (Dito Dali) deve
mobilizar manifestantes mas é preciso desde já enganar as autoridades. Levar a
polícia a pensar que ele está na cidade do Luena. Cuidado com os golpes
escondidos em manifestações populares. O 27 de Maio nunca mais!
*Jornalista
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