domingo, 1 de outubro de 2023

Europa, uma garota da Ásia Ocidental, estuprada novamente por um touro americano

Na estratégia do Kremlin, o objectivo final é desmilitarizar e esmagar a NATO. Estamos chegando lá, lenta mas seguramente.

Pepe Escobar* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

Podemos sempre sonhar que, seguindo um fio de Ariadne, poderíamos, apenas poderíamos, libertar-nos do atual e incandescente labirinto geopolítico, aplicando uma mercadoria extremamente exagerada: a lógica.

No entanto, a cultura pós-tudo e cancelada do Ocidente também cancelou a lógica.

Em caso de dúvida, pelo menos podemos voltar aos mitos fundamentais.

Voltemos então ao nascimento do Ocidente, como na Europa.

A lenda nos conta que um belo dia Zeus fixou seu olhar errante em uma linda garota de olhos grandes e brilhantes, filha de uma civilização talassocrática do Levante: Europa.

Pouco depois, numa praia imaculada da costa fenícia, apareceu um extraordinário touro branco. Europa, intrigada, aproximou-se e começou a acariciar o touro; claro, era Zeus disfarçado. O touro anexou Europa e disparou em direção ao mar.

Zeus teve três filhos com Europa – e deixou-lhe uma lança que nunca errava o alvo. Um desses filhos, como todos sabemos, foi Minos, que construiu um labirinto.

Mas acima de tudo o que a lenda nos ensinou foi que o Ocidente nasceu de uma menina – Europa – que veio do Oriente.

A rejeição da França na África francófona sanciona 12 anos de traições

Thierry Meyssan*

Nada acontece por acaso em política. Os Franceses não compreendem porque é que os Africanos francófonos subitamente os rejeitam. Consolam-se acusando a Rússia de sombrias maquinações. Na realidade, apenas recolhem os frutos daquilo que desde há 12 anos vem semeando. Isto nada tem a ver, entretanto, com o que foram o colonialismo e a Françáfrica. É consequência exclusiva da colocação do Exército francês à disposição da estratégia norte-americana.

ace à vaga de mudança de regimes na África francófona, os média (mídia -br) franceses estão estupefactos. Eles não conseguem explicar a rejeição da França.

Os antigos chavões sobre a exploração colonial não convencem. Por exemplo, nota-se que Paris explora o urânio do Níger, não ao preço de mercado, mas a um outro ridiculamente baixo. No entanto, os putchistas jamais evocaram este argumento.

Eles pronunciam-se de uma forma totalmente diferente. As acusações de manipulação russa também não são mais credíveis. Em primeiro lugar porque a Rússia não parece estar por trás dos golpistas no Mali, na Guiné, no Burkina Faso, no Níger ou no Gabão, mas, sobretudo, porque o mal é de longe muito anterior à sua chegada. A Rússia só chegou a África depois da sua vitória na Síria, em 2016, enquanto o problema data pelo menos de 2010, se não for de 2001.

Como sempre, aquilo que torna a situação ilegível, é esquecer as suas origens.

A partir dos atentados do 11 de Setembro de 2001, os Estados Unidos atribuíram um papel em África ao seu vassalo, a França. Tratava-se de ali manter a velha ordem esperando que o AfriCom lá se instalasse e que o Pentágono pudesse estender ao continente negro a política destruição das instituições políticas a que procedia já no « Médio-Oriente Alargado » [1]. Progressivamente, os políticos republicanos cederam o passo às políticas tribais. De um certo ponto de vista, era uma emancipação da sufocante ajuda francesa, de um outro, era um formidável regresso ao passado.

Em 2010, o Presidente francês Nicolas Sarkozy, provavelmente a conselho de Washington, tomou a iniciativa de resolver o conflito Marfinense. Enquanto o país era dilacerado por um conflito tribal, uma operação dirigida primeiro pela CEDEAO, depois pelo Primeiro-Ministro queniano, primo de Barack Obama [2], Raila Odinga, tenta negociar a saída do Presidente marfinense Laurent Gbagbo. O seu problema não é o regime autoritário de Gbagbo, mas o facto de ele de agente submisso da CIA se ter transformado num defensor da sua nação. Paris intervém militarmente a seguir à eleição presidencial para prender Gbagbo –-alegadamente para fazer cessar um genocídio -– e substitui-lo por Alassane Ouattara, um amigo de longa data da classe dirigente francesa. A seguir, Laurent Gbagbo será julgado pelo Tribunal Penal Internacional que, após um julgamento interminável, reconhecerá que ele nunca cometeu genocídio e que, de facto, a França não tinha fundamento para intervir militarmente.

Em 2011, o Presidente Nicolas Sarkozy, aconselhado por Washington, envolveu a França na Líbia. Agora trata-se oficialmente, mais uma vez, de fazer parar um genocídio cometido por um ditador contra o seu próprio povo. Para tornar credível esta acusação, a CIA, que manobra por trás da França, monta falsos testemunhos perante o Conselho dos Direitos Humanos em Genebra. Em Nova Iorque, o Conselho de Segurança das Nações Unidas autoriza as grandes potências a intervir para fazer parar o massacre, que não existe. O Presidente russo, Dmitry Medvedev, fecha os olhos. O Presidente norte-americano, Barack Obama, queria que o AfriCom iniciasse finalmente as operações em África, onde não tinha sede, uma vez que os seus soldados ainda estavam estacionados na Alemanha. Mas, no último momento, o Comandante do AfriCom recusou atacar Muammar Kaddafi ao lado dos jiadistas, os quais haviam combatido os seus camaradas no Iraque (os militares dos EUA ainda não admitiram o duplo jogo da CIA que apoia os jiadistas contra a Rússia, muitas vezes em detrimento dos Ocidentais). Barack Obama fez pois apelo à NATO, esquecendo que já havia previamente prometido não a mobilizar contra um país do Sul. Ainda assim, Muammar Kaddafi acabou torturado e linchado, enquanto a Líbia foi desmembrada. No entanto, a Jamahariya Árabe Líbia, que não era de todo uma ditadura, mas um regime inspirado nos socialistas franceses do século XIX e na Comuna de Paris, era a única força africana que visava unir os árabes e os negros. Kadhafi desejava libertar o continente tal como libertou os seus compatriotas do colonialismo ocidental. Ele aprestava-se mesmo para lançar, junto com o director do FMI, Dominique Strauss-Kahn, uma moeda comum a vários Estados africanos. A sua queda despertou os seus inimigos. Os negros foram novamente massacrados pelos árabes, mesmo quando eram de nacionalidade líbia, e reduzidos à escravatura, sob o olhar insensível dos vencedores ocidentais. Os Estados africanos pobres apoiados economicamente pela Líbia afundaram-se, e em primeiro lugar o Mali [3]. Os jiadistas árabes, que a OTAN havia colocado no Poder em Tripoli, apoiaram alguns Tuaregues contra os negros em geral. O problema acabou por se generalizar progressivamente a toda a África do Sahel.

Angola | Não Se Esqueçam do Escórcio – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A maquineta resfolegava e fazia um barulho de cortar a respiração, os vizinhos podiam ouvir. Chamavam-lhe Gestetner e imprimia folhas de papel até acabar uma resma que valia 500 panfletos. Batíamos à máquina o stencil com o texto exigindo a libertação dos presos políticos que foram levados para o Tarrafal, quase todos estudantes. A Silvinha, quando redigíamos a lista, dizia sempre: Não se esqueçam do Hermínio Escórcio! Porque estava há anos preso na Foz do Cunene, para ninguém mais se lembrar dele.

O Zé Andrade, cronista e especialista na Grande Música Negra, tinha um FIAT 600 desconjuntado. Pela calada da noite metíamos dezenas de panfletos no lugar do pneu de socorro e ali ficavam pela hora da distribuição, sempre de madrugada, depois de uma passagem bem bebida pelos antros nocturnos da cidade. Quando estávamos mais preguiçosos deixávamos ficar montinhos à porta das igrejas: Praia do Bispo, Sagrada Família e São Paulo. Sóbrios e cheios de guzu, entrávamos nos prédios adormecidos e metíamos o material nas caixas do correio. Era assim que fazíamos a revolução, entre a anarquia e o perfume da madrugada.

Por mim nunca esquecia de pôr na lista o Aristófanes Couto Cabral, filho de um homem ligado ao Desportivo de Ambaca, que punha os miúdos de Camabatela a jogar futebol e nos ensinava pacientemente a perceber o jogo. Era um mestiço imponente, com bigode à Clark Gable. Explorava as bombas de combustível da vila. Camabatela tão linda! Outro Couto Cabral era defesa central da equipa da Escola Comercial Vicente Ferreira e depois tornou-se bancário de alta categoria no Banco Comercial de Angola.

O Hermínio Escórcio migrou do Lobito e ficou logo Luandense. Foi dirigente do Atlético, o nosso amado “Escola”, que juntou homens da dimensão de Demóstenes de Almeida, Domingos Van-Dúnem (dramaturgo), Fernando Vieira Dias e tantos outros. Jogou futebol com o Luandino e outros atletas que são os nossos heróis. 

O 25 de Abril de 1974 não chegou a Angola naquela leda madrugada que viu os militares do Movimento das Forças Armadas derrubarem o regime fascista e colonialista de Lisboa, sob o comando do Marechal Otelo Saraiva de Carvalho. Hermínio Escórcio só foi libertado do presídio na Foz do Cunene na segunda semana de Maio. Quando chegou a casa entrevistei-o para o programa Luanda 74, preciosa joia fabricada, segundo a segundo, pelo inigualável Zé Maria. Ele, Artur Neves e João Canedo eram o trio maravilha da sonoplastia.  Construíram edifícios sonoros grandiosos. Elevaram a fabulosa Rádio Angolana aos píncaros das melhores do mundo!

Angola | La Barba e as Estrelas Roubadas – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Vernon Sullivan escreveu obras que me acompanharam até ao dia em que um senhorio cruel me ficou com tudo, livros, discos e uma máquina de escrever portátil que já sabia escrever sozinha. Nesse período das rendas mensais a atrasadas meio ano lia todas as madrugadas “Vou cuspir nos Vossos Túmulos” e “Todos os Mortos têm a Mesma Pele”. Só chegámos ao escritor porque Boris Vian traduziu os seus monumentos do “amaricano” para francês.  

Luanda era sede, todos os anos no Cacimbo, de ferozes combates de luta livre “amaricana”. O Lobo da Costa era perito no golpe de tesoura. Quando ficou enferrujado tornou-se organizador. Montava no centro do campo de futebol dos Coqueiros um ringue, contratava uns lutadores corpulentos e era porrada de três em pipa. 

Nos anos 50 os combates eram só com a prata da casa. Mas a partir der 1962 Lobo da Costa contratava lutadores estrangeiros, como o traiçoeiro La Barba, Carlos Rocha, o rei das cabeçadas, e Tarzan Taborda campeão do mundo e arredores. No final dos anos 60 entravam os lutadores da casa: Taúta, o sofredor, El Índio, um alfaiate do Bairro Popular, Milano, cobrador da Casa Americana, Adriano e Ninito, reis do eixo São Paulo-Bairro Operário. 

Os bilhetes para os espectáculos eram caríssimos. Meu Mano Amado engendrou um esquema para entrarmos de borla. Eu trepava nos seus ombros e depois, à força dos braços, içava-me até passar o muro do estádio dos Coqueiros. Já lá dentro amarrava uma corda à cintura, atirava-a ao meu parceiro e ele subia a vida a pulso até escalar aquela muralha altíssima. Lobo da Costa tinha uns guardas façanhudos que nos punham ao longe. Não podíamos aproximar-nos do ringue, cercado de cadeiras. Mas dava para ver bem as cenas de pancadaria.

O meu Mano Amado era fã do Tarzan Taborda e ficava furioso quando o traiçoeiro La Barba lhe batia pelas costas. Um dia ele passou das marcas e deixou o campeão do mundo fora de combate. Nós sabíamos que o traidor ia ao Copacabana depois dos combates. É hoje que lhe vamos dar uma carga de porrada. Logo à noite estamos no Copa! E eu: Não te metas nisso. Eles são brancos, que se entendam. Mas estava escrito nas estrelas que nessa noite íamos ao cabaré vingar o KO infringido pelo La Barba no Tarzan Taborda.

Entrámos decididos, meu Mano Amado à frente. Numa mesa perto do balcão lá estava o La Barba, com uma menina da vida desprevenida de cada lado. Uma beijava-o e outra chegava-lhe o copo de uísque à boca. O fã do Tarzan Taborda avançou para a mesa do traiçoeiro e ele levantou-se, estendeu-lhe a mão e o meu irmão apertou-a calorosamente. Pensava que o agressor ia pedir-lhe um autógrafo! 

Aquilo acabou mal. Para não fazemos má figura fomos ao balcão e pedimos à patroa duas cervejas que custaram 20 vezes mais do que na esplanada do Majestic. O meu Mano Amado só me metia em negócios ruinosos. Saímos do Copa e montámos na minha velha mota Matchless, muito manienta. Se não pegava à terceira pedalada ficava afogada em gasolina e já não roncava. Naquela noite pegou à primeira e lá fomos em direcção â Casa Branca para depois rumarmos à Terra Nova. A meio do caminho tinha aberto o bordel de Dona Maria das Pressas, expulsa dos arredores da Mutamba em nome da moral pública.

Inflação em Angola pode ficar acima dos 20% no final do ano

A inflação pode ficar acima de 20% no final do ano se o kwanza não recuperar e não forem adotadas políticas monetárias mais restritivas, estimam analistas do Banco de Fomento Angola (BFA).

Numa nota, a que a Lusa teve acesso, o gabinete de estudos económicos do Banco de Fomento Angola (BFA) salienta que o aumento dos preços em agosto não derivou unicamente de fatores sazonais, apontando a variação dos preços alimentares, prevendo que o trajeto da inflação mensal e homóloga se mantenha ascendente nos próximos meses.

Na última reunião do Comité de Política Monetária (CPM), realizada no dia 15 de setembro, o Banco Nacional de Angola (BNA) decidiu manter inalteradas as taxas de juro diretoras, atribuindo a variação de preços a fatores sazonais e insuficiência da oferta de bens e serviços.

A inflação homóloga acelerou em agosto para 13,53%, pela quarta vez consecutiva, alcançando níveis próximos dos máximos de dezembro de 2022 (3,86%), enquanto a inflação mensal alcançou os 2,04%, o nível mais alto desde dezembro de 2021.

"Acreditamos que a inflação homóloga terminará o ano rondando os 20% ou acima caso não haja alguma recuperação do kwanza e também um forte aperto da política monetária tendo em conta que com os atuais dados relativos ao mercado monetário o BNA deixou de tornar restritiva a política monetária", refere a nota do BNA.

Os analistas preveem que a inflação poderá estar acima da meta de curto-prazo definida pelo BNA, entre 12-14%, já no mês de setembro, influenciada pela inexistência de uma inversão da taxa de câmbio.

Moçambique | Cabo Delgado: Novos ataques “podem desestabilizar eleições

Em entrevista à DW, o ativista Gafuro Manana alerta que os novos ataques em Cabo Delgado podem ser uma tentativa de colocar a região num “estado de sítio ou de alerta” e de desestabilizar o período eleitoral.

Depois de uma relativa acalmia, a província de Cabo Delgado voltoua ser palco de ataques de grupos extremistas. Mas o Governo entende que estes são protagonizados por insurgentes que estão em fuga das tropas moçambicanas e seus aliados do Ruanda e da Missão Militar da África Austral (SAMIM).

À DW África, o ativista Gafuro Manana diz, no entanto, que estes ataques podem também significar uma demonstração de "musculatura" por parte dos terroristas. Manana alerta que a morte do líder do terrorismo no país, Bonomade Machude, "pode ser o início de uma nova era dentro do grupo". Por isso, apela às autoridades a não baixarem a guarda, principalmente numa altura em que se aproximam as eleições autárquicas.

De acordo com o ativista, estas incursões podem ser também "uma forma de desestabilizar e tentar forçar as forças da região a entrar em estado de sítio ou de alerta". 

DW África: O que significa esta nova onda de ataques para Cabo Delgado?

Garufo Manana (GM): Esta nova forma de operações desses grupos de extremistas já levou cerca de 1.490 pessoas a se deslocarem novamente do posto administrativo de Mbau, em Mocímboa da Praia, quando já estavam a regressar... 

DW África: Haverá garantias de segurança para que essas pessoas retornem às suas zonas de origem?

GM: Na verdade, havia garantias de segurança, porque os ataques já tinham abrandado. Havia menos ataques contra civis, continuavam apenas os ataques contra as Forças de Defesa e Segurança. Mas agora voltaram à carga com violência.

DW África: Estes ataques são uma demonstração de "musculatura" por parte do grupo?

GM: Sim, é uma demonstração de musculatura, e estão a provocar ataques onde há mais presença [militar] internacional. Refiro-me às tropas da SADC e Ruanda. Se estivermos a falar de Mocímboa da Praia, é lá onde está a operar o Ruanda e as Forças de Defesa e Segurança moçambicanas. Também em Macomia, na zona de Mucojo, há uma presença permanente da SADC, coadjuvada pelos próprios donos da terra, as Forças Armadas de Defesa de Moçambique.

DW África: Como é que se pode explicar ataques em regiões onde as forças de defesa moçambicanas, assim como estrangeiras, estão a operar?

GM: Isto pode significar um relaxamento das operações. Mas, neste momento, não [se pode] relaxar a segurança e vigilância em cada centímetro daquela região. Porque a morte do líder dos terroristas pode ser o início de uma nova era dentro do grupo, que pode causar mais destruição ou desestabilização da nossa segurança na província de Cabo Delgado, em termos de circulação de pessoas e bens.

DW África: Qual o risco desses ataques influenciarem ou comprometerem o processo de votação nestas autárquicas, principalmente em Mocímboa da Praia, tendo em conta que, por exemplo, o posto administrativo de Mbau faz parte do distrito e isso está agora a começar a criar um movimento de pessoas de um lado para outro. Há um risco maior para as próximas eleições?

GM: Sim, pode ser uma forma de desestabilizar o retorno dessas pessoas, uma vez que as cerca de 120 mil pessoas que regressaram à sua zona de origem podem se sentir ameaçadas com estes novos modelos de ataque, para desestabilizar o processo de eleições e tentar forçar esta região a entrar num estado de sítio ou de alerta.

Eles podem tentar desestabilizar esta região, como uma zona frágil para poder fazer os ataques, porque há uma predominância de mata bem fechada naquela região.

Amós Fernando - jornalista e apresentador | Deutsche Welle

Portugal | Fernando Alves, fundador da TSF, reforma-se e põe ponto final a Sinais

“Não fazia mais sentido estar ali”, na TSF

A rubrica mais longa da TSF terminou com a saída de Fernando Alves, um dos fundadores da rádio. Quis reformar-se quando Domingos de Andrade foi destituído. Agora terá tempo para ler e dormir.

Marta Leite Ferreira | Público| 29 de Setembro de 2023

Fernando Alves, fundador da TSF, reforma-se e põe ponto final a Sinais: “Não fazia mais sentido estar ali”

É o fim de uma carreira que começou, ainda na adolescência, em Benguela, Angola, e, com ele, o ponto final da mais antiga rubrica da TSF. Fernando Alves, jornalista e locutor e um dos fundadores da cooperativa que deu origem àquela rádio, anunciou esta sexta-feira, 29 de Setembro, que se reformou e que o episódio “O olhar perto do chão” seria o último do programa Sinais, no ar há cerca de 30 anos. “Resta-me muito tempo para me sentar a ver passar os tristes”, disse, em entrevista ao PÚBLICO, numa referência à história que protagoniza o último episódio que conduziu na TSF: “É sentar-me a ver passar pessoas que estão desligadas de tudo, estão ligadas aos telemóveis.”

Fernando Alves decidiu reformar-se quando percebeu “o que aí vinha” e “o que está a instalar-se na TSF”: “Não me agrada e assusta-me muito.” Dono de uma das vozes mais reconhecidas da rádio nacional, o locutor diz ter ficado agradado com o “sangue novo” que Domingos de Andrade tinha levado para a redacção. “Estava uma pasmaceira instalada, muitos momentos de terra queimada”, descreve Fernando Alves, e o director da TSF trazia “novas águas”.

O anúncio da reforma de Fernando Alves surge poucos dias depois de os trabalhadores da TSF terem estado em greve durante 24 horas, a 20 de Setembro, por melhores condições salariais e “respeito” para com os jornalistas. Foi um momento “encorajador”, na óptica do radialista, em que viu jornalistas jovens e mais experientes unidos pela mesma causa, demonstrando que “aquela é uma redacção que não se deixa pisar facilmente”. Mas está cansado, assume: “Não fazia mais sentido estar ali. Já não tenho saúde nem idade para estar a aturar o que penso que está a acontecer”.

Portugal | SINAIS

Ouvi ontem (29.9), com tristeza, mas profunda gratidão, a última crónica de Fernando Alves no seu programa de todas as manhãs da TSF: Sinais.

Pedro Neto | TSF | opiniã

Na bíblia, os evangelhos, no novo testamento, descrevem e contam muitos episódios - e a reflexão em torno de si - da vida, do tempo e da passagem pela Terra dessa figura maior da história, e figura maior de fé para tantos e tantas, que é Jesus Cristo.

Todos os evangelhos tentam na sua narrativa demonstrar que Jesus Cristo era o Messias esperado pelos judeus. Todos tentam enquadrar a História de Israel como um grande rio que vai dar a este menino nascido numa gruta, ao homem crucificado por fazer milagres, por falar de igualdade, por juntar à justiça, o Amor.

Todos eles valorizam a figura central de Jesus, tentando mostrar por A mais B que ele era O esperado. É assim compreensível a estratégia literária de contar e descrever muitos milagres, fenómenos impossíveis à ciência e à compreensão humana. Caminhar pelas águas, devolver a vista aos cegos, curar leprosos, redimir pessoas cheias de pó, prostradas no chão, marginalizadas pela sociedade de então, como agora.

Há, no entanto, um evangelho que nunca menciona a palavra "milagre". Usa sim a palavra "sinais". Tudo o que João foi escrevendo e contando eram sinais. Sinais do tempo, sinais de espanto. Sinais.

Cresci a ouvir os sinais, os de Fernando Alves, nesta rádio. Ao longo dos anos deu-nos o privilégio do seu olhar sobre os acontecimentos as suas reflexões acutilantes e profundas em crónicas de dois minutos. Foi-nos contando muitos milagres dos tempos modernos. Na crónica de ontem percebeu-se que foi a última na TSF. Vai dedicar-se a outras artes agora este repórter e diseur que é referência para tantos e tantas de nós.

Um dos sinais de hoje é com certeza a manifestação pela habitação que acontece por todo o país.

Portugal | A Arca de Albuquerque (senhor feudal)


Henrique Monteiro | HenriCartoon

Saúde à beira da tumba em Portugal: SNS em risco de "catástrofe sem precedentes"

Ordem dos Médicos pede reunião urgente a ministro Pizarro

Carlos Cortes lamenta "a passividade" do Governo para resolver os problemas do Serviço Nacional de Saúde.

A Ordem dos Médicos pediu, este domingo, uma reunião urgente ao ministro da Saúde, na sequência do agravamento da situação nos serviços de urgência do Serviço Nacional de Saúde (SNS), alertando que, na próxima semana, muitos utentes não vão ter acesso aos cuidados de saúde.

Em declarações à TSF, o bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, avisa que, se nada for feito, o SNS pode estar à beira de uma catástrofe.

"É uma situação de uma enorme gravidade e, de forma responsável, a Ordem dos Médicos está a intervir para chamar à razão, para apelar a sensibilidade do Governo para esta situação", afirma.

Carlos Cortes recorda que "os médicos têm lançado um sinal de alerta para o Governo". "Perante a sua total passividade em apresentar soluções, a Ordem dos Médicos entendeu que era necessária uma reunião urgente com o Ministro da Saúde para, em primeiro lugar, fazer uma análise da situação, apresentar concretamente quais são estas dificuldades e exigir que haja soluções rápidas, porque estamos a falar da saúde das pessoas", adianta.

"Estamos a entrar num período muito sensível do ano, que é o período de inverno, onde aumenta a afluência à urgência e, se o serviço de urgência não estiver capaz de dar resposta, nós podemos assistir aqui a uma catástrofe sem precedentes no SNS", alerta.

O bastonário sublinha que as medidas têm de envolver também o Ministério das Finanças, a quem acusa de estar a criar muitas dificuldades.

"Há doentes que podem ficar em risco se o Governo nada fizer. Do ponto de vista do que diz respeito à Ordem dos Médicos, tudo faremos para que isso não aconteça, agora a segurança dos doentes, a segurança das pessoas está neste momento nas mãos do Ministério da Saúde e do Governo, nomeadamente, o Ministério das Finanças que tem colocado aqui imensas dificuldades em resolver muitos dos problemas que têm sido apresentados pelos médicos", acrescenta.

Carolina Quaresma com Cristina Lai Men | TSF

Imagem: Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos - © Pedro Correia/Global Imagens

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Portugal carrega das maiores dívidas da UE por causa da banca. 15 anos depois da crise

Portugueses ainda têm por pagar quase 30 mil milhões de euros em dívida por causa da banca. Rácio podia já estar nos 100% ou menos não fosse este encargo gigantesco.

Luís Reis Ribeiro* | Diário de Notícias

Quinze anos depois da grande crise financeira (que começou em 2007/2008) e mais de dez anos após Portugal ter entrado em bancarrota e sido submetido a um programa de ajustamento e resgate (2011), o País ainda não se livrou do fardo das ajudas aos bancos (os casos mais salientes são BES e BPN, como se sabe).

Portugal continua a carregar uma das maiores faturas da Europa (UE - União Europeia) por conta dos chamados apoios ao setor financeiro concedidos por vários governos do PS e do PSD durante estes anos, aponta o Banco Central Europeu (BCE), num estudo divulgado no mais recente boletim económico.

De acordo com a autoridade presidida por Christine Lagarde e um levantamento de dados do Eurostat feito pelo Dinheiro Vivo, Portugal e os contribuintes residentes (a maioria) ainda têm para pagar a quarta herança mais pesada da Europa em termos de dívida pública (passivos financeiros).

Segundo os números oficiais vertidos no último reporte dos défices e da dívida enviados à Comissão Europeia, há uma semana, estamos a falar em 29,7 mil milhões de euros que continuam em dívida face aos credores (fundos oficiais europeus, bancos e fundos privados), o equivalente a mais de 12% do Produto Interno Bruto (PIB) no final de 2022.

Pior estão três países apenas: Chipre, Grécia e Irlanda. Por esta ordem.

Portugal | DESPERDÍCIO DE RECURSOS PÚBLICOS

O desperdício de recursos públicos é uma especialidade do governo português. 

A novidade mais recente é a nova subsidiação a fundo perdido de 25.000 euros a cada comprador de veículo elétrico (VE)

Serão assim financiados 600 compradores de VEs. 

Quinze milhões de euros que saem do erário público – sem qualquer benefício para a economia nacional. 

Os cínicos costumam dizer que todo o projeto é viável desde que alguém pague por ele.

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