2) Vítor Viegas (Martinho Júnior)
é um pensador angolano, grande analista da política doméstica e internacional.
Como quase todos os jovens da sua geração lutou na II Guerra de Libertação
Nacional (25 de Abril 1974 até 11 de Novembro 1975) e depois nas FAPLA quando
começou a Guerra pela Soberania e a Integridade Territorial. Também foi oficial
da DISA. Mas naquele tempo, antes de tudo, os jovens eram do MPLA. Hoje Viegas
é activista do “Círculo 4 F” uma preciosidade que nos ajuda a compreender
a geopolítica mundial sempre com amarração a Angola. – Artur Queiroz
(aqui).
4 DE FEVEREIRO POR AMOR À
HUMANIDADE!
Martinho
Júnior, Luanda
O conhecimento substantivo que há
sobre lógica com sentido de vida em benefício de toda a humanidade só é
possível desde logo se o ser consciente de racionalidade dialética,
materialista e histórica, mergulhar no estudo até às raízes dos processos
produtivos transatlânticos fomentadores de escravatura, de colonialismo e
neocolonialismo e assumir por inteiro a luta dos que sendo durante tantos
séculos oprimidos, são hoje contribuintes fundamentais para a emergência dos
equilíbrios globais a que se aspira e para o respeito tão urgente devido à Mãe
Terra!
Não há processo contemporâneo
justo algum que assim não tenha de ser, num momento em que com as novas
tecnologias se expõe, com cada vez mais evidências, todo o passado próximo e
remoto, apesar dos riscos “soft power” das alienações e formatações
disseminadas pelo afã dos que persistem dominar de forma hegemónica e unipolar!
Fazer com que África desconheça a
trajectória dos afrodescendentes do outro lado do Atlântico a fim de impedir a
noção da necessidade de luta de libertação, desconhecer aqueles que foram para
levados à força e explorados pela força feitos escravos na América (e no
Caribe), faz parte do “soft power” do actual processo dominante, não do “soft
power” dos que estão vocacionados para o multi polarismo e multilateralidade!
O relacionamento com os poderes
de hoje nos estados que foram colonizadores e pretendem neocolonialismo
conforme demonstra seu próprio comportamento, mesmo que dê muitas provas dadas
durante muito tempo, responde desde logo mentalmente à opressão que vem de
longe, de há mais de 5 séculos a esta parte, algo que os expedientes de poder
fazem indelevelmente prevalecer!
No que toca às potências
coloniais da Ásia Ocidental tanto pior: há quem propague que está num jardim e
os outros estão na selva, justificando a continuação da pirataria, do saque e
até do “apartheid” contemporâneo em curso!
Sereia alguma pode iludir o Sul
Global, muito menos sereias monárquicas, conforme a última tendência em Angola!
Que relacionamento se pode ter
com esses bárbaros?
As três datas 4 de Fevereiro com
todos os sentidos e emoções palpitando desde o Sul Global transatlântico, são
marcos carregados de evidências, de simbolismos e de ensinamentos: com esses
marcos os combatentes da luta de libertação onde quer que seja que ela legítima
e dignamente tiver de existir, se podem melhor mobilizar na sua dádiva que
tanto tem a ver com amplo amor coerente, consequente e intemporal, como com um
exercício saudável de inteligência, enquanto prova de multilateralidade e humanidade.
Esse é o sentido da própria Carta
da ONU, que o “hegemon” com suas desesperadas regras tanto teima em subverter!
A luta armada de libertação bebe
dessa ética, dessa moral, dessa sabedoria e por isso se distingue da
ilegitimidade estupidificante da guerra que é da autoria da barbárie agora com
essência de “hegemon” tisnado de nazi!
Os três 4 de Fevereiro são um
alimento para as opções justas do presente e quem não se quiser alimentar desse
passado honrando-o, é porque, directa ou indirectamente está absorvido pelos
expedientes neocoloniais, tornando a paz vazia de sentido antropológico e
histórico!
Há três 4 de Fevereiro que além
do mais, são anti imperialistas desde a justeza da aplicação da vontade dos
oprimidos contra os opressores, pelo que sua chama se apresenta hoje, na hora
decisiva do parto da mudança de paradigma para um mundo multipolar e
multilateral, integrando as opções próprias de segurança vital comum que toda a
humanidade deve buscar, construir e assumir!
Os que seguem a doutrina neocolonial,
qualquer que ela seja nas suas “nuances” (os propósitos não são variáveis),
filiada ou não no engenho e na arte da hegemonia unipolar, são a causa da
acumulação de todos os desequilíbrios, tensões, conflitos e guerras e, enquanto
bárbaros, demonstram a impraticabilidade de diálogo em busca de consensos, por
que subvertem todas as letras da essência da democracia!
Essa justeza do Sul Global é
tanto mais veemente quanto o “hegemon” de novo agita o espantalho nazi,
fascista e (neo)colonial!