Pedro Cruz* | Diário de Notícias opinião
No último fim de semana assistimos à tentativa de um partido político de deixar o clube dos pequenos e ir de cabeça nadar na piscina dos grandes. Veremos a 10 de março se Ventura se atirou para fora de pé, ou se, afinal, tinha braçadeiras que lhe permitem flutuar na piscina dos adultos.
Respaldado em sondagens que lhe prometem 15%, Ventura acredita que esse número peca por escasso e que é possível chegar aos 20 ou “até mais”. Nesse caso, ele terá razão e está a jogar na liga principal e a disputar com PSD e PS a possibilidade de formar Governo.
Toda a convenção foi um ato cénico com o objetivo de mostrar que o Chega - perdão, André Ventura - tem capacidade para chegar ao poder e governar. Estamos hoje muito longe das convenções onde militantes atacavam militantes, onde havia insultos entre dirigentes e ajustes de contas a partir do púlpito. Este fim se semana vimos um Chega que se comporta como os outros, pelo menos na coreografia, na encenação do espaço e num esforço de se “moderar” para poder sentar-se à mesa dos adultos.
O discurso já não fala em castração química dos pedófilos, nem em prisão perpétua. Ficam a segurança, a emigração, os “subsidiodependentes” e a corrupção. “Limpar Portugal”, diz o Chega, a propósito das portas giratórias, da quantidade de institutos e observatórios, dos “privilégios” da classe política.
No discurso de encerramento, o líder fez nove promessas, que vão desde a reposição do tempo de serviço dos professores, passam por subsídios aos agentes da PSP e militares da GNR, o fim gradual do IMI e do IUC, reformas mais baixas iguais ao salário mínimo, eliminação das listas de espera na Saúde para cirurgias e consultas através de acordos com o privado e o setor social. E assim, de uma penada, há medidas de direita, de centro e de esquerda. Dá para todos.
O problema, que para os populistas não o é, é que o Chega não fez contas a quanto custam estas promessas. Fez outra. Prometeu ir buscar esse dinheiro à luta contra a corrupção e aos impostos perdidos na economia paralela, ao valor dos apoios sociais em subsídios e ao custo dos programas públicos de identidade de género.
Demasiado vago para ser levado a sério, mas que entra no ouvido dos mil delegados que encheram a sala da convenção nos três dias.
De forma inteligente e aberta, poupou o PSD às críticas mais severas e apontou fogo a Pedro Nuno Santos e ao PS.
E nem precisou de disparar sobre o PSD. Bastou-lhe citar Sá Carneiro para irritar o seu antigo partido. E reclamar para si a condição de herdeiro e seguidor do fundador do PPD.
Aqui Chegados, só agora os outros partidos começam a perceber aquilo que ficou muito claro há quatro anos: o Chega está implantado na sociedade, não tem programa, nem quadros, mas tem militantes e eleitores. Muitos. Aparentemente, hoje são muitos, mas amanhã serão muitos mais.
Por mais voltas e reviravoltas
que o Chega consiga dar no espetáculo coreografado do fim de semana, por mais
que consiga dar a ideia de moderação para atrair mais votos, não sei se mais
alguém reparou, ou se fui só eu. Nas laterais do pavilhão, havia dois pendões
gigantes, retangulares, com a bandeira de Portugal. Iguais, na forma, aos que
as SS usavam nos comícios e outros eventos públicos.
Fui só eu que reparei? Pode tentar enganar-se muita gente durante muito tempo,
mas não é possível enganar toda a gente o tempo todo.
E agora, aqui chegados…
* Jornalista
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