domingo, 25 de fevereiro de 2024

Os Bons Navalnys e os Péssimos Liras -- Artur Queiroz

Gonzalo Lira, assassinado pelo regime ucraniano de Zelensky

Artur Queiroz*, Luanda

Gonzalo Lira, natural da Califórnia, foi um jornalista, cineasta e escritor norte-americano. Também tinha nacionalidade chilena. Em 2022 foi preso por agentes do SBU, a pide de Zelensky, presidente da Ucrânia, acusado de apoiar a invasão russa no seu blogue. Ficou em prisão domiciliária na cidade de Kharkiv onde vivia e casou com uma senhora ucraniana. No Primeiro de Maio de 2023 os agentes foram buscá-lo a casa e levaram-no para uma prisão de “alta segurança”. Alegaram que o prisioneiro tentou fugir paras a Hungria. O multimilionário Elon Musk pediu ao Presidente Biden para interceder a seu favor: “Salve o jornalista norte-americano!” Não salvou.

O jornalista, escritor e cineasta Gonzalo Lira desapareceu. Estava no centro de detenção provisória de Kharkiv e foi levado para outro cárcere. Nem a família podia visitá-lo. Mais uma vez foi acusado de “justificar a agressão russa”. Lira, cidadão dos EUA e do Chile, ficou nas mãos dos carrascos. Ninguém mexeu um dedo para que fosse libertado dos agentes da pide do Zelensky. Jornalista na prisão. Liberdade de Imprensa à moda do ocidente alargado.

No dia 10 de Dezembro de 2023, Tucker Carlson, que foi estrela da televisão Fox News e voz influente nos EUA, denunciou a prisão e os maus tratos a Lira: “As autoridades ucranianas torturam o jornalista Gonzalo Lira porque mostrou a verdade sobre a guerra e por criticar o presidente Zelensky”.  

Lira produziu vídeos que mostram crueldades das tropas ucranianas às quais chamou crimes de guerra. E fez uma declaração fatal: “O Ocidente é culpado de tudo, porque colocou as tropas da NATO nas fronteiras da Rússia. E o neonazismo impera em Kiev”. Assinou a sentença de morte. Em Março de 2022, Lira escreveu no seu blogue: “A Ucrânia é governada por neonazis e neofascistas, que bombardearam o Donbass durante anos e mataram 16.000 pessoas”. 

O político e advogado chileno, Hugo Gutiérrez, protagonizou uma campanha pela libertação de Lira. Escreveu isto: “A detenção de um jornalista em qualquer parte do mundo é, sem dúvida, um flagrante atentado à liberdade de informação, ao direito dos povos a serem informados com veracidade e a prestarem contas do que se passa a partir do local onde se encontram”.

O Sindicato dos Jornalistas do Chile, pela voz do seu presidente Rocío Alorda, manifestou “grande preocupação com o destino de Gonzalo Lira”. E pediu ao ministério das Relações Exteriores para averiguar “a real situação do prisioneiro”. No dia 11 de Janeiro de 2024 a pide de Zelensky anunciou a morte do jornalista e cineasta “num hospital”. Nem uma notícia! Nem um protesto. Nem um comentário.

Se este jornalista, escritor e cineasta norte-americano da Califórnia fosse contra Putin e se chamasse Navalny, Joe Biden já tinha declarado guerra aos seus matadores. Os Media do ocidente alargado passavam de manhã à noite os seus filmes e vídeos. Reproduziam as suas análises políticas. Entrevistavam a sua esposa ucraniana. O seu pai chileno. A neonazi Úrsula von der Leyen fazia-lhe uma declaração de amor. 

Lira não mereceu um segundo nas televisões do ocidente alargado. Nem sequer nos canais do seu país, os EUA. Uma linha nos jornais. Um comentário de políticos. Um gesto de solidariedade. Navalny chamava baratas aos emigrantes do Cáucaso e dizia que tinham de ser exterminados a tiro. É um herói. Lira disse que os neonazis mandam na Ucrânia. Foi bem morto pela pide do Zekensky. Estava mesmo a pedi-las!

No dia 6 de Agosto de 1945 os EUA atacaram com bombas atómicas (destruição maciça) cidades japonesas de Hiroxima e Nagasaki. Morreram mais de 200.000 habitantes. Civis desarmados e pacíficos. Pessoas que trabalhavam nas fábricas e estudavam nas escolas. Um Holocausto no sentido etimológico, religioso e político da palavra. Foi assim que os Estados Unidos da América se tornaram o estado terrorista mais perigoso do mundo. Foi assim que começou a terceira Guerra Mundial ainda estava fumegante a fornalha da segunda.

O jornalista Julian Assange teve a coragem de divulgar mundialmente abundante documentação que demonstra inequivocamente o carácter terrorista do império norte-americano. A Casa Branca é um antro de genocidas. A diplomacia de Washington é um ultraje à dignidade dos países seus amigos. Uma amaça aos Estados que não se submetem. Ficámos a conhecer os crimes de guerra cometidos pelas tropas norte-americanas no Iraque ou no Afeganistão. 

 O Jornalismo deve muito a Julian Assange. Os povos de todo o mundo devem muito ao jornalista que está preso (numa prisão de alta segurança!) no Reino Unido há cinco anos. Mais sete anos exilado na embaixada do Equador em Londres. São 12 anos privado de liberdade porque denunciou crimes contra a Humanidade cometidos pelo estado terrorista mais perigoso do mundo. 

Os seus colegas do ocidente alargado ignoram este gravíssimo crime contra a Liberdade de Imprensa. Este atentado à Liberdade de Expressão. Os donos não deixam falar e escrever sobre o tema. Elas e eles obedecem atentos, venerandos e gratos a quem os passeia pela trela nas páginas dos jornais, nos estudos da Rádio e da Televisão.

O Navalny é que está a dar. Hoje Joe Biden recebeu a sua viúva e a filha em São Francisco. Os Media apresentam o finado como principal opositor ao Presidente Putin, quando nas últimas sondagens recolhia apenas dois por cento das intenções de voto, nas próximas eleições presidenciais.

Hoje Israel anunciou que matou dois “terroristas” em Rafah, cidade da Faixa de Gaza. Mas as bombas dos nazis de Telavive sobre a cidade mataram 200 palestinos civis, a maioria crianças e mulheres. Fogo neles! Porque o estado terrorista mais perigoso do mundo acha que um cessar-fogo humanitário imediato prejudica as negociações!

No ocidente alargado todos se preparam para a guerra. Todos falam de guerra. Todos querem a guerra. Como já não há mais carne ucraniana para os canhões da OTAN (ou NATO) vão alargar os matadouros. Em breve a Europa vai ser palco de uma grande guerra. É isso que os líderes dos países da União Europeia e da OTAN (ou NATO) querem. É para isso que trabalham. Boa altura para João Lourenço ficar de joelhos ante o estado terrorista mais perigoso do mundo!

* Jornalista

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