quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Portugal | O FASCISTA VENTURA CHEGA É O GATO DE SCHRODINGER*?

* Gato-de-Schrodinger: É uma das ideias mais bizarras já produzidas pela mente humana. Trata-se de uma experiência imaginária, na qual um gato, no papel de cobaia, está vivo e morto ao mesmo tempo! E não estamos falando de espiritismo, mas de mecânica quântica, o ramo da física que estuda o estranhíssimo mundo das partículas subatômicas (menores que os átomos). Leia mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/o-que-e-o-gato-de-schrodinger

Imagem: Sven Puth / EyeEm/Getty Images 

O gato português de Schrödinger*

Liliana Valente, coordenadora de política | Expresso (curto)

Bom dia,

Antes de mais um convite: hoje, 14 de fevereiro, às 14h00, Junte-se à Conversa com David Dinis, comigo e com o João Diogo Correia. Desta vez sobre "AD e PS: o que valem os programas?". Inscreva-se aqui.

Neste meu primeiro Curto hesitei até ao último minuto em escrever sobre este tema, porque a centralidade que tem tomado na vida política portuguesa (a que alguns chamam de “bolha”) tem de ser contrariada. A verdade é que, dizem as sondagens, isto pode já ser demasiado grande para se ignorar e eu, que me estreio nestas lides, tive o infortúnio de escrever este Expresso Curto ao terceiro dia de debates de André Ventura com os outros três líderes do top 4: PS, PSD e Bloco de Esquerda. E acontece também que o líder do Chega deu duas entrevistas em que entrou em contradição. Incontornável.

Pos
to numa caixa apertada, como o gato de Schrödinger, Ventura também parece umas vezes vivo outras vezes morto, que é como quem diz: umas vezes sente-se o pivô que pode desbloquear soluções de governo à direita; outras vezes é descartado e ressente-se. O que é certo é que nestes últimos dias, como canta A Garota Não, “vimos rolar debaixo da mesa” um “gato na sede do Chega”. Ora rola para um lado, na entrevista que deu a Vítor Matos, aqui no Expresso, ora rola outro, na entrevista que deu a Sebastião Bugalho, no podcast da SIC “Os protagonistas”.

Ventura, sempre tão seguro da sua linha, parece andar perdido sobre o que fazer em relação a um possível governo minoritário da AD e o frente-a-frente com Luís Montenegro (aqui relatado) parece tê-lo abalado.

Tal como na experiência de Schrödinger, a avaliação sobre o seu posicionamento depende também do observador e na segunda-feira muitos viram um Ventura arrasado por Luís Montenegro, quando o líder da AD lhe fechou a porta. Na terça-feira, foi ao tapete, no debate mais duro até agora, frente a Mariana Mortágua, que desmontou algumas das propostas inaceitáveis do CH e apontou para onde dói, para o financiamento do partido.

Resta saber o que fará esta noite Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS. Iremos acompanhar por aqui, antecipamos desde já que não vai ser bonito. Contra o socialista, Ventura não terá os receios de perder eleitorado como teve contra Montenegro, será certamente mais agressivo e, por outro lado, Pedro Nuno não poderá aparecer duro como Mariana Mortágua: está no campeonato para mostrar que pode 
ser primeiro-ministro e isso deverá falar mais alto.

Ventura pode ter ficado exposto nestes debates, mas, como os gatos, parece ter sete vidas. O verdadeiro teste só acontecerá no dia 10 de março.

Além dos debates, sem dúvida importantes, para mim, os programas dos partidos são o mais relevante para decidir como votar. E vamos ter novidades aqui no Expresso ao longo desta semana sobre o assunto. Para já, deixo as principais notícias que escrevemos sobre as propostas do PS e da AD, apresentados na sexta-feira e no domingo:

Da Aliança Democrática: Combate à corrupção e ao enriquecimento ilícito nas propostas da AD: Montenegro quer “elevador social a funcionar”, do meu colega João Diogo Correia

Do Partido Socialista: Pedro Nuno promete apoios na habitação, integra Medina e acena com o fantasma da “direita inteira” que quer um país “dividido e sombrio, desta que vos escreve

Uma das propostas que ambos os partidos, PS e AD, prometem para a habitação não é vista com os melhores olhos pela banca. O PS e a AD propõem uma garantia pública no crédito à habitação para jovens, PS até aos 40 anos, AD até aos 35 anos, mas a banca diz que o que é preciso é mais oferta.

Depois de conhecidos os programas eleitorais, a equipa de economia olhou para as propostas e viu várias áreas em que PS e AD se tocam. Estas propostas do PS e da AD davam um bloco central: salário mínimo e médio, habitação, apoios sociais, pensões e igualdade.

Pedro Nuno Santos foi buscar Fernando Medina e o ministro das Finanças inscreveu no cenário macroeconómico previsões de crescimento económico mais fraco do que a AD.

Outras notícias

Uma notícia preocupante. Violência no namoro: em 2023, foram apresentadas mais de sete queixas por dia

No dia dos Namorados, em que muitos saem à rua para celebrar o amor, há quem viva encurralado pelo ciúme. Esta entrevista conduzida pela Marta Gonaçalves, a Margarida Pacheco, coordenadora do projeto ART’THEMIS , programa de prevenção da violência de género na escola, é de leitura obrigatória: “Não se pode legitimar o ciúme, o amor sofrido dos filmes, o quanto mais me bates mais gosto de ti”.

Uma notícia histórica: Diogo Ribeiro é campeão mundial dos 50 metros mariposa e agora o nadador português apurou-se para as meias-finais dos 100 metros livres

Não vamos muito longe. Em Espanha, a política continua estranha. Depois de manifestações contra Pedro Sánchez e o indulto ao ex-presidente catalão Carlos Puigdemont, eis que Alberto Núñez Feijóo, líder do PP, faz uma reviravolta no posicionamento do partido sobre independentismo catalão. Os dirigentes populares reconheceram que estudaram, após as legislativas de 23 de julho de 2023, a viabilidade de uma amnistia para os implicados no processo separatista, e que estariam dispostos a analisar a hipótese de indulto condicionado ao fugitivo ex-presidente catalão Carles Puigdemont, escreve o correspondente do Expresso em Espanha, Angel Luis de la Calle.

Um texto muito útil por estes dias: Vai fazer obras em casa? Saiba quais os cuidados a ter;

Google alerta para ciberataques e propaganda em “ano de eleições”, devido às guerras na Palestina e Ucrânia.

“Honraram a minha fé”, disse Khan a partir da prisão, mas não era a sua voz e isso levanta uma questão: pode a IA contornar a repressão?

Frases

“O BE está mais próximo da governação do que o Chega de [fazer acordos] com partidos a quem chama ‘prostitutas políticas. Ninguém se quer sentar ao lado" porque é “racista e xenófobo”
Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, no debate contra André Ventura

“As pessoas estão avisadas perante esse tipo de chantagem. Votar no PS às vezes nem para implementar as suas ideias serve”
Rui Tavares, candidato às legislativas pelo Livre, no frente-a-frente com Paulo Raimundo tentou afastar a pressão para o voto útil à esquerda, num debate calmo

“Nunca falharemos a nenhuma convergência que responda aos problemas concretos do país. Estaremos sempre disponíveis para ela"
Paulo Raimundo, secretárgio-geral do PCP, no mesmo debate em que ambos deixaram a porta aberta a conversas com o PS, cada um à sua maneira

“Aconselhou-me veemente a demitir-me pela minha reputação. Chamo a isso chantagem e estar a ameaçar-me e foi o que ele fez”
Christina Ourmières-Widener, em entrevista à CNN sobre a sua saída da TAP

"As afirmações da ex-CEO relativamente aos motivos e procedimento do seu despedimento são falsas e lamentáveis"
Foi a resposta de Fernando Medina às afirmações da ex-CEO da empresa

O que ando a ler

A verdade é que as três crises em simultâneo em Portugal não me têm deixado muito tempo livre para me dedicar a ginasticar o cérebro com a merecida literatura. Tenho na mesa de cabeceira um livro da escritora brasileira Carla Madeira, “A natureza da mordida”, mas confesso que me tenho dedicado mais a ler sobre democracia.

Livros de política sempre foram um hobby, contudo, neste meu primeiro curto quero antes trazer uma revista, daquelas para guardar. The Atlantic pôs os seus melhores jornalistas e cronistas a responder à pergunta: E se Trump ganhar? (foi o tema de capa da revista E, no dia 12 de Janeiro, caso queira ler em português). O aviso é dado no editorial: os EUA sobreviveram ao primeiro mandato, não sem mazelas, mas um segundo mandato “será muito pior”. Depois, no texto de David Frum, há uma ideia que não me descansa, antes preocupa: a de que Trump vem com sede de vingança contra os seus adversários e conhece agora, bem melhor do que no seu primeiro mandato, as vulnerabilidades do sistema, pondo-as ao seu serviço e usando-as contra quem não está consigo. O “caos” não será pequeno e os EUA terão um “criminal in chief” que porá em marcha toda a sorte de manobras “subversivas”.

Prova da importância de estarmos conscientes e com conhecimento mais profundo, foram as declarações do próprio Trump, este fim de semana, a instar a Rússia a atacar membros da NATO. Aconselho por isso a leitura do texto de Anne Applebaum, a jornalista que nos alertou para o “Crepúsculo da democracia”, que nos explica, nesse mesmo número da revista publicada antes das declarações de Trump, a encruzilhada em que pode viver a aliança atlântica se Trump suceder a Biden. A primeira mexida russa foi visível esta terça-feira ao colocar Haja Kallas, a primeira-ministra da Estónia (membro da NATO desde 2004), na lista de procurados.

Em tempo de debate para as legislativas, gostava de ouvir os nossos candidatos a falar sobre o cenário internacional. Não estamos numa bolha de privilégio, estamos, aliás, bem no olho do furacão. Estamos preparados para explicar aos cidadãos que poderemos ter de reforçar o investimento em defesa? Temos mesmo de falar sobre isto.

O que ando a ouvir

The retrievals/Serial

Como boa consumidora de podcasts, queria deixar-vos uma sugestão. O grupo Serial, que tem dos podcasts de investigação mais ouvidos em todo o mundo e que se juntou ao New York Times, publicou no final do ano passado uma série chamada The retrievals, que mostra bem como o sofrimento da mulher ainda é menosprezado ou ignorado.

Durante largos meses, dezenas de mulheres fizerem procedimentos de fertilidade a sangue frio, sem anestesia, na clínica de fertilidade da prestigiada Universidade de Yale. Umas queixaram-se, outras foram assumindo que teriam de passar pela dor para alcançarem o objetivo de serem mães, outras foram desabafando com amigas a dificuldade do processo e, invariavelmente, acabaram com a ideia de que era mesmo assim. As enfermeiras desvalorizaram as queixas, os médicos não ligaram, a clínica não quis saber. Ouvir os testemunhos destas mulheres, vítimas da acção de outra, e pensar no sofrimento pelo qual passaram é doloroso, mas ao mesmo tempo um alerta para que se discuta mais este assunto que é mandado para debaixo do tapete.

Falemos de dor? Física e mental? É importante não deixar estes assuntos apenas na casa de cada um.

Por isso a minha segunda sugestão é o mais recente episódio de:

Que voz é esta?

Uma depressão grave e persistente levou Ana Ribeiro a múltiplas baixas e a várias tentativas de suicídio. Durante mais de uma década, tomou medicação forte, sem nenhum sinal de melhoria. Mas tudo mudou há cinco anos e hoje sente-se finalmente curada. No mais recente episódio do podcast “Que Voz é Esta?”, falamos sobre as causas, os sintomas e o tratamento da depressão resistente, com o testemunho de Ana Ribeiro, de 57 anos, e as explicações do psiquiatra Pedro Levy

Expresso da Manhã

Se mandarmos embora os imigrantes de que alguns não gostam, o país pára. Lares, restaurantes, limpezas, pesca, agricultura, construção civil, entregas ou transportes são só algumas das áreas onde mais de 40% dos trabalhadores estrangeiros. Os empregadores já recrutam diretamente lá fora e admitem que, sem imigração, muitas atividades não sobrevivem. Uma conversa do Paulo Baldaia com Raquel Moleiro e Raquel Albuquerque, que fizeram recentemente um trabalho extraordinário sobre imigração. Pode ler aqui.

Por hoje, é tudo. Se chegou até aqui, muito obrigada. Encontramo-nos mais daqui a pouco no Junte-se à Conversa sobre os programas da AD e do PS? Inscreva-se aqui.

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