quarta-feira, 3 de julho de 2024

Angola | Zero Oposição e Duas Luandas – Artur Queiroz

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Artur Queiroz*, Luanda

Entre o ano de 1960 e o 25 de Abril (1974) o Serviço de Geologia e Minas de Angola publicou 25 boletins. Os geólogos e engenheiros que trabalhavam na instituição revelaram nessas publicações trabalhos científicos sobre a Geologia, os Recursos Minerais, Terras e Pedras, Mineralogia e Estatística. Entre 1946 e 1975 existiam os Serviços Geográficos e Cadastrais. Os seus técnicos fizeram levantamentos exaustivos de todos os distritos (províncias) de Angola. Informação preciosa para quem hoje governa o país. Como Angola só existe desde 2017, todo esse manancial de sabedoria é simplesmente ignorado.

Há 50 anos Luanda estava a ferro e fogo. Os esquadrões da morte, ao serviço dos independentistas brancos, matavam dezenas de civis todos os dias, nos musseques da capital. Graças aos militantes do MPLA, o projecto que visava a independência unilateral de Angola foi derrotado. A UNITA estava ao serviço dessas forças. Dava cobertura à instauração de um regime racista igual ao da África do Sul e Rodésia (Zimbabwe).

No mês de Julho de 1974, centenas de jovens angolanos que prestavam serviço militar obrigatório na tropa portuguesa decidiram colocar as suas armas na defesa dos angolanos. Foi um passo importante rumo à Independência Nacional. O líder dessa rebelião foi o alferes América de Carvalho. Com ele estavam muitos combatentes que mais tarde foram chefes militares e dirigentes políticos. Nessa altura os sicários da UNITA estavam a colaborar na invasão das tropas sul-africanas.

O MPLA vai fazer um congresso extraordinário em Dezembro. Na ordem de trabalhos está o balanço dos 50 anos de Independência Nacional. Em meia hora fica tudo resolvido. Ponto número um, refundação do MPLA no interior em apoio à liderança de Agostinho Neto. Ponto número dois, resistência popular generalizada e fundação das FAPLA. Ponto número três, vitórias nas Grandes Batalhas de Luanda, Ntó, Kifangondo, Ebo e Luena. Ponto número quatro, admissão da República Popular de Angola na OUA e ONU. Final: Vitória na Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial em 23 de Março de 1988, Dia da Libertação da África Austral. Fim da rebelião de Jonas Savimbi em 22 de Fevereiro de 2002.

Luta armada de libertação nacional. Vitória do MPLA e derrota de Portugal, todos os países da OTAN (ou NATO) e da UNITA que lutou desde a sua fundação contra a Independência Nacional. Guerra da Transição, entre 25 de Abril de 1974 e 11 de Novembro de 1975, vitória do MPLA e derrota do federalismo defendido pelos presidentes Spínola, Nixon e Mobutu com o apoio da UNITA. Savimbi fez tudo para que Angola fosse um satélite da África do Sul. Guerra pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial, vitória esmagadora do MPLA. Derrota do regime racista de Pretória e dos sicários da UNITA.

A estabilidade política é um valor fundamental no regime democrático. No dia 27 de Janeiro de 2010 os deputados da Nação Angolana aprovaram a Constituição da República que pôs fim ao regime de transição, iniciado com o Acordo de Bicesse (31 de Maio de 1991). Grande vitória do MPLA. A UNITA abandonou o plenário da Assembleia Nacional na hora da votação. A UNITA rejeitou a Lei Fundamental. A UNITA odeia o regime democrático. Enquanto existir, vai sempre fazer tudo para matar a democracia. 

O grupo parlamentar da UNITA emitiu um comunicado sobre o congresso extraordinário do MPLA que mostra o lado antidemocrático do Galo Negro. Aquilo é uma seita de fanáticos. Pela primeira vez no mundo, um partido interfere despudoradamente na vida interna de outro partido! Nunca se viu isto em democracia. 

A UNITA de hoje é ainda pior do que a do Savimbi. Muito pior. Se os seus deputados ousam interferir na vida interna de um partido que ganhou as eleições com maioria absoluta e tem milhões de militantes, imaginem o que vão fazer às pessoas se um dia forem governo. Preparem-se para as fogueiras!

O MPLA anunciou uma proposta para dividir a província de Luanda em duas. O tema vai a discussão pública. A província do Moxico até devia ser divida em três. Porque é um espaço em acelerada desertificação humana e morte social. O mesmo se passa com a província do Cuando Cubango. Muita terra e pouca gente. É preciso criar condições para fixar milhões de angolanos nesses territórios. 

Luanda é o contrário. Pouca terra e gente a mais. A política dos EUA e da África do Sul foi esta: Tornar a vida impossível às populações no interior de Angola. Fogem todos para Luanda. E quando milhões de pessoas estiverem na capital, com estruturas para meio milhão, rebenta uma bomba atómica social.

Conseguiram. Durante a rebelião armada da UNITA, entre 1992 e 2002, deslocaram-se para Luanda mais de dez milhões de pessoas. Não há estruturas para tanta gente. A qualidade de vida caiu até para os ricos! Nas últimas eleições a abstenção e o voto de protesto começaram a dar frutos à UNITA. Não vejo medidas sociais e políticas que contrariem a explosão da bomba atómica social. A nomeação do General Lúcio do Amaral para o Executivo tem mais a ver com o amortecer as consequências do que combater as causas.

Dividir a província de Luanda em duas pode ser uma solução. Se assim for, não se esqueçam de convocar o arquitecto Troufa Real. Ele estuda Luanda e a requalificação dos seus musseques há mais de 50 anos! É o maior. A minha solução é outra. Dar incentivos às famílias de Luanda que aceitem povoar as províncias do interior em morte social e em acelerada desertificação humana. Entretanto, fazer da província de Luanda uma região autónoma.  

Os sicários da UNITA dizem que dividir a província de Luanda em duas é um truque para o MPLA não perder as próximas eleições neste círculo eleitoral. Enlouqueceram. Os votantes do Galo Negro não mudam por obra e graça de divisões administrativas. A alteração administrativa até pode não se efectivar até 2027. Não sabem o que dizem nem o que fazem.  

A Oposição personificada na UNITA obstina-se em não apanhar o comboio que avança inexoravelmente rumo à normalidade, após 22 anos de paz. Todos os partidos da Oposição correm o risco de ir fazer companhia aos derrotados do colonialismo e do apartheid. Ninguém faz tanto pelas vitórias eleitorais do MPLA do que os sicários do Galo Negro e seus serventes do Bloco Democrático.

* Jornalista

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