sábado, 19 de outubro de 2024

Angola | Guerra nas Ruas de Luanda – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A vida é mesmo muito dura. No final de Outubro de 1992 estava todo roto por meses e meses de campanha eleitoral e os dois dias de eleições. Mais as peripécias circenses de Jonas Savimbi fugindo com o rabo à seringa da derrota infringida pelo eleitorado à UNITA e a ele próprio. Especialmente cansativo foi viver dezenas de horas enquanto os votos eram contados. O ministro Rui de Carvalho, o director-geral da RNA, César Barbosa, e o director da TPA José Guerreiro tinham montado um sistema de contagem dos votos por intermédio de fontes nas mesas e assembleias. Ao início da madrugada do dia 1 de Outubro, estava desenhada a vitória do MPLA. Mais de 57 por cento dos votos garantidos até então.

Durante a madrugada o MPLA foi descendo até se fixar nos 53 por cento. No final da contagem elegeu 70 deputados no ciclo nacional e 59 no provincial. Maioria absoluta! Estava garantida a estabilidade política durante a legislatura. O Partido de Renovação Democrática (PRD), que congregava a os restos dos golpistas do 27 de Maio e da Revolta Activa (dissidências do MPLA) conseguiu eleger um deputado. Nas eleições seguintes foi extinto por falta de votos. 

No dia 2 de Outubro de 1992, Abel Chivukuvuku roncou forte na cidade do Huambo. Face ao desastre eleitoral da UNITA ameaçou reduzir Angola a pó. No dia seguinte mudou o discurso e a ameaça foi balcanizar o país, se fossem proclamados os resultados eleitorais que davam a vitória ao MPLA com maioria absoluta. A ONU e a Troika de Observadores (Portugal, Rússia e EUA) corriam para o Huambo, onde Savimbi montou o seu quartel-general, abandonando a mansão do Miramar em Luanda. Tentavam convencer o líder da UNITA a aceitar a derrota eleitoral. Em vão.

Em Luanda estavam Jeremias Chitunda, vice-presidente da UNITA, Alicerces Mango, Secretário-geral do partido, General Ben Bem, indicado pelo Galo Negro para as Forças Armadas Angolanas acabadas de nascer, e Salupeto Pena, representante da UNITA na Comissão Conjunta Político Militar (CCPM), cujos membros tentavam encontrar uma saída para a derrota eleitoral do Galo Negro, sem o regresso à guerra como Jonas Savimbi queria. 

No dia 22 de Outubro de 1992 aconteceu uma reunião importantíssima na sede da CCPM. Uma novidade, Jonas Savimbi mandou Abel Chivukuvuku a Luanda participar nas negociações. Mau sinal. Era o homem que tinha ameaçado reduzir Angola a pó se fossem publicados os resultados eleitorais, como foram. A representante do Secretário-Geral da ONU, Margareth Anstee, foi insultada pelo líder da UNITA e seus sequazes. Só não lhe chamaram santa.

Nesse dia 22 de Outubro de 1992 a delegação do MPLA na CCPM, chefiada pelo General Higino Carneiro, pôs em cima da mesa uma proposta irrecusável. Jonas Savimbi encontra-se com José Eduardo dos Santos e ambos discutem os termos da segunda volta para a eleição do Presidente da República, já que nenhum teve mais de 50 por cento dos votos. As tropas da UNITA são imediatamente desarmadas e aquarteladas. A UNITA rejeitou mandar as suas tropas para os acantonamentos. Nem pensar!

A meio da reunião, a UNITA abriu o jogo. Queria participar num “governo de transição” e nesse gabinete controlava o Ministério do Interior e o Ministério da Comunicação Social. O General Petrof, Fernando da Piedade Dias dos Santos (Nandó) e Rui de Carvalho estavam dispensados. 

Nesse dia 22 de Outubro de 1992, a delegação do Governo de Angola era constituída pelos Generais Ndalu, Petrof, João de Matos, Nandó e Higino Carneiro. Entre os civis estava Faustino Muteka. Peço desculpa se a minha memória esqueceu algum. Proposta apresentada pelo lado governamental: Tomada de posse imediata dos deputados eleitos à Assembleia Nacional. Tomada de posse do Governo da República de Angola nos termos propostos pelo primeiro-ministro Marcolino Moco. Incluía ministros de todos os partidos que elegeram deputados. Um Governo de Unidade Nacional. A UNITA pediu tempo para pensar.

Nos dias seguintes sucederam-se reuniões até ao dia em que a UNITA (um sábado), após os trabalhos, desencadeou a última fase da Grande Batalha de Luanda, atacando o Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, sede nacional do MPLA, o Bairro de Alvalade, instalações da Rádio Nacional e da TPA. Ao comando estava Ben Ben e suas tropas especiais. Salupeto Pena mandou matar todos os brancos e mestiços que andassem nas ruas. Abel Chivukuvuku declarou “morte aos crioulos”. Aliceces Mango punha pólvora na fogueira e Jeremias Chitunda, na sede da UNITA em São Paulo, não era capaz de dizer coisa com coisa. O General Renato atacava tudo o que mexia no Bairro Azul. 

Ao fim de três dias de intensos combates, a UNITA foi derrotada também pela força das armas. Derrota estrondosa nas mesas e assembleias de voto. Derrota sangrenta na guerra em Luanda. Nesse momento já todo o país estava em guerra. Jonas Savimbi tocou o apito e seus militares, espalhados por toda a Angola durante a campanha eleitoral atacaram, ocuparam ou destruíram todas as instituições da Administração do Estado.

Os três dias de guerra em Luanda foram vividos por mim na Rádio Nacional de Angola, ao lado do ministro Rui de Carvalho, do director-geral da RNA César Barbosa, do director da TPA José Guerreiro e do Jornalista Arlindo Macedo, que no final da terceiro dias anunciou o fim dos combates ante as câmaras da TPA. 

No assalto das tropas de Savimbi às instalações da RNA eles perderam os rádios. César Barbosa e José Guerreiro puseram-nos a funcionar e ouvíamos as conversas, ordens e contra ordens. A mais chocante foi Salupeto Pena mandar matar todos os brancos e mestiços. Que arrepio! Naquela sala éramos todos mestiços e brancos. Ouvimos a sentença da nossa morte! Chiuvukuvuku foi mais composto, só decretou morte aos crioulos.

Esse mesmo Chivukuvu, hoje tomou posse como membro do Conselho da República. O Presidente João Lourenço frisou que foi chamado a ocupar vaga de Ismael Mateus. Um insulto à memória do antigo jornalista. Não se pode substituir um homem que nasceu e cresceu no MPLA, pelo assassino às ordens de Jonas Savimbi. O carrasco às ordens de Jonas Savimbi. Era ele que executava as condenações à morte na UNITA. Hoje é um mero candongueiro da política. Ismael Mateus merecia mais respeito.

Ontem foi extinto o processo que o médico e coronel reformado Matadi Daniel me instaurou e corria seus termos no Tribunal de Gaia. Tudo está bem quando acaba bem. O queixoso foi condenado a pagar as custas judiciais. 

Na primeira sessão do julgamento, Graça Campos, criado às ordens dos chefes Miala e Lungo, escreveu mentiras sobre o que aconteceu na audiência. As aldrabices foram publicadas no jornal “Valor Económico” dirigido por um tal Evaristo Mulaza. O dono está engavetado. Imediatamente lhe enviei um texto desmentindo as aldrabices. Contactei-o via telefone, sem sucesso. Não desmentiu. Negou a um colega de profissão o contraditório. E no sábado seguinte, ele e Graça Campos, na Rádio Essencial, caluniaram-me e insultaram-me. Espero que este energúmeno não tenha a carteira profissional de jornalista número um. O director da estação, Emídio Fernando, foram ver estava morto. O ambiente ficou mais limpo.

Também espero que a carteira profissional número dois não seja herdada pelo Pereira Santana, um assassino do jornalismo, da ética e da deontologia profissional. Este acomodado (por quem?) no Jornal de Angola encomendou a um farrapo humano, um texto insultuoso contra mim. Nhuca Júnior, um chui fardado de jornalista fez dele os insultos de André dos Anjos contra mim. Esqueceu o tempo em que pedia gasosa quando estava à rasca para fechar as suas páginas. E eu ajudava o polícia. Nunca recusei ajuda a ninguém.

O Jornalismo Angolano caiu nas mãos sujas de acomodados que actuam na lógica das associações de malfeitores. E depois não falta um Fernando Oliveira elogiando a paixão jornalística de Rui Ramos em 1974, época em que nem profissão tinha. Para disfarçar “acomodou-o” na Comissão Ad Hoc da Comunicação Social. Mentira. Aquilo era para militares.

Fernando Oliveira comparou a Comissão Ad Hoc da Comunicação Social (1974) à “Entidade Reguladora da Comunicação Social” de hoje, Mas que aldrabice tão mal engendrada. A Comissão Ad Hoc fazia censura. Mas em vez de prévia, como a dos fascistas, actuava depois de publicadas as matérias jornalísticas.

O Sindicato dos Jornalistas, na direcção de Ventura Martins, considerou as Comissões Ad Hoc da Comunicação Social, como instrumentos de censura. Na minha direcção essa posição manteve-se. Com a tomada der posse do Governo de Transição, no final de Janeiro de 1975, foram extintas. Fernando Oliveira está enganado. Um engano para fazer de Rui Ramos jornalista ou ligado ao jornalismo, em 1974. Mentira. Nessa altura a sua profissão era maoista de faca na boca. Depois fundou a OCA (Organização Comunista de Angola) e acabou.

Hoje o Jornal de Angola tem um parecido mas virado para a extrema-direita. Quem acomodou Pereira Santana no Jornal de Angola que o mande rapidamente para assessor de um qualquer dono. Nos jornais não cabe lixo.

* Jornalista

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