Artur Queiroz*, Luanda
A região Leste de Angola teve um
papel relevante na luta armada de libertação nacional. Depois do 25 de Abril de
Até essa data era apenas uma organização armada que alinhava em operações militares com as forças do colonialismo. Logo a seguir, em Setembro de 1974, na chana do Luinhameje, MPLA e o Estado Português assinaram um acordo de cessar-fogo. Naquele momento acabou a guerra colonial. E ficou aberto o caminho para o Acordo de Alvor.
Entre 11 de Novembro de 1975 e Fevereiro de 1976, no Leste de Angola foram travadas grandes batalhas para a expulsão das tropas invasoras sul-africanas, que faziam parte da “Operação Savana”. A cidade do Luso (Luena) foi libertada pelas FAPLA, depois de dois meses de ocupação estrangeira. Entre os combatentes que de armas em punho travaram a progressão dos invasores entre 1975 e 76, está o General João Ernesto dos Santos “Liberdade”, hoje ministro da Defesa.
“Liberdade” recorda o que aconteceu: “Antes da data da proclamação da Independência Nacional as forças da UNITA com o apoio das unidades militares sul-africanas ocuparam as localidades de Cangonga, Cangumbe, Chicala e Samafo, arredores da cidade do Luso (Luena). Antes, já tinham tomado as cidades de Nova Lisboa (Huambo) e Serpa Pinto (Menongue), com o objectivo de atingir o Leste do país e rumar para Luanda, via Malanje”.
Os militares das FAPLA bateram-se até onde puderam e a bravura demonstrada custou a vida de ilustres filhos da pátria. O General “Liberdade” lembra com mágoa as mortes em combate dos comandantes Jorró e Gombe.
Ocupadas as zonas à volta do Luena, os invasores iniciaram ataques à cidade e ao posto de comando da Frente Leste sob liderança do Comandante Dangereux, assassinado em 27 de Maio de 1977 pelos nitistas. Foram dias de violentas batalhas à volta da cidade do Luena. O General “Liberdade” revelou que no dia 10 de Dezembro de 1975, um mês após a proclamação da Independência Nacional, as FAPLA abandonaram a capital da província do Moxico e recuaram em duas colunas, uma rumo ao Luau e a outra pela estrada de Saurimo.
Para o sucesso da ocupação, os
invasores dispunham de material bélico altamente sofisticado. Canhões sem recuo
G5, morteiros de
Cronologia da Invasão
Os invasores sul-africanos decidiram dar combate às FAPLA com uma força numerosa e bem armada para ocupar o maior território possível, antes da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975. Logo no dia 19 de Outubro, a força invasora ocupou Ondjiva, capital do Cunene. No dia seguinte caiu Xangongo. A 22 de Outubro os sul-africanos estavam na Chibia.
A queda do Lubango estava por um fio. A 23 de Outubro a Humpata foi ocupada. No dia 24 de Outubro o Lubango caiu nas mãos do inimigo, que avançou pela Humpata e subiu a Chela a partir da Chibia. No dia 28 de Outubro os invasores tomaram a cidade do Namibe. No último dia do mês tomaram Catenge, importante eixo rodoviário que dá acesso a Benguela e ao Planalto Central pela via do Cubal, Ganda, Lépi, Caála e Huambo.
No dia 4 de Novembro, os invasores ocuparam o aeroporto da cidade de Benguela. A cidade do Lobito foi ocupada no dia 7 de Novembro.
No dia 13 de Novembro os sul-africanos foram travados no Sumbe. As FAPLA recuaram para Porto Amboim. Toda a província do Cuanza Sul foi ocupada até à Cela (Wako Cungo). Mas os invasores não conseguiram passar além da Quibala, ponto nevrálgico que dá acesso ao Dondo e depois Luanda. No Ebo os invasores foram estrondosamente derrotados.
No dia 18 de Novembro de 1975 foi formado o “Grupo de Combate X-Ray”. O alto comando sul-africano tomou esta decisão “a pedido de Jonas Savimbi”. Poucos dias depois estas tropas invasoras, misturadas com os sicários da UNITA, partiram do Munhango em direcção à cidade do Luena. No final de Novembro uma unidade de artilharia sul-africana chegou à frente de combate nos arredores do Luena.
O “Grupo X-Ray” dividiu-se em três forças. Uma avançou para o Lumege, a sul da cidade do Luena. As outras duas apertaram o cerco à capital da província do Moxico. A artilharia foi decisiva para o resultado final: Retirada das FAPLA e a ocupação da cidade capital da província do Moxico pelos invasores.
Comando no Rio Cassai
O Estado-Maior das FAPLA da Frente Leste instalou-se na Missão do Biula, a cinco quilómetros do rio Cassai, na divisão entre as províncias da Lunda e Moxico. Apesar da desvantagem no terreno e das dificuldades logísticas, o chefe do Estado-Maior General das FAPLA, comandante Xietu, ordenou operações de emboscada e flagelamentos constantes contra os invasores.
A reviravolta deu-se no ano seguinte, início de 1976. Depois de acumularem derrotas, os invasores decidiram retirar de Angola. O alto comando sul-africano ordenou a retirada no dia 22 de Janeiro de 1976. O General “Liberdade” recorda que entre 14 e 15 de Fevereiro de 1976, com o apoio das tropas cubanas, as FAPLA avançaram determinadas para a reconquista da cidade do Luena, obrigando os invasores a recuar para a região do Chinguar, e posteriormente, em direcção ao Cuando Cubango.
“Fizemos flagelamentos à distância e não houve resistência. A reconquista do Luena permitiu a consolidação das posições que se encontravam sob ocupação das forças sul-africanas e da UNITA. A partir daquela data iniciámos as operações de limpeza”, recorda o General “Liberdade”.
Pouco tempo depois da conquista da Independência Nacional, além do Moxico, a Frente Leste possuía unidades militares na Lunda e sempre que necessário eram realizadas intervenções de apoio mútuo.
O General “Liberdade” guarda na memória inúmeros episódios de guerra. Um dos mais marcantes foi vivido em companhia dos comandantes Xietu, Dangereux, e outros membros do Estado-Maior General das FAPLA.
No trajecto do Dala para Luma Cassai, em operação de reconhecimento, as FAPLA foram surpreendidas nas proximidades de uma das pontes do rio Cassai por unidades blindadas das tropas sul-africanas.
“Por ordem do comandante Xietu destruímos a ponte. Houve trocas de tiros e travámos o avanço dos sul-africanos. Se não fizéssemos essa deslocação o inimigo tinha avançado e ocupado a cidade de Saurimo. Malanje e Luanda ficavam ao seu alcance”, disse o General “Liberdade”.
Durante o período de ocupação
estrangeira, o posto de comando do Estado-Maior das FAPLA estava instalado
Ofensiva e Reconquista
Na libertação do Luena, as FAPLA estavam divididas em duas colunas militares. O General “Liberdade” comandou uma das colunas e recorda: “Uma coluna vinha do Luau e outra do Dala. Houve cruzamento em Camanonge e fez-se uma frente única em direcção à cidade do Luena. A partir do Alto Chicapa, caminhámos a pé até Cangombe e quando chegámos, os invasores já tinham fugido em direcção ao Cuito. No trajecto, cruzámo-nos com o comandante Dangeraux que, juntamente com as tropas cubanas dirigidas pelo comandante Godinho, estavam em perseguição dos invasores sul-africanos”.
O General “Liberdade” destaca o empenho e a participação do Estado-Maior da Frente Leste e a participação activa na guerra do comandante Francisco Gombe e dos hoje generais Dibala, Nvunda, João de Matos e centenas de jovens vindos do Centro de Instrução Revolucionária do Cazage.
Decorrido 49 anos da conquista da Independência Nacional e da expulsão dos invasores da cidade do Luena e da região Leste, os resultados conquistados desde então revelam que valeram a pena os sacrifícios consentidos por milhares de angolanos.
Porque hoje são os angolanos que dirigem os destinos do país e quando existem vozes que pensam numa “nova independência”, devem pensar que a História é um rascunho, mas estão enganados. A História faz-se de factos e a reconciliação nacional cultiva-se mostrando aquilo que construímos ontem, o que fazemos hoje e o que pensamos fazer amanhã. Mesmo que João Lourenço tenha tombado para o lado do estado terrorista mais perigoso do mundo. Apenas um episódio passageiro. Em 2027 volta tudo ao lugar.
“LIBERDADE” NA LUTA
Um Adolescente de Armas na Mão
João Ernesto dos Santos
“Liberdade” ingressou no MPLA a 15 de Janeiro de 1967, aos 13 anos. Foi nesta
altura que chegou à base central “Mandume
Por orientação da direcção do
MPLA as forças guerrilheiras tiveram que partir para a base “Mandume
“Liberdade” fez os estudos primários na escola número 56, na comuna do Alto Dilolo, e o ensino secundário nas províncias da Lunda Norte e Malanje.
O guerrilheiro “Liberdade” teve o primeiro combate contra as tropas portuguesas na região do Cazombo. Além de passar pela Academia Militar na Rússia, participou na criação do Regimento Presidencial, no Grafanil, e foi o primeiro comissário (governador) da província da Lunda Norte, logo apôs a divisão da província em Norte e Sul.
Além de governador provincial do Moxico, dirigiu as províncias do Huambo e de Malanje. Hoje é ministro da Defesa.
*Esta reportagem foi publicada no Jornal de Angola em 2014. Comigo trabalhou o jornalista Adalberto Ceita. As fotos são do fotojornalista Mota Ambrósio.
* Artur Queiroz é jornalista
Imagem: Luena, cidade da Paz
Sem comentários:
Enviar um comentário