quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Trump 2.0 - aperte o cinto, cerre os dentes e prepare-se para quatro anos nunca vistos

Martim Silva, diretor-adjunto | Expresso (curto)

Bom dia

Seja muito bem-vindo ao Expresso Curto, a sua newsletter matinal desta quarta-feira, 6 de novembro. Hoje falamos e muito das eleições nos EUA e do quase quase certo regresso de Donald Trump à Casa Branca quatro anos depois de ter sido dela afastado.

Venha daí comigo,

Antes de mais um convite: hoje, às 14h00, "Junte-se à Conversa" com David Dinis e Pedro Cordeiro, para falar sobre as "Eleições nos EUA: o dia seguinte ". Inscreva-se aqui.

Durante anos, uma candidatura presidencial de Donald Trump, o magnata da construção civil e dono de casinos e clubes de golf, parecia do reino do anedótico. Depois, a possibilidade de ganhar umas eleições parecia impossível. Depois, ainda, o seu regresso à Casa Branca também parecia menos provável do que ser condenado judicialmente num de vários casos em que foi investigado e indiciado.

Mas a tudo isto Trump sobreviveu, conseguindo sempre manter-se à tona e sair por cima (um pouco à semelhança do que foi fazendo durante décadas nos seus negócios, sobrevivendo a sucessivas falências e investigações).

Na última noite, a candidatura de Trump mostrou-se bastante mais resistente no eleitorado norte-americano do que se esperava e, uma a uma, as esperanças de uma vitória de Kamala Harris, foram-se esfumando. Primeiro, na Carolina do Norte, depois na Geórgia, depois no Arizona, finalmente com a dificuldade em segurar os estados da cintura industrial no nordeste dos EUA.

Seguir a noite eleitoral das presidenciais norte-americanas em direto é um exercício fascinante, que me habituei a fazer ao longo do último quarto de século. Desta vez, a emissão da SIC Notícias e da CNN Internacional estiveram sempre ligadas (televisão e Ipad), com as notícias de última hora a serem lidas no site do Expresso e do The New York Times.

Como sempre, a noite começou forte em tons vermelhos (cor dos Republicanos), com a contagem inicial dos votos mais rurais, e aos poucos foi ganhando algumas tonalidades azuis (cor dos Democratas), embora muito esbatidos.

Sete Estados pareciam desta vez decisivos: Michigan, Wisconsin, Pensilvânia (nordeste), Geórgia, Carolina do Norte (sudeste), Nevada e Arizona (zona ocidental dos EUA). Quanto ao comportamento eleitoral, esperava-se que o voto feminino, tal como o latino, pudesse ser decisivo quanto ao nome do vencedor.

Pelas 3 da manhã, hora de Lisboa, a tendência começou a definir-se. E era de uma maior resistência eleitoral de Trump. O caminho para Kamala parecia mais estreito, e resumia-se a conseguir manter os três estados industriais do nordeste como forma de conseguir chegar à Casa Branca. Ou seja, Trump estava agora melhor e a resistir mais do que na eleição contra Biden, em 2020. E Kamala parecia estar a ter, um pouco em todo o lado, resultados ligeiramente abaixo dos de há quatro anos do ainda Presidente dos EUA - Kamala, uma política liberal (no jargão americano quer dizer de esquerda) da Califórnia, não terá sido tão eficaz como Biden junto de largas faixas do eleitorado, nomeadamente em estados industriais.

A junção destes dois factores pode ajudar a explicar o que sucedeu. Tal como ajuda a explicar o que sucedeu a maior resistência de Trump, face ao esperado, no eleitorado branco, urbano e com mais qualificações (o que aliado à sua forte implantação na América rural ajuda a explicar o sucedido).

Eram quase seis da manhã de Lisboa quando, no quartel-general da candidata Democrata, sem qualquer ambiente festivo, ficou a saber-se que Kamala Harris não vai falar nas próximas horas, aguardando as contagens finais dos estados ainda por apurar para se dirigir aos norte-americanos.

Quando já passava das seis da manhã, hora de Lisboa, Trump seguia na frente nos quatro swing states que faltam apurar: Pensilvânia, Michigan, Winsconsin e Arizona, nos três primeiros com vantagem de mais de 200 mil votos.

Pouco depois, a Fox News, canal de TV por cabo claramente pró-Trump, dizia que o Republicano tinha ganho na Pensilvânia. O caminho estreito de Kamala tornava-se inexistente. E Trump preparava-se para a declaração de vitória, a partir da Flórida.

Sobre a campanha de Trump, Ricardo Lourenço, o nosso correspondente nos EUA, já escreveu: Escaramuças internas na campanha de Trump, apesar do “cheiro” a “vitória histórica”

Paralelamente, na útima noite, decorreram várias eleições para o Congresso e Senado norte-americanos, essenciais para se perceber o equilíbrio de poder político nos EUA nos próximos anos. Aqui, os Republicanos ganharam o controlo da câmara alta, o Senado. A câmara baixa, o Congresso, ainda estava por determinar. Se os Republicanos ficarem com o controlo total do Congresso, a Administração Trump terá carta branca total doravante.

Ao longo da última noite, uma completa equipa da redação do Expresso esteve a acompanhar momento a momento, tudo o que ia acontecendo numa eleição presidencial de um país com mais de 300 milhões de pessoas. AQUI pode ver o nosso ‘Direto’, que continua naturalmente ativo hoje à medida que se contam mais votos e se sabem mais detalhes dos resultados.

Durante a manhã desta quarta-feira, vai poder ler as reportagens, análises e opinião que vamos publicar. Temos, entre outros, o olhar do editor do Internacional, Pedro Cordeiro, e dos nossos jornalistas nos EUA, Ricardo Lourenço, Hélder Gomes e Paula Alves Silva.

Aqui pode ouvir já o podcast Expresso da Manhã: Trump perto de ganhar, Kamala ficou à espera de um milagre na “parede azul” que não chegou

A confirmar-se que vamos mesmo assistir nos próximos quatro anos à sequela do filme Trump na Casa Branca, torna-se essencial perceber o que será a versão 2.0 de Trump a liderar a maior democracia e a maior economia do planeta.

Este texto da nossa jornalista Salomé Fernandes traz algumas luzes quanto ao que esperar: Se Trump vencer… promete cortar impostos, deportar imigrantes ilegais, aumentar tarifas para bens importados e resolver a guerra na Ucrânia

OUTRAS NOTÍCIAS

CÁ DENTRO

O Governo leva pouco tempo de vida e, grosso modo, não se pode dizer que as coisas lhe têm corrido mal. Talvez a ministra Margarida Blasco seja uma (pouco) honrosa excepção, com sucessivas intervenções em que se atirou para fora de pé. Neste artigo, “Montenegro segura a ministra da Administração Interna”, a jornalista Paula Caeiro Varela conta-lhe o que se passa no Executivo depois da ministra ter admitido negociar o direito à greve nas polícias, para logo a seguir recuar.

As polémicas relacionadas com a segurança na Área Metropolitana de Lisboa continuam. Marcelo quer Governo nos bairros mas só com “alguma ideia para dizer” e nega ter combinado com Montenegro

Já houve alguns referendos locais pelo país, ao longo dos últimos anos, mas nunca aconteceu os municípes do maior concelho terem sido chamados a pronunciar-se. Será que é desta? Leia aqui o que está a acontecer, e que tem que ver com Alojamento Local: Mais de 11 mil pessoas pedem um referendo pelo fim do Alojamento Local em Lisboa

Maternidade do Santa Maria reforçada até ao final do ano com mais sete obstetras

O ministro da Agricultura, José Manuel Fernandes, esteve no Parlamento onde os governantes estão a ser ouvidos a propósito do Orçamento do Estado para 2025. “Governo reforça direções regionais de agricultura, alerta para a urgência do armazenamento de água e critica as “entidades que complicam””

Economia terá de crescer ao ritmo mais rápido em quase dois anos para atingir a meta do Governo para 2024
Crescimento abaixo do esperado no verão obriga a forte impulso da economia no quarto trimestre deste ano para atingir a meta anual do Governo de 1,8%

Mais um ministro que esteve esta terça-feira no Parlamento foi o da Educação. “12 mil crianças estão à espera de um lugar no ensino pré-escolar” é o título do artigo da jornalista Isabel Leiria, depois de ter ouvido Fernando Alexandre.

“Não consegui conter-me”: ex-KPMG acusou contabilista do Grupo Espírito Santo de “fraude” e diz ter sido “ameaçado”
Sikander Sattar, que presidiu à KPMG Portugal durante 15 anos, foi a tribunal contar que acusou Machado da Cruz de “fraude” em 2014, ainda que admita que este não o fez por iniciativa própria

Ainda sobre o julgamento em tribunal do caso BES, o nosso jornalista Diogo Cavaleiro escreveu igualmente outro artigo interessante: Defesa de Ricardo Salgado mantém porta aberta a processar Portugal: Estado será "humilhantemente condenado"

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LÁ FORA

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“As catástrofes e as emergências suscitam atos de heroísmo e também erros”: a luta dos valencianos para renascer do lodo
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Tocou com Billie Holiday, orquestrou Frank Sinatra, produziu o inatacável “Thriller”, obra-prima de Michael Jackson: Quincy Jones foi uma das mais influentes figuras do universo da música, um criador incansável que marcou diferentes culturas, do jazz ao hip hop, e que se deu com presidentes e com a elite artística da América e do mundo. Morreu esta semana aos 91 anos

TRIBUNA

Se alguém antecipasse o guião da noite de terça feira no Estádio de Alvalade, dificilmente escreveria o que se passou com maior exatidão: o Sporting goleou o super-poderoso Manchester City de Guardiola por 4 a 1, e está agora no segundo lugar da fase da Liga dos Campeões, com 10 pontos. Viktor Gyokeres fez um hat-trick e o avançado nórdico do City Haaland ficou em branco. E, sobretudo, Rúben Amorim, o treinador que se despede depois de quase cinco anos, foi ovacionado (e atirado ao ar pelos jogadores) no seu adeus a Alvalade.

Se era a última noite de Rúben Amorim, então o Sporting deu-lhe a melhor noite do melhor período da sua vida - eis a crónica do jogo, escrita pelo nosso editor da Tribuna, Diogo Pombo.

Como viu Rúben Amorim a sua despedida de sonho? “Estava escrito. Há dias em que as coisas têm de acontecer de uma certa maneira”

PODCASTS

O que se passa com a industria automóvel europeia?

Sobre o povo escolhido: Ricardo Araújo Pereira e Daniel Blaufuks trocam piadas e ideias a propósito do humor judaico

Sabe qual a percentagem que deve poupar para a entrada da casa, para o filho e para a reforma? Pedro Andersson ajuda

Juan Domingo Péron, o presidente mais controverso da Argentina

O QUE ANDO A LER

Nas últimas semanas andrei a ler vários livros relacionados com a política norte-americana
‘War’, de Bob Woodward, o mais aclamado jornalista internacional, que há décadas acompanha e detalha as várias presidências norte-americanas. O seu ‘War’ é dedicado ao mandato de Joe Biden na Casa Branca, muito marcado pela resposta à agressão russa na Ucrânia (e sempre com Donald Trump, o seu antecessor, como pano de fundo).

Confidence Man: The Making of Donald Trump and the Breaking of America, de Maggie Haberman, é um relato da vida de Trump e do seu período na Casa Branca, feito pela jornalista do The New York Times que provavelmente melhor o conhece e há mais tempo o acompanha (primeiro em Nova Iorque, depois como Presidente)

E ainda

The Divider: Trump in the White House, 2017-2021, de Peter Baker e Susan Glasser, provavelmente o mais detalhado e precioso relato dos quatro anos de Trump como presidente dos EUA.

Mas, se há mais vida para além do défice, também há mais vida para além da política americana e nos últimos dias tem sido com um enorme sorriso no rosto que ando a devorar “A Década Prodigiosa, crescer em Portugal nos anos 80”, do meu colega aqui na Impresa Pedro Boucherie Mendes. Tollan, Herman, Júlio Isidro, o Spectrum… Cavaco, Soares, Eanes, a TV a cores, as FP 25, as Amoreiras… Um magnífico relato da primeira década integralmente em democracia em Portugal, a última fora da Europa e a primeira já dentro da CEE. Um tempo único e um livro imperdível, sobretudo para quem viveu e cresceu nessa década.

Por hoje é tudo. Tenha um excelente dia e um fantástico resto de semana

Ler o Expresso

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