Artur Queiroz*, Luanda
O Tribunal Internacional de Justiça da ONU condenou Israel. Os 15 juízes decidiram que é ilegal a ocupação da Cisjordânia, Gaza e Jerusalém Oriental. Até chegou ao ponto de anexação da Palestina. Esta sentença resulta de uma queixa da Assembleia-Geral da ONU, em 2022. Para concluírem que os nazis de Telavive ocuparam e anexaram a terra dos outros, foram necessários dois longos anos. As grandes autoestradas da comunicação, praticamente todas nas mãos do estado terrorista mais perigoso do mundo e das potências do ocidente alargado, rematam assim a notícia: “Uma decisão histórica mas não é vinculativa”.
Sim, não passa de teatro e muito mau. Distracção do acaso. Conversa fiada para acalmar milhões de pessoas que nos EUA e no resto do mundo ocidental, protestam nas ruas contra o genocídio na Palestina, planificado e decidido no Casa Branca e no Pentágono. Executado pelos nazis de Telavive.
Os ataques da resistência palestina em Israel (não foi apenas o HAMAS) no dia 7 de Outubro de 2023 serviram de pretexto à “solução final” que tem este guião: Destruição da Faixa de Gaza. Deportação dos seus habitantes para campos de concentração no deserto do Sinai ou em países arregimentados por Washington. Ocupação do que resta livre na Cisjordânia. Os habitantes vão para os campos de concentração. Expulsão dos árabes de Jerusalém Oriental e armazenados nos campos de concentração do Líbano, Jordânia e Egipto. Como todos os outros palestinos. Tudo para a Ucrânia nazi, nada para a Palestina ocupada e anexada.
A sentença do Tribunal Internacional de Justiça da ONU que condena Israel não vale nada. Porque se não for antes, morre com um veto dos EUA no Conselho de Segurança. Estejam na Casa Branca Biden ou Trump, Dillinger ou Al Capone, Nixon ou Madoff, Lee Oswald ou Charles Manson. Tanto faz. Na União Europeia, seja a criadagem eleita pela “família” popular ou socialista, vale o mesmo, luz verde aos nazis de Telavive no genocídio em curso na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.
O ocidente alargado está nas mãos de nazis ou aspirantes. E este ano radicalizaram-se. Deixo esta questão. Hitler, com a Alemanha toda rebentada, derrotada na I Guerra Mundial, chegou ao poder e atirou o mundo para uma guerra particularmente destrutiva com 85 milhões de mortos. Imaginem o que faz um qualquer Trump na Casa Branca, com o ocidente alargado em nazificação acelerada. Com o belicismo à solta de Lisboa até Helsínquia. Peço perdão aos meus filhos e netos por lhes deixar este mundo. Faço parte de uma geração que sonhou, lutou, sofreu, acreditou. Justiça, dignidade, liberdade, cidadania eram as nossas metas. Perdemos em toda a linha. Nada de nada.
A sentença do Tribunal Internacional de Justiça da ONU tem mérito porque é a prova do algodão. Vamos ver que países suspendem as relações com Israel, até o governo respeitar a Lei Internacional. Poucos ou nenhuns se vão juntar aos que já não têm qualquer relação com os nazis de Telavive. Nem era necessária uma decisão judicial, bastava reagir em conformidade, quando há três dias o parlamento israelita (Knesset) recusou a existência de dois Estados. E ontem o primeiro-ministro Netanyahu foi muito claro: “Cisjordânia e Jerusalém são terra sagrada do povo judeu”. Os colonialistas portugueses também diziam que “Angola é carne e sangue da nossa grei”.
Os nazis de Telavive já bombardearam todos os hospitais e centros de saúde na Faixa de Gaza. Já destruíram lugares de culto. Estão a bombardear as escolas da ONU. Indicaram “áreas humanitárias” e milhares de palestinos refugiaram-se nesses espaços que agora são destruídos à bomba. Milhares de mortos, sobretudo crianças, mulheres e idosos. Os jovens andam na resistência. E não é apenas o HAMAS que resiste. Todas as organizações palestinas enfrentam as tropas israelitas. Porque todas estão contra o genocídio, a ocupação e a anexação da Palestina.
O Hospital Heróis de Kifangondo, no município de Cacuaco precisa de mil médicos, dois mil enfermeiros e técnicos auxiliares de diagnóstico. Mais ou menos 4.000 trabalhadores. A factura anual de energia deve atingir os dois milhões de dólares por ano. A unidade hospitalar vai gastar por ano entre 200 e 300 milhões de dólares. Nesta verba “pesada” está incluída a manutenção dos equipamentos de ponta. A saúde fica muito cara e quem paga tudo somos nós, não é o Presidente João Lourenço ou a senhora ministra do sector.
O Titular do Poder Executivo e a ministra da Saúde apenas definem as políticas do sector. E decidiram inverter as prioridades. A aposta correcta tem de ser nos cuidados primários. Mas João Lourenço aproveitou a inauguração do Hospital Heróis de Kifangondo para anunciar a construção de dezenas de hospitais em todo o país.
O dinheiro gasto na construção de um hospital dá para criar uma rede de centros e postos de saúde com milhares de unidades. Educação e informação. Um pequeno laboratório. Dois ou três profissionais. Melhoram a qualidade de vida a milhares de pessoas e evitam a doença. Retiram clientes aos grandes hospitais. No limite acabam com os grandes hospitais. Se duvidam da eficácia desta aposta, por favor vão a Cuba.
Os cuidados primários são garantidos com um posto de saúde em cada quarteirão. Vários centros de saúde em cada bairro com oferta de clínica geral, saúde materna e infantil, dentista, meios auxiliares de diagnóstico, básicos. Havana tem mais de dois milhões de habitantes e apenas um grande hospital que responde aos cuidados diferenciados. Há 40 anos, quando fiz uma reportagem sobre a saúde em Cuba, já realizavam transplantes de coração e pulmões ao mesmo tempo!
Angola precisa de investir nos cuidados primários de saúde. Se o fizer, há cada vez menos necessidade de responder a cuidados especializados. Estamos a construir a casa pelo telhado. E esse erro custa muitos milhões mas também sacrifica a qualidade de vida dos angolanos. E mata muita gente que se salva com um comprimido ou uma análise “gota espeça”.
Lá no Bindo, as latas de quinino salvavam centenas de vidas. Porque o paludismo era a única doença que resistia aos milongos tradicionais. Meia dúzia de “hóstias” de quinino curavam qualquer ataque de malária.
* Jornalista
* Escrito 20.7.24
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