sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Guerras e Punho Erguido -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

João Lourenço disse no Palácio Presidencial de Pretória, lado a lado com o Presidente Ramaphosa, que “lutámos pela liberdade dos nossos povos”. Lamento informar sua excelência que ele lutou para ser rico. E conseguiu! 

Eu tinha um amigo bem-sucedido na vida, um dos melhores advogados de Luanda (Rolando Estanqueiro), que morava ao lado do Cinema Karl Marx (na época chamado Avis) e em sua casa bebia excelentes tintos portugueses e franceses, da minha idade. 

Na mesma rua, depois da Independência Nacional, arranjou vivenda de luxo, João Manuel Gonçalves Lourenço, o mais bem-sucedido filho de enfermeiro em todo o mundo. Chegou rapidamente a ricaço à custa do MPLA, que ele e a sua turma estão a destruir impiedosamente. 

O MPLA é o Povo. Se acaba o MPLA o povo volta a ser escravizado. Os mandatos presidenciais de João Lourenço são apenas uma pequena amostra. Voltamos ao antes do 10 de Dezembro de 1956. O amplo movimento daqueles tempos heroicos foi escancarado ao oportunismo, ao banditismo político e à traição mais abjecta, depois de 1974. Hoje assistimos a manobras para que depois de 2027, João Lourenço seja o presidente da comissão liquidatária. Vai ser sugar o osso até ao tutano.

O património mais valioso do MPLA eram os seus militantes, apoiantes e amigos. Isso já lá vai. O partido caiu nas mãos de uma clique predadora que aposta tudo na sua destruição. E está a conseguir com grande eficiência. Além do património humano também há o património económico. Muitas sedes valiosas. E uma rede empresarial criada para auto financiamento das actividades políticas. Essa rede foi constituída entre o ano de1991 e 1992. 

Na mudança de regime, da democracia popular e do socialismo para o capitalismo e a democracia representativa, foram criadas empresas com património valioso. Essas empresas tinham à frente proprietários ou gestores de total confiança da direcção do MPLA. E essa rede foi crescendo ao longo dos anos dentro das regras da economia de mercado. João Lourenço prepara-se para ser o presidente da comissão liquidatária do partido, depois de 2027. É claro que todo esse património vai ser despachado para os amigos e sócios.

O processo é irreversível. Até hoje não apareceu força humana capaz de impedir este crime hediondo contra o Povo Angolano que é ficar sem o MPLA. Fazem-se umas manobras de diversão para ninguém reagir. Essa de levar ao Tribunal Constitucional o congresso extraordinário é uma delas. Até as criancinhas sabem que os cães ladram mas a caravana passa. 

A caravana de João Lourenço vai passar incólume. Era preciso que os delegados e dirigentes fossem ao congresso dizer-lhe na cara que já mudou os estatutos do partido para seu interesse pessoal, uma vez. Agora quer repetir a dose e ninguém lhe diz isso na cara! O nosso Venâncio e o Cónego apenas estão a dar uma imagem de democraticidade ao esbulho e destruição do amplo movimento que nasceu como uma ampla aliança de classes e é hoje instrumento de enriquecimento ilícito, para uns quantos oportunistas e traidores. Estou a medir e pesar bem as palavras que uso.

Uma responsável do sector da Saúde, educadamente agradeceu ao Presidente da República os hospitais que vai inaugurando mas lembrou isto: “O mais importante são os centros de saúde e a formação dos técnicos”. Pois é. Mas isso não dá comissões milionárias. Não enriquece o dono da obra. 

O Instituto de Comunicação Social da África Austral vai fazer uma manifestação no dia 17 em protesto contra a “restrição das liberdades em Angola”. Os convocantes pedem aos manifestantes: “Erga o Punho”. A questão é contra quem vamos erguer os punhos. O Jornalismo em Angola é exercido na lógica das associações de malfeitores. Quem remar contra essa maré vai à vida. É simplesmente banida ou banido. Banditismo mediático é o que está a dar. Os jornalistas assistem a esse crime sem qualquer reacção. Indiferença total. E conivência.

Na sexta-feira passada denunciei aldrabices e falsificações do senhor Silva, Reginaldo, sobre o programa radiofónico Kudibangela e publicadas no Novo Jornal. Apesar de ter reposto a verdade dos factos, o jornal hoje volta a dar espaço ao falsificador e mentiroso. Desta vez diz que o programa radiofónico “foi concebido” pelo Betinho. Um jovem que nunca antes pôs os pés num estúdio de rádio, que não tinha a mínima noção do que é a linguagem jornalística e a sua gramática na Rádio, que não fazia ideia do que é um edifício sonoro, concebeu um programa de Rádio!

Temos de Erguer o Punho sim, mas contra a associação de malfeitores que tomou de assalto o Jornalismo Angolano depois de 1992. João Lourenço, o ministro da comunicação social, os gestores e directores dos órgãos públicos de comunicação social são anjos com asas e tudo, comparados como o banditismo dos Silvas e Luzias que tomaram de assalto o espaço mediático.

O secretário-geral da OTAN (ou NATO) está há pouco tempo no cargo mas já mostrou serviço. Mark Rutte diz que “a Europa precisa de uma mentalidade de guerra” e exige mais dinheiro para guerrear os russos! O MISA-Angola convocou uma manifestação de punho erguido contra os bons, mobilizando a associação de malfeitores. Mark Rutte esqueceu-se que a propaganda oficial apresenta a OTAN (ou NATO) como uma organização “defensiva” ao serviço da paz. Venha daí mais dinheiro para fazer a guerra. O MISA quer sacar mais dinheiro para alimentar o banditismo mediático.

A Europa está a afinar uma mentalidade de guerra! Todos contra a Federação Russa. No seu programa de liquidação do MPLA, João Lourenço alinha nessa cruzada. Desde que dê dinheiro, os valores e princípios só atrapalham. Eu sou contra.

* Jornalista

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