segunda-feira, 4 de março de 2024

Inteligência ucraniana falhou no ataque terrorista na região russa de Samara

South Front | # Traduzido em português do Brasil

A Direcção Principal de Inteligência da Ucrânia assumiu a responsabilidade por outro ataque terrorista fracassado no território russo. Na manhã de 4 de março, uma explosão danificou uma ponte ferroviária na região de Samara. 

De acordo com relatos locais, a explosão ocorreu por volta das 6h, horário local, na ponte ferroviária sobre o rio Chapaevka. O ataque teve como objetivo minar os pilares e destruir a ponte; mas a tentativa falhou. As estruturas de concreto permaneceram intactas, apenas algumas cercas metálicas foram danificadas. Como resultado da explosão, o tráfego no trecho ferroviário Zvezda – Chapaevsk foi suspenso e cinco trens atrasaram.

Mais dois IEDs foram descobertos nas ferrovias perto das aldeias de Bezenchuk e Nagorny.

O ataque teve como objetivo interromper a comunicação ferroviária na região, que é utilizada por empresas estratégicas locais, como o Local de Testes de Munições do Estado do Volga e fábricas de produtos químicos perto de Chapaevsk.

O ataque falhou, mas o GUR da Ucrânia assumiu a responsabilidade, numa tentativa de declarar outra falsa vitória.


O ataque teve como objetivo minar os pilares e destruir a ponte; mas a tentativa falhou.

Ler/Ver em South Front:

Assustada com as derrotas, a unidade especial ucraniana Kraken fugiu de Ochakov na região de Kherson

França divulgou lista de armas fornecidas à Ucrânia

Situação militar nas linhas de frente ucranianas em 3 de março de 2024 (atualização do mapa)

O Túmulo de Hitler e os Medrosos -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Bertrand Russel escreveu centenas de páginas para nos explicar por que razão não é cristão. O livro “Porque não sou cristão” fez escola na época. li e reli aquelas páginas. O meu problema era quase impossível de resolver. Um filósofo moderno e com um pensamento bem estruturado  precisou de páginas e páginas para explicar o que eu explicava apenas com uma palavra. Ele analisou o tema pelo lado da epistemologia, da teoria do conhecimento, da moral, da crítica da razão pura e até da escolástica. Notável!

E foi por isso que compreendi, quase sem querer e sem que isso tivesse alguma coisa a ver com a notável obra de Bertrand Russel, que a filosofia grega é euro-asiática. Tem na sua geografia o Médio Oriente, primeira paragem dos bantus que emigraram para Norte, quando o paraíso de Nakuru foi arrasado por cataclismos naturais. A filosofia grega dá-me alegria e uma confiança pletórica absolutamente imparável. Desde Pirro a Platão. No pensamento grego sou livre. Naquele manancial de maravilhas optei por duvidar da própria dúvida. Os libertários são poucos e com tendência para acabar.

Os romanos são verdadeiramente europeus e muito cansativos. Mas absolutamente grandiosos. Quando entro no pensamento de Séneca sinto que está para breve a imortalidade do meu ser. E como essa verdade me pesa!

Depois de tanto ler o “Porque não sou cristão” concluí sem a mínima hesitação que os brancos pensam muito. E resolvi mudar de pele. Já lá vão pelo menos 50 anos! Eu posso explicar ao mundo por que não sou cristão, com uma palavra e o respectivo artigo definido, masculino do singular: o Purgatório.

Se o deus dos cristãos me quiser mandar para o Inferno, fico-lhe eternamente agradecido. Se me mandar para o Céu, não lhe acho tanta piada e juro que desde o primeiro instante em que chegar ao assento etéreo, vou fazer tudo para seduzir e possuir no meu leito de seda, todas as santas e anjinhas que puder. Na vida já fiz de tudo e fui mais alguma coisa. Só me falta por os cornos a um deus com tiques de juiz vingativo, bárbaro e escandalosamente parcial.

Ele manda os bons para o Céu, os maus para o Inferno e os assim-assim para o Purgatório. Essas almas penadas só têm uma maneira de enganar a eternidade: Convencer os vivos a rezarem desalmadamente por elas, até que o energúmeno que preside ao Santíssimo Tribunal decida libertá-las das duras penas do Purgatório. Eu nunca terei ninguém que salve com rezas e ladainhas a minha alma penada, das salas de tortura do Purgatório. Sou pecador por convicção e iconoclasta por emoção. Qualquer pessoa com tendência para a caridade compreende a minha rejeição inquieta.

Angola | Estado de Direito Bateu no Fundo -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Procurador-Geral da República, Hélder Pita Grós, aproveitou a abertura do ano Judicial para revelar aos jornalistas que Angola não é um Estado de Direito e afundou. Se fosse um vigarista vulgar a dizer isto, tínhamos dúvidas. De fosse um trafulha, até podíamos encarar a declaração com um sorriso indulgente. Se fosse um mentiroso, dávamos-lhe um desconto como damos a Adalberto da Costa Júnior. 

A questão nem devia ser colocada no condicional porque o Presidente João Lourenço, ungido pela vontade do altíssimo deus, nunca escolheria para o cargo um aldrabão, um vigarista vulgar e um trafulha. Portanto, Hélder Pita Grós teve a coragem de pôr o dedo na ferida publicamente, dando a cara abertamente. Até aqui ele e a sua gente deitavam abaixo o Supremo Tribunal e seu presidente, Joel Leonardo, mas servindo-se dos “jornalistas” e outros artistas. Pita Grós afirmou que o empresário Carlos São Vicente foi detido, presente a um agente do Ministério Público e ele decretou a sua prisão preventiva! 

O Ministério Público é um órgão auxiliar da Justiça. Os seus agentes não são juízes. Nos Tribunais, onde se faz Justiça em nome do Povo, são apenas uma parte. Até no Zaire de Mobutu só os magistrados judiciais podiam decretar prisão preventiva. A Liberdade é um bem precioso. Sem ela a vida não tem sentido. Hélder Pita Grós disse, sem gaguejar e mastigando as palavras, que um promotor de justiça, auxiliar da Justiça, decidiu a prisão preventiva do empresário Carlos São Vicente. É a medida de coacção mais gravosa que existe no sistema. 

Isto é gravíssimo. A secretária particular do Procurador-Geral da República não pode decretar a prisão preventiva de Carlos São Vicente. Ou o seu motorista. Ou um agente regulador de trânsito. Ou o Man Gena. Só um Juiz de Direito pode tomar tão grave medida. 

Hélder Pita Grós, na sua patética confissão, diz que um agente do Ministério Público decretou a prisão preventiva de Carlos São Vicente porque na época não existiam juízes de garantia. Eu chamo-lhes Juízes das Liberdades mas no mobutismo reinante em Angola, a palavra Liberdade é maldita! O Procurador-Geral da República sabe que na época existiam juízes de Direito, fossem de “garantias” ou não. Existiam Tribunais fora dos gabinetes do Palácio da Cidade Alta.

O Ministério Público é um inestimável e indispensável órgão auxiliar da Justiça. Mas se ao mesmo tempo também julga, decide sobre a liberdade dos cidadãos, então não há Estado de Direito. Ninguém imagina um advogado de defesa a ser ao mesmo tempo juiz da causa. Um arguido não pode ser ao mesmo tempo juiz de si próprio. Pôr um agente do Ministério Público a julgar a causa em que fez a acusação, é igual.

Então, agora eles (Israel) estão fazendo experiências com robôs militares em Gaza

Caitlin Johnstone* | Caitlin Johnstone.com | # Traduzido em português do Brasil

Um dos factos mais horríveis sobre esta distopia em que vivemos é que operações militares em grande escala são rotineiramente utilizadas como campos de testes para novas máquinas de guerra, usando corpos humanos como cobaias para experiências que equivalem a laboratórios de campo gigantescos e encharcados de sangue - todos beneficiar os objectivos estratégicos dos gestores do império e as margens de lucro do complexo militar-industrial.

O Haaretz publicou um novo artigo intitulado “ Gaza se torna o campo de testes de robôs militares de Israel ”, que relata que “Em um esforço para evitar ferir soldados e cães, a IDF tem feito experiências com o uso de robôs e cães controlados remotamente na Faixa de Gaza. Guerra."

(Sim, porque meu Deus, você pode imaginar o quão terrível seria se soldados e cães israelenses fossem feridos durante um genocídio?)

O autor do artigo, Sagi Cohen, relata que cães-robôs montados em drones e escavadeiras controladas remotamente são dois dos novos horrores apocalípticos atualmente sendo testados em batalha em Gaza, dizendo que “oficiais do sistema de defesa confirmam que houve um salto no uso e sofisticação de robôs no campo de batalha.” O que é uma frase bastante desconcertante de ler.

Esta notícia surge ao mesmo tempo que um novo relatório do Public Citizen alertando para a provável chegada iminente de sistemas de armas autónomos que matarão pessoas com o mínimo de instrução de pilotos humanos, dizendo: “A preocupação mais séria envolvendo armas autónomas é que elas desumanizam inerentemente o pessoas visadas e torna mais fácil tolerar assassinatos generalizados, inclusive em violação do direito internacional dos direitos humanos.” 

Quanto mais normalizados os robôs se tornam nas forças armadas do mundo, mais perto chegamos deste ponto, e já estão a ser dados passos nessa direção. Como observa Thor Benson, da Common Dreams , em um artigo sobre o relatório do Public Citizen: “Israel comprou e às vezes implantou drones letais e autopilotados”.

150 dias de genocídio em Gaza – Número de mortos ultrapassa 30.500

Israel realiza novos massacres

Palestine Chronicle | # Traduzido em português do Brasil

À medida que a agressão israelita contra a Faixa de Gaza entra no seu 150º dia consecutivo, as forças de ocupação israelitas continuam a cometer massacres contra civis palestinianos.

A agência de notícias oficial palestina WAFA informou que aviões de guerra israelenses bombardearam quatro casas no bairro de Al-Zaytoun, a sudeste da cidade de Gaza, matando e ferindo vários cidadãos.

Além disso, a artilharia israelita disparou bombas contra as casas dos cidadãos nos bairros de Al-Sabra e Al-Rimal Al-Janobi, na Cidade de Gaza, causando vítimas entre civis, incluindo crianças e mulheres.

A artilharia de ocupação também bombardeou duas casas na cidade de Beit Lahia, a norte da Faixa de Gaza, ferindo vários cidadãos com ferimentos variados.

As vítimas foram levadas para o Hospital Kamal Adwan em Jabaliya.

Aviões israelenses bombardearam uma casa no campo de Nuseirat e outra na cidade de Deir al-Balah, no centro da Faixa de Gaza, matando dois civis e ferindo outros. As vítimas foram transferidas para o Hospital dos Mártires de Al-Aqsa, na cidade.

Vários cidadãos ficaram feridos quando os aviões de guerra de ocupação atacaram uma casa no campo de refugiados de Bureij, no centro da Faixa de Gaza. 

Aviões de guerra israelitas também lançaram um ataque a uma casa pertencente à família Radwan no campo de refugiados de Jabaliya, no norte de Gaza.

O ataque coincidiu com o disparo de vários projéteis da artilharia de ocupação contra as casas dos cidadãos no campo, o que deixou vários feridos entre os civis.

Irá o Egipto aceitar a deslocação palestiniana em troca do alívio da dívida?

A estabilidade do Egipto é crucial para a Arábia Saudita e os EAU, mas agora estão a associar a ajuda financeira à deslocação em massa de habitantes de Gaza para o Sinai, o que representa uma ameaça ainda maior para a segurança nacional do Cairo.

Mohamad Hasan Sweidan* | The Cradle | # Traduzido em português do Brasil

À medida que o ataque militar brutal de Israel a Gaza aumenta, continuam a surgir relatórios sobre um grande compromisso egípcio em curso: a absorção de um grande número de palestinianos deslocados da Faixa em troca do alívio da enorme dívida do Cairo – que ultrapassa os 160 mil milhões de dólares .

No entanto, mais de quatro meses após o início da guerra, o parlamentar egípcio Mustafa Bakri diz que o presidente Abdel Fattah al-Sisi rejeitou 250 mil milhões de dólares de países estrangeiros como pagamento para permitir que os habitantes de Gaza inundassem o Sinai. 

Apesar da repetida rejeição do Cairo à transferência forçada de palestinianos para o território egípcio, os receios constantes de um potencial afluxo de habitantes de Gaza que fogem das atrocidades israelitas, a viabilidade do seu regresso e a desestabilização da fronteira do Sinai continuaram a atormentar o governo egípcio. E persistem questões importantes sobre quem realmente tem a ganhar com a deslocação dos palestinianos para além dos limites de Gaza.

À medida que o conflito cresce em ferocidade e amplitude, tornou-se evidente que, para muitos líderes árabes, a causa palestiniana tornou-se uma preocupação secundária, se não um inconveniente pesado. Os estados árabes que normalizaram as relações com Israel em 2020 – como os EAU, o Bahrein, Marrocos e o Sudão – consideram actualmente a Palestina como um obstáculo à sua flexibilidade diplomática.

Alemães planeiam ataque à infraestrutura russa: uma ponte longe demais

Martin Jay* | Strategic Culture Foundation | # Traduzido em português do Brasil

O aspecto cómico de todo o vazamento é o quão pobres são os serviços de inteligência alemães em geral, escreve Martin Jay.

Três coisas lhe chamaram a atenção sobre o suposto grampo telefônico de autoridades alemãs discutindo a destruição da ponte da Crimeia. 1. Quão estúpidos são os alemães, ao pensar que as suas lamentáveis ​​​​tentativas nada infantis de se distanciarem da guerra em si estão enganando a Rússia. 2. Que a Alemanha acredita que ataques isolados mas significativos à infra-estrutura militar russa seriam um ponto de viragem decisivo na guerra que nem mesmo os chefes da NATO podem negar que a Ucrânia está a perder. 3. Como os meios de comunicação ocidentais deixaram mais ou menos todo o assunto de lado, temendo que isso não ajudasse a causa do Ocidente com a qual eles (os meios de comunicação) estão alinhados.

Mas, sem dúvida, o facto de estarmos agora a entrar numa nova fase da guerra, em que o Ocidente sente que tem de recorrer a tácticas cada vez mais desesperadas, em vez de se ater às convenções, podemos ver pelas transcrições que existe um certo pânico. tomando conta do governo alemão e de seus militares. Berlim certamente está pensando grande. Mas também está pensando na negação máxima plausível. Está pensando na Batalha do Bulge.

O aspecto cômico de todo o vazamento é o quão pobres são os serviços de inteligência alemães em geral. Sempre foi uma piada, remontando à Segunda Guerra Mundial, onde espiões alemães podiam ser avistados a um quilómetro e meio de distância, em Londres, ou mesmo ao facto de, durante o mesmo período, as suas próprias agências terem sido enganadas por um punhado de agentes duplos britânicos sobre a localização dos desembarques, que A Alemanha realmente não espiona muito bem. Tal como os meios de comunicação social, estas são duas áreas que podemos dizer que não estão em declínio, pois nunca avançaram. O vazamento, ou a falta de segurança, nas discussões é uma falha de inteligência que faz com que os alemães pareçam amadores, na melhor das hipóteses, e, na pior das hipóteses, idiotas iludidos sobre como eles se veem, dados os últimos dois anos em que desenvolveram rapidamente suas capacidades militares. .

Quando, no início da guerra na Ucrânia, Scholz teve o seu “momento” no parlamento alemão, onde anunciou um novo nível de gastos militares, muitos alemães fizeram uma pausa e ficaram nervosos com a possibilidade de a história se repetir. Mas eles não estavam sozinhos. Muitos europeus interrogaram-se sobre quão sensata foi esta medida, uma vez que impulsionou um governo de coligação fraco e ineficaz por um caminho perigoso e traiçoeiro em direcção exactamente às mesmas circunstâncias que levaram ao colapso da democracia na década de 1930 e à rápida emergência de Hitler e dos seus chamados partido “socialista”: nacionalismo.

Além disso, é cómico o número de vezes que estes responsáveis ​​falam dos britânicos, a quem chamam de “os ingleses”, e de como os consideram parceiros tão importantes na guerra contra a Rússia, não só do ponto de vista estratégico, mas também financeiro. Roger e Fritz estão mais próximos do que nunca.

Mas a obsessão pela ponte da Crimeia é interessante, pois as transcrições revelam que é do lado ucraniano que surge a ideia de atingi-la. Os altos funcionários da força aérea alemã estão céticos quanto a atingir a ponte com impacto suficiente para realmente destruí-la e ainda menos convencidos de que os ucranianos possam fazer isso por conta própria. A ideia de um jato Rafael de fabricação francesa é sugerida para o trabalho, mas eles acreditam que seriam necessários 20 mísseis Taurus para destruí-lo em qualquer nível significativo. O que exatamente os russos fazem enquanto um caça francês repete surtida após surtida lançando suas bombas não está claro.

Há também o problema de como desviar a atenção ou apontar o dedo quando o trabalho estiver concluído. É aqui que vemos que os comandantes da força aérea alemã são lamentavelmente ignorantes e mal informados sobre a realidade da inteligência russa. Na verdade, os alemães acreditam que podem proteger-se com um círculo de desinformação e distracções amadoras – como ter o seu próprio pessoal, enquanto em Kiev falam com forte sotaque americano enquanto fazem o treino e a logística até insistirem que os ucranianos façam uma abordagem documentada à questão. Alemães pelo equipamento e treinamento. Como se isso fosse temperar os russos, mesmo que eles acreditassem quando a ponte fosse destruída! Estamos realmente na terra do susto amador aqui, o que leva o leitor a acreditar que os alemães têm décadas à frente deles em como ser uma força de combate eficaz no cenário internacional quando estão tão atormentados pelo amadorismo flagrante – a mesma terrível falta de planejamento o que os fez perder a batalha de Barbarossa na segunda guerra mundial. Planeamento é uma palavra que aparece muito nas transcrições de conversas, pois é uma obsessão dos funcionários públicos alemães, quer sejam militares ou trabalhem para o departamento de notícias da Deutsche Welle - este último, uma estação de propaganda alemã com financiamento público, que é tão mau que até os alemães desistiram de assisti-lo anos atrás, forçando seus executivos a abandonar o serviço em alemão. E, no entanto, é a falta de planeamento, mas apenas o falar sobre isso, que é o verdadeiro cerne do problema do pensamento alemão. Uma ponte longe demais, na verdade.

* Martin Jay é um jornalista britânico premiado que vive em Marrocos, onde é correspondente do The Daily Mail (Reino Unido), que anteriormente reportou sobre a Primavera Árabe para a CNN, bem como para a Euronews. De 2012 a 2019, ele morou em Beirute, onde trabalhou para vários títulos de mídia internacionais, incluindo BBC, Al Jazeera, RT, DW, além de reportar como freelancer para o Daily Mail do Reino Unido, The Sunday Times e TRT World. A sua carreira levou-o a trabalhar em quase 50 países em África, no Médio Oriente e na Europa para uma série de títulos de comunicação importantes. Viveu e trabalhou em Marrocos, Bélgica, Quénia e Líbano.

Portugal - Eleições | O VATICINIO

Henrique Monteiro | HenriCartoon

Portugal - Eleições | Os embaraços de Montenegro

Inês Cardoso* | Jornal de Notícias | opinião

Se a visibilidade mediática for um critério para mobilizar o eleitorado e criar uma dinâmica de vitória, a semana terá beneficiado claramente Luís Montenegro. Desde a aparição de Pedro Passos Coelho, que conseguiu um retumbante pleno na atenção dos partidos, até ao incidente com a tinta verde que atingiu o líder social-democrata, passando pela polémica do aborto e pelo negacionismo climático, os holofotes estiveram sempre virados na mesma direção. Resta saber o que sobra quando se faz uma leitura crítica das polémicas que obrigaram Montenegro a permanentes clarificações.

Há óbvias diferenças de impacto e de consequências nos sucessivos casos que fizeram a semana da AD. Paulo Núncio ou Eduardo Oliveira e Sousa não têm o peso político nem a autoridade de Passos Coelho, que continua a ser uma das personalidades mais respeitadas no PSD. Mas o facto é que ambos estão em posições de destaque nas listas (o vice do CDS é número quatro em Lisboa e o antigo presidente da CAP cabeça de lista por Santarém) e as declarações que proferiram foram feitas em nome da AD e em eventos de campanha, não sendo fácil - como tentou Luís Montenegro - reduzi-las à expressão de opiniões pessoais.

Tudo somado, a semana teve associações perigosas entre imigração e aumento da perceção de insegurança, críticas à ideologia de género nas escolas, defesa de um novo referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez, ataque às “falsas razões climáticas” que travam investimentos e alusão a milícias armadas nos campos. Algumas das frases proferidas contra a extrema-esquerda em Santarém facilmente se confundem com os ataques de André Ventura à “esquerdalhada”.

É possível admitir que essa aproximação é tática e visa secar a extrema-direita, mas há dois riscos evidentes nesta análise. Desde logo, são claras as divergências dentro dos partidos que integram a AD e dentro do próprio PSD relativamente a algumas das matérias, incluindo nos cenários de (não) diálogo com o Chega. Um segundo, mais grave, está demonstrado internacionalmente: longe de secar os extremismos, esse caminho é uma via rápida para a legitimação e normalização de discursos radicais e de propostas até agora fora da agenda dos partidos moderados. Resta saber se é ruído de campanha, ou sementes de um futuro a chegar.

* Diretora

Portugal | Regresso à criminalização do aborto na agenda oculta da AD? E que mais?

IVG: A CAIXA DE PANDORA QUE AFINAL NÃO SE ABRIU

Nuno Serra | Ladrões de Bicicletas | em Setenta e Quatro

De onde virá a tentativa da direita de fazer recuar o país civilizacionalmente ao defender um novo referendo? É apenas um exemplo que revela o risco de outros recuos, mais ou menos dissimulados, que a direita se prepara para levar a cabo se conseguir alcançar o poder nas próximas eleições.

Passaram 17 anos desde a realização do referendo à descriminalização da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG), nos termos em que o mesmo foi estabelecido: a pedido da mulher e até às dez semanas. Os que se opunham ao salto civilizacional que o país deu, em fevereiro de 2007, foram consecutivamente interpelados por uma realidade que deita por terra os principais argumentos que então mobilizaram.

De facto, não só o número de IVG por opção da mulher não aumentou de forma vertiginosa – como profetizavam, quase desejando que assim fosse –, como se regista uma consistente tendência de redução, passando-se de cerca de 18 mil IVG a pedido da mulher em 2008, para cerca de 14 mil em 2020, sendo os anos de 2021 e 2022 atípicos, refletindo o efeito da pandemia e do pós-pandemia (como sucedeu um pouco por toda a Europa, aliás).

Durante estes 17 anos, o número de IVG a pedido foi sempre inferior à média anual que se estima ter existido até 2008, a rondar as 20 mil. Mas mais significativa ainda é a queda da incidência em jovens adolescentes (menos de 20 anos): entre 2008 e 2022, a queda é de quase para metade, passando-se de valores na ordem das 4 IVG para cerca de 2, por cada mil jovens adolescentes.

Se a defesa da criminalização do aborto, à direita, estivesse relacionada com preocupações relativas ao risco do seu aumento, a realidade tratou, com a despenalização, de transformar em pó esse argumento. E não é menos importante uma outra nova realidade, associada à redução incomensurável dos riscos para a vida e para a saúde das mulheres, decorrentes do recurso à clandestinidade, muitas vezes em condições clínicas absolutamente precárias, para que deixaram de ser empurradas.

Para já não falar, por último, no facto de a despenalização do aborto ter criado condições para o acesso de todas as mulheres à interrupção voluntária da gravidez, nos termos do quadro legal estabelecido, pondo fim à desigualdade entre as que podiam deslocar-se ao estrangeiro e as que, com menos capacidade económica ou poder relacional, tinham que se sujeitar a «clínicas» de vão de escada.

De onde virá, portanto, a atual tentativa da direita de fazer recuar o país civilizacionalmente, num regresso às trevas da criminalização, com Paulo Núncio – que será deputado da AD por Lisboa – a defender a realização de um novo referendo, devidamente antecedido por «iniciativas, no sentido de limitar o acesso ao aborto»? Isto quando a direita, em 2015 – num ato de pura humilhação das mulheres –, tinha já aprovado taxas moderadoras, tornado o aconselhamento psicológico e social obrigatório e criado a possibilidade de participação, nessas consultas, de médicos objetores de consciência (até aí impedidos de estar presentes)?

Para lá do moralismo hipócrita, e da tentativa de impor aos outros visões do mundo retrógradas, esta questão é, contudo, na verdade, apenas um exemplo que revela o risco de outros recuos – desde logo no Estado Social, que estará sob ataque, no emprego e rendimentos e ao nível das desigualdades –, mais ou menos dissimulados, que a direita se prepara para levar a cabo, caso consiga alcançar o poder nas próximas eleições legislativas.

Imagem: Paulo Núncio CDS/AD com colagens na foto por PG

...e votar nele e se votassem lá lhes dava um bacalhau, um pão-de-ló, uma salsicha

PORTUGAL - ELEIÇÕES

Pedro Cordeiro. editor da Secção internacional | Expresso (curto)

Bom dia e boa semana!

Arranca a última semana do apelo ao voto para as legislativas de 10 de março, escreve o Expresso em manchete. Razão para as 17 candidaturas à Assembleia da República se esforçarem, país fora, pela eleição de um deputado, a constituição de um grupo parlamentar, um papel decisivo na formação do próximo Governo ou mesmo a sua chefia. Questão de escala, e essa damo-la nós, o povo. Alguns já o fizeram, pois ontem houve votação antecipada. Foi o caso do PR, lembra a Liliana Valente.

O fim de semana fez-se, pois, na estrada. O Diogo Cavaleiro seguiu Pedro Nuno Santos no Norte do país, onde ouviu dizer que o secretário-geral socialista “é muito simpático e não tem cara de mafioso”. À noite, em Braga, o comício do PS contou com um forte discurso de Isabel Soares. Horas antes, em Guimarães, a comitiva fora verberada por um casal cujo elemento masculino atirou vasos aos apoiantes de Pedro Nuno. Na véspera, fora a vez de o ainda primeiro-ministro António Costa fazer a sua parte.

Já a AD acusou o governante demissionário de “descaramento”, conta o João Diogo Correia. Luís Montenegro visitou mais um ex-líder do PSD, no caso Santana Lopes. Apoiado de fora pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o antigo dirigente do CDS Adolfo Mesquita Nunes (que pelo meio ainda apoiou a Iniciativa Liberal), o chefe dos laranjas encabeça a maioria das sondagens, mas dentro da margem de erro. Já o seu partido foi recentemente visado por publicidade anónima nas redes sociais.

Mais à direita, lá para o extremo, o presidente do Chega ensaia uma teoria da conspiração em versão ‘tuga’ de Trump ou Bolsonaro. André Ventura aproveitou a piada parva e escusadíssima de um bloquista para dar gás a alegações já desmentidas pela Comissão Nacional de Eleições, pondo em causa a seriedade das legislativas. Pasme-se, chamou “incendiárias” a palavras do chefe de Estado sobre justiça e fez propostas que peritos ouvidos pelo Vítor Matos para o Expresso consideram inconstitucionais.

Também a Norte rumou a Iniciativa Liberal, que oscila entre a afirmação e a aproximação à AD, explica a Liliana Coelho. O voto útil é inimigo do partido de Rui Rocha, em maus lençóis num recente estudo de opinião. Animado talvez pelos números dessa sondagem, o secretário-geral do PCP encontrou-se em Lisboa com o antecessor Jerónimo de Sousa e lançou a pergunta aos que vaticinam a extinção a prazo do seu vetusto partido: “Isto é coisa de quem está a morrer?” A Margarida Coutinho esteve lá.

Igualmente em Lisboa, Mariana Mortágua alertou para ameaças, que vitimarão sempre e antes de mais as mulheres, as minorias, os mais pobres, os mais desprotegidos. A coordenadora do BE teve ao lado a anterior ocupante do cargo, Catarina Martins, escreve a Cláudia Monarca Almeida. Já o PAN lembrou as cheias de Algés e chamou a atenção para a falta de ordenamento do território, ao passo que o Livre criticou quem tenta desacreditar a democracia.

Os nossos colunistas vão seguindo a campanha. Daniel Oliveira nota o fracasso da tentativa de recentramento da AD (nisso tendo eco na concorrência, pelas plumas da Ana Sá Lopes ou da Maria Castello Branco) e critica a “fezada económica” da direita. Luísa Schmidt chama a atenção para o as questões ambientais, enquanto Manuela Ferreira Leite traça um retrato preocupante do país e confia na sabedoria do povo e Lourenço Pereira Coutinho analisa a propensão para se votar com a algibeira.

Outros escribas têm abordado temas internacionais que parecem pouco interessar aos candidatos. Teresa de Sousa dá razão a Emmanuel Macron quanto à Ucrânia, ao contrário de José Pedro Teixeira Fernandes. O assunto causa insónias a Teresa Violante e leva Miguel Monjardino a lastimar um inverno estratégico europeu ou Luís Marques a explorar as economias de guerra. Chamei esta gritante lacuna para assunto do pocast O Mundo a Seus Pés, em que ouvi Diana Soller e Hélder Gomes.

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