domingo, 12 de janeiro de 2025

Graça e Desgraça do Campos (1) -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Graça Campos:

Já não há qualquer dúvida, você é um caso de saúde pública. Anda por aí a infectar o papel, a atmosfera e a cidade inteira. O problema é das autoridades sanitárias, não é meu. Continua a ser inimputável. Portanto, é evidente que não pode exercer a profissão de jornalista e muito menos pode ser director de um jornal. Mas esse problema é do Ministério da tutela, não é meu. Mão amiga enviou-me um artigo recente do jornalista Reginaldo Silva onde ele traça o seu perfil. Embora não lhe chame leproso moral (é mais educado que eu) mostra à evidência que você é um caso de polícia. Portanto, o problema é das autoridades policiais, não é meu.

Passei a vida a lutar contra o colonialismo e o fascismo. Você é fascista. Se o tempo da ditadura fosse hoje, Graça Campos era um cão de fila do regime, quiçá um bufo da PIDE, daqueles que vendiam o pai ou o irmão por 500 escudos. Se a coligação que o Povo Angolano enfrentou vitoriosamente em duas guerras (de 1974 a 1976 e de 1977 a 2003) tivesse triunfado, você era um mafuka do Vorster ou do Botha e andava por aí a fazer a saudação nazi. Como combater os fascistas como você é problema meu, vou continuar a enfrentá-lo.

Duas correcções: nunca escrevi uma linha sobre o meu camarada e amigo José Luís de Matos. Não criei a revista “Sábado” nem ela teve vida efémera, pelo contrário. Na fundação eu era editor e mais tarde fui nomeado director-adjunto. E depois saí.

Uma constatação: citei vários jornalistas de referência da minha geração. Infelizmente, nenhum era negro. Nos chamados grandes rotativos, os negros, poucos, eram repórteres fotográficos. E todos excelentes. Acontece que, por razões elitistas, os “bate-chapas” não eram considerados jornalistas. Fui dos que mais se bateu para que os nossos colegas da reportagem fotográfica fossem considerados jornalistas de corpo inteiro. Não se esqueça que eu fui presidente do Sindicato dos Jornalistas de Angola, numa direcção que integrava também o Castro Lopo e o Luciano Rocha. Os cronistas e jornalistas negros trabalhavam na Tribuna dos Muceques e aí, lamento muito, mas não se fazia jornalismo de referência. 

Uma confirmação: fiz reportagens em todas as frentes de batalha, em 1975/76. Vi milhares de civis mortos nas bermas das estradas, nas vilas e aldeias do Norte. A UPA/FNLA é responsável por esses crimes hediondos. Vi nos Morros do Lobito os cadáveres de milhares de angolanos, que foram executados apenas porque não tinham o cartão da UNITA ou os seus matadores desconfiavam que fossem militantes ou simpatizantes do MPLA. Os executantes desses crimes hediondos foram militares da UNITA e os mandantes foram elementos da sua direcção, antes de abandonarem a cidade, escorraçados pelas FAPLA. O mundo soube destes crimes porque eu estava lá armado de máquina fotográfica, bloco de notas e esferográfica. Os factos são factos. A História não se escreve ao sabor das conveniências.

Um dos jornalistas portugueses que vai trabalhar no projecto que tanto o preocupa foi galardoado com os dois maiores prémios do jornalismo em Portugal e tem uma menção honrosa dos Grammy. Lixo? Comparado com ele, você não passa de uma flatulência de ginguba com mandioca. 

A partir de agora acabou a conversa e o seu caso vai ser tratado de outra maneira e à minha maneira. Pode estar seguro que não vai ficar impune. Nem que a pakaça tussa e o mabeco cante.

Com desprezo sou

Artur Queiroz

Graça e Desgraça do Campos (2)

Artur Queiroz*, Luanda

Graça Campos, simpatizante de jornalista e faxina do chefe Miala foi entrevistado pelo jornalista José Rodrigues no programa da Luanda Antem Comercial (LAC) “Café da Manhã”. O entrevistado apresentou-se completamente bêbado. Já passaram uns anos mas ainda dá para rir. Leiam o que deu:

José Rodrigues (JR) - Graça Campos, eu não resisto a perguntar, a vida política angolana hoje condiciona a actividade jornalística?

Graça Campos (GC) - Eu não vejo fantasmas nem vivo com fantasmas, não é a vida política como tu falas, mas penso que as pessoas que detêm maior poder político nesse país condicionam a actividade política, a actividade jornalística eu sinto isso.

JR - As fontes de informação revelam-se mais ou menos abertas em função da credibilidade e seriedade do órgão de Informação ou não?

GC – Não, o problema é que nós estamos a correr um perigo aqui muito grave, muito grave e eu estou a dizer isso aqui … bem e estou a falar na minha experiência própria …é que as pessoas … este país está condicionado pelo Presidente da República. Ninguém fala aquilo que não vai agradar ao Presidente da República e o que acontece é que não sei se o Presidente da República sabe disso, mas o que acontece é que ninguém fala mesmo e todo mundo fica com medo e diz que o Presidente da República não vai gostar então não diz. Então as fontes fecham-se cada vez mais, sentem que o Presidente esta a ser encurralado e então as fontes fecham-se e eu acho que isso não é bom nem para o Presidente da República nem para o país. 

GC - Eu digo aqui publicamente, eu e o Luís Fernando somos amigos desde que nos conhecemos. Até vou fazer uma inconfidência, até a minha mulher ficou incomodada com o que eu escrevi no fim-de-semana passado, porque a minha mulher é amiga da mulher dele. O problema …eu penso pessoalmente que não há problemas nenhuns. Aquele Luís Fernando que eu ouvi na LAC não é o Luís Fernando que eu conheço. O Luís Fernando não tem moral para dar.

JR - Mas as declarações que ouvimos. Quer comentá-las?

GC - Não, o Luís Fernando não pode. Vamos ver uma coisa. O Luís Fernando estudou em Cuba. Cuba não tem democracia para dar ao mundo. Então o Luís Fernando não tem, não sabe nunca conviver com esta realidade, diz que o Estado não tem que dar subsídio nenhum. O Luís Fernando não sabe viver com esta realidade. Eu acho, José Rodrigues, eu acho que o Luís Fernando não estava bem naquele dia, tem o Tribunal de Contas às pernas. Porque ele não tem mesmo nada. Acho…

JR - Mas no que diz respeito à opinião dele sobre a classe jornalística….

GC -O Luís Fernando é o maior exemplo de anti-jornalismo que aconteceu no nosso país. Aqueles Paulina e Bunga foi o maior exemplo que aconteceu. Tem moral a dar a quem? A quem? Eu não quero ir muito a fundo porque ainda preservo a amizade pessoal que tenho. Preservo a amizade pessoal que tenho com ele, a amizade pessoal que a minha mulher tem com a mulher dele, a Paula. Então não tem moral…

JR - Como é que o Graça Campos avalia o desempenho da Imprensa privada?

GC -  Nalguns casos eu tenho sentido vergonha da Imprensa Privada. Vergonha, nalguns casos…

JR - Está a usar precisamente a mesma expressão do Luís Fernando…

GC - Não, não. Não vamos generalizar. Eu sei que já cometi erros, há alguns títulos que eu sinto vergonha, vergonha mesmo. Estou a usar as mesmas palavras que o Luís Fernando utilizou. Mas o Luís Fernando tem de ter a coragem de nomear os títulos que o envergonharam. Eu não acredito que o Semanário Angolense lhe tenha envergonhado, não. O meu jornal, não. Não mais que o Jornal de Angola.

JR - O Graça Campos diz que não estamos aqui para discutir o Luís Fernando. Vamos avançar para algumas questões da Imprensa Angolana, ou se quiser da Imprensa Privada, porque agora está mais ou menos na moda separar a Imprensa Privada da Imprensa Pública. Há ou não corrupção na Imprensa Privada? E na Pública?

GC - Meu amigo, (tocou o telefone de Graça Campos e José Rodrigues pede desculpas aos ouvintes) há muitas tentativas de corrupção na Imprensa Privada. Eu sou director de um jornal e sei que há, porque as pessoas falam comigo. Mas isso acontece, é público. Por exemplo, o antigo director do Jornal de Angola, portanto Luís Fernando, diz que o maior projecto dele era fazer uma empresa nesta cidade. Onde é que ele ia tirar o dinheiro? Não era do chão, é da corrupção, porque aqueles textos que ele publicava, Bungas e tal, era tudo pago. A corrupção está aí.

JR - Há corrupção na Imprensa?

GC - Corrupção existe em toda a parte. Eu já me confrontei com casos também de pessoas que corrompem…

JR - Coisas encomendadas?

GC – Eu estou a dizer do que me consta e do que eu sei há muitas matérias jornalísticas… eu assumo. O problema é o seguinte…

JR - Já foi tentado?

GC - Já, já fui tentado. O problema é que eu nestes anos… ninguém pode dizer aqui que não fez nada por encomenda. Ninguém está em condições de dizer. Eu, eu, Graça Campos que estou aqui a falar contigo em público não posso dizer que nunca fui tentado. Já fui tentado e já aceitei fazer algumas coisas. Já sim, isso é verdade. Mas aceitei fazer coisas … eu estava de acordo.

JR - Em que circunstâncias o jornalista é corrompido?

GC - As pessoas usam as debilidades financeiras, basicamente materiais. Eu por exemplo, estou aqui a falar contigo, José Rodrigues, isso é público, há muitas pessoas que pensam que sou uma pessoa realizada. Isso não é verdade. Eu vivo, estou a dizer isso publicamente, eu vivo naquelas casas dos cubanos que estão em frente ao Hospital Américo Boavida. Não tenho condições, quando chove tudo é inundado, os aparelhos…os empresários sabem. Tenho jornalistas que vivem atrás da minha casa e não têm luz durante seis meses. Se aparece alguém que lhes oferece um gerador eu acredito que… o Jornal de Angola, o Jornal de Angola dirigido pelo Luís Fernando com muito dinheiro ficou seis meses sem telefone, seis meses. Foram lá empresários oferecer telefones para os jornalistas ligarem para eles.

JR - Continuamos a gravitar em volta de Luís Fernando, vamos sair disso. Colocou uma questão muito importante, os jornalistas vivem entre duas lógicas, a lógica informativa para satisfazer o direito do público a ser informado e a lógica comercial…

GC - Não…

JR - Digo comercial porque o Semanário Angolense é uma empresa que precisa de ser rentável comercialmente. O Graça Campos como se confronta com essas duas lógicas, manter um certo perfil informativo e a vertente comercial, quando é preciso tratar da publicidade?

GC - Bom, estou a tratar-te por tu porque tu és meu amigo. É o seguinte, não tenhamos ilusões, não tenhamos ilusões. É que a empresa, qualquer empresa, o sistema está … reside de tal forma, mesmo o sistema bancário, estou a falar do sistema bancário. Se tu, não forem amigo do presiden… de A B C ou D em qualquer banco tu não vais conseguir empréstimo. Então nós temos…nós temos… também a forma apropriada…abrimos o jogo. Não tem nada a ver com os bancos. Eu acho que há muita força do regime para propositadamente dificultar a vida aos jornalistas de modo a torná-los servis…

JR - Acha que há intenção?

GC - Não mas…mmmmmm

JR - Uma estratégia?

GC - Do regime, nesse caso do regime.

JR - Então estamos a falar do regime. São as estruturas políticas e sociais que condicionam?

GC - hhheee…ummmm é o Estado mesmo. Neste caso é o Estado. Isso mesmo.

JR - Aí fica difícil falar em Liberdade de Imprensa?

GC - Não. Porque enquanto… não! Essa é das questões mais fáceis de falar. É que, José Rodrigues, o Governo consagrou, falou com a Assembleia e consagrou a Lei de Imprensa. Só que a Liberdade de Imprensa não basta. Não pode ser exercida só pelo facto do José Rodrigues ter um programa como o teu, nem eu ter um jornal como o meu. O problema é que o Governo tem que… o Estado tem que… estás a ver? Como é que isso se sustenta. E aí é que o Governo não cumpre a sua parte. Na entrevista que o Luís Fernando te deu, disse que o Estado não tem que apoiar a Imprensa privada. Se o Estado ehhhh o Governo…. O Estado, um Governo quer mesmo democracia tem que apoiar a Imprensa. …. Porque ele estudou em Cuba e em Cuba não há este tipo de experiência. Mas eu vou dizer uma coisa. Eu pelo menos tenho tido esse feed back, a Imprensa privada ajuda muito este país.

JR - Eu estou a lembrar-me de um encontro que tivemos com o ministro da Comunicação Social onde defendi que o Estado deve apoiar os órgãos de Informação privados pelo serviço público que eles prestam…

GC - Isso mesmo, é que não faz sentido. Exactamente…

JR - Mas nessa altura o Graça Campos foi contra a minha opinião…

GC - Não é que…é ehhhh…ummm… este país, José Rodrigues este Governo pode gastar 200, 300, 400 milhões com partidos políticos que não dizem nada…ai… muitos deles, ehhhh muitos deles não têm sequer o universo de que… de que… leitores de qualquer jornal, não é? Há jornais que só têm, só têm 3000 leitores, ih! Leitores.

JR - Em sua opinião o que tem estado a dificultar este apoio do Estado? 

GC - É o MPLA. O MPLA é que tem medo. Porque o MPLA tem medo. O MPLA entende que a Imprensa privada não faz favor nenhum. O Governo… 

JR - Que medo teria o MPLA da Imprensa?

GC - É um fenómeno, José Rodrigues, que eu gostaria de conhecer, gostaria. E gostaria de discutir com as pessoas do MPLA o que se passa. Não entendo, eu não entendo. Mas eu entendo que nós a Imprensa Privada faz mais por este país do que os 200 partidos políticos que não fazem nada. Ainda estive há dias. Por exemplo, a própria televisão há duas semanas, estava em casa, noticiário ahhhh mmmm…a televisão aqui na zona de Viana foi perguntar às pessoas porque estavam a registar-se. As pessoas disseram que não sabiam. Não sabiam porque estavam a registar-se, não sabiam, não tinham mesmo a mínima noção do registo eleitoral…

JR - Faltava informação?

GC – Faltava. E no dia seguin…. Acaba essa reportagem mmmmm vem na sequência, isso foi no noticiário central….Acaba essa reportagem e vem uma de Benguela. De Benguela não, do Namibe. Em que está o…o…o e aparece o Governador Boavida Neto com a camisola estampada com o presidente José Eduardo dos Santos, o MPLA aí está uma brigada do regis… uma brigada do registo eleitoral. Isso é fácil estabelecer a ponte. O registo serve para isso. Achas que serve para isso?

(risos)

JR - Vamos continuar. A notícia hoje é uma espécie de mercadoria para vender?

GC - Não, nunca pensei. A notícia tecnicamente é concebida como notícia. Não, não nesse contexto que estás a falar.

JR - Vamos falar do comportamento da Imprensa. Primeiro é preciso saber se a classe jornalística está unida. Está unida?

GC -  Não, não…mmmmm não estamos unidos. É importante estarmos unidos até por razões objectivas. Há muitos ciúmes entre nós. O José Rodri… sabes, não sabes o que os colegas da Rádio Nacional dizem às tuas costas. Penso que ahhh…mmmmm. Há uma estratégia de alguém, vinda de alguém que visa desunir mesmo os jornalistas. Em 1992 era o Rui de Carvalho e eu tive uma conversa com ele, agora não sei quem está nessa estratégia…

JR - Eu sei que é amigo do senhor ministro da Comunicação Social. Já alguma vez abordou isto com ele?

GC - ehhh mmmmm ahhh não tenho que abordar isso com … porque penso que mmmm ahhhh ele foi a melhor aposta que o presidente da República já fez. É um ministro unificador. O unificador. Ele fala com todo mundo, comigo por exemplo fala e disponibilizou-me os terminais telefónicos dele. Quando quero falo e ele atende-me. Portanto a estratégia vem ih! Ih! Ele está a tentar resolver. O que tornou famoso o Luís Fernando no Jornal de Angola foi a gestão dele. Foi aquelas pessoas contra mim, contra o Aguiar, contra o… e este novo ministro chegou e ele pôs fim, pôs fim.

JR - Estamos a voltar ao Luís Fernando. Eu perguntava-lhe se foi possível trocar impressões com o senhor ministro da Comunicação Social sobre aquilo que divide os jornalistas, este conceito de jornalistas privados e públicos…

GC - isso não existe mmmm nnnn mmmm não existe estou dentro disso, foi um conceito criado pelo Rui de Carvalho. Está-se a diluir. Eu não estou aqui? Estou aqui contigo. Os meu… os me…. Os meus ami…ih! Ih! trabalham nos órgãos de Informações públicos. Foi o Rui de Carvalho que criou ele próprio é que quis dividir a classe.

JR - Não vamos falar de pessoas que não estão presentes…

GC - Vamos em frente.

JR - Foi surpreendido pelas mudanças operadas nos órgãos de Informação Públicos?

GC – Fui surpreendido pelo atraso, pelo atraso… pelo atraso… mas estamos a falar de que mudanças?

JR - As recentes

GC – Acho que foram bem feitas porque tu trabalhaste na Rádio Nacional e estou a falar contigo. Ihhhh mmmmm estou a falar contigo não, estou a falar no teu programa. Eu acho que sobre isso não vale a pena adiantar muito. Eu acho as coisas bem feitas, bem feitas, bem ponderadas. E bem tomadas, bem tomadas. Na televisão é que não estou de acordo, não estou de acordo. Eu assumo publicamente que aquela pessoa a quem foi confiada a Direcção de Informação, acho que é um perigo. Um perigo para o país, para o país…

JR - Estamos a falar do Manuel da Silva?

GC - Do Manuel da Silva, sim. É ou não é….mmmmm

JR - Até que ponto essas mudanças reflectem uma instabilidade nos órgãos de Informação estatais?

GC - Essas mudanças eeeeee re…..eeeee reflectem alguma traição porque tanto quanto eu sei e não tenho vergonha nenhuma de assumir isso pessoalmente, eu sou amigo do ministro da Comunicação Social. Sou amigo pessoal, já nos conhecemos há muitos anos ele era jornalista desportivo, eu era jornalista desportivo e o Seman…ih Semanário Angolense disse isso no fim-de-semana e eu tenho razão, foi traído.

JR - Acha que o ministro se sente traído?

GC - ai sim, tra… tra…traído

JR - Traído como?

GC - Acreditou em pessoas que não deram conta… não deram conta… como eu te disse não deram conta do recado.

JR - Não era suposto o ministro conhecer as pessoas antes de nomeá-las?

GC - Ele conhecia e até falou com elas antes, acho que…eu não estou autorizado a falar em nome do ministro, não é?

JR - É a opinião do jornalista Graça Campos. O Semanário Angolense é acusado de ter uma excessiva omissão de fontes. É verdade isto?

GC - O problema é que … eu acho que aquilo que você me está a perguntar foi fabricado por alguém. O Semanário Angolense…ehhhh ehhhh cita muitas fontes. Isto não é verdade, isto não é verdade. E se me quer ehhh ehhhh ehhh mas ahhh ahhh o Semanário Angolense é dos semanários mais bem informados, sim… em muitos aspectos com sigilo, pedem sigilo mas não é regra do Semanário Angolense… as fontes.

JR - É normal o Semanário Angolense ter tantas fontes disponíveis?

GC - Aquele… aquela ahhhh aula que o teu entrevistado anterior quis dar… para teres boas fontes é preciso que a tua fonte confie em ti. Então as pessoas têm que falar contigo. Algumas pessoas porque é que algumas pessoas … Semanário Angolense? Porque as pessoas confiam nos jornalistas do Semanário Angolense mas pedem para não serem identificadas não, cada um tem que descobrir, não, quer dizer, a facilidade, então?

JR - A Imprensa Angolana tem tido problemas em termos de revelação das fontes?

GC - Tem tido sempre, iá, tem tido sempre e hoje aumentaram mais…

JR - Os jornalistas convivem com este secretismo?

GC - Iá… secretismo como assim? Eu por exemplo revelar uma fonte. O problema é o seguinte, hoje a Imprensa Privada está a viver com mais dificuldades, eu vou dar um exemplo, José Rodrigues, aqui não tenho vergonha que as pessoas saibam isto. Há uma empresa que fazia publicidade no meu jornal. Na semana passada e essa empresa tinha pago, pagou por um ano e essa empresa mandou retirar a publicidade porque vocês estão a falar mal de nós. E eu aceitei, tirem! Então isso… está a ver? O efeito que isso provoca? Eu acho que não é por aí que a Imprensa privada vai acabar, não há perigo, não há perigo. É que eu acho que a Imprensa privada dá um contributo muito bom. Tem denunciado casos, ajuda a moralizar este país. Se o país, algumas pessoas pffff mas eu nunca vou me desviar.

JR - É verdade que a Imprensa privada tem posto em risco a privacidade dos cidadãos? O Direito à Privacidade tem sido posto em causa?

GC - Dêem-me um exemplo e eu avalio. O Semanário Angolense pffff nunca pffff nada.

JR - Não acha que são atacadas as pessoas e não os seus actos.

GC - Veja o seguinte, o Luís Fernando…

JR - Estamos a voltar outra vez ao Luís Fernando…

GC - Sim, eu vou explicar porquê. Quem levantou o problema foi o Luís Fernando. O Luís Fernando levantou esse problema porque o Luís Fernando tinha uma relação promíscua com o ministro das Finanças, José Pedro Morais. Ele deu muito dinheiro e eles dividiam, dividiam o dinheiro por isso é que o Luís Fernando… ele não tinha necessidade de fazer. Como é que o Luís Fernando conseguiu aquela riqueza, o património que ele tem? Foi o ministro das Finanças que lhe deu. Então… por isso é que quando ele diz que a gente invade a vida… é por causa do ih ih ih do ministro das Finanças.

JR - Graça Campos, interessa-me saber a sua opinião sobre o relacionamento dos jornalistas com os partidos. Eles acham que as suas actividades devem ser reflectidas na Imprensa. Qual é a sua opinião?

GC - Vou chegar aí, mas antes eu gostaria de falar de uma coisa que nunca foi discutida. Eu sinto que tem havido uma disputa de competências entre o ministro da Comunicação Social e o Porta-Voz do Presidente da República. Eu entendo que… eu acho que isso existe. Aquilo que chamam e é propositado, eu chamei esse assunto. Eu acho que o Porta-Voz do Presidente, o Aldemiro Vaz da Conceição, nunca se preparou para essa função. Eu acho que ele se preparou mais para funções de serventia do que de valia. De valia, de valia… e então por isso é que há esse conflito e até hoje eu sei que o ministro tem feito esforço para normalizar a relação entre o presidente da República com a Imprensa Privada e não consegue por causa desse senhor e eu acho que isso não é bom, não é bom. Não faz sentido, não faz sentido, porque acho que há pessoas que foram ao Porta-Voz do Presidente da República e ele ganha, deve constar nalguma folha de salários, ele ganha como Porta-Voz, não tem que ter funções de mordomo, não precisa de ser mordomo das filhas do presidente da República. Ele não tem que ser mordomo. E estou a dizer isto com toda a responsabilidade…

JR - Acha que há uma disputa de competências entre o Porta-Voz do Presidente da República e o ministro da Comunicação Social?

GC - Eu acho que o Porta-Voz não está a saber – nunca soube – exercer, confundiu, em vez de ser Porta-Voz do Presidente tornou-se mordomo da família e isso não é bom. Eu só admiro… Qual era a sua pergunta?

JR - Eu perguntava sobre a relação dos partidos políticos com a Imprensa Privada. Mas está a falar das disputas de competências. Sendo amigo do senhor ministro da Comunicação Social…

GC - Por exemplo, por exemplo, eu vou dizer uma coisa. O Porta-Voz do Presidente da República nunca falou comigo sobre o meu jornal, nunca visitou o meu jornal, nunca visitou nenhum jornal privado. Isto não é normal. O Porta-Voz faz lobby, não é? Isso é universal. O Porta-Voz é para fazer lobbyng, não é? Então como é que o Porta-Voz não fala com os fazedores de opinião? O Porta-Voz não é pago para ficar a cuidar dos fatos do Presidente da República e o que esse senhor faz é cuidar dos fatos do Presidente da República. Não pode, rapaz, não pode mesmo. O dinheiro é nosso, é nosso, o senhor Aldemiro não tem o direito de fazer isso. Este ministro da Comunicação Social tem sido polido. Ele fala com todo o mundo. Ele até faz. Está a fazer o seu papel porque as relações hoje entre o Governo e a Comunicação Social melhoraram deve-se a ele, por mérito do ministro da Comunicação Social. Mas não pode ser com esse imber... imbre…imberbe. O Porta-Voz do Presidente da República é um imberbe e eu quero que isso saia mesmo, ele tem que ouvir mesmo (risos) é a minha opinião…

JR - Isso, é a sua opinião e nós gostamos que as pessoas deem a sua opinião, é a natureza deste programa. Mas ainda não me respondeu à pergunta sobre a relação dos partidos políticos com a Imprensa…

GC - Olha, o problema é que aqui não há partidos políticos, temos de ser claros. Aqui registados, oficiais, temos mais de 200 partidos. E tu achas que este país tem espaço para 200 partidos? Dou um exemplo, você sai daqui, anda 20 quilómetros e ninguém conhece os partidos, só o MPLA e a UNITA. Isto é brincadeira, companheiro. É brincadeira mesmo, é brincadeira… são brincalhões, são sanguessugas.

JR - A política acontece na Imprensa?

GC - É isso, precisamente porque não há partidos políticos. Isso é evidente, quem faz o papel da Oposição em Angola é a Imprensa. Quem contesta as políticas do Governo, quem questiona a política do Governo é a Imprensa, não são os partidos da oposição, isso é verdade.

JR - E isso compete à Imprensa?

GC - Devia competir aos partidos políticos, mas não existem. Quem devia questionar as políticas do Governo não sou eu, mas não existem os partidos políticos e os que existem são subornados pelo Governo. São títeres…

JR - Eu estou a perguntar sobre a relação da Imprensa com os partidos políticos não estou a falar do Graça Campos como um agente político…

GC - Não, eu não acho que haja partidos de verdade. São associações de amigos para extraírem dinheiro ao Estado. Quais partidos! Até a própria UNITA está a desagregar-se… então agora que vem aí o seu congresso se o vencedor for aquele jovem ah! Então a UNITA vai desagregar-se…

JR - Se for…

GC - Aquele, o Chivukuvuku. O Abel Chivukuvuku vai ser um factor de desagregação da UNITA. Vai ser, vai ser. A UNITA vai acabar, vai acabar mesmo. Porque o Abel é o elemento mais frágil da UNITA.

JR - Portanto a relação da Imprensa com os partidos políticos deve ser…

GC - Normal, normal.

JR - Graça Campos, é fácil ser-se jornalista em Angola?

GC - Como em qualquer parte do mundo não há nenhum manual que diga como se deve seguir para ser jornalista. Em Angola temos o mesmo manual mas em Angola é um bocado mais difícil porque primeiro são as fontes de informação, as condições de trabalho… eu estou a falar da minha experiência. Hoje há tantas fontes de informação para obter via Internet. Eu tenho uma empresa em que a minha empresa tem um contrato com a Internet, é quem nem todos os dias se tem acesso à Internet, por exemplo, assim é mais difícil aos jornalistas em Angola, mais difícil.

JR - Há ou não alguma confusão entre notícia, comentário, entretenimento, a opinião está ou não contaminada?

GC - Isso explica-se facilmente e eu disse isso numa parte da sua entrevista. É o seguinte, é que, por exemplo, o meu sonho é fazer um jornal diário. O que acontece é que não há condições técnicas ainda para eu fazer um jornal diário e então…

JR - Tem condições financeiras?

GC - Técnicas e financeiras. Exactamente. O problema é que misturamos muito a opinião e a notícia o que queremos dizer é só uma vez por semana, é o fim-de-semana, não é? Portanto não temos condições. E o Governo é responsável por isso. Quem destruiu… aqui em Luanda havia muitas gráficas.

JR - Dá para enriquecer com um jornal?

GC - Dá para viver. Dá para viver. Dá para viver. Ainda hoje estou a fazer muitas revelações aqui (risos). Não, mas dá, dá para coisa, dá para pagar os salários, a publicidade, aqueles jornais que vendem. O meu vende bem…

JR - Falou de um cliente que retirou a publicidade do seu jornal. Isto também condiciona o desenvolvimento da Imprensa?

GC - Condiciona, mas isso (risos) vou dizer o quê? (risos) Não vou revelar o nome, não vou revelar o nome. Mas há pessoas que pensam que os jornais estão para servir os seus interesses particulares. Mas o Semanário Angolense, não. Não, não. Não dá para aí. Não.

JR - Outros valores se levantam?

GC - Sim… Mas eu gostava de discutir aqui publicamente contigo uma questão que tenho na minha consciência que é da Igreja Universal…

JR - Não posso discutir isso enquanto entrevistador. Eu quero ouvir a sua opinião, que é crítica em relação à LAC. A Imprensa faz publicidade à Igreja Universal e que eu saiba é uma instituição legal em Angola. Mas não posso discutir isso com o meu convidado. Graças Campos, muito obrigado…

GC - Eu quero dizer mais uma coisa… eu gostava de falar do desempenho do Governo. Eu gostaria de dizer o seguinte, José Rodrigues, é que o Governo não deve ter a Imprensa Privada como seu adversário ou seu inimigo, não, penso que não, até porque a maior parte das pessoas que fazem parte da Imprensa Privada nunca saíram daqui. Todos nós fomos Faplas, lutámos por este país, não? Tu vês, os teus ouvintes vão ouvir, não tenho dedos numa mão. Mas estamos aqui neste país e eu acho que o Governo não tinha nada, não tem, penso que o Governo tem tido uma relação difícil com a Comunicação Social e eu acho que isso não é bom para ninguém. Não é bom. O presidente da República…

JR - Mas há pouco reconheceu que o ministro da Comunicação Social…

GC - Tem feito muito esforço mas ele aí tem sido sabotado pelo Porta-Voz do Presidente da República. Estou a dizer isto publicamente. O Porta-Voz do Presidente da República não presta. Não presta. Não, não presta.

JR - Na sua opinião era preciso melhorar essas relações?

GC - Eu acho que o presidente da República devia mudar, meter outro Porta-Voz. Eu tenho um exemplo, o porta-voz do presidente de Moçambique. Aqui temos um porta-voz que tal como eu sei, nunca pôs os pés, nunca pôs os pés num órgão de Imprensa privada.

JR - É competência do Porta-Voz fazer essas visitas? É da sua responsabilidade visitar os órgãos de Comunicação Social?

GC - Sim, sim. Até porque deve fazer lobbing, visitar para criar simpatias para os jornalistas protegerem a imagem do chefe dele. É isso.

JR - E os Jornalistas têm essa missão de proteger a imagem?

GC - Não, o Porta-Voz tem essa missão, porque quando o Porta-Voz fala, isso sempre condiciona moralmente. Moralmente condiciona. Se alguém disser, essa miúda está a andar contigo e essa miúda é minha filha eu psicologicamente fico amarrado, fico condicionado. O Porta-Voz do Presidente da República tem de fazer mais do que isso. Não é do alto da sua cátedra pensar que controla todo o mundo. Eu não tenho, estou a dizer isto com toda a responsabilidade: esse Porta-Voz do Presidente da República não presta. Esta é a minha opinião.

JR - E a sua opinião deve ser respeitada. Graça Campos muito obrigado pelo tempo que dispensou ao Café da Manhã.

GC - Obrigado eu.

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